Atuação:
Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
A dupla de advogados eleitorais da campanha de Pablo Marçal (PRTB), que deixou de assessorar juridicamente o ex-coach menos de um mês após a contratação, desligou-se da equipe após Marçal não apresentar provas que corroborassem a acusação sobre suposto uso de drogas de Guilherme Boulos (PSOL).
Ao Estadão/Broadcast, o advogado Gustavo Guedes afirmou que o caso foi apenas um de uma sequência de fatos que demonstraram a “falta de importância” que o candidato dá a questões jurídicas.
O advogado conta que, logo após a acusação de Marçal contra Boulos, quando chamou o adversário político de “comedor de açúcar” no primeiro debate eleitoral, promovido pela Band no dia 8 de agosto, a equipe jurídica teria procurado o empresário cobrando provas que fundamentassem a acusação para preparar sua defesa.
Boulos entrou com uma notícia-crime na Justiça Eleitoral, que determinou no dia seguinte ao debate que Marçal excluísse de suas redes sociais o conteúdo em que fazia as insinuações.
“A resposta que tivemos foi que havia um processo de porte de drogas contra o Boulos e que aquilo não seria repassado. E, como aquilo não foi repassado até a abertura do prazo de defesa dessa ação do Boulos, a gente entendeu que deveria sair da campanha, porque não havia como defendê-lo”, disse o advogado, que confirmou que a mesma motivação fez seu colega, Thiago Boverio deixar a campanha junto com ele.
Guedes só soube que o alvo do processo era, na verdade, de um homônimo do psolista quando já havia deixado a campanha, com informações da imprensa. A reportagem foi publicada pelo jornal Folha de S.Paulo em 28 de agosto, afirmando que a ação era, na verdade, endereçada ao empresário Guilherme Bardauil Boulos por ter sido pego portando maconha, não cocaína, em 2001. A campanha de Marçal nunca confirmou se esse era o processo que servia como base da acusação.
Na noite desta sexta-feira, 4, às vésperas do primeiro turno, o ex-coach publicou em suas redes sociais laudo falso que apontaria suposto uso de cocaína pelo deputado federal. Sobre o caso, Guedes analisa que, se ficar comprovada a falsidade do documento, a Justiça eleitoral de São Paulo precisa agir “com muita firmeza”, mas não acredita que isso poderá ocasionar a prisão de Marçal, já que o Código Eleitoral proíbe a prisão nas vésperas da eleição, salvo em flagrante delito.
Além da falta de provas contra Boulos, Guedes cita como outro exemplo o caso em que, logo após o registro de candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), matérias jornalísticas apontaram que o candidato deixou de fora da declaração de bens ao menos R$ 22 milhões em cotas empresariais.
Após saber do fato pela imprensa, o advogado narra que entrou em contato com a equipe de Marçal para entender que empresas eram essas e avaliar se, de fato, precisariam entrar no registro. “Aí eu soube que logo depois, quando eles souberam da matéria, eles já falaram para a imprensa que eles iriam corrigir, como se de fato houvesse um erro – e erro esse que nem tinha sido discutido comigo”, conta o advogado, citando o caso como exemplo da falta de comunicação entre a campanha e a equipe jurídica.
O
Ministério da Fazenda apontou nesta sexta-feira que quase mil empresas
multinacionais que atuam no Brasil pagam menos que 15% sobre seus
lucros, podendo estar sujeitas à tributação mínima que entrará em vigor a
partir de 2025.
De acordo com a pasta, o impacto da medida sobre a
arrecadação se dará apenas a partir do ano seguinte, com ganhos
estimados em 3,4 bilhões de reais em 2026 e 7,3 bilhões de reais em
2027.
Em
apresentação distribuída à imprensa, a pasta afirmou que 8.704 empresas
fazem parte do escopo de multinacionais que estarão sujeitas ao piso de
tributação por terem receita anual superior a 750 milhões de euros.
