quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Relator propõe multas de R$ 3 bi por cartel de cimento


Conselheiro do Cade propôs multas que, somadas, totalizam R$ 3,113 bilhões para as empresas envolvidas no cartel do cimento no Brasil

Laís Alegretti e Eduardo Rodrigues, do
Marcos Rosa/VEJA
Votorantim Cimentos
Sacos de cimento Votoran, da Votorantim Cimentos: multa para a companhia é de R$ 1,565 bilhão

Brasília - O conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Alessandro Octaviani propôs multas que, somadas, totalizam R$ 3,113 bilhões para as empresas envolvidas no cartel do cimento no Brasil. Para as entidades de classe do setor envolvidas no esquema, a multa soma R$ 5,320 milhões.

A multa para a Votorantim é de R$ 1,565 bilhão. Para a Itabira Agro Industrial, R$ 411,669 milhões. Para a Cimpor do Brasil, R$ 297,820 milhões. No caso da InterCement Brasil (antiga Camargo Corrêa Cimentos), a multa proposta é de R$ 241,7 milhões. Para a Holcim, é de R$ 508,593 milhões. Para a Cia de Cimento Itambé, R$ 88,022 milhões. A Holcim é reincidente, pois já foi condenada no chamado cartel da brita. Por isso, sua multa foi dobrada.

A multa para as empresas referem-se a um porcentual confidencial que varia de 0,1% a 20% do valor do faturamento do grupo obtido no exercício de 2006, ano anterior à instauração do processo administrativo, em valores atualizados.

Para a Associação Brasileira de Cimentos Portland (ABCP), a multa proposta foi de R$ 2,128 milhões. Para a Associação Brasileira das Empresas de Serviço de Concretagem (Abesc), também R$ 2,128 milhões. A multa sugerida para o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento é de R$ 1,064 milhão.

As penas foram dadas pelo tamanho dos danos causados à economia e pela descaracterização da boa fé. "Os envolvidos na infração tinham consciência de sua conduta", afirmou Octaviani, relator do caso. Alguns dos critérios para definir a pena, segundo ele, são a gravidade da infração, a boa fé do infrator, a consumação ou não da infração, grau de lesão à concorrência, efeitos negativos ao mercado e reincidência.

Após o término da leitura do relatório, os demais conselheiros do Cade votarão a proposta do relator.

Grupos se preparam para disputa de megalicitação da Marinha


SisGAAz
Virgínia Silveira

Pelo menos dez grupos que atuam no setor de defesa e segurança sinalizaram à Marinha o interesse em participar da licitação do Sisgaaz, o bilionário programa de sistemas de gerenciamento da Amazônia Azul. Entre eles aparecem Embraer Defesa e Segurança, Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Boeing.

Esse projeto, que está avaliado em US$ 10 bilhões, contempla o monitoramento das águas jurisdicionais brasileiras por meio de uma rede extensa de sensores terrestres, marítimos e espaciais, centros de controle e vigilância aérea e ambiental. O alvo dessa rede, segundo o chefe da diretoria de gestão de projetos estratégicos da Marinha (DGPEM), vice-almirante Antônio Carlos Frade Carneiro, é garantir a presença do Estado na proteção da riqueza marítima do país e a segurança das suas operações navais, incluindo o pré-sal (programa de exploração da Petrobras).

A Marinha pretende detalhar o processo da licitação ainda nesta semana, em evento que acontecerá na Escola de Guerra Naval, no Rio de Janeiro. O Sisgaaz, segundo informou o almirante, já tem uma previsão orçamentária de R$ 9 milhões este ano para concluir a fase de contratação da empresa que será a responsável pela implantação do programa. Isso deve ocorrer a partir de 2015.

De acordo com Carneiro, durante o evento, as empresas interessadas em participar do Sisgaaz receberão a documentação ou pedido de propostas (da sigla em inglês RFP) do programa. Com isso, poderão responder os questionamentos feitos pela Marinha.

Empresas de menor porte, de acordo com o almirante, que detém tecnologias específicas de interesse do projeto, já estão se compondo com grupos maiores, como forma de integrar o Sisgaaz.

