quinta-feira, 22 de maio de 2014

Vitória do Brasil na Copa representa risco para ações


Derrota seria um golpe para reeleição de Dilma, o que reforçaria as possibilidades de um novo governo mais amigável com os investidores

Julia Leite, da
Getty Images
Jogadores da seleção brasileira
Jogadores da seleção brasileira: torcida dos investidores não é pelo hexa, mas sim pela derrota do time brasileiro
Nova York - O gerente de hedge-fund Luiz Carvalho não consegue se convencer a torcer contra o Brasil, seu país natal, na próxima Copa do Mundo.

No entanto, isso seria extremamente tentador.

Uma derrota da seleção pentacampeã de futebol no campeonato seria um golpe para a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, disse Carvalho, o que reforçaria as possibilidades de um novo governo que fosse mais amigável com os investidores depois do pior desempenho econômico de todas as administrações desde 1992.

Quando as pesquisas começaram a mostrar que Dilma está perdendo popularidade antes das eleições de outubro, as ações brasileiras registraram os melhores retornos do mundo em termos de dólares desde meados de março, rebotando do fundo de um mercado baixista.

“Se tivermos um desempenho ruim na Copa do mundo, haverá maiores chances de ter um novo presidente”, disse Carvalho, sócio-gerente da Tree Capital LLC, como sede em Nova York, em entrevista ontem.
“Tudo o que é ruim para a Dilma é bom para o mercado”.

O fato de Carvalho, um torcedor que se lembra de como se sentiu quando tinha 8 anos e o Brasil venceu a Copa de 1970, estar disposto a considerar os benefícios de uma derrota no campeonato mostra o desespero dos investidores por uma nova liderança.

O apoio a Dilma está caindo depois de 44 meses de uma inflação acima da meta, além dos protestos realizados no ano passado por brasileiros contrariados pelo fato de o governo estar gastando US$ 11 bilhões para sediar o campeonato de futebol em um país onde 7,2 milhões de pessoas ainda vivem com US$ 1,25 ou menos por dia.


Empresas estatais


A queda de Dilma nas pesquisas alimentou ganhos de até 40 por cento em empresas estatais como a Centrais Elétricas Brasileiras, com base na perspectiva de que uma nova administração seja menos intervencionista, de acordo com Luis Gustavo Pereira, 26, estrategista da corretora Guide Investimentos.

“A Copa do Mundo e as eleições são dois eventos que estão movimentando o mercado”, disse ele por telefone de São Paulo. 

“Se o Brasil perder, isso pode provocar um impacto positivo nas ações. Mas torcer contra a seleção é pedir demais”.

A assessoria de imprensa presidencial não respondeu imediatamente a um pedido por comentários enviado por e-mail. Neste ano Dilma disse que cumprirá a promessa que fez em sua campanha de 2010 de erradicar a pobreza extrema. 

Cerca de 22 milhões de pessoas saíram dessas condições durante seus três anos no cargo, de acordo com números do governo.

‘Tragédia nacional’

“Quando o Brasil perdeu aquele jogo para o Uruguai, foi uma espécie de tragédia nacional”, disse Jeffrey Lesser, historiador especializado no Brasil da Universidade Emory, em Atlanta, por telefone.

“Até pessoas de vinte e poucos anos comentam aquela derrota de 1950 como se tivessem estado lá. É muito presente”.

Se a história recente servir de guia, mesmo que o Brasil perca a tristeza pode não provocar um impacto duradouro. 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato da oposição que ganhou a eleição de 2002 depois que o Brasil venceu a Alemanha e conquistou o pentacampeonato, foi reeleito em 2006 depois de uma derrota para a França. 

Dilma, sua sucessora, venceu em 2010 mesmo depois de a seleção ter sido eliminada pela Holanda na Copa da África do Sul.

“Se o Brasil ganhar, acho que ninguém vai esquecer que existem problemas”, disse Lesser.
“Uma derrota talvez ofereça um discurso político muito apropriado para que os manifestantes digam ‘além de ter gastado todo esse dinheiro e de não termos saúde, educação ou transporte, nós perdemos’”.


Protestos no Brasil


Uma greve policial no nordeste do Brasil e os protestos que ocorreram no Rio de Janeiro e em São Paulo no dia 15 de maio marcaram o início de manifestações em todo o país planejadas antes do campeonato. 