Desse
grupo, a Fazenda apontou que 957 companhias pertencem a grupos com
baixa tributação, com pagamento efetivo menor do que 15%, considerando
dados de 2022.
“O Brasil é uma jurisdição de baixa tributação para
alguns grupos multinacionais em razão da concessão de incentivos
fiscais”, disse a pasta na apresentação.
Com
crise de liquidez, alta do dólar e problemas operacionais, empresas
enfrentam prejuízos recorrentes. Enquanto governo apresenta pacote de
auxílio, Gol, Latam e Azul buscam soluções
Governo federal aprovou um pacote de R$ 5 bilhões em crédito para o setor aéreo (Crédito: Freepik)
Governo federal aprovou um pacote de R$ 5 bilhões em crédito para o setor aéreo (Crédito: Freepik)
Editora três
Por Allan Ravagnani
O céu das companhias aéreas brasileiras está fechado. Em meio a uma tempestade formada pelo câmbio desfavorável, o aumento dos custos e a falta de aviões, Azul, Gol e Latam buscam maneiras de manter suas operações no ar.
O cenário é marcado por quedas acentuadas no valor das ações,
rebaixamentos de ratings e prejuízos acumulados. Enquanto o governo
tenta aliviar a pressão com pacotes de financiamento, as empresas
enfrentam o desafio de equilibrar receitas e despesas em diferentes
moedas e renegociar dívidas bilionárias com arrendadores.
Diante dessa ameaçadora cumulus nimbus, Azul, Gol e Latam lutam para equilibrar suas operações em
meio a uma combinação de fatores que incluem a alta dos custos com
combustíveis e leasing de aeronaves, que são atrelados ao dólar,
enquanto têm receitas em real. O impacto da desvalorização da moeda
brasileira, além de problemas logísticos e operacionais, pressiona ainda
mais o setor.
Recentemente, as agências de classificação de risco Fitch e Moody’s rebaixaram
os ratings da Azul, destacando a dificuldade da empresa em acessar
novos financiamentos para melhorar seu fluxo de caixa.
Gol e Latam também passam por desafios operacionais, embora com desdobramentos distintos.
• A
Latam, por exemplo, conseguiu renegociar suas dívidas após passar por
um processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, o Chapter 11. A
Latam também trouxe uma boa notícia aos seus investidores na última
terça-feira (1), ao anunciar uma oferta de títulos de dívida com
garantia no mercado internacional no valor de US$ 1,4 bilhão, a uma taxa
de juros anual de 7,9%, com vencimento no ano de 2030, que gerou uma
demanda de mais de cinco vezes o valor da oferta. Com esse
refinanciamento, o grupo reduzirá seu custo de dívida a uma taxa de
juros significativamente menor que a atual, gerando economias anuais de
US$ 83 milhões em pagamento de juros menores.
•Já
a Gol ainda está no meio desse processo, com a expectativa de sair da
recuperação judicial até o final deste ano, enquanto busca renegociar
contratos com arrendadores para garantir a continuidade das operações.
Para Hayson Silva, analista da Nova Futura Investimentos,
essa situação cria uma “bola de neve” financeira, pois as companhias
precisam renovar suas frotas, mas enfrentam uma cadeia de suprimentos
comprometida e dificuldade na rolagem de dívidas. “As aéreas têm uma
alta demanda por voos, mas não conseguem acompanhar a expansão do setor
por conta da falta de aeronaves no mercado”, comentou Silva.
Além
disso, o ajuste global no setor de fabricação de aeronaves, forçado pela
pandemia e pelos problemas enfrentados pela Boeing, afeta diretamente a
capacidade das companhias em aumentar suas operações. “Hoje há uma
deficiência no suprimento de aeronaves, o que gera uma disputa entre as
concorrentes por novas unidades e piora as condições de financiamento e
rolagem das dívidas”, complementa o especialista. A falta de aviões
e a necessidade de renegociar contratos de leasing têm pressionado o
caixa das empresas, que, além de lidar com a desvalorização do real,
precisam lidar com a alta do preço do combustível de aviação,
influenciado pelo Brent, outro fator fora de controle.