O processo de escolha da empresa vencedora, explica o almirante, será semelhante ao que foi executado na primeira etapa do programa Sisfron (Sistema de Monitoramente de Fronteiras), vencida pelo consórcio Tepro, formado pelas empresas Savis Tecnologia e Sistema e Bradar, ambas controladas pela Embraer Defesa e Segurança.

“De acordo com o que está previsto na Lei 12.598, aprovada em março de 2012, o processo do Sisgaaz irá privilegiar as empresas nacionais, que poderão participar sozinhas ou em consórcio com empresas estrangeiras, mas com foco em transferência de tecnologia de interesse do projeto”, ressaltou o almirante.

SisGAAZ - 2

As brasileiras poderão ainda usufruir das vantagens do status de empresa estratégica de defesa, concedido pelo governo federal a 26 empresas, no final do ano passado. Nessa lista, estão a Embraer, Avibras, Imbel, Engeprom, Nuclep e Odebrecht Defesa e Segurança, empresas que terão direito a redução de tributos para a venda de seus produtos para as forças armadas.

Para receber os benefícios da dessa lei as empresas precisam atender a algumas exigências como controle nacional majoritário, domínio brasileiro da tecnologia e compromisso de manter a linha de produção no país.

A Lei 12598, segundo o vice-almirante Frade, permitiu a criação de um ambiente propício no Brasil para as empresas, principalmente as pequenas, terem capacidade para absorver tecnologias estratégicas, além de mais oportunidades para participar de programas de grande porte como o Sisgaaz.

A concepção do Sisgaaz já foi concluída pela Fundação Ezute, a nova denominação da Fundação Atech. “O trabalho consistiu no delineamento da configuração operacional e sistêmica do Sisgaaz, que será responsável pelo monitoramento de uma área de 4,5 milhões de quilômetros quadrados, sendo 3,5 milhões em Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e 911 mil de plataforma continental, por onde passam 95% do comércio exterior brasileiro e onde estão 80% do petróleo do país”, explicou o presidente da fundação, Tarcísio Takashi Muta.

O chefe dos projetos estratégicos da Marinha explica que a rede de sensores do Sisgaaz envolve um mix de tecnologias de última geração, composta por radares, veículos aéreos não tripulados (vants), sistemas de comunicação, de guerra eletrônica, meteorologia para a coleta de dados ambientais e meteorológicos, entre outras.

“Trata-se de um programa complexo, composto de vários projetos. O atual Programa Nacional de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) da Marinha, por exemplo, precisará receber as informações do Sisgaaz. O processo de vigilância da costa brasileira estará todo interligado”, afirmou Muta.

A previsão é que o Sisgaaz seja concluído em sua totalidade dentro de um prazo de 10 a 12 anos, informou o almirante.

A empresa Odebrecht Defesa e Tecnologia admitiu, em entrevista no fim do ano passado ao Valor, sua intenção de firmar parcerias para participar de grandes projetos da Marinha, como o Sisgaaz, o Sisfron, que é comandado pelo Exército. Segundo o presidente da empresa, André Amaro, esses programas vão exigir a mobilização de competências brasileiras e internacionais.

“É uma excelente oportunidade para fortalecer a cadeia produtiva brasileira e para permitir o acesso a tecnologias estratégicas que ainda não são do domínio nacional”, ressaltou. Procurada, a Embraer informou que não faria comentários sobre o Sisgaaz.

FONTE: Valor Econômico
NOTA DO PODER NAVAL: baixe aqui uma apresentação do SisGAAz para conhecer mais detalhadamente os objetivos e os requisitos do sistema.

Em tradicional carta de janeiro, Bill e Melinda Gates defendem a caridade como forma de mudar o mundo


Segundo os Gates, ainda há inúmeros problemas no planeta, mas a vida para a maioria das pessoas vem melhorando substancialmente a cada ano

Redação, www.administradores.com,

Em vídeo, Gates fala sobre caridade
 
Melinda e Bill Gates, a cada janeiro, nos últimos 5 anos, publicam uma carta para informar o que foi realizado pela fundação criada pelo casal, a Fundação Bill e Melinda Gates. Neste ano, preocupados com o que chamaram de “mitos” sobre projetos de caridade mantidos por milionários como eles, os dois decidiram abordar o assunto por outra perspectiva. A carta de 2014 foi focada em “desmistificar” o que eles chamam de “os três principais mitos de ajuda externa”.

Segundo os Gates, ainda há inúmeros problemas no planeta, mas a vida para a maioria das pessoas vem melhorando substancialmente a cada ano. “Melinda e eu estamos revoltados pelo fato de que 6 milhões de criaças morreram no ano passado. Porém, estamos motivados pelo fato de que este número é o menor já registrado. Queremos garantir que ele continue diminuindo”, afirma Gates.

A ideia principal do texto é quebrar com a visão sombria que as pessoas têm do futuro e passar a mensagem de que, ao contário do que muitos pensam, o mundo está progredindo. Os três mitos apresentados e que eles argumentam para desconstruir: 1 – países pobres serão sempre pobres; 2 – caridade não funciona; 3 – salvar vidas contribui para a superpopulação (!).

A defesa das ações de caridade por parte de milionários, como o próprio Gates, é um dos pontos chave da carta. Coincidentemente, o texto foi publicado poucos dias após a ONG Oxfam divulgar um relatório criticando a concentração de renda e informando que a riqueza das 85 pessoas mais ricas do mundo (Gates é o número 1 da lista) é equivalente à das 3,5 bilhões mais pobres.

No vídeo abaixo, Bill Gates defende a caridade e explica seus motivos. Assista (legendado em português):

Rap para divulgar a carta

Aproveitando as novas linguagens da internet, Gates resolveu fazer um viral para divulgar sua carta: um rap cantado por ele próprio, em que repete exaustivamente: “Gates’Letter” (A carta dos Gates). Assista abaixo:

Vídeos:


CEOs latino-americanos estão menos otimistas em 2014

No mundo todo, a expectativa dos presidentes de empresa em relação ao aumento de receita cresceu de 36 para 39%. Na América Latina, houve queda de 53 para 43%


Getty Images
Dinheiro: notas de 50 e 100 reais
Dinheiro: No Brasil, 42% dos CEOs estão muito confiantes quanto ao aumento de receita em 2014, índice igual ao da Suíça

São Paulo - Enquanto no mundo todo os presidentes de empresa estão mais otimistas quanto ao aumento da receita de suas companhias este ano em relação a 2013, na América Latina essa expectativa diminuiu.

Segundo estudo divulgado na terça-feira pela consultoria PwC, dos 1,3 mil CEOs ouvidos pelo mundo, 39% dizem esperar aumento nas receitas, número 3 pontos percentuais acima do registrado no ano passado.

Porém, se levados em conta apenas os executivos latino-americanos, o número dos que esperavam aumento de entrada de capital caiu de 53%, no ano passado, para 43% em 2014. 

Na mesma linha, os presidentes de empresa africanos também estão menos otimistas. Apenas 40% deles estão muito confiantes no aumento da receita. Em 2013, a fatia era de 44% e, em 2012, de 57%. 

Na América do Norte, não houve mudanças de um ano para o outro. O número de CEOs acreditam no crescimento da receita de suas companhias se manteve em 33%. 

Os presidentes de empresa do Oriente Médio são os mais confiantes. Entre eles, 69% apostam em receitas maiores este ano, contra 53% que pensavam o mesmo no ano passado. Na região da Ásia Pacífico a fatia também cresceu de 36% para 35% este ano. Na Europa Ocidental, a confiança cresceu 8%, chegando a 30%. 


Por país


Em um recorte por país, o nível de otimismo é bem variado. O Brasil ocupa a 6ª posição, com 42% dos CEOs muito confiantes, índice igual ao da Suíça. 

No topo está a Rússia, com 53%, seguida pelo México, com 51% e a Coreia, com 50%. O resultado da Coreia merece destaque já que no ano passado, o índice de presidentes de empresa otimista no país era de apenas 6%.

Em último lugar está a Argentina, com um índice de 10% de executivos muito otimistas. Veja os dados completos na tabela:
País 2014 2013
Global 39% 36%
Rússia 53% 66%
México 51% 62%
Coreia 50% 6%
Índia 49% 63%
China/Hong Kong 48% 40%
Países do sudeste asiático (ASEAN) 45% 40%
Dinamarca 44% -
Suíça 42% 18%
Brasil 42% 44%
Romênia 39% 42%
EUA 36% 30%
Austrália 34% 30%
Alemanha 33% 31%
Escandinávia 30% 20%
Reino Unido 27% 22%
Canadá 27% 42%
Japão 27% 18%
Itália 27% 21%
Venezuela 25% 30%
África do Sul 25% 45%
Espanha 23% 20%
França 22% 13%
Argentina 10% 26%

Como chegar lá


Para conseguir os bons resultados esperados, 35% dos presidentes de empresa pesquisados apostam no desenvolvimento de novos produtos ou serviços. No ano passado, o número era de 25%.

