terça-feira, 28 de julho de 2015

Com crescimento insustentável, bolha chinesa começa a estourar



Roberto Dumas avalia soluções

Por Infomoney



Quando determinado medicamento começa a não surtir os mesmos efeitos de antes, os médicos costumam dizer que os vírus criaram resistência. No cenário econômico, a regra pode valer para o atual momento da China. O gigante asiático se desenvolveu com taxas de crescimento de dois dígitos por muitos anos, juntamente com um elevado nível de investimentos e uma alavancagem cada vez mais expressiva. No entanto, a fórmula dá sinais de exaustão, como já projetavam muitos especialistas anos atrás. Hoje, não se pode mais simplesmente elevar a dose do medicamento. É necessário reconstruir as bases para um desenvolvimento sustentável para driblar uma crise que já se instala na segunda maior economia do mundo. Na segunda-feira (27), bolsa da China perdeu mais de 8%, a maior queda diária desde 2007. Nesta terça, o índice Xangai Composto registrou nova baixa, desta vez mais moderada, de 1,68%, aos 3.663 pontos.

Um estudo feito pelo economista, professor e especialista em economia chinesa Roberto Dumas e por Julia Russo, e cedido ao Infomoney, explica um pouco melhor a atual bolha no país e avalia as melhores maneiras de se remediar o problema. Segundo o relatório, as preocupações do mercado com a China deveriam ter iniciado há pelo menos cinco anos.

Em 2009, por exemplo, os investimentos representavam 48% do crescimento do PIB chinês, ao passo que o consumo apenas 34%. "Não há dúvidas que o crescimento econômico de 2009 foi turbinado por investimentos e anabolizado por empréstimos bancários a pedido de Pequim. Para compensar uma queda nas exportações líquidas de 37,4% em 2009, o governo chinês através de uma política fiscal expansionista de quase US$ 620 bilhões, aumentou os investimentos em impressionantes 22,8%", escreve o economista. "Aumentar investimentos em fases de menor demanda internacional como forma de impulsionar o crescimento econômico, sem contudo, elevar o consumo doméstico na mesma proporção é simplesmente insustentável", diagnostica.

Na medida em que investimentos e consumo interno menos se equilibravam, mais a China procrastinava um inevitável realinhamento de suas bases de crescimento, uma vez que a aplicada não se mostrava sustentável. "Se o crescimento de um componente da demanda agregada, diferente de investimentos, não aumentar na mesma proporção, o excesso de capacidade será absorvido somente por um futuro aumento no nível de investimentos do país", observa Dumas. Isso fez com que o gigante asiático se tornasse refém de volumes cada vez maiores de investimentos para os mesmos efeitos de crescimento. Em determinado momento, a China não seria mais capaz de aplicar políticas expansionistas. Foi o que aconteceu.

"Obviamente, a alta dos investimentos não pode continuar sendo a principal força motriz do crescimento econômico no longo prazo, pois isso imporia sérias restrições sociais, ambientais e sobre o consumo de recursos naturais, além da excessiva alavancagem que o país experimenta agora", afirma o professor de economia do Insper. Em consequência desse novo rebalanceamento necessário, o consumo chinês teria de ser estimulado. Para tal, seria necessário que os subsídios implícitos e explícitos que o governo tem imposto às famílias fossem revertidos. Entretanto, a reversão desses subsídios provocaria sérios problemas às empresas, o que exige que as mudanças nos alicerces do desenvolvimento econômico ocorram de maneira gradativa.

Os efeitos da nova postura chinesa sobre a economia mundial incidiriam sobre os preços das chamadas "hard commodities" (tais como o minério de ferro, por exemplo), ao passo que as "soft commodities" (carne e soja) poderiam se beneficiar inclusive de um movimento mais favorável. Juntamente com esse cenário de modificações, já se verificou um forte crescimento do mercado acionário, como forma de permitir às empresas maior diversificação para suas fontes de recursos. Com isso, observou-se uma série de movimentos de Ofertas Públicas Iniciais (IPOs) e altíssimas valorizações dos papéis.

