quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

O que sete mentes econômicas estão pensando sobre o Brasil de 2015?



O cenário é praticamente unânime: o crescimento será baixo e ajustes deverão ser feitos

Por Infomoney


1-recuperacao-menorO ano de 2014 acabou, mas os problemas que foram evidenciados continuam os mesmos. Ajustes fiscais, controle de gastos, aperto da política monetária são os desafios mais claros em um cenário de baixo crescimento – e eles devem dar bastante trabalho para a atual equipe econômica. Ao mesmo tempo em que tem de fazer ajustes no curto prazo, o Brasil se depara com questões de longo prazo como o aumento da produtividade e da mão de obra qualificada para que o país volte a crescer e a aumentar a sua competitividade internacional.

Porém, no atual momento, os olhos seguem voltados para os ajustes necessários, o que tem gerado temores sobre o que será este ano para o Brasil. Em meio a um ambiente complicado – e também "temperado" por fatores internacionais – o que esperar para a economia brasileira em 2015? O Infomoney fez um apanhado das previsões econômicas de equipes de bancos de investimento e analistas sobre os possíveis cenários. Confira a seguir.


Alexandre Schwartsman, sócio-diretor da Schwartsman & Associados

 
“Acredito que 2015 será um ano difícil. Será uma combinação nada favorável de crescimento ainda baixo, provavelmente inferior ao de 2014, na casa de 0% a -0.5% (supondo que não haja alteração na série histórica). Já a inflação deve permanecer próxima a 6,5%, com probabilidade significativa de superar esse valor. O desempenho ruim da atividade econômica, além da dinâmica fraca de hoje, deve refletir algum aperto no conjunto da política econômica, com o reaparecimento do superávit primário (hoje há déficit), enquanto o aperto monetário em curso deve produzir a maior parte dos seus efeitos em 2015. A inflação de preços livres deve moderar, mas, no conjunto da obra, preços administrados – há muito defasados – deverão representar parcela relevante da inflação. A moeda deve seguir pressionada pela queda do preço de commodities e fortalecimento global do dólar, mas não espero uma dinâmica descontrolada. O dólar deve ficar na casa de R$ 2,80 a 2,90 para o final de 2015. A taxa de juros deve fechar dezembro entre 12,5% e 13%. Contas externas devem melhorar muito ligeiramente na esteira de um saldo comercial melhor que o deste ano, refletindo câmbio mais fraco e demanda interna contida. Nesse contexto, o desempenho do emprego deverá ser tão ruim ou pior que o de 2014 levando a alguma elevação do desemprego para a casa de 6%. Resta saber quanto tempo a presidente aguentará essa sequência de más notícias.”


João Ricardo Costa Filho, economista da Pezco Microanalysis

 
“O que sabemos sobre 2015? Será um ano difícil. O crescimento será baixo. Para mim, nulo. A inflação continuará teimosamente alta e a probabilidade de romper o teto de tolerância tem aumentado. A indústria continuará com dificuldades para atender a demanda interna, que continuará robusta, embora estagnada. As importações que vêm suprindo essa diferença de competitividade serão desestimuladas com o aumento da taxa de câmbio. Estimo que o valor de equilíbrio da taxa de câmbio atualmente seja entre R$ 3,00 e 3,10. Todos os fundamentos apontam para a depreciação do real. O que não sabemos sobre o ano que se inicia? Quão difícil será. A equipe econômica propõe um ajuste fiscal da ordem de R$ 100 bilhões. A articulação política será crucial para poder implementá-lo, o que por si só já é um problema, dado que o governo precisará da ajuda daqueles mesmos parlamentares que terão seus pedidos de recursos negados (ou diminuídos). Abrem-se, portanto, dois caminhos: se o ajuste for de fato implementado, no curto prazo o impacto será contracionista. Esse movimento auxiliará a política monetária, cuja entidade monetária já iniciou um novo ciclo de aumento da taxa de juros, que deve chegar em 12,5% ao ano. Com a diminuição da inflação em 2016 em função dos ajustes em 2015, a economia poderá ganhar tração novamente. É possível, inclusive, que os agentes antecipem esse movimento e tornem 2015 menos pior. Tudo depende da credibilidade do governo que, como sabemos, está abalada. Todavia, se não houver ajuste, os próximos anos trarão uma crise fiscal.”