Os motoristas de ônibus entraram em greve em São Paulo no dia 20 de maio e os trabalhadores da rede ferroviária da cidade disseram que podem entrar em greve na próxima semana, caso as negociações sobre o pagamento não avancem.

Os protestos do ano passado durante a Copa das Confederações levaram a popularidade de Dilma à maior baixa de todos os tempos. 

A última pesquisa nacional, uma sondagem da Datafolha publicada no dia 9 de maio, mostrou que 37 por cento dos brasileiros votariam nela, frente a 44 por cento em fevereiro. 

Foi a primeira contagem a sugerir que ela não venceria no primeiro turno, o que requer que seu apoio seja maior do que o de todos os outros oponentes juntos.

“Um cenário sem Dilma é muito melhor para o mercado”, disse Carvalho da Tree Capital. “Mas é impossível torcer contra a seleção”.

COMPETINDO POR COMPETÊNCIAS

Brasil acompanha a tendência mundial de atração de mão de obra qualificada e importa mais profissionais.

A rede social LinkedIn avaliou a mobilidade dos trabalhadores em 20 países, de novembro de 2012 a novembro de 2013, e concluiu que o Brasil importou mais trabalhadores do que exportou, o que revela uma expansão de 0,2% na força de trabalho. De um lado, as consultorias de Recursos Humanos atribuem os dados à falta de mão de obra qualificada. Do outro, pesquisadores são menos categóricos e destacam que o movimento é uma tendência mundial.

“A mão-de-obra técnica falta muito, desde engenharia até Tecnologia da Informação e, principalmente, Ph.D. Quanto mais alta a qualificação, menor é a oferta de profissionais capacitados”, relata Naira Ferreira, responsável pelo setor de recrutamento e seleção da Clave. “Muitas vezes só trazendo de fora mesmo, porque o país não atende a esta demanda. Fizemos recentemente uma procura por um especialista químico, Ph.D., para um laboratório de bens de consumo e, em nível Brasil, foram só cinco candidatos. Acaba tendo que trazer de fora, e como muitas vezes a empresa é transnacional, acaba preferindo mesmo importar profissionais”, explica.

Naira também aponta a necessidade de conhecer outros idiomas como uma barreira. “Às vezes até tem o técnico, mas falta o idioma. Outra posição que estávamos fazendo uma seleção era de engenheiro técnico de vendas, que precisava falar japonês, ou seja, foi mais fácil importar. Quando precisamos do técnico com idioma fica mais complicado ainda, então temos a necessidade de trazer de fora”, finaliza.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego, 20.108 especialistas, assistentes técnicos e atuantes na transferência de tecnologia começaram a trabalhar no país em 2013. Foi o maior grupo de estrangeiros que recebeu um visto de trabalho no último ano, atingindo 32% do total. Por sua vez, 59% de todos os imigrantes possuem nível superior e 40% têm nível médio ou técnico. A maior parte têm origem nos Estados Unidos, Filipinas, Reino Unido, Índia, Alemanha e Portugal. Os dados são claros ao demonstrar que o Brasil vem importando mão-de-obra qualificada em grande escala.

Patricia Villen, pesquisadora do Doutorado de Sociologia do Trabalho da Unicamp, por outro lado, defende não ser tão simples afirmar que falta mão de obra qualificada no Brasil. “Há um discurso muito atuante por parte das empresas privadas e unidades de recrutamento que dizem haver uma falta de profissionais com perfil qualificado. Essa não é uma posição unânime, inclusive já existem estudos publicados que defendem que não há falta de engenheiros, por exemplo. Esse é um assunto muito polêmico”, pondera.

“O fluxo é heterogêneo, desde imigrantes em empresas com transferência de tecnologia ou associações de petróleo. Os números mais altos são desses fluxos, mas também há imigração de médicos e de outros engenheiros. Há uma diversidade: petróleo, gás, energia, tecnologias da informação, construção civil, infraestrutura… É um fluxo também muito ligado à internacionalização da malha produtiva, ao fluxo de capitais e a investimentos estrangeiros”, aponta Patricia.

Ela lembra, ainda, que o sistema de imigração é mundial. “É utilizado no mundo todo e ganhou espaço no Brasil principalmente após a crise de 2008. Há funcionalidades produtivas pela imigração e os imigrantes muitas vezes são temporários, o que diminui os custos, como de aposentadoria”, explica.

Por fim, a pesquisadora também destaca que a demanda não é só por profissionais qualificados. “Existe a demanda pelo perfil qualificado, que corresponde aos dados institucionais, e a demanda por um perfil mais precarizado que não ganha visibilidade. Essa última demanda começou a ganhar mais espaço nos últimos anos com a entrada dos haitianos”, conclui.


Ana Luiza Albuquerque
(JB – 21/05/2014)

Vivemos um autoengano coletivo no caso da Copa


A Copa não tem o poder de transformar o Brasil. No dia 12 de junho, continuaremos a ser o mesmo país. E é aí que está o mal: em algum momento acreditamos poder fingir ser o que não somos

Alexandre Battibugli/ Exame
Maracanã antes da reforma, em 2009
Preço alto: pior que pagar o custo exorbitante de estádios é a sensação de sermos uma sociedade incapaz de fiscalizar

São Paulo - Um mês — um único mês — de alegria não poderia nos custar tão caro. Não estou falando apenas da montanha de dinheiro investido em 12 estádios de futebol que certamente não prestarão um grande serviço à sociedade após o apito final do Mundial de futebol do Brasil.

Na paisagem de Brasília, o Mané Garrincha surge quase como um deboche, com sua cobertura de tecido importado de 174 milhões de reais. Não estou falando apenas das parcas obras de infraestrutura e mobilidade urbana, feitas às pressas, à base de jeitinhos e de aditivos ­contratuais. Tudo isso é inconcebível. Mas também é fato. Nada disso seria um mal necessário — mas permitimos que fosse.

O preço maior, até agora, é o desalento, o mal-estar geral, a sensação de que somos, comprovadamente, uma sociedade mixuruca, de segunda categoria, que não consegue planejar, que não consegue realizar, que é incapaz de fiscalizar, que é impotente para impedir — não a realização da Copa, mas os descalabros expostos via satélite em ocasiões como essa.

Estamos com medo de passar vergonha diante do mundo. Estamos angustiados com o que vão dizer lá fora sobre nossos aeroportos, rodovias, hospitais.

 O que acontecerá se um bueiro explodir no Rio de Janeiro? E se ocorrerem arrastões no Recife? O que vão falar dos brasileiros se um turista for assaltado e morto? E se fotos com meninas prostitutas em Fortaleza estamparem os jornais estrangeiros? O que americanos, ingleses e espanhóis vão pensar da paisagem de Itaquera, um dos bairros mais pobres de São Paulo, palco da abertura do Mundial?

A Copa não tem o poder de transformar o Brasil. No dia 12 de junho, continuaremos a ser o mesmíssimo país. E é aí que está todo o mal: em algum momento, acreditamos que pudéssemos fingir ser algo que não somos. Nações são como famílias. Não queremos que nossa raiva, amargura, desavença e miséria sejam expostas.

É sempre mais confortável jogar tudo para debaixo do tapete das intimidades. Talvez isso pudesse ser feito se o mundo não tivesse mudado desde 1950 e se tudo se resumisse à paixão nacional, ao futebol. Não é, evidentemente, o caso.

Ao optar por sediar a Copa de 2014, aceitamos correr o risco de escancarar o que temos de melhor e de pior — e é a evidência de nossas incapacidades que nos dá raiva e nos faz desejar, no fim das contas, que nada disso estivesse acontecendo.

A exposição deste Brasil que não queremos ver é o que dá um inesperado gosto amargo a um evento que deveria ser nossa grande festa. Bom seria se tudo não passasse, como afirmou dias atrás o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de pura intriga de “setores que parecem desejar o fracasso da Copa”.

E que querer ir de metrô ao estádio fosse uma “babaquice” da classe média mimada. Infelizmente, pelo menos para Lula, o brasileiro não parece feliz com as opções de mobilidade urbana sugeridas por ele: ir a pé, descalço, de bicicleta, de jumento, de qualquer coisa.

 Pode ser — e é melhor que seja assim — que tudo mude quando a bola começar a rolar no gramado, o brasileiro ouvir o hino e eventuais vitórias passarem a inflar nossa autoestima e nosso orgulho nacional. Seria ótimo, no fim das contas, que a amargura e a revolta dessem lugar à festa.  

Nesta altura do campeonato, é bom torcer para que o melhor do brasileiro — nossa verdadeira face boa — possa aflorar. Vai ter Copa — a Copa possível no Brasil das realidades, e não das ilusões. Também somos filhos de Deus, e um mês de alegria será uma pequena compensação pelo preço que, num momento de autoengano coletivo, decidimos pagar.

