segunda-feira, 25 de julho de 2016

Fim de financiamento privado é um salto no escuro, diz TSE





Tânia Rêgo/Agência Brasil
Mesário libera urna para eleitor em Belém (PA)
Eleições: para o presidente do TSE, a eleição municipal deste ano é um "experimento institucional" e em novembro deverá haver uma discussão
 
Julia Lindner, do Estadão Conteúdo


Brasília - O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, declarou nesta segunda-feira, 25, que a proibição do financiamento privado para as campanhas sem mudança no sistema eleitoral foi um "salto no escuro".

Para Mendes, a eleição municipal deste ano é um "experimento institucional" e em novembro deverá haver uma discussão sobre uma reforma no sistema eleitoral.
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Ele disse que há a preocupação no TSE de que "organizações criminosas atuem de maneira mais enfática" no processo, em outubro. Um dos principais desafios, de acordo com o ministro, é fiscalizar quem são os doadores pessoa física para saber se têm condições de repassar a quantia declarada aos candidatos.

Ele informou que há preocupação de que haja compra de CPFs, como tentativa de burlar as novas regras. Mendes também reforçou que há uma preocupação com a realização de caixa 2, considerando o teto de gastos fixado em um valor mais baixo do que em eleições anteriores e a falta de recursos regulares.

Para Mendes, há "distorções" no teto de alguns municípios e por isso o TSE deverá discutir casos separadamente. "Não teremos condições de evitar a judicialização, questões ligadas ao Ficha Limpa, vamos ter impugnações das eleições, inclusive por essa questão ligada ao teto, abuso de caráter econômico. Por isso dizemos até constrangidamente que o resultado na proclamação será provisório (...) Vamos chegar a outubro sem que temas estejam definitivamente resolvidos."
 

Gastos


Mendes anunciou nesta segunda-feira que o gasto total com a eleição municipal deste ano deverá ficar em torno de R$ 600 milhões.

Apesar de apenas 122 pessoas terem registrado candidatura a prefeito, vice-prefeito ou vereador até o momento, a expectativa de Mendes é de que o número chegue a cerca de 530 mil candidatos até o dia 15 de agosto, prazo final para os registros eleitorais.

"As convenções ocorreram também agora, no final de semana, e então nós estamos diante de decisões que certamente vão multiplicar esses números nos próximos dias", disse o ministro.

Segundo o presidente do TSE, não há nenhuma "razão específica" para o baixo número de registros. "Ninguém desistiu da política. Certamente nos mais de 5 mil municípios teremos um número expressivo de candidatos", declarou.

De acordo com Mendes, já houve uma redução nos prazos de campanha este ano e qualquer alteração no período estipulado para os registros eleitorais deve ser pensada para as eleições de 2018. Para ele, a ideia da redução de prazo já vinha sendo reforçada pelo TSE e somente após a eleição deste ano será possível fazer uma verificação para analisar os benefícios reais do encurtamento dos prazos.

"Isso talvez seja até uma contribuição para o barateamento das campanhas e tudo mais, embora também tenha consequências, certamente depois saberemos quem foi eleito, se houve mais sucesso na reeleição ou não (...) A redução de prazo tem consequência no que diz respeito à judicialização e à insegurança jurídica quanto ao verdadeiramente eleito, vamos ter anulações de eleições, realizações de eleições suplementares."

O TSE divulgou ainda que cerca de 144 milhões de brasileiros estão aptos para votar em 5.568 cidades. São Paulo é a que possui o maior número de eleitores: 8.886.324. Já o menor eleitorado está em Araguainha, no Mato Grosso, com 954 eleitores. Do total de eleitores, a maioria (52,21%) é mulher.

Houve uma redução entre os eleitores jovens. Do total, apenas 2,3 milhões de eleitores têm 16 ou 17. Em 2012, esse número chegou a quase três milhões. Para o ministro, a redução pode representar uma descrença dos jovens sobre a política e uma falta de incentivo dos políticos a esses eleitores. Do total de eleitores aptos, 11,3 milhões têm mais de 70 anos.

