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Brasileiros só engoliram décadas de farsa lulista por covardia das demais lideranças
I. O medo do vitimismo adversário é um dos fatores que tornou o PSDB inócuo em quatro disputas presidenciais contra o PT.
Estimulando esse medo, a máquina petista tornou-se duplamente eficaz,
já que evita ataques a seus candidatos, enquanto assassina a
reputação dos demais sem a menor cerimônia.
“Por delicadeza, eu perdi minha vida”, dizia o verso de Artur
Rimbaud; “a fraqueza atrai a agressividade”, ecoava Donald Rumsfeld; mas
os tucanos nunca aprenderam a lição.
O desempenho memorável de Aécio Neves no debate presidencial do SBT
em 2014 contra Dilma Rousseff foi apenas a exceção que confirma a regra.
Outros elementos exaustivamente apontados neste blog, como
a dificuldade de comunicação com o cidadão comum, o apego a
uma linguagem técnica indigerível, a falta de maior diferença
ideológica e a própria incompreensão da necessidade de desmontar a
imagem pessoal do rival agravaram o quadro.
Era possível desmontar o PT, Lula e Dilma falando somente verdades de
modo simples e incisivo, mas prevaleceram a incompetência verbal e o
pavor de soar agressivo, intolerante e direitista.
O marqueteiro petista, atualmente preso, tachou os tucanos de tudo
isso, do mesmo jeito, de modo que levaram o ônus sem ganhar bônus algum.
Como tantas vezes escrevi aqui: faltou testosterona política.
II. Então surgiu a Operação Lava Jato.
Uma força-tarefa capaz de enfrentar qualquer organização criminosa por aquilo que ela é.
Encurralados pela tonelada de provas que levou – e indícios que
provavelmente levarão – à prisão vários de seus integrantes, o PT
naturalmente se faz de vítima de uma grande conspiração de natureza
política.
Na tentativa de desqualificar a atuação de instituições democráticas
constituídas para fiscalizar o cumprimento da lei, os petistas atribuem
tal conspiração logo ao PSDB.
Como se o PSDB tivesse a coragem dos procuradores do Ministério
Público Federal. Como se o PSDB fosse capaz de controlar a Polícia
Federal em pleno governo do PT.
Como tuitei no sábado:
Claro que é patético – ou não seria o PT.
Não se pode negar, no entanto, que chamar de tucana a Lava Jato é uma
das melhores formas de ofendê-la. A operação é justamente o oposto do
PSDB.
Ela não teme o vitimismo petista. Ela faz o que tem de ser feito, sem deixar de se preparar para a reação adversária.
III. Analistas não entenderam ou fingem não entender as diferenças.
Avaliam que a deflagração da Operação Aletheia foi um erro da Lava
Jato por ter permitido que Lula posasse de vítima após ser conduzido
coercitivamente a depor na sexta-feira (4).
Na prática, cobram da Lava Jato, na esfera da investigação
criminal, o medo que o PSDB nunca deveria ter tido do vitimismo petista
na esfera da disputa política.
Os procuradores do MPF não estão disputando contra Lula um cargo
eletivo. Estão investigando o petista com base em fortes indicíos que
poderão levá-lo à prisão.
As batidas policiais da Aletheia tinham o objetivo de colher mais
provas e depoimentos sobre os casos investigados, nos quais,
diferentemente do ocorrido com o senador petista Delcídio do Amaral, não
houve um flagrante de crime que justificasse a prisão imediata.
Se Lula não depusesse no mesmo horário dos demais alvos, poderia se
informar sobre o que disseram e combinar versões embusteiras.
Se Lula não fosse obrigado a depor, poderia postergar o depoimento
ou se recusar a prestá-lo, como vinha fazendo após intimações para depor
ao Ministério Público de São Paulo no caso do tríplex e também como
testemunha de defesa de seu amigo José Carlos Bumlai.
Se o juiz Sérgio Moro tivesse decretado a prisão temporária ou
preventiva de Lula, sua defesa poderia alegar que não teve direito ao
contraditório.
Por exemplo: um dos motivos que levaram Moro a
autorizar a condução coercitiva de Lula foi o contrato da OAS de
armazenagem com a Granero Transportes, no valor mensal de R$ 21.536,84,
em benefício do petista.
Era necessário não apenas ouvir as versões de Lula e do presidente do
seu instituto, Paulo Okamotto, sobre o contrato que encobre lavagem de
propina, como também ouvi-las na mesma hora do depoimento dos
responsáveis pela entrega dos bens: Alexandro Antonio da Silva, Luiz
Antonio Pazine e Paulo Marcelino Mello Coelho.
É pura propaganda vitimista de Lula dizer que foi obrigado a ir responder as mesmas perguntas que já havia respondido.
Lula teve de responder a novas e necessárias perguntas – e uma
investigação não pode se furtar a esse tipo de procedimento se quiser
chegar à verdade dos fatos, mesmo que eles não venham a ser suficientes
para justificar uma prisão.
A informação do contrato só foi revelada pela imprensa neste domingo, dias depois da Aletheia e de um monte de analistas precipitar suas críticas.
IV. O vitimismo de Lula, por mais eficaz que seja com a sua
base eleitoral, concorre ademais com a repercussão negativa dos crimes
de que ele é suspeito e com os desmentidos documentais da Lava Jato às
suas declarações.
Isto ajuda não apenas a fortalecer, também, o movimento popular
anti-Lula, como a preparar a sociedade e as forças militares
gradativamente para a sua eventual prisão e os riscos de tumulto que
decorrem dela.
Com isso, a prisão do petista, por mais turbulenta que possa vir a
ser, não terá mais o potencial avassalador (e perigoso) da surpresa,
dado o cumprimento das etapas prévias de prestação de esclarecimentos e
condução coercitiva.
Este blog aplaude a coragem da Lava Jato e acredita que os
brasileiros só engoliram décadas da farsa chamada Lula por covardia das
demais lideranças nacionais.
Covardia esta, sem dúvida, alimentada por analistas e/ou militantes da imprensa brasileira.
Felipe Moura Brasil ⎯ http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil