Norberto Duarte/AFP
Mercosul: pela ordem alfabética seguida pelo Mercosul, a Venezuela seria
o próximo país a assumir a presidência do bloco, depois do Uruguai
Da REUTERS
Brasília - O governo brasileiro discute a possibilidade de impedir que a Venezuela assuma a presidência pro-tempore do Mercosul
no final deste mês, uma forma de evitar fortalecer o governo do
presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse à Reuters uma fonte do
Palácio do Planalto.
De acordo com a fonte, não há ainda um definição das ações do Brasil e
nem houve um debate com os demais membros do bloco –-Argentina, Paraguai
e Uruguai-– sobre o tema, mas há uma “disposição” no governo do
presidente interino Michel Temer de agir contra a possibilidade.
Pela ordem alfabética seguida pelo Mercosul, a Venezuela seria o próximo
país a assumir a presidência do bloco, depois do Uruguai, na cúpula
prevista, por enquanto, para o dia 24 deste mês.
“Não há uma proposta ainda do que será feito, mas a disposição do
governo é impedir que a Venezuela assuma”, disse na quarta-feira a
fonte, que pediu anonimato.
As duas maneiras para impedir a transferência da presidência seriam que a
cúpula não fosse realizada, o que manteria o Uruguai à frente do bloco,
ou que a Venezuela fosse suspensa, a partir da invocação do Protocolo
de Ushuaia, a cláusula democrática do Mercosul – uma possibilidade que
aumentou consideravelmente nas últimas semanas.
Caso ocorra, a cúpula do Mercosul poderá ser a primeira viagem internacional de Temer como presidente interino.
De acordo com a fonte palaciana, Temer admite ir à reunião em Montevidéu
"se for para ter uma solução" para a situação da Venezuela. "Se for
apenas para ficar debatendo, ele não irá", disse a fonte.
A solução
seria uma decisão sobre a suspensão do país.
Na semana passada, o governo paraguaio pediu ao Uruguai a realização de
uma reunião emergencial de chanceleres do bloco para discutir a situação
da Venezuela, o que deve ocorrer na semana que vem. Fontes do governo
brasileiro confirmaram à Reuters que o país pedirá que se analise a
suspensão da Venezuela e que, se houver avanço nessa possibilidade, o
Brasil não agirá para evitar que isso aconteça.
“É muito cedo ainda para se saber como as coisa vão caminhar, mas o
governo brasileiro não irá agir para defender esse governo venezuelano,
isso é certo”, disse a fonte.
Há no Palácio do Planalto uma expectativa que a pressão sobre a
Venezuela leve Maduro a concordar com a realização do referendo
revogatório –-que daria à população o poder de dizer se o presidente
continua ou se novas eleições devem ser chamadas--, o que possivelmente
daria vitória à oposição.
Até agora, no entanto, Maduro não tem dado sinais de que pode ceder. Ao
contrário, ameaça apresentar uma emenda ao Conselho de Ministros que
permitiria dissolver a Assembleia Nacional, majoritariamente
oposicionista, em 60 dias, o que poderia dar ainda mais força à intenção
de suspender o país do Mercosul.
Na avaliação de um diplomata ouvido pela Reuters, a situação da
Venezuela mudou consideravelmente no Mercosul com a alteração dos
governos da Argentina e Brasil, somando-se ao Paraguai.
Segundo a fonte, mesmo o Uruguai, ainda com governo levemente de
esquerda, dificilmente agiria para evitar a suspensão do governo de
Maduro – haja vista a decisão do secretario-geral da Organização dos
Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, ex-chanceler uruguaio, de invocar a Carta Democrática da organização contra o país.
A discussão sobre o futuro da Venezuela no bloco ainda é incipiente, mas a posição brasileira já é clara.
“O Brasil não vai interferir nas questões internas da Venezuela como
Maduro fez com o Brasil, mas isso não impede que aja dentro do âmbito
das organizações internacionais”, disse a fonte palaciana.
Em Paris, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, foi econômico
nas declarações sobre a Venezuela. Lembrou que há várias iniciativas na
OEA e que o Brasil defenderá aquela em que houver maior possibilidade de
consenso.
Ao mesmo tempo, no entanto, o governo brasileiro deixa claro de que lado
está ao articular a visita ao Brasil de Henrique Capriles, principal
nome da oposição venezuelana, como confirmou à Reuters uma fonte
diplomática.
Ainda sem data, a visita está em negociação. O governador do Estado de
Miranda, que voltou às ruas em uma tentativa de aparecer novamente como
possível candidato da oposição à Presidência venezuelana, deverá ser
recebido por Serra, pelo Congresso e possivelmente pelo próprio
presidente interino Michel Temer.
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