segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Por que aliança com Dilma pode ser a única salvação de Cunha


Ueslei Marcelino/Reuters
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
Eduardo Cunha: ainda valioso pelo cargo que ocupa, deputado está isolado e pode sofrer cassação do mandato pelo Conselho de Ética se não articular a permanência


São Paulo – A abertura da semana no Congresso amanhã (20) gera grande expectativa no mundo político. Espera-se que nesta terça-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), decida se acata ou não o principal pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O pedido que tinha tramitação quase garantida, depois de acertado um rito para aceitação da petição, agora tem destino incerto. Além de a formalidade ser considerada ilegal pelo STF, marcou o noticiário da semana passada — para espanto geral da nação — o fato do presidente da Câmara estar articulando uma reaproximação com a presidente Dilma, com quem está rompido desde julho.

Para entender suas motivações em se aproximar da presidente, EXAME.com consultou analistas que avaliam seus próximos passos. E a conclusão é que essa é uma das últimas saídas para que Cunha se livre de um processo de cassação.
A vida do presidente da Câmara não anda fácil. Conforme o Ministério Público revela novas denúncias sobre a posse de contas bancárias do deputado na Suíça, delatores da Operação Lava Jato citam seu nome como um dos cabeças no pagamento de propina por contratos da Petrobras.

Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
Lula
Lula: em nota divulgada pelo Instituto Lula, o ex-presidente rechaça a possibilidade de acordo com Cunha

As acusações foram suficientes para que fosse protocolado nesta semana pelo PSOL e Rede Sustentabilidade um pedido de cassação de seu mandato, afirmando que Cunha não pode mais ocupar a presidência por falta de legitimidade. O pedido resultou em um processo no Conselho de Ética e Decoro da Câmara. Em até 90 dias úteis, o plenário da casa pode decidir por sua deposição e retirada de mandato.

Mesmo com o desgaste causado pela investigação, Cunha ainda interessa à oposição por ser o único homem com “coragem política” para deflagrar um processo de impeachment. Dilma, por sua vez, precisa de Cunha para frear o impedimento, além de ampliar sua articulação no Congresso para aprovar medidas.

"Cunha está hipervalorizado porque os projetos de poder não podem prescindir dele. Agora se houvesse um compromisso público, tanto da oposição, como da situação, eles tentariam inviabilizar Eduardo Cunha no Congresso, não é?", diz Marco Antonio Teixeira, professor do departamento de Gestão Pública da FGV de São Paulo. "Ambos passam por cima de qualquer bom senso político que, nesse momento, recomendaria que se evitasse Eduardo Cunha e tentasse acelerar o processo que aprecia sua conduta e as denúncias que pesam sobre ele."

Para Thiago Vidal, coordenador do Núcleo de Análise Política da Prospectiva Consultoria, fato fundamental para que o governo se reaproxime é o desgaste sofrido com derrotas em plenário nos últimos meses, muitas delas articuladas pelo próprio Cunha. Garantir que o impeachment não seja pautado por algum tempo, já é um bom alívio.

Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
O deputado José Carlos Araújo
José Carlos Araújo a EXAME.com: "Próximo da base ou não, não fará diferença. O Conselho não tem nada a ver com tudo isso que está aí"

É certo que Cunha pode ajudar Dilma a ter um respiro. Mas recorrer à presidente é o caminho para livrar Cunha?

“Num primeiro estágio, governo e Eduardo Cunha conseguem respirar. Mas o Cunha terá que se explicar no Conselho de Ética, isso é inevitável”, afirma Vidal. “Ele pode recorrer ao governo porque o conselho é presidido pelo PSD, que é da base aliada. Mesmo que haja endurecimento, quem decide é o plenário. E o governo ainda tem um número grande de cadeiras na Câmara que podem barrar a cassação do mandato.”

O presidente do Conselho, deputado José Carlos Araújo negou que dará tratamento diferenciado a Cunha. Em declaração à Folha de S. Paulo, ele disse que não dará “vida fácil” ao presidente da casa — tudo antes da reaproximação de Cunha com a base aliada.

Procurado pela reportagem de EXAME.com ele reforçou a posição. “Próximo da base ou não, não fará diferença. O Conselho não tem nada a ver com tudo isso que está aí”, disse.