A bolha começa a estourar
 

"Mas como justificar um aumento de quase 150% em apenas um ano para uma economia que claramente está em um processo de menor crescimento? Obviamente que se trata de uma bolha. O mercado acionário, assim diz a teoria dos mercados eficientes, deve refletir em tempo real os fundamentos macroeconômicos do país e consequentemente de suas empresas", relata Dumas. "Como toda a bolha é formada por um sentimento irracional, pois em sua essência trata-se de um evento clássico de repúdio à teoria dos mercados eficientes, qualquer notícia que afete negativamente o humor do investidor, é potencializada. Se o mercado precisa de alguns fatores para realizar os lucros auferidos ou justificar o irracional, que, aliás, observou-se já na subida do preço das ações, então os investidores ficaram bem servidos", descreve Dumas. Foi assim que o país entrou na fase de grandes liquidações de ações nas bolsas.

Como resultado do forte sell-off, quase 1.400 empresas suspenderam os negócios de suas ações nos últimos dias e diversas novas aberturas de capital foram canceladas. Apesar disso, o especialista não espera por efeitos explosivos desse outro fator na economia como um todo. Dumas lembra que apenas 10% da população chinesa está alocada no mercado acionário. Mesmo que os efeitos de curto prazo sejam mitigados por esse fator, ele espera anos de vacas magras para a China no futuro se compararmos à bonança recente. "Até os mais incrédulos quanto a um menor crescimento econômico chinês parecem já admitir um crescimento abaixo dos 7% para os próximos anos. Na nossa percepção, a China deverá crescer em média não mais do que entre 5% a 6% ao ano na próxima década. Se esse cenário se confirmar, certamente ainda poderá impactar negativamente o preço das hard commodities e das moedas de países exportadores desses insumos", conclui Dumas.


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S&P corta perspectiva da nota do Brasil para negativa por incerteza política


 

Rating BBB- foi mantido, mas país fica mais perto de perder o selo de grau de investimento

Ambiente político incerto faz com que a recuperação econômica demore mais para acontecer, avalia S&P (REUTERS/Bruno Domingos)


SÃO PAULO - A agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P) alterou a perspectiva da nota brasileira de estável para negativa citando o aumento do risco político, segundo relatório enviado nesta terça-feira. O rating para a dívída em moeda estrangeira foi mantida em BBB-, que é o último nível dentro da escala de grau de investimento.

"Desde 23 de março de 2015, quando reafirmamos pela última vez os ratings do Brasil, os riscos de rebaixamento aumentaram. Alteramos a perspectiva para “negativa”, pois, apesar das amplas alterações nas políticas em curso, as quais acreditamos continuam recebendo o suporte da presidente, os riscos de execução aumentaram. Tais riscos têm suas origens tanto no front político quanto no econômico", diz a análise assinada por Lisa Schineller.

“As investigações das alegações de corrupção em andamento contra indivíduos e empresas proeminentes dos setores público e privado e que abrangem vários partidos políticos geraram, em nossa opinião, um aumento das incertezas políticas no curto prazo”, avalia.

A S&P é a agência que tem a pior classificação de risco para o Brasil. A nota BBB- é a última da escala de grau de investimento e agora com a perspectiva negativa o país fica mais próximo do nível especulativo (junk). As outras duas agências de relevância para o mercado, Moody's e  Fitch, têm classificação um nível acima da S&P: Baa2 e BBB, respectivalemnte, ambas com perspectiva negativa. 


A agência explica que a revisão da perspectiva para negativa reflete uma probabilidade maior do que uma em três de que a que a correção das políticas econômicas em curso vai enfrentar novas "derrapagens" dada a atual dinâmica política. A agência também avalia que a trajetória de crescimento econômico mais firme vai demorar mais tempo do que o esperado.