Segundo o TSE, 92 municípios poderão ter segundo turno porque têm mais de 200 mil eleitores. Em 2.380 cidades haverá votação com identificação biométrica, sendo que em 1.540 haverá 100% de biometria e em 840 cidades o sistema será híbrido, com a verificação pela digital apenas para parte dos eleitores, aqueles que já possuem dados coletados.


"OAB precisa dizer ao advogado como reportar operações suspeitas de lavagem"





A Ordem dos Advogados do Brasil precisa dizer aos advogados como agir quando eles suspeitam que seu cliente está lavando dinheiro. Caso contrário, o profissional continuará sendo tratado como um possível cúmplice e não terá segurança para prestar seus serviços. A opinião é da criminalista Heloísa Estellita, especialista em lavagem de dinheiro e professora da Fundação Getulio Vargas.

Heloísa é direta ao apontar um caminho para essa regulamentação: é preciso parar de fingir que o sigilo entre advogado e cliente é absoluto. Para ela, o sigilo só é inviolável quando envolver o direito de defesa, como quando um criminalista ou tributarista é consultado sobre o que fazer com uma quantia no exterior.

Já no caso de o profissional estar trabalhando em uma operação financeira ou imobiliária, é preciso que ele tenha orientação para fazer seu serviço de forma correta e, ainda assim, informar as autoridades financeiras. E sem ir parar no banco dos réus ao lado do cliente.

As opiniões da advogada são fruto do livro Exercício da advocacia e lavagem de capitais, que ela coordenou e acaba de lançar. As 395 páginas da obra trazem estudos sobre como diferentes países estão lidando com o problema e aprofundadas análises de casos que correm nos tribunais brasileiros, de autoria de Bianca de Britto Festino, Caio Almado Lima, Fábio Roberto Mello, Marcella dos Reis Manes, Luis Gustavo Veneziani Sousa, Theodoro Balducci de Oliveira, Alvaro Augusto Orione Souza, Bruno Garcia Borragine, Eduardo Ferreira da Silva, Fernando Barboza Dias e Lara Mayara da Cruz.

No Brasil, a Lei 9.613/1998 passou a definir em 2012 que têm obrigação de comunicar operações suspeitas as “pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, em operações”.

A norma, no entanto, não se aplica aos advogados, segundo a OAB. Para a entidade, o dever de comunicar operações suspeitas é incompatível com o sigilo profissional. Para Heloísa, a posição traz mais problemas do que soluções, pois algumas tarefas exercidas por advogados não são privativas da advocacia, ou seja, não se sujeitam ao Estatuto da Advocacia e da OAB, que prevê o sigilo.

Em entrevista à revista eletrônica Consultor Jurídico, Heloísa Estellita explica como a questão tem sido tratada mundialmente e no Brasil — com destaque para a operação “lava jato”, na qual ela aponta erros na interpretação adotada para definir a lavagem.

A Lei 13.254/2016 (Lei de Regularização de Ativos no Exterior ou Lei de Repatriação) também tem chamado a atenção da professora. Segundo Heloísa Estellita, a norma serve como alerta do governo a quem tem dinheiro fora do país. Isso porque os dados de correntistas nos Estados Unidos, por exemplo, já estão em posse das autoridades brasileiras e quem não aderir ao plano de regularização não terá desculpas para manter as quantias não declaradas fora do país.


Lei a entrevista:


ConJur — O sigilo entre advogado e cliente é absoluto?
Heloísa Estellita —
Não acho que seja absoluto. Nunca achei. O dever de informar, tanto na União Europeia quanto no Brasil, se a OAB resolver regulamentar — e não estou dizendo que ela vá fazer isso —, está ligado a certas atividades. O advogado não precisa reportar a vida profisisonal dele. Primeiro, o sigilo está ligado a certas atividades e, segundo, a certas operações. Nenhum órgão de regulamentação cogitou obrigar um advogado do contencioso a reportar operações de seu cliente. Isso nunca foi objeto de sugestão de reforma.

ConJur — E como é essa experiência no mundo?
Heloísa Estellita —
Tem um guia de boas práticas, editado em 2010 pela ABA [American Bar Association, espécie de OAB dos EUA]. A partir de 2012, a ABA começou a ficar preocupada com a lavagem de dinheiro, criando, inclusive, um site só sobre isso, em que eles ficam monitorando a legislação local.

ConJur — E encontraram muitas mudanças?
Heloísa Estellita —
Eles começaram a ficar tão preocupados que fizeram o primeiro guia de boas práticas mundial, junto com a IBA [International Bar Association, associação internacional de advogados]. Inclusive, no guia, apontam situações de risco para a advocacia, com exemplos. O documento está livre na internet, tem 45 páginas. O mundo mudou, não adianta ficar apegado à ideia de que o advogado não precisa reportar nada. A União Europeia obriga os advogados a reportar operações suspeitas desde 2008. E cada legislação nacional elabora os seus indicadores de anomalia. Portugal fez uma coisa interessante: os advogados são obrigados a comunicar um órgão da OAB deles. E esse órgão é que vai analisar o reporte, para ver se não há violação do sigilo profissional.

ConJur — E reportar a consulta a um advogado de contencioso, por exemplo, seria uma violação ao sigilo?
Heloísa Estellita —
Sim. A norma é clara e trata de advogado fazendo consultoria em certas operações: financeiras, societárias, imobiliárias. Quase como se ele fosse um agente imobiliário. E isso não afeta o sigilo, porque nesse tipo de atividade não está em jogo o direito de defesa.

ConJur — O sigilo, então, serve para o que será usado na defesa do cliente?
Heloísa Estellita —
  Por isso a Corte Europeia de Direitos Humanos julgou a legislação da França. E eles disseram exatamente isso: o direito do sigilo está para a proteção da defesa; onde não há uma defesa a ser protegida, não tem sigilo. A primeira coisa que teria que fazer no Brasil é estudar adequadamente quais são as atividades privativas do advogado. Ver exatamente qual é o âmbito de proteção.

ConJur — Isso está no artigo 1º do Estatuto da Advocacia.
Heloísa Estellita —
Sim. Ele fala que é a postulação a órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais e as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas. E é possível proteger isso no regramento sobre lavagem. A Europa determina que tudo conectado ao contencioso está protegido por sigilo, ou seja, consultas pré e pós litígio. No Brasil, o cliente já está protegido pelo sigilo profissional quando começa a procurar um advogado, por exemplo, para evitar a prática de um crime.

ConJur — Que tipo de crime?
Heloísa Estellita —
Um cliente que consulte a gente para ver se adere ou não à Lei de Regularização de Ativos Financeiros no Exterior, buscando a anistia. Não tem nada de contencioso propriamente dito. Eu posso analisar o caso dele e falar para aderir ou não aderir, se houver impedimentos legais. E isso precisa estar protegido pelo sigilo. Então, se regulamentasse bem, isso não seria problema. Mas isso é diferente do advogado de operações dando consultoria. Ele age como agente imobiliário, como pode também ser feito por uma pessoa formada em Economia.

ConJur — O que não é privativo de advogado.
Heloísa Estellita —
  Exatamente, não é só ele que pode prestar esse tipo de serviço. Essa é a primeira preocupação, na primeira parte do livro. A segunda parte do livro estuda casos de advogados processados por lavagem. Fomos ver o que estava acontecendo nos tribunais brasileiros.

ConJur — E está acontecendo muita coisa?
Heloísa Estellita —
Nossa base de dados era de 2013. No começo a nossa ideia era fazer uma pesquisa empírica quantitativa, descobrir quantos havia e cruzar os números. Mas eram pouquíssimos casos. Eu falava para um aluno contabilizar num TRF e ele voltava com quatro casos.

ConJur — Insignificante para estatísticas.
Heloísa Estellita —
Nós decidimos, então, analisar os casos, sem expor os envolvidos. O recorte que é feito é a ponta do iceberg do que está acontecendo no Brasil, desde então. Na segunda parte do livro seis casos são analisados, inclusive alguns em que a acusação era absurda.