Alberto Ramos, economista e diretor de pesquisas para a América Latina do Goldman Sachs

 
“As perspectivas macroeconômicas e financeiras dos anos de 2015 e 2016 para o Brasil continuam a ser complexas e desafiadoras. O ajuste macroeconômico dos excessos políticos anteriores devem continuar ao longo deste ano. No geral, 2015 provavelmente marcará o quinto período consecutivo de crescimento decepcionante e inflação global acima de 5,5%. Assim, a presidente enfrentará questões macroeconômicas antigas e pode encontrar novos desafios políticos e sociais. Na área social, a administração será desafiada a adotar políticas que abordem a ampla demanda por mudanças (melhores e mais eficientes serviços públicos). Na frente política, o governo enfrenta o desafio de construir uma maioria que trabalha em um Congresso que agora é mais fragmentado e ideologicamente diverso do que antes da eleição e onde a oposição deve ser mais vocal e combativa. Finalmente, na parte da frente macroeconômica, a administração enfrenta escolhas políticas monetária e fiscal dado o fraco cenário macro de baixo crescimento, inflação elevada e acima da meta, as expectativas de inflação não ancoradas, custos unitários do trabalho não competitivos, a recessão no setor industrial, enfraquecimento dos fundamentos fiscais em conta corrente, a credibilidade da política corroída, além do cenário menos favorável do sentimento dos consumidores e dos sentimentos das empresas. Em última análise, o governo enfrenta o desafio de, através de uma combinação de políticas convencionais disciplinadas e de reformas estruturais, reequilibrar a economia e impulsionar os deprimidos ‘espíritos animais’.”


Marcelo Kfoury e equipe econômica do Citi Corretora
 

“O ano de 2015 promete ser muito difícil para a economia brasileira. Além do ambiente doméstico e internacional difícil, Dilma terá de enfrentar as consequências políticas do escândalo de corrupção na Petrobras. O país tem sido avisado pelas agências de rating que um rebaixamento é possível e, por conseguinte, uma consolidação gradual fiscal se tornou necessária. Prevemos um superávit primário de 1% do PIB para este ano, o que não é suficiente para estabilizar a relação entre a dívida pública e o PIB. Essa melhoria nos números fiscais será ainda mais difícil dada a nossa revisão em baixa das estimativas de crescimento do PIB para 2015 e 2016 (a 1,8% de 2,8%). Em relação a inflação, a nossa estimativa é de que ficará acima da meta em 2015, em 6,8%, apesar de nosso cenário de crescimento lento e o esperado aperto da política monetária (Selic em 12% no final do ano em nossa projeção). As condições externas têm alimentado as perspectivas para a queda do real e leva a perspectivas mais limitantes em relação às contas externas.”


Carlos Kawall e equipe econômica do Banco Safra
 

“O desempenho da economia brasileira terá como pano de fundo um processo de crescimento da economia global que será liderado pelos Estados Unidos. Mas o ritmo diferenciado de expansão das principais economias desenvolvidas deverá acarretar o início do processo de elevação do juro básico nos EUA e Reino Unido, enquanto a Zona do Euro, Japão e China poderão adicionar estímulos monetários adicionais – um cenário que favorece a apreciação do dólar norte-americano. O Brasil iniciará o seu ciclo político sob a égide de uma nova equipe econômica, que já anunciou metas para o superávit primário e dívida bruta do governo geral para os próximos três anos, passo fundamental para recuperar a credibilidade dos agentes econômicos. O ajuste fiscal terá apoio importante na recomposição dos preços administrados, o que nos leva a esperar uma aceleração do IPCA para 7,2%, mas com importante queda da inflação de preços livres. Com isso, esperamos que a taxa Selic seja elevada para 12,5%. A taxa de câmbio deverá manter sua trajetória de desvalorização, alcançando R$ 2,80 ao final de 2015, contribuindo para uma redução do déficit em transações correntes para 3,5% do PIB. O crescimento do PIB será de 0,3% repetindo o quadro de estagnação de 2014. Mas acreditamos que a recuperação da confiança permitirá um quadro mais favorável para o crescimento, com inflação mais baixa, a partir de 2016.”


