Alexandre Cabral
01 junho 2016 | 17:12
Hoje (01/06) foi divulgado o resultado do PIB brasileiro do
primeiro trimestre de 2016 e tivemos uma queda de 0,3% em relação ao
último trimestre de 2015. Se a comparação for com o primeiro trimestre
de 2015, a queda foi de 5,4%. E recuamos 4,7%, se acumularmos os últimos
4 trimestres. Portanto, o PIB no governo Dilma deu marcha à ré e
estamos agora no mesmo patamar de cinco anos atrás. Em outras palavras, a
variação do PIB da era Dilma ficou zerada (só pegar os dados divulgados
hoje pelo IBGE).
Temos coisas boas e ruins para analisar a partir desses números. E esse é o objetivo deste texto.
Introdução
PIB: Produto Interno Bruto, mede a produção de bens e serviços no País.
Quem divulga: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
O que me deixou preocupado
O PIB do setor agrícola registrou queda de 0,3% no 1º
trimestre de 2016, em relação ao 4º trimestre de 2015. E caiu 3,7%, na
comparação entre o 1º trimestre de 2016 e o 1º trimestre de 2015. Trata-se
de um setor que segurou a nossa economia no ano passado. Você pode me
falar: “mas e o efeito do verão no PIB do setor agro?”. Eu te respondo:
crescemos 4,9% em 2015; +2,8% em 2014; e 2,2% em 2013 – para citar
apenas alguns números. No primeiro trimestre, temos a grande colheita da
safra do verão. Esse resultado deveria ser bem melhor. Fui investigar o
porquê desse número ruim e descobri:
– Queda na produção anual do fumo (- 20,9%), arroz em casca (- 7,6%) e
milho (- 5,0%). Além do desempenho ruim desses itens, as principais
safras do verão demonstraram queda na produção. Problemas climáticos
prejudicaram demais o campo. Uma exceção foi a soja, com alta de 1,3%.
Olha que coisa curiosa: aumentamos a produção de soja, mas ocupamos
uma área plantada muito maior. Por que isso é ruim? Porque estamos
produzindo mais, mas com uma produtividade menor por hectare. Isso não é
bom. Perdemos eficiência.
Portanto, temos que olhar com carinho para um dos setores que seguraram a nossa economia no ano passado. O desempenho do setor agro preocupa.
Qual foi o grande destaque positivo
O setor exportador, com as seguintes variações: + 6,5% na
comparação com o 4º trimestre de 2015; ou + 13,0% em relação ao 1º
trimestre de 2015. Com ajuda substancial da desvalorização do
real e da exportação de bens do setor agropecuário, metalurgia, petróleo
e derivados e veículos automotores.
Vejo então que esse trabalho do governo (mais especificamente do Banco Central) de manter o real/dólar na casa de R$ 3,60 tem dado certo (falo isso há mais de três meses).
A exportação está segurando a nossa economia. Muitos vão me perguntar
sobre inflação cambial. Respondo: a maior parte já foi repassada. Não se
esqueça de que estamos com essa cotação há um bom tempo. O único
aspecto ruim desse setor é que podemos estar exportando produtos que
poderiam ser ofertados internamente. Como estamos preferindo exportar a
mercadoria, a diminuição do produto para o consumo interno pode estar
forçando a alta de preços. Quem sabe a exportação não é um dos motivos
pelos quais a inflação de alimentos não cede? Para se pensar com
carinho.
Aí o governo tem que decidir: exportação para impulsionar a
economia ao custo de um pouco de inflação, ou diminuir a inflação e
aumentar o desemprego? Eu, no lugar do governo, preferiria a primeira
opção. E você?
E o consumo das famílias, como foi?
O consumo das famílias foi responsável por 64% do PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2016.
E tivemos queda nesse setor, com: -1,7% na comparação com o 4º
trimestre de 2015, ou -6,3% em relação ao 1º trimestre de 2015. Aqui
acho que todos já sabem os motivos, pois estão sentindo no dia a dia:
inflação, desemprego, redução/encarecimento do crédito e diminuição da
renda do trabalhador.