Dilma e o próprio PT também já fizeram questão de rechaçar a possibilidade de acordo. Tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quanto o presidente do partido, Rui Falcão, foram a público para negar articulação ou interferência no Conselho de Ética da Câmara.
Reuters
Segundo a presidente, as redes sociais no Brasil tem sido palco de manifestações ofensivas e intolerantes
Dilma Rousseff: em viagem à Suécia, a presidente deu declaração sobre denúncias contra Cunha. "Lamento que seja com um brasileiro", disse.

“O governo jamais vai apoiá-lo publicamente. São muitas investigações e denúncias contra Cunha, pegaria mal demais. Dependendo das condenações, é capaz que fique impossível apoiar até nos bastidores”, diz Vidal, da Prospectiva. “O grande vencedor dessa história hoje é o governo, pois à medida que a opinião pública começar a cair em cima do deputado e a presidente Dilma percebe que ele não tem legitimidade para impedi-la, ela também vai se esquivar. Não teria como o público ou o político ter simpatia por quem é réu do crime que é visto como o problema maior, que é a corrupção.”

Para os analistas, ainda há uma hesitação no Congresso com relação à figura de Cunha porque o deputado ainda preside a Câmara e é peça chave no jogo político.

O apoio à sua cassação, que hoje está em cerca de 50 deputados (10% da Câmara), ainda não é suficiente para um processo de cassação. Mas, caso as denúncias forem se tornando em acusações formais, sua figura pode perder força e o movimento de deposição tende a aumentar.

“O Cunha é uma figura que, para onde for, pode fazer o serviço, mas o custo político em termos de opinião pública vai ser muito negativo”, afirma Teixeira, da FGV. “Até pouco tempo atrás, quando não estouravam denúncias contra, ele era bem visto por quem queria tirar o governo. Ele perdeu esse grupo. Mas os grupos de apoio à Dilma também agem de forma bastante pragmática. Há poder, mas também um isolamento.”

Lula Marques/Agência PT
Carlos Sampaio (PSDB) fala contra impostos em coletiva dada pelos partidos de oposição ao governo Dilma Rousseff
Oposição: nota do grupo pedindo o afastamento de Cunha foi um dos estopins para uma possível aproximação do presidente da Câmara com Dilma

“Houve uma situação muito semelhante num passado recente que foi o caso do deputado André Vargas. Ele era vice-presidente da Câmara, uma figura bastante influente lá dentro, mas na hora que tiveram que cassá-lo, para não prejudicar a imagem da instituição, cassaram”, diz Vidal. “Isso pesa muito lá dentro.”

Para os analistas, um processo de impeachment só começa amanhã se Cunha estiver disposto a dar uma última cartada em busca de apoio público e aberto mão de necessariamente se manter no cargo — deixando de lado também o foro privilegiado no julgamento da Lava Jato. Caso ele opte pela renúncia à presidência, seu papel como parlamentar comum seria ainda mais fácil de derrubar.

Procurada, a assessoria do deputado Eduardo Cunha não deu resposta aos pedidos de declaração da reportagem sobre o acordo ou as denúncias que pesam sobre ele.

Moro decreta nova prisão preventiva de Marcelo Odebrecht


Bloomberg
Marcelo Odebrecht
Marcelo Odebrecht: a decisão é a 2ª ordem de prisão contra os executivos, acusados de pagamento de R$ 137 milhões em propinas em oito contratos da Petrobras, entre 2004 e 2011
 
Julia Affonso, do Estadão Conteúdo
Ricardo Brandt, do Estadão Conteúdo
Fausto Macedo e Mateus Coutinho, do Estadão Conteúdo


São Paulo - O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato, decretou nesta segunda-feira, 19, nova prisão preventiva do presidente da maior empreiteira do país, Marcelo Bahia Odebrecht, e de dois executivos ligados ao grupo, Rogério Araújo e Marcio Faria nesta segunda-feira, 19.

O magistrado aceitou também a nova denúncia apresentada na sexta-feira contra a cúpula da empreiteira.

Os empresários estão presos deste o dia 19 de junho na deflagração da Operação Erga Omnes, a 14ª fase da Lava Jato. A decisão de hoje é a segunda ordem de prisão contra os executivos, desta vez acusados de pagamento de R$ 137 milhões em propinas em oito contratos da Petrobras, entre 2004 e 2011.
Moro indeferiu o pedido do Ministério Público Federal para nova ordem de prisão preventiva contra o executivo César Ramos Rocha, que também está preso desde 19 de junho.