Nilson Teixeira e equipe econômica do Credit Suisse
 

“A expectativa é de que o PIB tenha pouca expansão em 2015. Esse baixo crescimento é resultado da contração dos investimentos e desaceleração adicional do consumo das famílias. O crescimento mais baixo pode ser adverso e levar a um mercado de trabalho mais atribulado, uma demanda mais fraca da busca de crédito nos bancos e alta das taxas de empréstimos. A expansão do consumo de governo deve desacelerar como ocorre nos anos seguintes às eleições presidenciais. A contribuição do setor externo será positiva graças ao resultado de uma contração das importações. A expectativa é de um crescimento de 0,5% do PIB em 2015 e de 1,% em 2016.”


Equipe econômica da LCA Consultores Associados

 
“O ano de 2014 começou com esperanças de aceleração do crescimento global, mas acabou marcado pelo desempenho desigual nas principais economias mundiais. O ano de 2015 também se inicia com expectativas de melhora da atividade mundial, mas antigas incertezas – muitas renovadas – continuam a pesar sobre a confiança. Esse fator ameaça um cenário global mais auspicioso. No Brasil também persistem incertezas em relação à condução da política econômica e à capacidade de reativação da economia – elementos que tendem a manter elevados os riscos de rebaixamento de rating. Nosso cenário base continua a antever: (i) alguma melhora, mesmo que desbalanceada, do crescimento global; e (ii) gradativa (mas irregular) diluição das desconfianças internas. Mas o risco de frustração dessas expectativas alvissareiras continua significativo.”

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Arezzo&Co aprimora canal multimarcas e online


Divulgação
Loja Schutz
Loja Schutz: a empresa Arezzo&Co se empenha em treinar vendedores e estuda cada canal de venda
São Paulo - A empresa Arezzo & Co tem hoje um desafio duplo: expandir o canal Multimarcas e desenvolver o comércio eletrônico. 

Os sapatos Arezzo, Schutz ou Ana Capri podem ser encontrados nas franquias ou lojas próprias, nos canais multimarcas ou, em breve, nas lojas online. Hoje, os canais Multimarcas correspondem a um quarto do total de faturamento da empresa. Ainda assim, são um dos setores de maior crescimento. 

Segundo a última divulgação de resultados da empresa, a receita de multimarca cresceu 16,9% em relação ao ano passado, enquanto a empresa teve crescimento de 12,2%.

A marca Schutz é a mais forte deste segmento, e representou 56,0% da receita bruta do canal. Segundo David Python, diretor comercial da Arezzo & Co, esta marca já está estabilizada, e “o nosso desafio, agora, é de posicionamento da Schutz, exposição de produto lá na ponta”, disse ele a Exame.com na feira Couromoda, em São Paulo.

Já as outras marcas, Arezzo e Ana Capri, deverão aumentar sua penetração no segmento Multimarcas. 


Comércio eletrônico


Em relação às vendas virtuais, a empresa investiu em uma nova plataforma de vendas. O sistema ainda está na fase de pilotos. 

O principal objetivo do comércio eletrônico é proporcionar uma boa experiência de compra, para levar o consumidor até a loja física.

Em segundo lugar, o sistema irá se integrar com a loja física, ao gerenciar os estoques dos franqueados online. Assim, um franqueado poderá vender seus produtos também na internet.

Indústria de calçados espera crescimento das exportações


practicalowl/Creative Commons
Calçados
Calçados: o setor enfrentou, no ano passado, redução das vendas
Daniel Mello, da AGÊNCIA BRASIL

São Paulo - A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) espera crescimento das exportações em 2015.

O setor enfrentou, no ano passado, redução das vendas, o que resultou, segundo o presidente da associação, Heitor Klein, no fechamento de 24 mil postos de trabalho.