Estresse político


Na visão da S&P, as relações entre o PT e o PMDB tinham melhorado sob a coordenação política do vice-presidente Michel Temer, mas voltaram a piorar. “Isso gera a perspectiva de um suporte menos consistente no Congresso para a aprovação das medidas de ajuste fiscal necessárias, mesmo que de forma um tanto diluída, em comparação com o que já havíamos visto e esperado no começo deste ano”, mostra a análise.

“A possibilidade de um processo de impeachment de Dilma Rousseff, que não faz parte de nosso caso base, destaca os desafios que confrontam a presidente para angariar suporte consistente para a correção de curso de suas políticas de e para uma revirada na economia”, ressalta o texto.


Ajuste fiscal


Para a S&P, a redução da meta do superávit primário para este ano, de R$ 66,3 bilhões (1,2% do PIB) para R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB), anunciada na semana passada, não são um reflexo de um menor comprometimento com uma correção da política.

"Tais metas, embora mais realistas, destacam os desafios persistentes, a menor receita frente à contração econômica, associada aos grandes gastos não discricionários", explica Lisa. "Parece que o Ministério da Fazenda tem menos capacidade de compensar perdas por meio de cortes nos gastos discricionários, de cuja consecução o Brasil tem um histórico, quando há vontade política, dada a magnitude do enfraquecimento das receitas", conclui.

A S&P fará uma teleconferência às 14h30 para comentar a mudança de perspectiva.

Cunha (tentando evitar a cadeia) questiona Moro. Mas na Lava Jato “onde se puxa uma pena, vem uma galinha”

Publicado por Luiz Flávio Gomes



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1. No dia 16/7/15, em Curitiba, o juiz Moro ouvia novamente o lobista e delator Julio Camargo e, de repente, (mais) uma surpresa: ele confirmou que foi pressionado por Eduardo Cunha para lhe dar uma [monstruosa] propina de 5 milhões de dólares, em 2011, durante encontro que mantiveram em um prédio comercial na zona Sul do RJ (no Leblon). Isso está gerando uma enorme controvérsia jurídica, pelo seguinte: por força de várias decisões do STF, os processos do caso Lava Jato foram desmembrados. Quem tem foro privilegiado (deputados e senadores) deve ser investigado e processado pelo STF. Quem não tem foro privilegiado, deve ser processado em primeiro grau (na 13ª Vara Federal de Curitiba, dirigida por Moro). Podem ser questionados vários atos desse juiz, mas sua competência (para o caso) já foi reconhecida pelo próprio STF.

2. Poderia ele investigar e processar Eduardo Cunha? Não (porque este conta com foro especial no STF). Mas, e se no curso de um processo alguém menciona que deu parte do nosso dinheiro público para o parlamentar? Muito simples: extrai-se cópia de tudo e manda-se para o STF, que o está investigando. Na feliz e certeira frase de Teori Zavascki, na Lava Jato é assim: “Onde se puxa uma pena, vem uma galinha”. Youssef já tinha feito referência ao Eduardo Cunha beneficiário de corrupção. Teria também havido um requerimento nebuloso na Câmara, subscrito por uma deputada aliada de Eduardo Cunha. De acordo com o lobista Julio Camargo, esse requerimento é uma das provas das várias manobras [acrobáticas] praticadas pelo parlamentar.
Cunha tentando evitar a cadeia questiona Moro Mas na Lava Jato onde se puxa uma pena vem uma galinha
3. Levando em conta as últimas previsões dos horóscopos (ninguém sabe o que sai da cabeça dos juízes), podemos afirmar que o desejo de Cunha (que chega a ser freudianamente voluptuoso) de retirar o juiz Moro dos processos da Lava Jato, pelos motivos indicados não tem nenhuma chance de prosperar. Em março/15, logo depois que Youssef incriminara Eduardo Cunha, o réu Fernando Baiano já fez a mesma tentativa no STF e perdeu. No caso mensalão (AP 470), no princípio, tentou-se desmembrar o processo, mas no final todos os réus (com e sem foro) foram julgados conjuntamente. Seis meses de julgamento. O restante da pauta do STF parou. Ninguém mais suporta a repetição desse erro. De qualquer modo, cuidado: o humano é o único animal que tropeça duas vezes na mesma pedra.