Latam
conseguiu refinanciar e alongar parte da dívida, que vai gerar economia
de US$ 83 milhões ao ano com o menor pagamento de juros
Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, a situação é delicada, mas ainda há alternativas para a Azul além da recuperação judicial, como a renegociação de contratos com credores. “O
principal ponto hoje é a negociação com os credores. Grande parte da
dívida das empresas aéreas vem do leasing de aeronaves. Antes de partir
para uma recuperação judicial, sempre existe a possibilidade de uma
negociação bilateral com esses parceiros”, explicou Arbetman.
A Gol viu suas ações caírem 86% em 2024.
A empresa negocia com credores para melhorar suas condições
financeiras. No segundo trimestre deste ano, a companhia registrou
prejuízo e uma queda de 5% na receita líquida em relação ao mesmo
período do ano anterior, impactada pelas enchentes no Rio Grande do Sul e
pelos custos não recorrentes relacionados ao Chapter 11. Ainda assim, a
empresa conseguiu renegociar contratos de leasing com a AerCap, um de seus principais fornecedores de aeronaves, o que pode ajudar a aliviar parte de suas obrigações financeiras.
Diante
desse cenário, o governo federal aprovou um pacote de R$ 5 bilhões em
crédito para o setor aéreo, a ser distribuído através do FNAC (Fundo
Nacional de Aviação Civil). • A medida,
sancionada pelo presidente Lula, tem como objetivo ampliar o crédito
para as companhias aéreas, permitindo que elas financiem a compra de
aeronaves e outros investimentos. • Além disso, o
governo autorizou o uso desses recursos para subsidiar a compra de
querosene de aviação em rotas na Amazônia Legal, uma região que depende
fortemente do transporte aéreo para a mobilidade e o acesso a serviços. • No
entanto, especialistas concordam que, apesar de positivo, esse pacote
de auxílio não soluciona todos os problemas das companhias.
“Essa ajuda não resolve todos os problemas, mas contribui para compor o caixa das empresas”,
afirma Arbetman. O analista também ressalta que a Azul tem se esforçado
para evitar uma recuperação judicial, optando por negociações
bilaterais sempre que possível.
Para o BTG Pactual,
que acompanha de perto a situação das aéreas, o mercado está atento à
evolução dessas variáveis, especialmente no caso da Azul, que viu o
período de carência para a conversão de sua dívida expirar e agora busca
alternativas para evitar maior pressão sobre seu caixa. Segundo os
analistas, as aéreas têm enfrentado um verdadeiro “cabo de guerra” entre
a alta demanda por voos e as limitações impostas pela falta de
aeronaves e o aumento dos custos operacionais.
Enquanto
Azul e Gol lutam para se reorganizar, a Latam, que saiu do processo de
recuperação judicial, mostra uma posição mais confortável, com aumento
de 7% no valor de suas ações em 2024. Todas em busca do céu de brigadeiro.
Boeing segue em turbulência
No
plano de voo da Boeing, o céu fica cada vez mais encoberto. A gigante
da aviação, que há tempos vinha enfrentando uma série de desafios
operacionais, agora se vê diante de um cenário ainda mais delicado. A greve dos trabalhadores,
iniciada em setembro, afeta diretamente a capacidade de produção da
empresa. Estima-se que, a cada dia de paralisação, a Boeing esteja
perdendo até US$ 150 milhões. Com a produção do 737 Max interrompida,
o prejuízo já soma US$ 1,8 bilhão. Esse impacto ocorre num momento em
que a empresa tenta reequilibrar seu caixa para evitar rebaixamentos de
crédito. No campo organizacional, a troca de comando também adiciona uma
camada de complexidade. Kelly Ortberg, o novo CEO,
assumiu o cargo em meio à greve e já se viu forçado a tomar medidas
drásticas, como a colocação de executivos em licença temporária para
conter gastos.