“Nós temos a perspectiva de crescimento das exportações brasileiras, e temos perspectiva de estabilidade, nos patamares de 2014, no mercado doméstico”, ressaltou em entrevista hoje (13) na 42ª Feira Internacional de Calçados, Artigos Esportivos e Artefatos (Couromoda), em São Paulo.

Segundo Klein, a desvalorização do real é um dos fatores que aumenta a competitividade do setor. Na avaliação dele, a moeda norte-americana pode chegar à cotação de até R$ 3,00, o que ele considera ponto de equilíbrio cambial. “Este é um ano que, pensamos, será possível crescer bastante no mercado internacional. As exportações estão no foco de todas as empresas”, enfatizou.

Em dezembro de 2014 as exportações de calçados cresceram 10%, comparado ao mesmo mês de 2013. O faturamento com as vendas para o exterior chegou a US$ 119,25 milhões. Porém, ao longo do ano, as exportações do setor caíram 2,6%, em relação a 2013. Foram enviados ao exterior 129,5 milhões de pares de calçados, no valor de US$ 1,067 bilhão - US$ 30 milhões a menos do que em 2013. Apesar do aumento de 5,4% no volume de vendas, a queda no preço médio do produto impactou negativamente no faturamento.

Para ajudar a impulsionar as exportações, a Abicalçados firmou parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). A agência governamental - vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - vai investir R$ 28,5 milhões ao longo de 2015 e 2016, enquanto a associação aportará R$ 12,9 milhões para a promoção de marcas nacionais no exterior. Os Estados Unidos, México, Colômbia, Alemanha, Emirados Árabes, China e Rússia são os principais alvos das empresas brasileiras.

Caso seja confirmada a manutenção das vendas no mercado interno e o crescimento nas exportações, Klein acredita que a indústria manterá os níveis de emprego. “Com a estabilidade no mercado doméstico e crescimento nas exportações, pelo menos manteremos o quadro de funcionários que temos hoje, até com possibilidade de algum aumento”, destacou sobre os cerca de 255 mil postos de trabalho diretos no setor.

Qualquer acionista pode processar a Petrobras?


Germano Luders
Dinheiro
Dinheiro: Independentemente do tamanho prejuízo, qualquer investidor que teve perdas com as ações por causa dos escândalos pode processar a empresa
São Paulo - O advogado Francisco Antônio Stockinger, de Porto Alegre, está entrando na Justiça em defesa de seis acionistas minoritários da Petrobras, que tiveram prejuízos em decorrência dos recentes escândalos da empresa, deflagrados pela Operação Lava Jato.

Segundo ele, qualquer investidor que teve perdas com a ação, motivadas por fraudes na gestão da empresa, pode entrar com o processo, independentemente do tamanho do prejuízo.

“As ações são individuais e se propõem a buscar uma restituição do valor perdido com a ação em decorrência da corrupção e também do superfaturamento de obras que elevaram artificialmente as cotações da empresa”, diz o advogado. 

Ele está representando clientes que iniciaram seus investimentos na Petrobras em diferentes momentos e, portanto, tiveram diferentes níveis de prejuízo.

Stockinger diz que alguns de seus clientes tiveram perdas de mais de 80% ao comprar as ações em 2008, quando os ativos estavam cotados a 48 reais. No último fechamento, do dia 12 de janeiro, as ações da Petrobras (PETR4) valiam 8,91 reais.

Mas de acordo com o advogado, mesmo investidores que tenham comprado as ações mais recentemente e sofreram perdas menores também têm justificativa para processar a empresa, já que o processo não se baseia no tamanho da perda, mas no fato de que os prejuízos foram gerados por atos ilícitos na gestão da estatal.

“O acionista não precisa ter investido em 2008, que foi o período de maior perda. Mesmo se comprou há dois anos, ou no ano passado, mas teve perda em decorrência dessa situação, é possível entrar com a ação”, afirma o advogado.
As ações movidas contra a empresa têm base em diferentes tipos de infração. Parte delas se refere aos artigos 157 e 158 da Lei das Sociedades Anônimas, que dizem respeito à responsabilidade dos diretores sobre a má gestão das empresas.
Também serão citados na defesa os artigos 932 e 933 do Código Civil, que tratam dos prejuízos gerados em decorrência de atos ilícitos e corrupção. E ainda o artigo 376 da Constituição, relacionado à infração dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência por parte do poder público.