4. Numa ação penal que tramita no STF (n. 863) contra o deputado Paulo Maluf, o STF (ministro Lewandowski) desmembrou o processo: somente o deputado por lá ficou; todos os demais 10 réus serão julgados em outras instâncias.

5. Em junho de 2014, como bem sintetizou o Migalhas, “ao julgar questão de ordem em ações penais (871 a 878), a 2ª turma do STF seguiu o voto do relator, ministro Teori, para manter no Supremo apenas e tão somente as investigações contra parlamentares Federais decorrentes da Lava Jato. Passados seis meses, em dezembro, novamente a 2ª turma reafirmou a competência da 1ª instância, ao julgar improcedentes outras duas reclamações (188.75 e 189.30). Na ocasião, o ministro Teori lembrou que a alegada usurpação de competência já havia sido debatida no julgamento da questão de ordem, quando foi reconhecida a validade dos atos até então praticados por Moro. Já antevendo as coisas, Teori observou que “eventual encontro de indícios de envolvimento de autoridade detentora de foro privilegiado durante os atos instrutórios subsequentes, por si só, não resulta em violação da competência da Suprema Corte”. Ou seja, s. M. J., a reclamação de Cunha deverá ter a mesma solução”.

6. Eduardo Cunha, um dos políticos profissionais mais experientes do País, está usando legitimamente o seu direito de espernear (ius sperniandi). Se cumpridos, no entanto, aqueles 10 passos que mencionamos em artigo anterior assim como as regras do Estado de Direito vigente, ele não vai escapar da cadeia (ou em regime semiaberto ou em regime fechado, conforme a quantidade da pena). É bem verdade que nem os possíveis habitantes de Plutão sabem quando isso vai ocorrer. Mas, seguramente, vai acontecer (para o bem do País e da nação). É chegada a hora de nos livrarmos da pecha de Republiqueta cleptocrata (corrupta).

 
Professor
Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). [ assessoria de comunicação e imprensa +55 11 991697674 [agenda de palestras e entrevistas] ]

Chance de economia desandar supera os 33%, diz S&P



Agência avalia que a restauração de uma trajetória de crescimento mais firme será prolongada

Ministro da Fazenda Joaquim Levy fala em conferência da redução da meta de superávit do governo em Brasília (Reuters/Ueslei Marcelino)


São Paulo – A chance de um “novo deslize” na política econômica supera os 33%, avalia a agência de classificação de risco Standard and Poor’s em um relatório que reduz a perspectiva da nota de crédito do Brasil para negativa, divulgado nesta terça-feira. A análise, assinada por Lisa M Schineller, manteve o rating em BBB-, o menor degrau dentro da escala do grau de investimentos.

“Reconsideramos a perspectiva dos ratings do Brasil de modo a refletir nossa avaliação de que a probabilidade de a correção de política sofrer novo deslize seja maior que uma entre três, dado o contexto das dinâmicas políticas e de que o retorno a uma trajetória de crescimento mais firme será um processo mais longo do que o esperado”, mostra o texto.

A S&P avalia que a nota poderia ser rebaixada, caso houvesse uma maior deterioração nos indicadores externos e fiscais do Brasil, resultante de um recuo do compromisso do país com suas políticas e das várias correções nas políticas em curso.

“No próximo ano, uma falha no avanço dos ajustes nas políticas fiscais dentro e fora do orçamento poderia resultar em uma erosão maior do que o esperado no perfil financeiro do Brasil e em mais um impacto na confiança e nas perspectivas de crescimento, o que poderia levar ao rebaixamento”, ressalta a S&P.