ConJur — E qual é a conclusão tirada a partir desses estudos?
Heloísa Estellita —
Que, ao não regulamentar o dever de o advogado reportar operações suspeitas de lavagem, a OAB presta um desserviço à advocacia. Ela está colocando os advogados numa fria.

ConJur — Por quê?
Heloísa Estellita —
Por exemplo: um escritório foi chamado para fazer uma operação, que envolve uma operação imobiliária. Quem vai trabalhar nessa operação? O advogado, o contador, talvez uma empresa de auditoria, o banco e o agente imobiliário. Então, todos eles veem na negociação que o aporte da empresa vai ser feito em cash. E sabem que o cliente é uma pessoa com influência política muito forte. São dois red flags [sinais vermelhos] de lavagem: operação em cash de um valor alto, e uma pessoa envolvida em política.

ConJur — E o que acontece?
Heloísa Estellita —
O contador vai ofertar o serviço dele e depois vai reportar para o conselho. O agente imobiliário vai vender o imóvel e vai reportar. O consultor para operações imobiliárias também vai reportar. A junta comercial vai reportar. E o advogado vai ficar perdido. Ele vai prestar o serviço dele sabendo que há indícios de lavagem, mas, como não reportou isso a ninguém, vai ser chamado para sentar no banco dos réus, com o cliente dele. Todos os outros puderam prestar o serviço e, por terem uma regulamentação para o caso, ficarão de fora da acusação.

ConJur — E como ele poderia ficar de fora da acusação?
Heloísa Estellita —
Hoje em dia, a única opção 100% segura para um advogado é, em caso de suspeita, não prestar o serviço. Todos os outros, por terem a opção e a obrigação de reportar o problema, podem prestar o serviço sem problemas.

ConJur — Mas ao reportar uma suspeita, a pessoa não ficaria impedida de auxiliar naquela prática?
Heloísa Estellita —
Mas aí existe uma autorização para participar, que é uma sacada muito boa do legislador brasileiro. Na Europa, se há indícios de lavagem, não podem completar a operação. Mas a solução brasileira é interessante porque, geralmente, tem um gap entre prestar o serviço e reunir as informações necessárias para classificar aquela operação como de lavagem. A Europa, aliás, acaba de reformar a sua legislação, caminhando no mesmo sentido que o Brasil.

ConJur — E a comunicação protege quem está ali no meio mas não participa do crime?
Heloísa Estellita —
Exatamente. A OAB não precisa criar necessariamente o dever de reportar, mas precisa dar uma direção para eles terem um pouco de segurança, dizendo como deve ser feita essa comunicação ao Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras], por exemplo.

ConJur — Mas o possível cliente não vai ficar com medo de contratar um advogado se souber que ele pode “dedurar” suas atividades?
Heloísa Estellita —
Mas é preciso evitar que o advogado entre como réu. Grande parte da corrupção, até mesmo na operação “lava jato”, era paga via consultoria e agência de marketing, porque são áreas não reguladas. Pode escrever que nos próximos anos as agências de publicidade vão ser obrigadas a reportar operações suspeitas de lavagem. Regulamentando, vamos acabando com os lavadores. Como o factoring, mercado de luxo, joalherias, concessionárias.

ConJur — Galeria de arte também, não?
Heloísa Estellita —
Galeria também é obrigada.

ConJur — E o advogado sabe que está nesse barco?
Heloísa Estellita —
Os criminalistas entendem, mas eu me surpreendo conversando com advogados de fora da área penal, pois muitos não conhecem a legislação. Em escritórios grandes, por exemplo internacionais, muitos advogados que atuam no Brasil não sabem que seus colegas na Espanha reportam operações suspeitas desde 2008. Mesmo sento parceiros de trabalho.

ConJur — A senhora acha que vai haver uma mudança a partir da regularização de ativos no exterior?
Heloísa Estellita —
Acho. Esse é um tipo de caso que o advogado nunca deverá ter o dever de reportar, porque é uma consultoria preventiva de litígio — não só para criminalistas, como para tributaristas. Mas eu acho que isso é uma sinalização mais do que clara que se pegarem um sujeito, daqui a dois anos, que evadiu valores provenientes de crimes tributários, que hoje poderia ter aderido, ele vai ser “esfolado” em um processo criminal. Porque passa a ser visto como imperdoável, já que ele teve a chance de regularizar.