“Estamos promovendo a ação contra a União, que, em condição de acionista controladora, escolheu a diretoria da Petrobras baseada em critérios políticos para se beneficiar de apoio no Congresso Nacional. Houve desvio de função na Petrobras e ingerência política”, argumenta Stockinger.

Outros pontos a serem defendidos pelo advogado são o superfaturamento de obras da empresa, que acabaram inflando o valor patrimonial das ações, e a falta de transparência sobre a viabilidade de alguns empreendimentos. “Os acionistas já perderam dinheiro com isso e quando os valores desses empreendimentos forem ajustados, o valor patrimonial da empresa cairá ainda mais e o prejuízo será maior", afirma.

As ações promovidas contra a estatal serão encaminhadas à Justiça Federal.


Honorários


Stockinger não revelou qual é o honorário advocatício cobrado no processo e afirmou que os valores são negociados com cada cliente.

Ele disse apenas que os clientes devem pagar uma taxa para custear as despesas no início do processo e um percentual da indenização recebida, caso a ação saia vitoriosa. 

O advogado ressalta que, por mais que os acionistas ganhem a causa, será recebido apenas o valor referente ao prejuízo gerado pelas ações durante o período do investimento.

O processo não reivindica nenhum valor adicional, como por eventuais prejuízos morais causados aos acionistas.

Isso significa que o investidor que desejar entrar com a ação terá como ganho máximo a reposição do valor perdido com o investimento, e ainda terá que descontar dessa indenização os honorários advocatícios.

O advogado afirma que os clientes representados podem mover a ação mesmo sem se desfazer das ações da Petrobras. Assim, por mais que o prejuízo seja restituído aos acionistas, eles poderão manter o investimento nas ações e esperar por uma recuperação dos papéis.

O prazo de duração do processo é imprevisível, mas Stockinger está confiante sobre o resultado. "Com base nas investigações da Operação lava jato e em pareceres do Tribunal de Contas da União e da Controladoria-Geral da União, eu acredito que as ações podem sair vitoriosas."

A indústria teimosa


O coordenador do Movimento Brasil Eficiente faz um balanço do setor no Brasil

Indústria (Foto: GERJ)

O industrial brasileiro teima em apostar no Brasil, apesar de todas as dificuldades que lhe são impostas no país. Nem sempre consegue. A participação da indústria de transformação no nosso PIB, que há duas décadas ultrapassava os 30%, em 2004 havia caído para 18,5% e hoje já está abaixo dos 13%.

A margem de lucro da indústria de manufatura vem sendo seriamente deprimida, comprometendo sua capacidade de investimento, com reflexos negativos no principal componente da poupança nacional. O PIB industrial cresceu 1,6% em 2011, (-) 0,8% em 2012, 1,7% em 2013 e deverá ficar próximo de zero em 2014. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial recuou 1,6%, nos cinco primeiro meses deste ano, e a geração de empregos no setor caiu 2,2%, com o fechamento de 30 mil postos de trabalho apenas em maio.

Apesar de que na Alemanha a indústria de transformação ainda represente 25% da geração de riqueza, é normal que esta participação caia, na medida em que os países se desenvolvem. Um estudo do Banco Mundial demonstra que a partir de determinado nível de renda per capita, o setor terciário passa gradativamente a ocupar uma parte do espaço da indústria e manufaturados com maior conteúdo tecnológico substituem parcialmente a produção que migra para países de custo mais baixo. No Brasil, contudo, a desindustrialização começou antes do tempo, a sua curva é bem mais acentuada e o avanço do conteúdo tecnológico deu lugar a uma “reprimarização” da economia e da nossa pauta de exportação.

A participação dos manufaturados nas exportações brasileiras, que em 2007 era superior a 50%, decresceu para 40% em 2010 e para apenas 34% no primeiro semestre de 2014. O volume exportado foi 19,3% menor do que no mesmo período de 2013, levando a um saldo negativo de US$ 56 bilhões.