Bolsas europeias têm retomada graças aos resultados corporativos e fusões



Ações fecham em alta após quedas por incertezas sobre a China

Em Frankfurt, o índice DAX subiu 1,06%, a 11.173 pontos (AFP/Daniel Rolland)


LONDRES - As ações europeias recuperaram-se nesta terça-feira, impulsionadas por fortes resultados corporativos e acordos de fusão e aquisição após registrar queda nas últimas cinco sessões por receios sobre o crescimento da China.

O índice FTSEurofirst 300 fechou com alta de 1,05%, a 1.545 pontos. O índice tocou uma mínima de duas semanas na segunda-feira.

O índice de blue chips da zona do euro Euro Stoxx 50 subiu 1,2%. Ambos FTSEurofirst 300 e Euro Stoxx 50 acumulam alta de cerca de 13% neste ano.

Entre os acordos vistos, os papeis da Melrose Industries saltaram 9,6% após acertar a venda de sua unidade Elster à Honeywell, enquanto o grupo de engenharia GKN subiu 7,3% após movimentar-se para comprar a Fokker Techonologies.

As ações da Kering subiram 5,6% após a Gucci, principal marca do grupo francês de artigos de luxo, divulgar uma alta nas vendas recorrentes do segundo trimestre.

"O mercado vinha preocupado com incertezas relacionadas à China nos últimos dias, mas estas preocupações estão no segundo plano hoje e as ações estão recebendo um certo apoio de resultados corporativos e fusões e aquisições", disse o chefe de estratégia de ativos do Baader Bank, Gerhard Schwarz.

Em Londres, o índice Financial Times avançou 0,77%, a 6.555 pontos.
Em Frankfurt, o índice DAX subiu 1,06%, a 11.173 pontos.
Em Paris, o índice CAC-40 ganhou 1,01%, a 4.977 pontos.
Em Milão, o índice Ftse/Mib teve valorização de 2,27%, a 23.328 pontos.
Em Madri, o índice Ibex-35 registrou alta de 0,96%, a 11.252 pontos.
Em Lisboa, o índice PSI20 desvalorizou-se 0,30%, a 5.659 pontos.
(Por Sudip Kar-Gupta)

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Para Mark Mobius, é hora de olhar oportunidades no Brasil

Para gerenciar carteiras de mercados emergentes da Franklin Templeton, Mark Mobius coordena 50 analistas em 18 escritórios (Divulgação)
 

Presidente do braço da Franklin Templeton para emergentes voltou a comprar ações na China
 
Por: Thais FolegoCompartilhar8

 

SÃO PAULO – Com bagagem de 40 anos de “aventura” em mercados emergentes, o investidor americano Mark Mobius fala das turbulências recentes com a perspectiva de quem já viu muitos ciclos econômicos. “Temos que olhar o passado e investir para o longo prazo”, diz o presidente-executivo da Templeton Emerging Markets Group quando perguntado sobre o impacto da crise da Grécia e da bolha acionária chinesa nos países em desenvolvimento.

Com quase US$ 40 bilhões sob gestão, Mobius afirma que já voltou a comprar ações na China e que está na hora de começar a olhar oportunidades no Brasil. Apreciador das ações de bancos brasileiros – que concentram a maior parte das aplicações no país dos fundos voltados para América Latina –, ele pondera que é preciso ficar atento ao aumento da inadimplência que o setor deve sofrer diante da fraqueza da economia.


Aos 78 anos, Mobius está, aos poucos, deixando o dia-a-dia da gestão dos fundos da casa. No último dia 13, anunciou que passaria o posto de principal gestor do Templeton Emerging Markets Investment Trust, com US$ 2,9 bilhões de patrimônio, para Carlos Hardenberg a partir de outubro. Ele vai, porém, continuar como gestor de portfólio e presidente do grupo.

O embate entre a análise de investimentos no curto e longo prazo tem estado presente se olharmos o desempenho histórico do fundo. Enquanto entregou ganhos acima da média por vários anos desde a sua constituição, em 1989, o fundo tem decepcionado recentemente: apresentou declínio médio de 0,7% anualmente nos últimos cinco anos, comparado a uma meta (benchmark) de ganhos 2,1%, de acordo com dados da Bloomberg.