"O lucro para grifes de moda está fora do eixo Rio-SP"


Emanuel Chirico, presidente do conglomerado de moda PVH, dono das marcas Calvin Klein e Tommy Hilfiger, diz que só há um jeito de ganhar dinheiro no Brasil — fugindo de São Paulo e Rio

Pascal Le Segretain/Getty Images
A atriz Jennifer Lawrence chega a festa pós-premiação do Oscar em 2013
A atriz Jennifer Lawrence: o luxo representa apenas 2% das vendas 

São Paulo - Nenhuma grife internacional tem tantas lojas no Brasil quanto a americana Calvin Klein. Seus 97 pontos de venda e as 2 000 butiques multimarcas que a atendem vendem estimados 750 milhões de reais em produtos da marca. Esse tamanho todo é resultado de uma estratégia de expansão bastante peculiar.

Enquanto a concorrência se estapeia para conquistar o consumidor de alguns bairros de São Paulo e Rio de Janeiro, a Calvin Klein decidiu desbravar o país. Do total, 71 lojas estão fora do eixo Rio-São Paulo, em cidades como Macapá, Teresina e São Luís.

A marca pertence há 11 anos ao conglomerado PVH, cujo faturamento triplicou nos últimos cinco anos (hoje é de 8 bilhões de dólares). A PVH também é dona da marca Tommy Hilfiger, que fechou no ano passado um acordo com o grupo de moda brasileiro Inbrands — o qual será responsável pela gestão da marca no país por dez anos.

Em visita recente ao Brasil, Emanuel Chirico, presidente da PVH, diz que é impossível ganhar dinheiro apenas com um punhado de butiques nos endereços mais elegantes do país. 

EXAME - A Calvin Klein veste atrizes como Jennifer Lawrence e Gwyneth Paltrow nas cerimônias do Oscar e, ao mesmo tempo, vende calças jeans no interior do Brasil por menos de 200 reais. Qual é a lógica? 

Emanuel Chirico - Temos um estilista brasileiro, Francisco Costa, no comando da linha mais luxuo­sa, que aparece na semana de moda de Nova York e nos tapetes vermelhos de Hollywood. Mas esse negócio representa apenas 2% ou 3% de nossa receita. Ganhamos dinheiro mesmo vendendo jeans, roupas para praticar esportes e lingerie por preços mais acessíveis.

É claro que o braço de luxo ajuda na construção da marca, mas estamos longe de ser uma Gucci ou uma Louis Vuitton. Nunca quisemos ser uma marca exclusiva de luxo

EXAME - Por isso o senhor abre lojas em cidades esnobadas pelas outras grifes internacionais?
Emanuel Chirico - Eu estou no Brasil para vender grandes volumes e ganhar dinheiro. É impossível fechar no azul com meia dúzia de butiques em São Paulo e Rio de Janeiro, como nossos concorrentes internacionais estão fazendo nos últimos anos.

Nossa margem de lucro aqui, antes dos impostos, é de 20%, em linha com o que temos em outros países, graças à expansão geográfica. Pretendemos estar em todas as capitais do país. Hoje, só não temos lojas em Palmas e Boa Vista. Recife, Fortaleza, Salvador e São Luís são grandes mercados para nós.

EXAME - Desbravar tantos mercados ao mesmo tempo não é arriscado?
Emanuel Chirico - Em vez de me aventurar em um novo país, prefiro fechar parcerias com empresas que conheçam melhor o mercado local. A operação brasileira era tocada por uma licenciada nossa, a Warnaco, que acabamos comprando em 2013.

Adotamos a mesma estratégia com outra marca nossa, a Tommy Hilfiger, que em 2013 foi licenciada para a Inbrands por dez anos. O trabalho de desenvolvimento da marca no Brasil está nas mãos deles. Se der certo, poderemos assumi-la de volta após o fim do contrato, quando a marca já estiver mais conhecida. 

EXAME - Os brasileiros são muito diferentes dos consumidores de outros países?
Emanuel Chirico - Descobrimos que o brasileiro que entra na loja da Calvin Klein em Nova York ou em Miami não vê graça no que vendemos, porque acha tudo básico demais. Para cair no gosto de vocês, tivemos de aplicar brilho nas roupas, colocar zíper que chama a atenção na jaqueta e, nas calças, tachas.

Outra diferença: aqui a coleção muda de três em três meses, porque precisa haver novidade sempre. Nos Estados Unidos, a mesma coleção fica seis meses na loja. São coisas que levamos algum tempo para aprender.