Enquanto isso, a imagem pública da empresa, já
fragilizada pelos problemas de segurança com o 737 Max, continua
sofrendo. O apoio público à greve intensifica os problemas de reputação
da companhia, que, além de lidar com os prejuízos financeiros, vê sua
capacidade de entregar aeronaves prejudicada. Isso reverbera
globalmente, impactando a cadeia de fornecimento e as companhias aéreas
que aguardam entregas. Na bolsa, o reflexo dessa turbulência é
claro. As ações da empresa de Chicago caíram cerca de 40% ao longo de
2024, e analistas divergem sobre seu futuro. O banco Goldman Sachs, apesar de ter reduzido seu preço-alvo de US$ 232 para US$ 202, ainda mantém recomendação de “compra”.
“Apesar
dos obstáculos atuais, como a greve e o aumento de custos, a Boeing
continua a ter um forte potencial de recuperação de longo prazo”, avalia o analista Noah Poponak.
Por outro lado, o Wells Fargo adota uma visão mais pessimista. Matthew
Akers rebaixou a recomendação para “venda”, ajustando o preço-alvo para
US$ 119. “A duração da greve, aliada às pressões financeiras e
operacionais, coloca a empresa em uma posição delicada, e os riscos não
estão totalmente precificados”, explicou. As opiniões refletem a divisão no mercado quanto à capacidade da Boeing de superar os desafios atuais.
O
cenário de incerteza depende, em grande parte, das negociações
sindicais e da retomada da produção sem que os custos aumentem ainda
mais. Por fim, a crise de confiança. Antigo orgulho americano, a
fabricante se vê em meio a uma crise de confiança após os seguidos
acidentes com o modelo 737 MAX, com duas quedas e uma porta ejetada em
pleno voo, por falha no sistema de controle de qualidade. O
Kayak, site de buscas de passagens aéreas, já notou um aumento na busca
por voos nos EUA que não sejam aviões da Boeing – uma questão antes
inexistente.
O
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira, 3,
que 2 mil sites de jogos de apostas vão sair do ar nos próximos dias por
não terem obtido autorização para realizarem operações no País. A
última lista divulgada pela pasta mostra que 93 empresas com 205 casas
de apostas receberam aval para atuarem no Brasil.
Haddad participa
neste momento de uma reunião ao lado do presidente da República, Luiz
Inácio Lula da Silva, e outros ministros para tratar sobre a
regulamentação das bets, diante da escalada de preocupação com o impacto
social e econômico dos jogos de apostas online. A declaração do
ministro foi gravada pela assessoria do Palácio do Planalto e divulgada à
imprensa.
Na
fala de abertura, o ministro esclareceu que, até o momento, já foram
editadas 10 portarias para regulamentar as operações das bets. “São
portarias que falam de questões técnicas, sobre o que é o jogo justo,
certificação, questões financeiras, a utilização obrigatória do sistema
financeiro, proibição de cartão de crédito, entre outros”, explicou. As
portarias também tratam do acompanhamento de usuários, “CPF por CPF”,
disse.
Haddad reiterou que os jogos de apostas são um “desafio
novo” do mundo virtual e tem sido tratado pelo governo com as melhores
técnicas, inclusive bem recebidas pelo setor e por especialistas da
área. Ele disse ainda que, para além do que vem sendo tratado pela
Fazenda, é preciso ouvir os demais ministérios, como Desenvolvimento
Social e Saúde, para concluir o processo de regulamentação.
O
ministro também voltou a dizer que a equipe econômica começou a
enfrentar uma situação que já estava dada pelo governo anterior, em
referência à disseminação dos jogos de apostas.
“A legalização
aconteceu em dezembro de 2018, portanto, quatro anos antes da sua posse
(de Lula). Não havia a compreensão de que isso pudesse se transformar
num problema social como se transformou. Durante quatro anos (de governo
Bolsonaro), apesar da lei fixar prazo para regulamentação de dois anos
prorrogáveis por mais dois, nada foi feito e nada foi cobrado, a rigor”,
comentou Haddad.