Leia a entrevista exclusiva que Mobius concedeu a O Financista, na semana passada, por e-mail:

O Financista: Quais são as principais lições que você tira de quatro décadas investindo em mercados emergentes?
 Mark Mobius: Destacaria a importância da adoção de uma visão de longo prazo. Embora seja necessário ter uma grande dose de coragem para investir quando as perspectivas são sombrias e outros estão de saída [do mercado], ao longo da minha carreira eu descobri que é aí que os melhores valores podem ser descobertos, se você está disposto a fazer a lição de casa e ter paciência. Você deve olhar para além da má notícia imediata e ir olhar em direção a uma potencial recuperação futura. Sem uma perspectiva de longo prazo, você não será capaz de ter a disciplina para continuar investindo em um mercado em tendência de baixa (bear market) e esperar - e participar - do processo de recuperação potencial.

O Financista: Quais são as consequências da instabilidade recente no mercado acionário chinês?
Mobius: O governo chinês entrou em cena para intervir no mercado, o que, em nossa opinião, não foi um movimento sábio. Isso pode resultar em um atraso mais longo na inclusão de ações do tipo A em vários índices [acionários].

O Financista: Em texto recente sobre a China em seu blog, você disse que a “história de investimento” no país continua a ser atraente em uma visão de longo prazo. Você já começou a comprar? Por quê?
Mobius: Estamos comprando seletivamente em várias classes de ações chinesas (A-/ B-/H- etc). Acreditamos que as perspectivas de longo prazo para a China permanecem sólidas devido às reformas e reestruturações econômicas, bem como a contínua abertura dos mercados financeiros.

O Financista: A instabilidade na China é prova de que o governo tem de intervir menos no mercado de ações?
Mobius: Sim, eles devem aproveitar as lições do passado. Ações similares tomadas por órgãos reguladores de Hong Kong no passado não tiveram um resultado positivo.

O Financista: Como as turbulências recentes na China e na Grécia afetam os mercados emergentes?
Mobius: Volatilidade sempre esteve presente nos investimentos em mercados emergentes, então nada novo. Uma coisa que aprendemos é que a volatilidade não dura muito tempo, e nós temos que olhar o passado e investir para o longo prazo.

O Financista: O banco central americano, o Fed, tem dado indicações de que as taxas de juros vão subir este ano. Isso já está no preço dos ativos ou o anúncio pode aumentar a volatilidade?
Mobius: Achamos que o Fed vai aumentar os juros muito lentamente. Além disso é importante notar que, enquanto o QE [quantative easing, programa de compra de ativos] chega ao fim nos EUA, outros países e regiões, como a zona do euro, Japão, China, Índia etc., embarcam em programas de flexibilização monetária. Por enquanto, acreditamos que estes [programas] devem compensar preocupações sobre potenciais aumentos de taxas de juros pelo Fed este ano. Acreditamos que os esforços de flexibilização dos bancos centrais continuarão fornecendo liquidez aos mercados e podem ajudar a canalizar fluxo de recursos para ações a nível global com investidores procurando rendimento.

O Financista: Em dólares, as ações brasileiras estão perto do nível mais baixo em cinco anos. Como você vê “a história de investimento” no Brasil no momento?
Mobius: Como investidores de visão contrária, acreditamos que agora é um momento interessante para procurar oportunidades no Brasil.

O Financista: Quais são os segmentos em que você está vendo oportunidades e por quê?
Mobius: O setor bancário brasileiro é interessante, mas devemos esperar algum aumento da inadimplência nos empréstimos dada a economia deprimida. Os setores orientados para o consumidor valem uma olhada, uma vez que oferecem um bom valor a longo prazo. Também nos interessamos pelo setor de educação. Olhando adiante, devemos continuar de olho no setor de commodities, mas agora ainda é muito cedo.