Em um ano o déficit da balança comercial de produtos manufaturados alcançou US$ 106,4 bilhões. Mesmo com a queda dos preços das commodities no mercado internacional, a sua participação nas exportações brasileiras atingiu o patamar mais elevado dos últimos 35 anos. Mais da metade do que exportamos no primeiro semestre foram bens primários como soja, minério de ferro e petróleo. Em 2002, essa participação não passava de 25%.

As nossas exportações representam os mesmos 1,3% das exportações globais que representavam no início da década de 1980. Em 2011, exportamos US$ 256 bilhões e a partir de então elas caíram para a faixa de US$ 243 bilhões, justamente pela queda dos manufaturados. Por falta de competitividade da indústria nacional, não temos conseguido avançar na inserção do país nas cadeias globais de valor. O Brasil é um dos países mais fechados e isolados do fluxo internacional de produção.

Estudo da consultoria Roland Berger mostra que os fabricantes de autopeças no país vêm perdendo rentabilidade desde 2010. Uma das razões apontadas é que em dez anos a produtividade do setor cresceu 21%, enquanto o custo da mão de obra evoluiu 239%. Jaime Ardila, presidente da GM para a América Latina, critica os gargalos à produtividade no Brasil, como infraestrutura precária e legislações tributária e trabalhista engessadas. Steve St. Angelo, presidente da Nissan para a América Latina, diz que o Brasil exporta carros apenas para a Argentina, devido ao alto custo de produção e deficiências de infraestrutura. Para atender os demais países da região, fica cerca de US$ 5 mil mais barato exportar a partir da fábrica nos Estados Unidos.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) afirma que enquanto não resolvermos os nossos problemas estruturais e continuarmos apostando em medidas paliativas como reduções temporárias de impostos, não teremos uma participação expressiva no comércio internacional. Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington, e hoje presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, diz que o Brasil está ficando isolado no comércio internacional.  Para reverter esse quadro, segundo ele, precisamos promover uma verdadeira campanha para reduzir os custos internos: “A máquina burocrática, o alto custo da mão de obra e da energia, a ineficiência dos portos – tudo o que representa o Custo Brasil – tem de ser atacado para que possamos recuperar a competitividade das nossas indústrias”.

Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) afirma que o planejamento econômico brasileiro olha o curto prazo. Políticas de juros e câmbio são feitas para segurar a inflação, estimulada por uma política fiscal frouxa. A consequência é a debilitação da indústria.

Estudo do Boston Consulting Group (BCG), indica que a indústria brasileira de manufatura teve sério comprometimento da sua competitividade nos últimos dez anos. Aumentos de salários, nos preços da energia, valorização do câmbio e desempenho ruim da produtividade levaram a produção no Brasil a custar em 2014 23% mais o que nos EUA, contra um custo 3% menor em 2004. Salários aqui mais do que dobraram no período, a eletricidade para a indústria subiu 90% e o gás natural 60%. Tanto os EUA como o México, que tem custo de manufatura 9% inferior ao americano, vem tendo crescimento moderado de salários e de custo de energia, além de ganhos sustentados de produtividade.

Sem dúvida, o mercado interno brasileiro é atraente e um estímulo à instalação de empresas no país, mas isso não tem sido suficiente para compensar os obstáculos que o poder público vem plantando no nosso ambiente empresarial. Sem contar jabuticabas como as NR12 e NR10, verdadeiras armadilhas para a competitividade da indústria brasileira. Os indicadores apresentados são mera consequência. Nada nos impede de mudar tudo isso.

Carlos Rodolfo Schneider é empresário e coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE), crs@brasileficiente.org.br

Minoritários vão processar Petrobras no RS

Iniciativa pode ser seguida em outras partes do país, segundo advogado responsável

Petrobras (Foto: Agência O Globo)

Um grupo de acionistas minoritários da Petrobras entrará na Justiça contra a estatal no Rio Grande do Sul pedindo indenização financeira.