Na minha opinião, este deveria ser o principal foco de preocupação do governo. Seria o meu. Talvez sejam esses consumidores que poderiam novamente tirar a economia do atoleiro.
O que mais vemos no dia a dia e também teve desempenho ruim
O Comércio. Esse setor foi bem mal e isso é fácil de perceber apenas andando nas ruas. Hoje o principal contratante no Brasil é o “aluga-se” ou, quem sabe, o “vende-se”.
Por que isso? O consumidor sumiu, pelos motivos já explicados no item
anterior. Olhando para os números, a queda foi de -1,0% em relação ao 4º
trimestre de 2015 e de -10,7% na comparação com o 1º trimestre de 2015.
O cenário adverso é muito visível também nos números do desemprego: nos
primeiros 3 meses de 2016, mais de 168 mil postos de trabalho foram
fechados. No acumulado dos últimos 12 meses, o corte foi de 270.905
vagas (sempre considerando emprego com carteira assinada).
Já falei algumas vezes isso aqui: é um círculo vicioso. Se não tenho
para quem vender, a minha empresa não arrecada. Se não arrecada, eu não
consigo pagar os meus funcionários. Solução? Demissão. Não estou dizendo
aqui que os empresários são culpados, longe disso! Estou dizendo que
eles estão sentindo na carne a paralisia do País.
E qual a notícia boa?
Podemos estar chegando perto do fundo do poço. Perto, mas não ao fundo ainda. Isso ocorre por alguns motivos:
– A economia mundial ainda está aquecida o suficiente para manter as
nossas exportações em excelentes patamares. Já estivemos em situação
melhor, mas não podemos reclamar.
– O afastamento da Dilma fez com que os empresários olhassem para o
Brasil de outro modo. Não pelo fato de ter entrado o Temer, mas, sim,
por ter saído a Dilma. Sem contar que a atual equipe econômica é de uma
qualidade que há muito tempo não vemos.
– Nosso PIB já caiu demais. Então a base comparativa dos números é cada vez menor.
– A queda da economia em 2016 deve ser menor que a
do ano passado. Isso é muito bom. Acredito que, com esses dados, a nossa
economia caia neste ano algo entre 2,90% e 3,10%, considerando que a equipe do Meirelles fica no comando. Se a Dilma voltar, tudo piora novamente.
Conclusão
A economia na era Dilma parou no tempo e está entregando o País – em dados do PIB – como recebeu. Isso é péssimo.
Perdemos o bonde da história, porque o mundo cresceu durante esse
período. Falar em motivos que levaram a esse cenário é “chover no
molhado”, mas podemos destacar alguns: gasto maior que a receita;
segurar inflação via decreto; demorar a reagir quando a economia começou
a demonstrar fraqueza, sempre dando desculpas de que o mundo ia mal (e
ele não ia); não apoiar a própria equipe econômica (a Dilma simplesmente
não gostava do Levy); o escândalo da Lava Jato, que paralisou várias
grandes empresas. E parem com essa história que o Moro está prejudicando
Brasil e que, se não fosse a Lava Jato, não teríamos crise. Pelo amor
de Deus! Preferem que o País cresça às custas de uma roubalheira
generalizada? Eu não.
O que esperar? Como disse anteriormente, 2016 vai ser um ano ruim,
mas deve ser melhor que o ano passado. Infelizmente, como a ociosidade
do setor produtivo está muito grande, acho que o desemprego neste ano
ainda aumenta e devemos ter resultado pior que em 2015. A economia deve
voltar a respirar, mas via aumento de produção na economia que estão
ociosas. Ou seja, não significa que, nesse primeiro momento, iremos
contratar.
E a inflação? Acho que o problema de 2016 serão os alimentos. Um dia escrevo sobre esse tema.
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