"Defiro parcialmente o requerido pelo MPF e decreto, com base no artigo 312 do CPP, em vista dos riscos à investigação, à instrução criminal e à aplicação da lei penal, nova prisão preventiva de Rogério Santos de Araújo, Márcio Faria da Silva e Marcelo Bahia Odebrecht, desta feita instrumental a esta ação penal", escreveu Moro.

A custódia havia sido pedida pelo Ministério Público Federal em nova denúncia contra os executivos apresentada na sexta. A força-tarefa imputa a eles a prática de 64 crimes.

Os procuradores da República que subscrevem a denúncia pedem que seja decretado o perdimento "do proveito e produto dos crimes", em valor mínimo de cerca de R$ 137 milhões, além do pagamento de danos mínimos de R$ 275 milhões em favor da estatal referentes aos oito contratos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Fitch corta rating do Brasil e ameaça grau de investimento




Miguel Medina/AFP
Entrada da agência Fitch em Paris
Fitch: a Fitch cortou a nota do Brasil de "BBB" para "BBB-"
 
Da REUTERS


São Paulo - A agência de classificação de risco Fitch cortou nesta quinta-feira a nota de crédito do Brasil, ainda mantendo o selo internacional de bom pagador, mas alertando que o país pode em breve perder essa chancela conforme as finanças do governo se deterioram em meio à prolongada recessão.

A Fitch rebaixou o país de "BBB" para "BBB-", último degrau que garante o chamado grau de investimento. A agência manteve a perspectiva negativa no novo rating, sugerindo que outro corte é possível ao longo do próximo ano, como era esperado pelos agentes econômicos.

Em nota, a agência explicou que a decisão reflete o crescente peso da dívida do governo, elevados desafios à consolidação fiscal e piora do cenário de crescimento econômico. "O difícil ambiente político está afetando o progresso da agenda legislativa do governo e criando reações negativas para a economia mais ampla", informou ainda a Fitch em nota assinada pela analista Shelly Shetty.
Já a perspectiva negativa, ainda segundo a Fitch, reflete a visão de que o mau desempenho econômico e fiscal deve persistir, enquanto a incerteza política deve continuar pesando sobre a confiança, atrasar a recuperação do investimento e do crescimento e aumentar os riscos para a consolidação fiscal a médio prazo necessária para a estabilização da dívida.

O rebaixamento do país pela Fitch vem após a agência Standard & Poor's retirar o selo de bom pagador do Brasil em setembro ao cortar o rating do país para "BB+", ante "BBB-", 10 dias após o governo prever inédito déficit primário na proposta orçamentária de 2016.

Em agosto, a Moody's rebaixou o rating do Brasil para "Baa3", última nota dentro da faixa considerada como grau de investimento, e ajustou a perspectiva da nota para "estável" ante "negativa".

O país vive cenário de recessão econômica com inflação elevada, em meio à intensa crise política entre o Executivo e o Legislativo, que inclui pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e adiamentos de votações no Congresso Nacional de medidas fiscais preparadas pelo governo.

"A Fitch está nos dando algum tempo para que avancemos na direção dos ajustes necessários para o próximo ano... Se esse avanço não vier, podemos perder o grau de investimento no primeiro trimestre (de 2016)", afirmou o economista-chefe do banco Safra, Carlos Kawall, que já foi secretário do Tesouro Nacional.

OIC estima queda de 10% na produção de café do Brasil


Marcos Issa/Bloomberg News
Sacos de café são empilhados em um caminhão em um complexo da cooperativa Cooxupé, em Minas Gerais
Sacos de café são empilhados: o maior produtor de mundial de café produzirá 42 milhões de sacas na atual safra
Da REUTERS


Bogotá - A produção de café do Brasil cairá 10 por cento na temporada 2015/16 por causa da falta de chuvas, disse o diretor da Organização Internacional do Café, Roberio Oliveira, nesta quinta-feira.

O maior produtor de mundial de café produzirá 42 milhões de sacas na atual safra, disse à Reuters Oliveira, que participou de uma conferência de cafés especiais em Bogotá.
"O ano do Brasil definitivamente será baixo em termos de produção. A situação com as chuvas não mudou, teremos um impacto na produção", disse Oliveira.