Ele
lembrou que o governo tentou regulamentar os jogos online via medida
provisória no início do ano passado, mas a proposta caducou. Em seguida,
a equipe econômica enviou um projeto de lei, que foi aprovado com seis
meses de prazo para a entrada em vigor da regulamentação infralegal.
O
governo publicou medida provisória que altera o prazo para bancos
deduzirem perdas decorrentes de inadimplência da base de cálculo do
Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição sobre o
Lucro Líquido (CSLL), informou o Ministério da Fazenda em nota nesta
quinta-feira, 3.
O início das deduções, conforme a pasta, passou
de janeiro de 2025 para janeiro de 2026. A medida deve gerar uma
arrecadação adicional superior a R$ 16 bilhões no próximo ano, disse a
Fazenda. A MP foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União
na quarta-feira.
Em
nota, a Fazenda esclareceu que a dedução foi prevista pela lei nº
14.467, de 2022, que uniformizou os critérios contáveis e fiscais para
registro das perdas.
“Na
transição para as novas regras, os bancos adquiriram o direito de
deduzir, na apuração do IRPJ e da CSLL, no prazo de 36 meses contado de
janeiro de 2025, o estoque desses ativos”, registrou o ministério.
A
MP prevê um ano de carência para iniciar a dedução, passando de janeiro
de 2025 para janeiro de 2026. Também há alongamento do prazo de dedução
de 36 meses para 84 meses, podendo chegar até 120 meses.
A alteração da nota coloca o Brasil a um passo do grau de investimento
A agência de
classificação de riscos Moody’s elevou a nota de crédito soberano do
Brasil de Ba2 para Ba1, mantendo a perspectiva do rating Positiva. Essa
revisão ocorre poucos meses após a agência ter atribuído a perspectiva
positiva ao rating do país, em maio de 2024, o que reforça a
tendência de melhora das notas de crédito, iniciada em 2023. O Brasil
agora está a um passo do grau de investimento pela Moody’s.
Em seu comunicado, a agência Moody’s menciona a melhora significativa
no crédito do país, que se deve ao desempenho robusto do crescimento do
PIB e o histórico recente de reformas econômicas e fiscais. Nesse
contexto, a agência chama a atenção para a relevância do compromisso com
as metas fiscais e com a trajetória de estabilização da dívida/PIB,
considerando esses fatores fundamentais para a perspectiva positiva do
novo rating.
Ao mencionar a importância das várias reformas recentes para a
melhora nas expectativas de crescimento do país no médio prazo, a
agência destacou a reforma tributária, que aprimorará o ambiente de
negócios e a alocação de recursos, aumentando o potencial de crescimento
a longo prazo. Além dela, a agenda de transição energética do governo é
ressaltada como um fator que não apenas atrai investimentos privados,
mas também reduz a vulnerabilidade do país a choques climáticos.
Em relação ao tema fiscal, a Moody’s espera uma melhora gradual nos
resultados primários do governo, alinhada às metas fiscais para os
próximos três anos. Essa expectativa se baseia nos esforços para
aumentar as receitas e nas iniciativas de corte de despesas. Segundo a
agência, embora a dívida e as despesas com juros sejam consideradas
elevadas, o Brasil possui expressivos ativos líquidos e se financia
principalmente em moeda local no mercado doméstico.
A esse respeito, o Ministério da Fazenda reafirma seu compromisso com
a melhoria contínua dos resultados fiscais, empreendendo esforços para
aumentar a arrecadação e conter gastos. Além de estabilizar a relação
dívida/PIB, um balanço fiscal mais robusto contribuirá para a redução
das taxas de juros e a melhoria das condições de crédito, criando um
ambiente favorável à expansão dos investimentos públicos e privados.
