6 de maio de 2013 | 8h02
Redação
Cris Olivette
A longevidade da população vem fazendo com que pessoas acima de 50 anos
tenham energia suficiente para começar a empreender. Aos 59 anos, o
franqueado da rede Sorridents Luiz Antonio Machado, engrossa essa
tendência. Ele iniciou o negócio há cinco anos, pouco antes de se
aposentar.
Formado em administração, Machado construiu sua carreira em três
multinacionais, onde ocupou cargos como gerente nacional de vendas e
diretor. “Fiz a preparação para quando chegasse a essa etapa da vida. Na
última empresa em que trabalhei havia um plano de previdência para
aposentadoria a partir dos 55 anos. Mas eu não me via em casa procurando
tarefas para preencher o tempo.”
Disposto a aproveitar a experiência acumulada, Machado adquiriu uma
unidade da rede de consultórios dentários em sociedade com a filha, que é
dentista. “Essa foi a forma que encontrei para me manter motivado.
Empreender me fez bem, hoje me sinto útil.”
Há um ano, pai e filha montaram a segunda unidade. “Continuamos com o
objetivo de crescer e abrir mais unidades. Ela atua na área técnica e eu
lidero o crescimento do negócio e a abertura de novas unidades, pois
cuido das partes comercial, administrativa e financeira.”
Outro ex-executivo de multinacional que investiu em um negócio próprio
na maturidade foi José Manzo, que hoje atua como consultor de negócios
da área financeira, direito societário, fusões e aquisições.
“No fundo, sempre tive o desejo de fazer algo a partir de um momento em
que eu me sentisse preparado. Ou seja, montar a minha própria
consultoria para explorar o potencial que construí ao longo da
carreira.”
Para ele, continuar ativo na maturidade é uma fonte de juventude. “Eu
diria que dá um novo vigor à vida. É uma renovação por completo e isso é
saúde, é alegria.” Manzo afirma que sempre se preparou para esse
momento. “Comecei fazendo engenharia civil, depois estudei
administração, economia e fiz diversos cursos de especialização.” Para
ele, um empreendedor com mais de 50 anos está com os pés bem plantados
no chão e é mais meticuloso em relação aos riscos.
Risco. “Um cinquentão não vai de maneira alguma se aventurar. Ele não
costuma ter ideias mirabolantes. Sua linha de raciocínio é muito
simples, muito reta, e isso acaba por mitigar muitos riscos que
normalmente um jovem empreendedor poderia correr sem necessidade”,
acredita.
Risco nessa faixa etária, aliás, é um grande perigo, ressalta o
professor de pós-graduação em administração Batista Gigliotti. “O
negócio deve ser muito bem planejado, porque se o empreendedor tiver
problemas, talvez não tenha tempo para resgatar o prejuízo, porque o gás
já não é o mesmo.” Gigliotti enfatiza que isso pode acarretar um
problema sério para a vida, não só do ponto de vista financeiro, como do
emocional. “É bom ter cautela e nunca investir mais do que 30% do
patrimônio.”
Por outro lado, Gigliotti considera que o cenário é muito promissor para
esse tipo de iniciativa, já que as pessoas estão envelhecendo com mais
qualidade de vida. “Também podemos pensar sobre alguns aspectos.
Primeiro, normalmente são pessoas que têm reservas. Segundo, muitas
vezes essas reservas representam tudo o que foi acumulado durante a
vida. E, em terceiro lugar, são pessoas que têm medo de risco, porque já
passaram por oscilações macro e micro econômicas fortes.”
Ao mesmo tempo, o professor afirma que essas pessoas não têm mais
apetite de estar no mercado financeiro, que está muito ruim e, segundo
ele, a tendência é de piorar ainda mais porque a taxa de juros deve
baixar a médio prazo.
“Pelo lado pessoal, os filhos já estão criados, o que dá liberdade para a
pessoa realizar o sonho de ter um negócio próprio, ou melhor ainda, ter
uma ideia implementada”, conclui.