Com crise, R$ 150 bi em ativos estão à venda no país


Adriano Machado/Bloomberg
Eletrobras
Linhas de transmissão da Eletrobras: ela é uma das empresas com ativos à venda
Fernanda Guimarães, do Estadão Conteúdo
 
Aline Bronzati, do Estadão Conteúdo
André Magnabosco, do Estadão Conteúdo
Cynthia Decloedt, do Estadão Conteúdo
Dayanne Sousa, do Estadão Conteúdo
Lucas Hirata, do Estadão Conteúdo
Victor Aguiar e Marina Gazzoni, do Estadão Conteúdo


São Paulo - Algumas das grandes empresas brasileiras sairão menores da crise e outras poderão até ficar pelo caminho.

Neste momento, cerca de R$ 150 bilhões em ativos estão à venda no Brasil, segundo cálculos internos feitos por bancos de investimento, obtidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. A cifra equivale a praticamente um Itaú em valor de mercado ou a meia Ambev.

O encolhimento das empresas tem dois motivadores: as investigações da Operação Lava Jato, que devem fazer até com que algumas empreiteiras saiam de cena, e o conservadorismo, buscado naturalmente em tempos de crise.
O maior plano de desinvestimento é o da Petrobras. A estatal tem em pauta um ambicioso plano de venda de ativos, com estimativa de levantar US$ 15,1 bilhões em 2015 e 2016.

"No fim do processo, a Petrobras voltará a ser uma empresa de produção e exploração de petróleo", disse o executivo de um banco nacional.

A abertura de capital da subsidiária BR Distribuidora, em uma oferta inicial de ações (IPO) de cerca de R$ 7 bilhões, ainda aguarda uma janela de oportunidade na Bolsa.

No pacote de desinvestimento da estatal, estão também usinas térmicas e participações no controle de distribuidoras estaduais de gás natural. As térmicas estão na categoria de ativos considerados de grande liquidez, razão pela qual a Engevix vendeu sua fatia no controle da Desenvix para a Statkraft Investimentos.

Outra empresa do setor elétrico com ativos à venda é a Eletrobrás. A companhia, que enfrenta dificuldades desde 2012, quando o governo mudou o modelo de concessão de geração do país, tem acumulado prejuízos anuais e pretende vender a distribuidora Celg ainda este ano.

A CSN é outra empresa que deve sair da crise focada em três negócios: siderurgia, mineração e cimento. Hoje, a empresa também atua em logística e energia. Já a Vale vem reorganizando seu portfólio, com o intuito de manter os ativos mais geradores de caixa.

"Muitas empresas adotaram uma postura de crescimento inorgânico, via aquisições, nos últimos anos. Agora o cenário reverteu dramaticamente e a crise está fazendo com que as empresas revejam seus portfólios, voltando-se a um negócio mais rentável", disse o executivo de um banco estrangeiro, envolvido na venda de alguns ativos.
 

Portfólio menor


Constituída por uma série de aquisições, a Hypermarcas está mudando de direção. Nos últimos anos, a empresa se concentrou em um forte processo de redução dos níveis de endividamento e enxugamento do portfólio de marcas, processo que ganhou mais importância agora. No momento, a companhia procura alternativas para sua unidade de fraldas.

A empresa se reposicionou de tal forma que, internamente, já se questiona se o nome "Hypermarcas" reflete sua realidade, cada vez mais voltada ao setor farmacêutico.

Com a crise batendo no varejo, o processo de desinvestimento chegou aos shoppings centers. A General Shopping vendeu o Shopping Light, em abril, e deve acelerar o processo nos próximos meses para quitar dívidas corporativas, enquanto busca outras alternativas, como emissão de ações com esforços restritos, para captar recursos com mais agilidade. Ainda no setor, a operadora REP é uma das companhias que pode mudar de dono para capitalizar seu controlador, a PDG Realty, que vem sofrendo com a baixa no mercado imobiliário.

Além da venda de ativos, há empresas optando por fechar unidades de negócios menos rentáveis. É o caso, por exemplo, da Lojas Marisa, que desistiu de prosseguir com as vendas diretas para estancar a sangria de caixa que a iniciativa vinha provocando.

No mesmo setor, todas as grandes redes têm sinalizado intolerância a lojas com performance pior que a média. A varejista de moda C&A, por exemplo, anunciou o fechamento de duas lojas em shoppings grandes no país. Via Varejo e Magazine Luiza também já informaram maior cautela na avaliação das lojas.

