Pedro Ladeira -Folhapress | ||
Joesley Batista deixa a superintendência da Polícia Federal em Brasília após prestar depoimento |
Nos grampos entregues pela J&F na semana passada, aparece um áudio
em que Joesley Batista e Ricardo Saud, executivo da empresa, falam sobre
um diálogo com o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que
teria sido gravado.
Na conversa entre os dois delatores, Saud cita ainda pelo menos três
ministros do STF: Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.
O nome "Marco Aurélio" aparece na conversa, mas não é uma referência ao
ministro do STF, Marco Aurélio Mello, e sim a Marco Aurélio de Carvalho,
advogado e sócio do ex-ministro da Justiça em um escritório.
Saud e Joesley falam sobre uma suposta proximidade da ex-presidente
Dilma Rousseff e da atual presidente do STF (Supremo Tribunal Federal),
Cármen Lúcia.
Nesse trecho, ele diz, entre outras coisas, o seguinte: "Porque ele
[interlocutor não identificado] falou da Cármen Lúcia (inaudível), da
Cármen Lúcia que vai lá falar do (inaudível) com a Dilma e tal, os três
juntos, tal tal tal... 'ah, então ele tem mesmo essa intimidade?'
(inaudível) os cara... falei não é mentira não".
Em outro trecho sobre os mesmos personagens, ele chega a usar palavra de baixo calão em tom de brincadeira.
O executivo diz também a Joesley que Cardozo poderia teria cinco
ministros do STF nas mãos, e que conversou sobre isso com um terceiro
interlocutor.
O executivo da J&F diz a Joesley que essa pessoa, que não está
claramente identificada, teria duvidado do tamanho da influência
descrita sobre o STF. "Ele falou 'cinco eles não têm, não... ele têm...
ah, só se eles, só se eles contam o Lewandowski até hoje'... ele falou,
falei ah daí eu não sei, não deu nome não... Mas se contar Lewandowski
pode ser sim".
Os dois discutem ainda sobre uma briga de alguém que conhecem com Gimar
Mendes. E concluem que a confusão deve ser esquecida para que eles
possam "pegar" três ministros do STF.
Há alguns meses, Joesley Batista e Saud tiveram a ideia de atrair
Cardozo para um encontro, sob o pretexto de que gostariam de contratá-lo
para serviços advocatícios.
O objetivo era, no meio da conversa, arrancar do ex-ministro da Justiça
informações sobre magistrados do STF. Dependendo do teor delas, a
J&F entregaria o conteúdo à PGR.
Os executivos da JBS entendiam que os procuradores tinham grande desejo de que as investigações alcançassem o Supremo.
No diálogo, Saud fala a Joesley que já tinha alertado um homem chamado Marcelo [supostamente o ex-procurador Marcelo Miller] de que, para comprometer o STF, o caminho seria José Eduardo Cardozo.
O encontro com Cardozo efetivamente ocorreu e a proposta de contratação
também. A armadilha, porém, não teria funcionado a contento.
Cardozo teria feito afirmações genéricas sobre os magistrados e teria
inclusive recusado propostas de pagamentos de honorários fora das vias
regulares.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2017/09/1915923-em-audio-joesley-fala-de-dilma-carmen-lucia-e-combina-gravacao-de-cardoso.shtml