Vanguarda. Há vinte anos, a expectativa de vida do brasileiro ainda não
tinha atingido os 74 anos. Mas isso não foi empecilho para que o
professor de língua portuguesa e de teoria da comunicação Fernando dos
Santos Costa, resolvesse empreender, mesmo tendo mais de 50 anos de
idade e 30 anos de trabalho. “Decidi montar o negócio porque vi no
computador um instrumento de ensino e aprendizagem. Isso chamou a minha
atenção”, afirma o fundador do Grupo Easycomp, rede de ensino de
informática e de cursos profissionalizantes que já formou mais de 4
milhões de alunos, em suas 930 unidades.
“No início, eram aulas de informática, mas fui percebendo o potencial do
ensino pelo computador e um ano depois começamos a montar os primeiros
cursos profissionalizantes.”
O ex-professor conta que no início enfrentou muitas dificuldades para
administrar o negócio. “Quem me salvou foi meu sócio. Eu o convidei
depois de alguns meses de operação e estamos juntos até hoje. Ele cuida
das áreas comercial e administrativa e eu, da pedagógica.”
Com 72 anos, Costa afirma que se sente com 40 anos por sempre estar em
contato com as pessoas. “Se a pessoa se aposenta do trabalho, também
começa a se aposentar da vida.”
O franqueado do grupo Container Antonio Guinomar Ferreira Barbosa, que
trabalhava com revenda de pneus, resolveu mudar de ramo de atividade
perto de completar 60 anos. “Sou aposentado mas sou muito atuante. Como
meus três filhos já estão formados, resolvi investir nesse formato de
negócio para que eles pudessem trabalhar comigo.”
Barbosa afirma que fez pesquisa de mercado antes de montar a franquia na
cidade de Rondonópolis (MT). “Identifiquei que a marca é uma das que
mais crescem no País atualmente. Isso se deve, entre outras coisas, por
ser um negócio ecológico. As lojas são montadas usando a estrutura de um
container.”
Costa conta que na juventude foi zagueiro no time Operários de Campo
Grande (MS)e diz que até hoje joga futebol. “Não pretendo parar nunca
com essa atividade. Quando tiver 80 anos, posso mudar de posição e
passar a jogar no gol.”
‘Experiência acumulada é uma das vantagens’
“Nunca é tarde para empreender”, diz a coordenadora do curso de
empreendedorismo e inovação dirigido a pessoas na faixa etária entre 50 e
64 anos, da escola de educação executiva B. I. International, Anna
Maria Guimarães.
“Nas economias mais avançadas, o sistema de aposentadoria já foi
modificado e a idade mínima passou a ser de 67 anos. Creio que o Brasil
irá caminhar nesse sentido, porque hoje uma pessoa de 50 anos não é
considera velha e tem pela frente muita vida produtiva.”
Anna Maria cita algumas vantagens advindas com a maturidade: experiência
acumulada, consistência, agir mais com a razão e não tanto com a
emoção. “Além disso, estudos demonstram que quem empreende nessa faixa
etária tem receita 35% maior do que os que não empreenderam.”
E não é só a receita que melhora. O professor de pós-graduação Batista
Gigliotti aponta outro benefício. “O fato de ter uma atividade
desafiadora faz com que a pessoa mantenha o espírito jovem. Uma coisa
engraçada que tenho visto é que a área de tecnologia da informação que
sempre foi relacionada com inovação e juventude, tem hoje sessentões em
atividade.”
Anna Maria diz que durante os cursos costuma citar exemplos de
empreendedores que construíram grandes empresas depois dos 50 ou 60
anos. Um deles, diz ela, é o caso do empresário Abraham Kasinsky, que
fundou a Cofap e a presidiu por 50 anos. “Depois de vender a empresa,
ele fundou a Kasinsky Motos quando tinha 82 anos e passou a concorrer
com as japonesas Honda e Yamaha, que juntas dominavam 90%do mercado. O
empresário teve motivação e conhecimento para empreender numa área
altamente competitiva e obteve sucesso”, afirma. Kasinsky vendeu essa
empresa quando tinha 92 anos e morreu dois anos depois, em 2012.
Segundo Anna Maria, é bem relevante a porcentagem de brasileiros que
estão empreendendo na faixa dos 55 aos 64 anos. “Em 2008, tínhamos 3% de
empreendedores nessa faixa etária. Em 2012 esse índice saltou para 8%. O
volume quase triplicou, enquanto nesse mesmo período o porcentual de
negócios criados na faixa etária de 18 a 24 caiu um ponto porcentual.”