"Em um cenário de queda de receita as empresas tentam proteger minimamente a rentabilidade e até mesmo a sobrevivência", diz o professor de Economia do Ibmec/RJ, Daniel Sousa. Segundo ele, negócios que já não eram muito rentáveis ficam inviáveis nesse contexto.
 

Lava Jato


As investigações da Polícia Federal nos maiores grupos brasileiros de construção e óleo e gás levaram boa parte dessas companhias a rever operações.

A OAS, em recuperação judicial, tenta se desfazer de ativos nos segmentos de infraestrutura, ambiental e estádios, para se concentrar em construção.

O Grupo Schahin anunciou, ao entrar com pedido de recuperação judicial de 28 empresas, que se concentraria na área de petróleo e gás, abandonando atividades de engenharia e construção. Mesmo assim, no plano de recuperação judicial, mencionou a venda de três navios-sonda.

A Galvão Engenharia colocou à venda participações da Galpar no capital social da CAB Ambiental (de 66,58%) e no capital social da Concessionária Galvão BR-153 (de 100%). Também se comenta a venda de ativos de geração hidrelétrica e eólica. A Odebrecht, que teve a construtora citada na Lava Jato, também procura fazer caixa e teria oferecido no mercado operações de energia renovável.

"Essas empresas tinham negócios grandes com o governo e dependiam de crédito para tocar essas obras. O governo parou de pagar e o crédito secou. Como elas não têm caixa para fazer frente às obrigações, estão vendendo seus ativos", afirmou o consultor Riccardo Gambarotto, sócio da consultoria RGF & Associados.

Gambarotto ressalta que, além das empresas diminuindo de tamanho, a crise econômica fez muitos empresários colocarem a companhia inteira à venda.

"Vender ativos é um privilégio de poucos. Os pequenos não têm o que vender e só podem fazer ajustes operacionais, como cortar custo, ou vender a empresa inteira."

Coca ou PepsiCo? Qual será o próximo alvo da AB Inbev




Dario Pignatelli/Bloomberg
Refrigerantes: garrafas de Coca-Cola
Coca-Cola: compra da SABMiller pela concorrente pode atrapalhar a gigante de refrigerantes
 
 
 
São Paulo – Depois de fechar o terceiro maior negócio da história, com a compra da SAB Miller por US$ 104 bilhões, a AB Inbev deve sossegar sua metralhadora de compras por um tempo, certo?

Bom, não necessariamente.

Com a aquisição, duas de cada três cervejas vendidas no mundo serão das duas companhias, estimam os analistas.
Elas se complementam em regiões de atuação e fábricas e ainda há muito a ser resolvido, depois que a transação for aprovada por órgãos regulatórios.

Uma das decisões que elas terão de tomar é o que será feito com o fornecimento das operações de engarrafamento para as duas maiores empresas de refrigerantes do mundo.

A SAB Miller é a maior parceira da Coca neste sentido, em especial na África, onde a americana consolida suas unidades para adequar a logística ao cenário mais retraído do setor no mundo.

Por outro lado, a AB Inbev é uma importante fornecedora da PepsiCo na América Latina.
Como é bem provável que o controle fique nas mãos da belgo-brasileira, a Coca poderia ser prejudicada no acordo.

De qualquer forma, há anos o mercado especula que Coca e PepsiCo estariam no radar de compra da AB Inbev, controlada pela 3G Capital.

Salgadinhos e bebidas não-alcoolicas seriam setores de atuação novos para o trio de bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Hermann Telles e Carlos Alberto Sicupira.

Ainda assim, uma aposta complexa e potencialmente bem lucrativa, como os tipos de negócios que eles costumam cuidar.
 

Nada na mesa


Não há negociações em andamento, nem propostas iminentes ainda. Há apenas fontes próximas das companhias que garantem que a AB Inbev avalia a possibilidade há tempo.

O próprio diretor-presidente da Coca, Muhtar Kent, vem alertando executivos da empresa nos últimos anos sobre uma possível oferta da gigante de cervejas, segundo o Wall Street Journal.
Pesa a favor do negócio o sistema de distribuição das companhias – de cerveja e refrigerantes – ser o mesmo.