A elevação da nota de crédito pela Moody’s reflete o reconhecimento
dos avanços nas contas públicas, de um cenário propício ao crescimento e
da solidez dos fundamentos da economia brasileira.
Auditoria
do Tribunal de Contas da União (TCU) revelou que o setor mineral tem
sonegado fatia considerável da compensação financeira pela exploração de
recursos minerais (Cfem), conhecida como royalties da mineração.
Problemas
também foram encontrados em relação à taxa anual por hectare (TAH),
embora em menor escala. A situação se agrava porque, além da
significativa sonegação, há dificuldade de fiscalização por parte da
Agência Nacional de Mineração (ANM).
Os
achados da auditoria do TCU estão em relatório assinado pelo ministro
relator Benjamin Zymler, colocado em pauta em sessão plenária desta
quarta-feira (2), mas posteriormente retirado.
O
assunto deve ser apreciado na próxima sessão, agendada para o dia 9 de
outubro. Consta no documento que, entre 2017 e 2022, 69,7% dos titulares
de 30.383 processos ativos na fase de concessão de lavra e de
licenciamento não pagaram espontaneamente o tributo. Além disso, nos 134
processos fiscalizados pela ANM, em que houve o recolhimento
espontâneo, observou-se um percentual médio de sonegação de 40,2%.
O
TCU apontou que persistem problemas já identificados em auditorias
anteriores realizadas pelo próprio tribunal nos anos de 2018 e de 2022.
Registra ainda que indícios de arrecadação de comepnsação financeira a
menor foram igualmente identificadas pela Controladoria-Geral da União
(CGU), que apurou um percentual médio de sonegação de 30,5% em uma
análise envolvendo o período de 2014 a 2019.
A
CGU concluiu que as fiscalizações da agência estavam sendo realizadas
sem planejamento e que os sistemas de informação utilizados eram falhos e
insuficientes.
De acordo com a auditoria do TCU, considerando a
sonegação apurada de 40,2%, um total de R$ 12,4 bilhões deixaram de ser
arrecadados com a Cfem entre 2014 e 2021. Se for aplicado ao mesmo
período o percentual de 30,5% calculado pela CGU, o valor seria um pouco
menor, mas ainda assim bastante expressivo: R$ 9,4 bilhões.
Perda bilionária
O
TCU aponta ainda que pelo menos R$ 4 bilhões já foram perdidos de forma
definitiva. Esse montante diz respeito ao total de créditos decaídos e
prescritos no período de 2017 a 2021. Ou seja, não podem mais ser
cobrados.
A decadência é declarada quando se passam dez anos sem
que a agência consiga concluir o processo de apurar valores devidos,
notificar devedores, analisar eventuais recursos e constituir o crédito.
Já a prescrição ocorre nos casos em que o crédito é constituído mas,
após cinco anos, não houve providências para sua inscrição em dívida
ativa e cobrança judicial.
Desses valores perdidos em definitivo,
os municípios mais prejudicados foram Parauapebas (PA), Ouro Preto (MG),
Mariana (MG) e Itabira (MG). Cada uma delas deixou de receber valores
acima de R$ 200 milhões. Entre as mineradoras, a Vale foi a que mais se
beneficiou com a decadência e a prescrição, deixando de pagar R$ 2,86
bilhões.
A compensação financeira pela exploração de recursos
minerais deve ser paga pelas mineradoras que desenvolvem exploração
mineral.
A apuração dos valores depende de informações específicas
e exclusivas de cada empreendimento. A arrecadação é repartida entre os
diferentes níveis federativos: 90% fica para estados e municípios
envolvidos e 10% para a União. Conforme a legislação, as mineradoras
devem calcular e recolher espontaneamente os royalties, cabendo a ANM
apurar eventuais pagamentos a menor e cobrar tais créditos.
Ocorre
que, segundo o relatório do TCU, os dados não têm sido devidamente
fiscalizados. O relatório aponta que, em 2022, apenas 17 empresas de
mineração tiveram suas informações conferidas pela ANM.