E a gente só consegue operar assim no Brasil porque produzimos 90% das peças aqui e em países vizinhos. Se dependêssemos de importação da China, como alguns concorrentes, não teríamos os produtos certos, e a conta não fecharia.

A fase de maior crescimento da Calvin Klein aconteceu depois da saída de seu fundador, em 2003. Como vocês mantiveram a essência do negócio sem a figura dele? 
Emanuel Chirico - As três pessoas-chave da equipe de criação foram contratadas pelo próprio Calvin Klein e seguiram na empresa. São o brasileiro Francisco Costa, estilista da coleção de luxo feminina, Italo Zucchelli, que assina a coleção masculina, e Kevin Carrigan, à frente do jeans e do que vendemos em volume. Eles entendem o DNA da marca como ninguém. 

EXAME - O maior crescimento para as grifes globais de moda vai continuar a vir dos países emergentes?
Emanuel Chirico - Nos próximos dez anos, as marcas de moda vão ficar ainda mais globais, com Brasil e Ásia ocupando uma porção maior dos negócios. Temos muitas oportunidades para ocupar espaços em branco nesses mercados.

No Brasil, vamos trazer para as lojas, em breve, novas linhas de produtos, como ternos e camisas sociais, roupas esportivas e itens para a casa. Esperamos ver uma consolidação dentro da indústria, já que todas as empresas olham para expansões fora de seu mercado de origem. É da diversificação de países e de mercados que virá o crescimento.

Não há bolha imobiliária, mas imóvel está caro, diz estudo


Análise da Poli-USP mostra que tudo indica que não há bolha no mercado imobiliário, afinal; o que não significa que imóveis não estejam caros para a população




Germano Lüders/EXAME
Imóveis na região do Jardins, São Paulo
Imóveis em São Paulo: custos e de preços de imóveis pode subir mais em algumas regiões

São Paulo – Não, o Brasil não está vivendo uma bolha imobiliária no mercado residencial, mas realmente os preços dos imóveis cresceram muito acima da renda do brasileiro – ou seja, apesar do aumento da renda dos últimos anos, os imóveis residenciais ficaram sim caros para a população.

É o que mostra uma análise capaz de desanimar ainda mais os brasileiros que se sentem longe de conseguir comprar um imóvel próprio que não seja um cubículo em uma boa localização de um grande centro urbano no Brasil.
Feito pelo professor João da Rocha Lima, coordenador do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), o trabalho foi publicado na última Carta do NRE-Poli, publicação trimestral enviada ao mercado e disponível no site do núcleo.
Intitulada “Lições sobre Bolhas”, a carta mostra que, ao se deflacionar a alta dos preços dos imóveis residenciais brasileiros entre 2005 e 2013 com base nos custos de construção, o que se mostra não é um cenário de bolha. Mas em 2011 houve sim um ciclo especulativo, já corrigido.

“No segundo semestre de 2011, os preços do mercado chegaram a 22% acima do preço justo dos imóveis. Os preços cresceram gradativamente contra o preço justo, até se acomodarem novamente em dezembro de 2013”, disse Rocha Lima em entrevista a EXAME.com.

Mas se, por um lado, a disparada dos custos de terrenos e de construção faz com que os preços dos imóveis não estejam altos em relação aos custos, o crescimento da renda do brasileiro no período, apesar de significativo, ainda ficou muito aquém da alta dos preços dos imóveis.

Segundo a análise do NRE-Poli, de 2005 a 2011, um mesmo imóvel ficou nada menos que 74% mais caro para uma pessoa de um mesmo estrato social. Daí vem o desconforto das pessoas que sonham com a casa própria, mas sentem que não conseguirão pagar por ela tão cedo.

“Seria razoável se os preços subissem de acordo com a curva de capacidade de compra. Mas eles cresceram muito acima dessa curva. O que comprova que isso é verdadeiro é que os imóveis estão ficando cada vez menores. A renda não tem crescido na mesma proporção, porque os custos de construção estão subindo muito acima da renda”, diz o professor.

Embora não espere uma queda acentuada de preços dos imóveis residenciais nas grandes cidades brasileiras, Rocha Lima acredita que agora os preços devem ficar paralisados, crescendo apenas modestamente, de acordo com a inflação.

Isso na média. O professor lembra que, em certos lugares – cidades ou mesmo bairros específicos – os custos de produção continuarão a pressionar os preços, por motivos pontuais.