Saber como funciona a logística e quais os custos de operação da PepsiCo, e agora da Coca, por meio da SABMiller, faz da AB Inbev uma detentora de informações estratégicas de todas elas.

Além do que, a empresa é bem conhecida por sua gestão austera e ambiciosa, baseada em rígida gestão de custos, cortes de pessoas e meritocracia de funcionários.

Uma linha corporativa que vem dando certo, a julgar pelos negócios já comprados por eles. E que poderia fazer com que a Coca voltasse a se despreocupar com o quanto irá lucrar a cada ano.

Para os analistas, resta saber quanto tempo a AB Inbev levará para tomar fôlego até seu próximo grande passo – e em qual direção ele será dado.

Bicudo e Reale Jr. protocolam novo pedido de impeachment


Divulgação/Câmara dos Deputados
helio-bicudo
Hélio Bicudo protocola o pedido de Impeachment da presidente Dilma: o novo pedido é o mesmo texto do pedido anterior, apenas incluindo a questão de as pedaladas fiscais terem continuado em 2015
 
Ana Fernandes, do Estadão Conteúdo


São Paulo - O jurista Miguel Reale Jr, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso, e o ex-petista Hélio Bicudo foram nesta quinta-feira, 15, ao 4º cartório de notas na capital paulista para protocolar um novo pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

O cartório recebeu Janaina Paschoal, advogada que também assina a peça. O procedimento, acompanhado pelo líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), é um reconhecimento das assinaturas dos protocolantes antes de o pedido ser levado à Casa.

Sampaio informou que um assessor dele e a filha de Bicudo levarão o pedido amanhã para Brasília.
Reale Jr voltou a reclamar do que chamou de interferência do Supremo Tribunal Federal sobre o regimento da Câmara, com as liminares que travaram o rito que havia sido acordado com o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ele lembrou que houve um pedido de impeachment contra FHC em que houve recurso ao plenário e que, portanto, não vê nenhum problema nesse rito.

"Não há nada de mais. O que há de mais é invasão do Supremo em coisas internas do Poder Legislativo", afirmou o jurista.

Ele explicou que o novo pedido é o mesmo texto do pedido anterior, apenas incluindo a questão de as pedaladas fiscais terem continuado em 2015, segundo informações de um procurador do Ministério Público de Contas do Tribunal de Contas da União.

"É uma ilogicidade exigir que se faça aglutinação dos textos que estão justapostos, mas já que se exigiu isso, se vai fazer isso. É apenas uma reordenação, um recorta e cola. Nós, com grande esforço intelectual, entregamos um recorta e cola, mas não muda nada", afirmou.

Reale Jr evitou falar sobre a legitimidade de Cunha como presidente da Câmara, com a série de denúncias de envolvimento dele com o esquema de corrupção na Petrobras. "É outro problema e ele tem que responder por esse processo. A posição dele é efetivamente frágil, mas ele é o presidente da Câmara. É ele quem vai deferir ou indeferir."

Sobre as informações de que Cunha estaria fazendo um acordo com o governo para barrar o impeachment em troca de se livrar do processo de cassação na Comissão de Ética da Casa, Reale Jr disse que isso seria algo ruim para o Brasil, não apenas para quem defende o impeachment.

"Enfraquece o País, o nosso sentimento de moralidade, de brasilidade. Seria um acordão para jogar embaixo do tapete um pedido de impeachment."

Bicudo, que foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, também evitou falar sobre a situação de Cunha e argumentou ser preciso separar a pessoa física de Cunha da instituição da presidência da Câmara.

Estimulado por Sampaio, que estava a seu lado, Bicudo repetiu sua fala de que as liminares do STF foram fruto de acordo com a "escória" do PT. "O Supremo decidiu de acordo com o PT", insistiu.

Sobre expectativa de Cunha aceitar ou não o pedido, Bicudo desconversou: "Se vai acontecer não depende da gente, depende das pessoas que têm a varinha de condão na mão".

O procedimento no cartório também foi acompanhado por algumas dezenas de manifestantes de grupos pró-impeachment - que também subscrevem o pedido de impeachment, como Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Revoltados Online. Rogério Chequer, Kim Kataguiri e Marcello Reis, principais porta-vozes desses três grupos, respectivamente, estiveram no local.

Os manifestantes estavam com camisetas nas cores da bandeira brasileira e, com um tambor, entoaram gritos de "Estamos nas ruas pra derrubar o PT".