Aquisições e fusões ou alianças estratégicas no próximo ano também estão no plano de 20% dos CEOs, contra 17% em 2013.

Segundo a pesquisa, os executivos também disseram que visam oportunidades de crescimento em outros países que não os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) e que há boas perpectivas para a Indonésia, México, Turquia, Tailândia e Vietnã em um período de três a cinco anos.

Além desses, também estão na mira dos investimentos os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido.

O quadro de funcionários das empresas pesquisadas também deve crescer. Metade dos CEOs disseram que pretendem contratar mais pessoal nos próximos 12 meses. No ano passado, essa fatia era de 45%.

Os setores em que há melhores perspectivas de emprego são tecnologia (63%), serviços (62%) e gestão de ativos (58%).


Os desafios

Segundo a pesquisa, os CEOs também elencaram as principais tendências que devem transformar seus negócios em um período de três a cinco anos. Entre as principais estão o avanço tecnológico, citado por 81 deles; as mudanças demográficas (60%) e as mudanças no poder econômico global (59%).

Para enfrentar esses desafios, 93% apostam em mudanças nas estratégias de gestão, 91% investem em retenção e aumento da base de clientes, 90% em novas tecnologias, 89% em mudanças na estrutura organizacional e design, e 88% no uso de dados.

Unilever perdeu € 60 milhões com recall do Ades


Como estratégia, companhia relançou a marca Soy Force para tentar conter a queda das vendas da bebida à base de soja


Divulgação/Unilever
Caixas sos sucos Ades, da Unilever
Ades: Unilever perdeu 60 milhões com recall do produto no Brasil

São Paulo - A Unilever perdeu 60 milhões de euros, cerca de 200 milhões de reais com a conversão do câmbio atual, com o recall do Ades no Brasil no ano passado.

Segundo dados o balanço anual da companhia, embora o problema tenha sido resolvido rapidamente, não foi possível conter a queda das vendas do produto.

Para amenizar a situação, a Unilever também relançou a marca Soy Force, que, segundo a própria empresa, "ajudou a reconstruir a demanda da bebida à base de soja".


A iniciativa da Anvisa ocorreu depois que a Unilever anunciou recall de 96 unidades do suco Ades maçã de 1,5 litro.

Segundo a empresa, houve uma alteração no conteúdo do envase devido a uma falha no processo de higienização, o que resultou no envasamento de solução de limpeza no lugar de suco.

De acordo com nota divulgada pela Unilever na época, o consumo da substância poderia causar queimaduras.

Os melhores países para fazer negócios, segundo a Bloomberg


Hong Kong fica em primeiro lugar e Brasil sobe 23 posições; veja o top 15 e onde estão situados os BRICS

REUTERS/Tyrone Siu
Explosão de fogos de artifício em um show pirotécnico em Hong Kong, na China, para celebrar a chegada de 2014
Explosão de fogos de artifício em um show pirotécnico em Hong Kong para celebrar a chegada de 2014.

São Paulo - Pelo terceiro ano consecutivo, a Bloomberg divulga sua lista dos melhores países do mundo para fazer negócios - e pelo terceiro ano consecutivo, Hong Kong sai na frente.

Antes na vice-liderança, os Estados Unidos foram superados pelo Canadá, que pulou 10 posições em 2 anos.

No top 15, só países desenvolvidos. O primeiro latino-americano a aparecer na lista é o Chile, em 21o lugar. 

O Brasil ficou em 38o - 23 posições acima do ano passado e 12 a mais do que em 2011. 

Para chegar ao resultado final, a Bloomberg analisou 6 fatores: grau de integração econômica, vigor da base consumidora local, custo de criar um negócio, custo de trabalho e materiais, custo de movimentar bens e outros custos intangíveis (como corrupção e inflação).