O advogado Francisco Antônio Stockinger, que moverá as ações em Porto Alegre, reúne a documentação necessária para acionar a Justiça na capital gaúcha no final desta semana ou no início da próxima, em nome de seis acionistas. Ele esclareceu que os processos contra a Petrobras e a União serão individuais - ou seja, não haverá uma ação coletiva dos minoritários - e que o objetivo é recuperar as perdas que os investidores tiveram após os papéis da empresa despencarem na Bolsa de Valores, em parte devido aos desdobramentos da operação Lava Jato.

 "O objeto da ação é a redução do valor dos papéis da Petrobras, o que resulta da redução do valor do próprio patrimônio da estatal. E isso é decorrente do superfaturamento de obras, da (compra da) refinaria de Pasadena (nos EUA) e de uma série de operações que deram prejuízo", afirmou. "Queremos provar que houve má gestão (por parte da estatal) com dolo aos acionistas."


Segundo Stockinger, a União será demandada na condição de acionista controladora, responsável pela nomeação dos administradores que colocaram a empresa na situação em que está hoje. "Há provas de que a União nomeou a diretoria da Petrobras com interesse político. Isso já demonstra um desvirtuamento dos objetivos da companhia, que deveria estar pautada em favor dos acionistas", disse.

O advogado apresentará à Justiça Federal documentos públicos, como relatórios do Tribunal de Contas, e buscará ter acesso a depoimentos da própria investigação Lava Jato que comprovem a prática de dolo aos acionistas com a motivação política como pano de fundo.
Stockinger afirmou que também está em contato com possíveis demandantes em São Paulo e Minas Gerais. "Há outras pessoas interessadas", afirmou, apontando que a iniciativa pode ser seguida em outras partes do país.

Indenização


Stockinger contou que alguns dos seis clientes que entrarão na Justiça em Porto Alegre adquiriram as ações em 2008, quando o ativo valia R$ 48. A indenização pedida na Justiça, segundo o advogado, corresponderá à diferença entre o valor de compra e o de venda (no caso dos investidores que já se desfizeram dos papéis) ou o valor no momento da liquidação da sentença (para aqueles que ainda mantêm as ações).
O montante reivindicado por acionista, portanto, dependerá da quantidade de ações adquiridas e do período em que ficou de posse delas. Nesta segunda-feira, o papel PN da Petrobras fechou a sessão cotado a R$ 8,91. "Não existe precedente (para o processo). É uma matéria nova no Brasil", lembrou o advogado. A assessoria de imprensa da Petrobras informou que a estatal "desconhece a existência de qualquer ação judicial movida por acionistas minoritários no Rio Grande do Sul que verse sobre queda no preço das ações da companhia".

Governo não prepara "saco de maldades", diz Levy


Ministro da Fazenda reiterou que este será um ano de ajuste e a retomada do crescimento não será imediata

Joaquim Levy (Foto: Agência Brasil)

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta terça-feira (13/01), que o governo não tem como objetivo fazer um "saco de maldades" ou pacote de medidas, quando questionado sobre eventual aumento de tributos em entrevista no Planalto. Segundo ele, o governo tem limitação de gastos e está promovendo ajustes para preservar direitos e corrigir distorções e excessos.

Ele citou as reformas em benefícios trabalhistas e previdenciários encaminhadas ao Congresso e que devem trazer uma economia de R$ 18 bilhões este ano. "Essas distorções geram dispêndios e acabam com a capacidade de incluir outros direitos", justificou. "Não é proporcional renda vitalícia para quem tem condições de trabalhar", disse.

Levy afirmou que o governo fará eventualmente alguns ajustes na área tributária. No entanto, disse que eventual aumento de imposto será compatível com o aumento da poupança nacional e com o impacto nas decisões das famílias. Segundo ele, elevação da carga tributária tem que ter o mínimo de impacto na atividade econômica e nas empresas. Levy afirmou que muitos jovens estão optando pelo empreendedorismo e cabe ao governo criar as condições para esses negócios.


Ajuste fiscal

 
O ajuste fiscal é ferramenta essencial para ajudar no controle da inflação, disse Levy. Ele afirmou que o controle dos gastos públicos, ao conter a demanda econômica, faz o Banco Central subir menos os juros e melhora a competitividade das empresas.

“O mix de política fiscal e monetária é importante. Existe uma tentação, em todo o mundo, de jogar toda a responsabilidade [do controle da inflação] para a política monetária, mas há uma disposição de a política fiscal ajudar nessa questão”, declarou Levy. 

Segundo Levy, a coordenação entre o Ministério da Fazenda, responsável pelo corte de gastos, e o Banco Central, responsável por ajustar a taxa Selic, é importante para manter a inflação sob controle. “A política fiscal ajuda na questão de o Banco Central não precisar subir tanto os juros e melhora a competitividade do país porque dá mais impulso para as empresas, inclusive para exportar”, disse. O ministro argumentou que, se o governo gasta muito, "fica pesado" para o Banco Central fazer tudo sozinho.


O ministro reiterou que o ajuste fiscal ajudará o país a retomar o crescimento e a criar empregos. No entanto, a recuperação da atividade econômica só ocorrerá depois de algum tempo, quando os empresários retomarem a confiança na economia e voltarem a investir. “Este será um ano de ajuste, de equilíbrio. Estamos organizando tudo para a retomada do crescimento”, destacou.

Levy comparou a economia com um jogo de futebol para explicar que a retomada do crescimento demorará algum tempo. “A economia é como um time que está sendo rearrumado no começo do segundo tempo para fazer gol. Temos fome de fazer gol, mas também precisamos ter cuidado para não tomar gol”, acrescentou.


Davos

Levy deve participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos, e levará ao evento a mensagem de que "o Brasil é uma economia que tem grandes recursos e com mudanças na sua política econômica". 
O ministro lembrou que o Brasil passa por um processo de transformação. "Temos uma geração nova, mais inserida na economia de mercado", disse. "É um país com maturidade política", disse.


Imposto de Renda

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou nesta terça-feira, 13, durante um café da manhã com jornalistas, que não pretende "neste momento" mudar as alíquotas do Imposto de Renda. Atualmente, a tabela do IR acumula, desde 1996, defasagem de 64,3%. Apesar do Senado ter aprovado reajuste de 6,5% para 2015, o governo tem defendido correção de 4,5%.


Reajuste de combustíveis

 
Sobre possíveis reajustes dos combustíveis, o ministro afirmou que a Petrobrás vai, "cada vez mais", tomar decisões de preço segundo a avaliação empresarial dela. "Crescentemente a Petrobrás fará suas decisões como uma empresa", disse.
Nos últimos anos, o governo tem interferido nas decisões de reajuste da empresa de modo que as decisões não causassem pressão inflacionárias. A respeito disso, Levy respondeu que a Petrobrás é, "antes de tudo", uma empresa. O ministro afirmou que não está discutindo ida para a presidência do Conselho de Administração da Petrobrás e disse que os conselheiros continuam trabalhando. "Não estou ciente de convocação para assembleia", concluiu.


Energia

 
Depois das negociação na segunda-feira com a presidente Dilma Rousseff de uma solução para a crise do setor elétrico, Levy defendeu o "realismo tarifário" para a conta de luz.

O ministro confirmou que o Tesouro Nacional não fará mais o aporte de despesas orçamentárias de R$ 9 bilhões para Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo setorial que bancou a política de redução da energia elétrica do setor implementada pela presidente Dilma no primeiro mandato. "Essa é a decisão", afirmou. A previsão de gastos desses R$ 9 bilhões foi incluída na proposta de Orçamento de 2015 enviada ao congresso e ainda em tramitação.

Segundo o ministro, o realismo tarifário será importante para ajudar na consecução dos objetivos fiscais. Na sua avaliação, é melhor que o consumidor pague os custos de energia elétrica do que o os contribuintes. "Os gastos com a energia podem ser suportados pelo contribuinte ou pelo consumidor, mas é menos eficiente ser pelo contribuinte. Então, a decisão é trazer essas despesas para o ambiente que lhe é natural. Na situação atual, é um volume muito significativo no rol de despesas. A previsão é voltar para o que sempre foi (tarifas)", justificou.

Questionado sobre se a recomposição tarifária dos R$ 9 bilhões que serão repassados será feita de imediato, o ministro não deixou claro qual será o impacto para as tarifas. "Não é completamente linear o que significa para as tarifas".