O Financista: O risco do atual governo não terminar o mandato está aumentando. Como você avalia o risco político no Brasil? Como você acha que o mercado reagiria se Dilma Rousseff fosse deposta como presidente?
Mobius: O mercado acionário brasileiro se valorizou quando parecia que Dilma não seria reeleita nas últimas eleições. Por isso, se ela fosse deposta, o mercado poderia voltar a reagir positivamente, embora isso também dependeria de quem eventualmente assumisse [o lugar dela].

Dólar amplia alta e volta para R$ 3,40 pela primeira vez em 12 anos



Em meio à tensão com situação fiscal no Brasil, mercado mira juro nos EUA

  Analista prevê dólar ultrapassando a faixa de R$ 3,40 no curto prazo (Reuters/Siphiwe Sibeko)


SÃO PAULO - O dólar ampliou a alta a mais de 1% nesta terça-feira (28), acima de R$ 3,40 pela primeira vez em mais de 12 anos, em meio às preocupações com a situação fiscal brasileira e à expectativa de alta dos juros norte-americanos.

Às 12:05 (horário de Brasília), o dólar avançava 1,17%, a R$ 3,4032 na venda. Na máxima da sessão, a moeda norte-americana atingiu R$ 3,4058, maior nível durante a sessão desde 27 de março de 2003, quando foi a R$ 3,4230. Nas últimas 4 sessões, o dólar acumulou valorização de 6%.

"Todos os motivos que têm pressionado o dólar nos últimos dias continuam valendo. Não dá para saber onde a moeda vai parar", disse o gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, Francisco Carvalho.

Investidores têm demonstrado preocupação com a possibilidade de o Brasil perder o grau de investimento, após cortes nas metas fiscais do governo deste e dos próximos anos surpreenderem e decepcionarem os mercados financeiros.

O cenário político conturbado também pesa neste momento, em que o governo depende muito do Congresso - em pé de guerra com o Executivo - para aprovar as medidas de ajustes fiscais. Nesta manhã, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, voltou a afirmar que fará todos os esforços junto ao Legislativo "para garantir a previsibilidade fiscal".

Outro fator importante para os próximos passos do dólar é a reunião do Federal Reserve, banco central norte-americano, que termina na quarta-feira (29). Sinalizações de que o Fed caminha para elevar os juros ainda neste ano podem servir de gatilho para a moeda norte-americana dar mais um salto, afirmaram operadores, uma vez que pode atrair para a maior economia do mundo recursos aplicados no Brasil.

"A verdade é que o dólar não tem motivo para cair. Qualquer queda vai ser um alívio temporário", disse a operadora de um banco nacional.

O atual momento do mercado de câmbio também fez investidores redobrarem a atenção sobre a intervenção do Banco Central, já que a valorização da moeda norte-americana tende a pressionar a inflação ao encarecer importados. O sinal mais imediato será o anúncio da rolagem dos swaps cambiais que vencem em setembro, equivalentes a venda futura de dólares.

Nos últimos meses, o BC tem feito rolagens parciais e caminha para repor cerca de 60% do lote de agosto, equivalente a US$ 10,675 bilhões. Operadores têm afirmado que, se mantiver essa proporção para o lote de setembro, o BC sinalizaria que está confortável com o avanço da moeda norte-americana.

Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total no leilão de rolagem de swaps cambiais. Com isso, já rolou o equivalente a US$ 5,684 bilhões, ou cerca de 53% do lote que vence no início de agosto, que corresponde a US$ 10,675 bilhões.

Pela manhã, o dólar chegou a recuar 0,6% sobre o real, em um movimento de ajuste após as altas recentes e em linha com os mercados externos, onde o dólar se desvalorizava em relação às principais moedas emergentes. No entanto, operadores já esperavam que a moeda dos EUA retomasse a trajetória de alta.

"A trajetória do dólar é de volatilidade no curto e no médio prazo", disse pela manhã o operador da corretora SLW João Paulo de Gracia Correa, já prevendo que a moeda dos EUA ultrapassaria R$ 3,40 no curto prazo.


(Por Bruno Federowski)