No ranking da facilidade de fazer negócios criado pelo Banco Mundial, o Brasil aparece bem abaixo - 116o lugar na última edição.

Veja como estão posicionados os 15 primeiros países e os BRICS:


Ranking 2011 Ranking 2012 Ranking 2013 País Nota
1 1 1 Hong Kong 83,4
12 6 2 Canadá 81,5
3 2 3 Estados Unidos 80,2
9 8 4 Singapura 80,1
5 6 5 Austrália 79,9
6 5 5 Alemanha 79,9
4 10 7 Reino Unido 79,4
2 4 8 Holanda 78
21 16 9 Espanha 77
14 12 10 Suécia 76,2
8 14 11 França 76
7 3 12 Japão 75,6
29 21 13 Coreia do Sul 75,3
16 15 14 Finlândia 75,2
18 19 15 Noruega 74,4
         
19 24 28 China 69,6
25 34 31 África do Sul 69,1
50 61 38 Brasil 63,2
48 56 43 Rússia 61,6
49 54 48 Índia 61,1

MERCOSUL, LIVRE TRÂNSITO E BUSÃO PARAGUAIO

O episódio dos paraguaios barrados no Paraná demonstra a fragilidade dos acordos do Mercosul.
Ônibus com paraguaios com destino a São Paulo foram barrados pela Polícia Rodoviária Federal no Estado do Paraná, na última semana. Os números não estão totalizados, mas há, pelo menos, 180 pessoas envolvidas.

A notícia correu os veículos de comunicação e, ato contínuo, as redes sociais polvilharam comentários que defendiam o fim dessa “invasão” de paraguaios e até ações dos próprios cidadãos contra esses “imigrantes ilegais” – no melhor estilo dos grupos paramilitares que atuam na fronteira entre Estados Unidos e México. Também falou-se em necessária deportação de invasores.

Infelizmente, isso é decorrência de nossa falta informação com relação aos direitos dos imigrantes no Brasil.
Antes de mais nada: paraguaios podem entrar no Brasil sem precisar de visto ou passaporte, contando apenas com seu documento de identidade.

Segundo João Guilherme Granja Xavier, diretor do Departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, eles não precisam de autorização para entrar no Brasil. O acordo de residência entre Estados Partes do Mercosul e associados, transformado em decreto em 2009, garante, que brasileiros, argentinos, paraguaios, uruguaios, bolivianos, chilenos, colombianos e peruanos estabeleçam residência em qualquer um desses países.

Se quiserem morar no Brasil, eles podem fazer a solicitação em seu país de origem ou regularizar sua situação caso já estejam por aqui. “Poderão regularizar sua situação migratória, a qualquer momento, com isenção de multas ou outras sanções administrativas”, afirma João Guilherme.

O acordo de residência garante também que os cidadãos desses países possam trabalhar no Brasil. De acordo com Renato Bignami, coordenador da fiscalização de trabalho escravo contemporâneo da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo, o ideal é que a pessoa também solicite autorização no seu país de origem, mas caso já esteja trabalhando por aqui, pode regularizar a condição sem multa ou punição.

Com base na legislação, mesmo que o interesse dessas pessoas seja o de conseguir emprego em São Paulo, não podem ser impedidas de prosseguir viagem. Primeiro, não cometeram nenhum delito ou infração. Além disso, mesmo que venham a trabalhar no futuro, podem se regularizar a posteriori.

“Se há indícios de que a pessoa foi ou está sendo vítima de tráfico de pessoas, independentemente da nacionalidade, ela não poderá ser expulsa do país. Pelo contrário, o Estado brasileiro deve garantir sua proteção”, explica José Guerra, secretário-executivo da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. O Brasil é signatário do Protocolo de Palermo, que trata do combate ao tráfico de pessoas e do acolhimento a vítimas.

Então, o que aconteceu no caso dos paraguaios?

Segundo Pedro Paulo Bahia, assessor de comunicação do Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF), agentes da instituição verificaram que os ônibus com os paraguaios não haviam passado pelos procedimentos de imigração.

Os nacionais dos países do Mercosul podem transitar livremente pela área de fronteira sem apresentar documentos. Afinal, há uma intensa troca econômica, social e cultural em cidades que são conurbadas, como Chuy (Uruguai) e Chuí (Brasil) e Pedro Juan Caballero (Paraguai) e Ponta Porã (Brasil), ou que dependem uma da outra, como Foz do Iguaçu (Brasil) e Ciudad del Est (Paraguai).

