Lula cumprimenta Abdel Fattah al-Sisi ,
presidente do Egito, durante visita diplomática (Crédito: AFP)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou,
nesta quinta-feira (15), que os membros do Conselho de Segurança das
Nações Unidas (ONU) devem ser atores pacifistas e não atores que
fomentam guerras.
Em visita ao Cairo, capital do Egito, Lula voltou a defender mudanças
na governança global, durante declaração à imprensa ao lado do
presidente do país, Abdel Fattah Al-Sisi.
Desde que assumiu o mandato, no ano passado, em discursos em diversas
instâncias internacionais, Lula vem defendendo que o modelo atual de
governança, criado depois da Segunda Guerra Mundial, não representa mais
a geopolítica do século 21.
Para o presidente, é preciso uma representação adequada de países
emergentes, como da África e América Latina, em órgãos como o Conselho
de Segurança da ONU.
Atualmente, esse conselho reúne apenas Estados Unidos, Rússia, China,
França e Reino Unido – países que podem vetar decisões da maioria.
Outros países também participam como membros rotativos, mas sem poder de
veto.
“É preciso que tenha uma nova geopolítica na ONU. É preciso acabar
com o direito de veto dos países. E é preciso que os membros do Conselho
de Segurança sejam atores pacifistas e não atores que fomentam a
guerra. As últimas guerras que nós tivemos, a invasão ao Iraque não
passou pelo Conselho de Segurança da ONU, a invasão à Líbia não passou
pelo Conselho de Segurança da ONU, a Rússia não passou pelo Conselho de
Segurança para fazer guerra com Ucrânia e o Conselho de Segurança não
pode fazer nada na guerra entre Israel e Faixa de Gaza”, disse Lula.
Crise no Oriente Médiio
O presidente falou ainda sobre o conflito entre Israel e o grupo
palestino Hamas. Para Lula, os israelenses tradicionalmente não cumprem
decisões da ONU.
No dia 7 de outubro, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, lançou um
ataque surpresa de mísseis contra Israel, com incursão de combatentes
armados por terra, matando cerca de 1,2 mil civis e militares e fazendo
centenas de reféns israelenses e estrangeiros.
Em resposta, Israel vem bombardeando várias infraestruturas do Hamas,
em Gaza, e impôs cerco total ao território, com o corte do
abastecimento de água, combustível e energia elétrica. Os ataques
israelenses já deixaram mais de 22 mil de mortos, sendo a maioria
mulheres e crianças, além de feridos e desabrigados.
A guerra entre Israel e Hamas tem origem na disputa por territórios
que já foram ocupados por diversos povos, como hebreus e filisteus, dos
quais descendem israelenses e palestinos.
“Eu não encontro uma explicação porque que a ONU não tem força
suficiente para evitar que essas guerras aconteçam, antecipando qualquer
aventura. Porque a guerra não traz benefício a ninguém, ela traz morte,
destruição e sofrimento”, disse Lula. O Brasil defende um cessar-fogo
imediato e sustentável na região e a criação de um Estado Palestino.
“O Brasil foi um país que condenou de forma veemente a posição do
Hamas no ataque a Israel e ao sequestro de centenas de pessoas. E nós
condenamos e chamamos de ato terrorista. Mas não tem nenhuma explicação o
comportamento de Israel, a pretexto de derrotar o Hamas, estar matando
mulheres e crianças”, argumentou o presidente, reforçando que o Brasil
está empenhado em fazer as mudanças necessárias nos órgãos de governança
global.
“A única coisa que se pode fazer é pedir paz pela imprensa, mas ao
que me parece, Israel tem a primazia de descumprir, ou melhor, de não
cumprir nenhuma decisão emanada da direção das Nações Unidas, então é
preciso que a gente tome decisão”, acrescentou.
Até dezembro deste ano, o Brasil ocupa a presidência do G20, grupo
das 20 maiores economias do mundo, e uma das prioridades é discutir a
atuação das instâncias internacionais.
Durante a declaração à imprensa, Lula ainda agradeceu o presidente
egípcio pela colaboração na retirada de brasileiros e seus familiares da
Faixa de Gaza, via Rafah, cidade palestina que faz fronteira com o
Egito. Foram quatro missões de repatriação específica com pessoas que
estavam no lado palestino do conflito, quando 149 brasileiros e parentes
próximos foram resgatados.
O presidente brasileiro está em visita ao Egito e hoje participou de
reunião com o presidente Abdel Fattah Al-Sisi e assinatura de atos
bilaterais em agricultura e ciência e tecnologia. Ainda nesta
quinta-feira, Lula terá agenda na sede da Liga dos Estados Árabes.
Ao fim do dia, a comitiva brasileira embarca para Adis Abeba, capital
da Etiópia, onde o presidente Lula participará, como convidado, da
Cúpula de Chefes de Estado e Governo da União Africana, nos dias 16 e
17.