ConJur — A exigência do crime antecedente para caracterizar lavagem de dinheiro está sendo descartada na “lava jato”?
Heloísa Estellita —
Sim, mas está errado. Esse é um dos maiores prejuízos dessa operação. Eu distribuí as denúncias da “lava jato” para meus alunos analisarem e eles ficaram impressionados com a inépcia, com o linguajar, com a falta de conexão entre os dados, a falta de rastreamento dos valores. Muita coisa ali não faz sentido. O que eu acho que está acontecendo, que é muito perigoso e pode contaminar tudo, é confundir consumação da corrupção com a lavagem. Isso vira um monstro.

ConJur — Por quê?
Heloísa Estellita —
Porque o réu está sendo condenado por dois crimes, quando não cometeu dois crimes. É uma conduta só que está se consumando. Se fosse assim, todo mundo que tentou corromper e não conseguiu praticou tentativa de lavagem e corrupção ao mesmo tempo. Não faz sentido.

ConJur — Nessa questão das construtoras, apontam que a doação eleitoral foi usada como forma de pagar propina de forma declarada. Isso seria lavagem?
Heloísa Estellita —
A lavagem é como ocultação de cadáver: tem que ter um corpo. O “cadáver”, na lavagem, é o dinheiro que a pessoa obteve com a prática de um crime. A tese usada pelo juiz Sergio Moro é que aquele montinho de dinheiro já está na posse da empresa porque ela fraudou a licitação e recebeu o pagamento do contrato com a Petrobras. Ou seja, a empresa só tem aquele dinheiro porque cometeu um crime. Mas acontece que a doação não seria ato de lavagem, porque não tem nem ocultação nem dissimulação de origem.

ConJur — A “lava jato” já chegou a 34 países e a lei de regularização de ativos no exterior está aí. Isso é parte de um movimento?
Heloísa Estellita —
Essa matéria precisa ser regulamentada há tempos. Urgentemente, pois não tem como voltar atrás. Vai aumentar mais ainda com a troca automática de informações, que já começou. O Brasil já recebeu dados dos correntistas nos Estados Unidos do ano base de 2014. Já está tudo lá na Receita Federal. Ou seja, eles já têm a lista, mas estão aguardando para ver quem vai aderir ao plano de regularização.

ConJur — Só nos EUA?
Heloísa Estellita —
A troca mundial mais disseminada começa em 2018. Será automática, não precisa pedir. Então é natural que se vá descobrir esses dados. E, depois, o Ministério Público, por exemplo, vai ter mais dados para começar a investigações e, evidentemente, vai precisar complementar informações, usando a cooperação. O problema da cooperação — que não é um fenômeno só no Brasil, é um fenômeno que acontece, também, na Europa — é que a cooperação é feita normalmente entre autoridades, e a defesa é excluída dela. O perigo de inviabilizar totalmente a defesa em processos de cooperação é muito alto. A União Europeia se deparou com isso. Há uns quatro anos que começaram outro movimento, que é o de proteger as pessoas afetadas por esses atos de cooperação.

ConJur — Como é essa resposta, esse segundo movimento?
Heloísa Estellita —
São normas necessárias, como o direito básico de que a pessoa afetada pela cooperação tenha ciência de que há um pedido. O Brasil não cumpre. Só se alguém resolver que esse pedido vai ser processado no Superior Tribunal de Justiça, que traz no regimento interno a obrigação do contraditório. Mas a maioria dos pedidos não são processados no STJ. Para mim, isso é ilegal.


* Texto atualizado às 11h59 do dia 25/7/2016 para correções e acréscimo de informações.

Itália contrata pedreiros para reparos na Vila Olímpica





Reuters/Ricardo Moraes
Bandeiras em frente ao alojamento dos atletas para a Olimpíada do Rio
Olimpíada: o comitê neozelandês afirma em seu site que também teve que trabalhar para concluí-los


O Comitê Olímpico Nacional da Itália (CONI) publicou ontem (24) em seu site que contratou eletricistas, encanadores e pedreiros para finalizar áreas incompletas no Edifício 20 da Vila Olímpica, ocupado por seus atletas desde ontem.