Porém, quando qualquer pessoa se desloca para além dessa faixa de fronteira, deve fazer os procedimentos de imigração. Por exemplo, um brasileiro deixando Ciudad del Est e indo para Assunção ou um paraguaio vindo de Foz do Iguaçu para São Paulo. Segundo Pedro, os paraguaios têm o direito de entrar livremente, mas deveriam ter passado por um dos postos de controle se desejassem sair dessa região.

A DPRF encaminhou os paraguaios até a Delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu.

Alexander Taketomi, chefe nacional do serviço de repressão ao trabalho forçado do Departamento de Polícia Federal (DPF), afirma que os paraguaios não foram expulsos, nem deportados, como circulou pela mídia e redes sociais. Segundo ele, os grupos foram notificados a retornarem até um posto de fronteira e fazer o procedimento imigratório para entrada em território nacional. Após isso, foram liberados.

“A atuação da Polícia Federal nesses casos se restringiu à fiscalização de imigração pois, até então, não havia outros elementos que indicassem a ocorrência de eventuais crimes que justificassem a instauração de investigação”, explica também Fabio Tamura, delegado da Polícia Federal em Foz do Iguaçu.

Se eles se negarem a fazer esse procedimento, aí sim poderão ser alvo de futura deportação ao serem abordados novamente pela Polícia Federal.

Enfim, eles foram barrados porque não passaram pela imigração, como prevêem as regras brasileiras.


Medo e desinformação


Por que, então, entraram no Brasil dessa forma?
Os agentes da Polícia Federal não têm uma resposta para isso ainda. Conversei com paraguaios que já trabalharam em oficinas de costura aqui em São Paulo. Medo e desinformação podem levar a não fazer o registro de entrada. Alguns reclamaram de falta de informação sobre os próprios direitos (em parte por culpa do governo paraguaio). Mas há também o medo imposto por contratadores de emprego informal que, algumas vezes, acabam em trabalho análogo ao de escravo. Digo algumas porque há um estigma grande contra imigrantes latino-americanos em São Paulo, mesmo que não tenham passado por essa forma de exploração.

Por fim, um lembrete: está em desuso o termo “imigrante ilegal”, uma vez que não existe pessoa ilegal e sim que está descumprindo uma legislação local. Historicamente, houve um preconceito contra esse grupo que, agora, opta-se por evitar. O que podemos falar é em pessoa em situação de imigração irregular, imigrantes indocumentados ou não documentados.

Casos de tráfico de seres humanos – Policiais federais e policiais rodoviários federais são orientados a não expulsar trabalhadores que foram vítimas de tráfico de seres humanos ou trabalho escravo. A recomendação se baseia na Resolução Normativa do Conselho Nacional de Imigração, número 93, de 21 de dezembro de 2010. Ela prevê que poderá ser concedido visto permanente ou permanência aos estrangeiros que estejam no Brasil em situação de vulnerabilidade, vítimas do tráfico de pessoas. Isso vale para exploração sexual, trabalho análogo ao de escravo ou remoção forçada de órgãos.

A maior parte dos agentes e delegados não adota a expulsão como regra, mas a existência de casos preocupou o Ministério da Justiça, Ministério Público, órgãos governamentais e entidades da sociedade civil.

A possibilidade de expulsão de vítimas é usada como ameaça por contratadores de mão de obra para manterem os trabalhadores sob seu controle. Temendo serem mandados embora do país sem remuneração, permanecem sem reclamar das condições.

Um exemplo é uma trabalhadora boliviana de uma oficina que fornecia para a marca 775 flagrada com mão de obra análoga à de escrava em 2010. Após ter sido encontrada pela fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, ela optou por voltar para a casa. Mesmo assim, foi expulsa pela Polícia Federal no momento de sair do país. As orientações do comando da instituição podem não resolver imediatamente a situação devido à burocracia para a regularização dos trabalhadores, por exemplo. Mas é uma sinalização importante por parte de instituições que tem um papel central no combate a esses crimes.

Leonardo Sakamoto 
(Blog do Sakamoto - 21/01/2014)