“Ao se aprovar o novo Plano Diretor da cidade de São Paulo, por exemplo, os custos dos terrenos devem crescer muito, o que deve elevar os custos de construção. E não há como embarcar esse crescimento de custos em margens de lucro ainda menores para as construtoras, porque elas já estão muito comprimidas. Assim, os preços dos imóveis devem continuar aumentando”, explica.

Em outras localizações, por outro lado, os preços podem até cair nominalmente. “Construtoras que querem sair de alguns mercados estão fazendo liquidações de estoques, oferecendo descontos. É o que ocorre em Salvador, por exemplo”, observa Rocha Lima.

O professor, no entanto, não descarta a possibilidade de queda de preços moderada dentro de três ou quatro anos. Segundo ele, atualmente, o espaço para queda de preços seria de 6%, em média, segundo estudos da Poli-USP.

“Para isso ocorrer, as construtoras precisam praticar custos mais eficazes. A partir do momento em que elas forem capazes de moderar sua eficiência de produção, em que se verificar que a obra ficou mesmo mais barata, aí pode haver uma compressão de preços. Mas as empresas primeiro precisam ter essa visão de que os custos devem baixar e aplicar novas metodologias”, avalia Rocha Lima.

O estudo completo está disponível abaixo:

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Abbott comprará fabricante de medicamentos CFR Pharma


Aquisição mais que dobrará seu portfólio de drogas genéricas de marca e ampliará sua presença na América Latina.

Divulgação
Abbott Laboratories
Abbott: preço total de compra deve ser de cerca de 2,9 bilhões de dólares

São Paulo - A Abbott Laboratories anunciou que vai adquirir a companhia farmacêutica latino - americana CFR Pharmaceuticals, o que mais que dobrará seu portfólio de drogas genéricas de marca e ampliará sua presença na América Latina.

A Abbott disse que vai comprar a holding que controla indiretamente cerca de 73 por cento da chilena CFR e que vai conduzir uma oferta pública de compra para as ações restantes.

A companhia afirmou que, caso todas as ações circulantes sejam envolvidas, o preço total de compra deve ser de cerca de 2,9 bilhões de dólares, e mais 430 milhões de dólares em dívidas assumida

Mulher presidente tem mais risco de demissão do que homem


Levantamento sobre a movimentação de presidentes de grandes empresas nos últimos 10 anos mostra que frequência de executivas demitidas é maior do que de homens



Stock Exchange
Executiva de gravata
Com "gravata" no pescoço: presidentes mulheres recebem menos apoio

São Paulo – Executivas do topo da hierarquia corporativa que se segurem no cargo. Pesquisa recente da Strategy& com 2,5 mil maiores empresas de capital aberto do mundo aponta que as chances de demissão são maiores para elas do que para os presidentes homens.

A conclusão parte da análise das movimentações de presidentes nos últimos dez anos. Enquanto quase 40% das mulheres foram demitidas do comando de empresas, no mesmo período, apenas 27% dos presidentes homens receberam “bilhete azul” (ou seja, perderam o posto).

O coautor do estudo, Per-Ola Karlsson, disse em entrevista ao Financial Times que a busca por mais mulheres em postos de comando – alavancada por pressões culturais e políticas - leva empresas, muitas vezes, a escolhas ousadas que podem não funcionar.

Conselhos de administração majoritariamente masculinos em sua composição também contribuem para este cenário porque tornam árido o ambiente de trabalho para as presidentes de empresa, segundo também afirmou Karlsson ao Financial Times.

Maioria masculina no conselho pode, em alguns casos, se traduzir em menos apoio à presidente, segundo Karlsson apurou ao longo de conversas que teve com mulheres que ocupam postos de comando.

Pesquisa da Bain &Co. confirma em números o que Karlsson diz ter ouvido de executivas.  Segundo este estudo, 41% das mulheres em cargos de gestão apontam a diferença de estilos entre os gêneros como o principal entrave para suas carrreiras. Some-se a isso ao fato de 88% afirmarem que os chefes são mais propensos a promover ou indicar profissionais com um estilo semelhante ao deles mesmos e o cenário desfavorável à mulher ganha ainda mais força. 

Aliás, os conselhos de administração continuam sendo um “calcanhar de Aquiles” da paridade de gênero entre os executivos. No Brasil, por exemplo, apenas 7,7% das posições em conselhos são de mulheres, segundo estudo do Catalyst.org. Na Noruega, elas estão em 40,9% das cadeiras dos conselhos.