Já a taxa
anual por hectare -TAH – um encargo financeiro cobrado na fase da
pesquisa mineral, antes da exploração. Como ela depende apenas da medida
da área aprovada no alvará concedido à mineradora, a fiscalização é
mais fácil e demanda de ferramentas e sistemas que realizam cálculos
menos complexos. O TCU apurou uma sonegação média de 8,2% envolvendo a
TAH no período entre 2017 e 2022. São percentuais bem inferiores na
comparação com o que se observou na análise envolvendo a Cfem.
Além disso, a TAH representa uma parcela pequena dos recursos arrecadados pela ANM.
A
auditoria do TCU aponta que, entre 2017 a 2021, a Cfem respondeu por
97,1% dos R$ 26,5 bilhões de encargos financeiros da mineração
levantados pela agência. Ainda assim, a sanção aos sonegadores dos
royalties é mais branda. Segundo observou o TCU, a mineradora que não
paga a TAH pode ter o alvará de pesquisa declarado nulo, mas aquela que
não recolhe a Cfem é punível apenas com multa e não há impactos para a
continuidade das suas atividades.
Fiscalização limitada
A ANM foi procurada pela Agência Brasil,
mas não se manifestou. Segundo consta no relatório da auditoria, ela
afirmou ao TCU que as principais causas para a limitada fiscalização
sobre o pagamento da Cfem são o reduzido quadro de pessoal, a ausência
de ferramentas especializadas e a falta de compartilhamento de
informações com a Secretaria da Receita Federal (SRF) e com as
secretarias de fazenda estaduais.
Ao TCU, a ANM também estimou que
seriam necessários pelo menos mais 200 servidores para atender
satisfatoriamente a demanda de fiscalização. Atualmente a equipe
responsável por esta tarefa conta com apenas quatro servidores e um
chefe. A agência reconheceu que os seus sistemas atuais não permitem o
“acompanhamento da real produção mineral fiscalmente escriturada”, não
sendo possível ter conhecimento do quanto se deixa de arrecadar.
Sustentou, porém, que sua estrutura organizacional de cargos deveria ser
compatível com a das maiores agências reguladoras.
Os dados
apresentados mostram que, embora a ANM seja responsável por regular um
setor que representa entre 2,5% e 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do
país, sua dotação orçamentária para despesas de tecnologia supera apenas
as da Agência Nacional de Cinema (Ancine) e o da Agência Nacional de
Transportes Aquaviários (Antaq).
De outro lado, fica abaixo da
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT), Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Agência Nacional de Águas e
Saneamento Básico (ANA).
O TCU, no entanto, indicou que a
precarização da estrutura da ANM não decorre da falta de recursos, pois
há receitas próprias definidas por lei. Observou, no entanto, que parte
deles são contingenciadas todos os anos pelo governo federal.
Além
disso, a auditoria lembrou que a União faz jus a 10% da arrecadação com
a Cfem, sendo que 70% dessa fatia deve ficar com a ANM. Dessa forma, os
valores perdidos com a sonegação gerariam receitas em um valor superior
ao investimento necessário para estruturar a agência.
Em seu
relatório, o ministro Benjamin Zymler propôs uma série de recomendações à
ANM entre elas a elaboração de previsões para cada receita, a adoção de
um sistema informatizado de suporte à fiscalização e a criação de um
manual de procedimentos para fiscalizar os pagamentos da Cfem.
Procurado pela Agência Brasil,
o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que representa as maiores
mineradoras do país, não teceu comentários acerca dos dados sobre
sonegação apurados pelo TCU. De outro lado, a entidade manifestou-se em
defesa do fortalecimento da ANM, mencionando a necessidade de
recomposição do quadro de funcionários e da garantia de recursos
financeiros adequados para seu pleno funcionamento. “Defendemos, ainda, o
não contingenciamento dos 7% da Cfem destinados à agência, medida
essencial para que possa desempenhar suas funções de forma eficaz e
eficiente”, acrescenta o texto.