Os profissionais foram contratados com urgência para garantir que as condições de alojamento sejam "normais", diz o comunicado do CONI, que afirma que a equipe enfrentou situações de emergência imprevisíveis. "Peço aos atletas a máxima cooperação e compreensão", diz o chefe da missão da Itália, Carlo Mornati.

Ontem, na abertura da vila, o Comitê Olímpico da Austrália considerou as acomodações inabitáveis e se recusou a ocupá-las enquanto problemas não fossem resolvidos.

De acordo com a chefe da missão da Austrália, há problemas elétricos, de gás e de encanamento. "Os problemas incluem sanitários entupidos, vazamento em tubulações, fiação exposta, escadas escuras onde iluminação não foi instalada e pisos sujos que precisam de uma grande limpeza", diz o comunicado, que afirma que a Nova Zelândia e a Grã-Bretanha passam pelos mesmos problemas.

O comitê neozelandês afirma em seu site que não encontrou os apartamentos prontos na semana passada e também teve que trabalhar para concluí-los.

"Nós estávamos decepcionados que a vila não estava tão pronta quanto deveria quando chegamos e não tem sido fácil", diz a nota, que afirma que os atletas do país se mudarão para o prédio hoje.

Prefeita da Vila Olímpica, a ex-atleta do basquete Janeth Arcain disse que os organizadores "têm a estrutura necessária para deixar tudo perfeito antes do início dos Jogos".

O presidente do Comitê Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, também destacou que o importante é que os reparos sejam feitos antes que comece a Olimpíada.

"São ajustes que já estamos fazendo e serão resolvidos em pouco tempo. Toda Vila Olímpica, por sua magnitude, precisa de alguns retoques até que fique perfeita. O importante é que tudo será feito antes do início dos Jogos, sem trazer nenhum transtorno aos atletas", disse ele na abertura da vila.

Segundo o Comitê Rio 2016, 900 pessoas de 66 Comitês Olímpicos Nacionais estavam na Vila dos Atletas no domingo. Entre eles, estão 200 atletas de 20 nacionalidades.
 


Geração eólica cresce 77% e consumo de etanol, 18,6% em 2015voltar


Geração eólica cresce 77% e consumo de etanol, 18,6% em 2015

A matriz energética brasileira ficou mais limpa no ano passado, principalmente com o crescimento significativo do consumo de energia proveniente de fontes eólicas e do etanol. Simultaneamente, caiu a demanda por gasolina, informa a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que divulgou hoje (22) a edição deste ano do Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional (BEN).

O relatório revela ainda que, no ano passado, o consumo de energia proveniente de fonte eólica aumentou 77,1% em relação a 2014 e que o de etanol cresceu 18,6%. Ao mesmo tempo, o consumo de gasolina caiu 9,5%.

A nova edição do relatório apresenta em detalhes a contabilização da oferta, da transformação e do consumo final de produtos energéticos no país, tendo por base o ano de 2015. O BEN mostra que a oferta interna de energia (total disponibilizado no país) atingiu 299,2 milhões de toneladas equivalentes de petróleo, registrando uma redução de 2,1% em relação ao ano anterior.

Segundo a EPE, empresa responsável pelo planejamento energético do país, a queda foi influenciada pelo comportamento da oferta interna de petróleo e derivados, que caiu 7,2% no período em consequência do superávit nos fluxos de exportação e importação destas fontes energéticas.

“Contribuiu ainda para a queda da oferta interna bruta o enfraquecimento da atividade econômica em 2015, ano em que o PIB [Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos no país] nacional contraiu 3,8%, segundo o último dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE]”, ressalta a empresa.

Em contrapartida, do ponto de vista da energia elétrica, houve expressivo avanço da participação de renováveis na matriz elétrica de 74,6% para 75,5%, o que é explicado pela queda da geração térmica à base de derivados de petróleo e pelo incremento da geração à base de biomassa e eólica.

Esse avanço veio a compensar a redução de 3,2% da energia hidráulica, com a oferta interna de energia elétrica caindo 8,4 terawatts-hora (TWh), retração de 1,3% em relação a 2014. Já a geração eólica atingiu 21,6 TWh - crescimento de 77,1% - ultrapassando assim no ano passado a geração nuclear. A potência eólica atingiu 7.633 megawats (MW), uma expansão de 56,2%.

Os dados da publicação da EPE confirmam a queda de 1,9% no consumo final de energia em relação ao ano anterior – nos setores industrial e de transportes, a variação foi de -3,1% e -2,6%, respectivamente.

Já o setor industrial teve o consumo reduzido em 2,7 milhões de toneladas equivalentes de petróleo, com impacto da queda do consumo de carvão vegetal (-6,5%) e de eletricidade (-5%) no setor siderúrgico, e do bagaço de cana (-3,9%), nesse caso, em decorrência da queda na produção de açúcar.

Demanda cai no setor de transportes

Ainda em função da crise econômica que o país enfrenta, a demanda energética caiu 2,3 milhões de toneladas equivalentes de petróleo no segmento de transportes, principalmente em virtude da queda de 4,3% do consumo de óleo diesel, consequência da menor atividade do setor de transporte de carga.

Apesar da retração, um fato positivo é que, no ano passado, houve o percentual renovável na matriz de consumo do setor de transporte passou de 18% para 21%. Essa evolução é consequência direta do menor consumo de gasolina (-9,5%), em parte compensado pelo maior consumo de etanol (+18,6%).

Em 2015, o total de emissões antrópicas (termo usado em ecologia que se refere a tudo que resulta da atuação humana) associadas à matriz energética brasileira atingiu 462,3 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (Mt CO2-eq), contra 485,1 milhões de toneladas equivalentes verificada em 2014 

(Agência Brasil,)

Lâmina de barbear por US$ 1 vale US$ 1 bilhão para Unilever


Divulgação/Facebook oficial
Dollar Shave Club, clube de assinaturas de produtos de barbear, comprado pela Unilever
Dollar Shave Club, clube de assinaturas de produtos de barbear, comprado pela Unilever
São Paulo – A Unilever anunciou uma grande aquisição, que pode expandir seu modelo de negócios.

O clube de assinaturas Dollar Shave Club está em um mercado de mais de US$ 42 bilhões em vendas: produtos masculinos de barbear. Para entrar nesse segmento bilionário, a Unilever pagou US$ 1 bilhão pela startup. 

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O faturamento da empresa comprada foi de US$ 152 milhões em 2015 e deverá superar US$ 200 milhões este ano.

A multinacional ainda não tinha nenhuma marca de lâminas de barbear e a aquisição complementa o portfólio de produtos masculinos das marcas Dove Men+ Care e Axe.

No entanto, ela não comprou apenas lâminas, gel e creme para a barba, disse o presidente Paul Polman, em conferência com analistas. A Unilever também adquiriu experiência em um modelo novo de vendas por assinatura.

O Dollar Shave Club, que na verdade cobra mais dois dólares de taxa de entrega, conquistou 3,2 milhões de assinantes desde sua criação em 2012.

A ideia de receber produtos básicos mensalmente na porta de casa atrai especialmente o “atraente” público de jovens Millenials, ou geração Y.

Para Polman, a startup tem “uma marca inovadora e disruptiva com consumidores fiéis, diversificados e extremamente engajados”.

Informações sobre esse público, inclusive, também são valiosas para a Unilever. “Além de seus insights e dados únicos sobre os consumidores, o Dollar Shave Club é líder em seu setor de vendas diretas ao consumidor”, disse a empresa no anúncio da aquisição.

Segundo o presidente, o modelo de vendas por assinatura pode ser expandido para outros produtos e mercados.

A Unilever teve lucro líquido de 2,51 bilhões de euros (US$ 2,77 bilhões) no primeiro semestre do ano, 2% acima do mesmo período no ano passado.

A receita da multinacional caiu 2,6% na mesma comparação, a 26,3 bilhões de euros.


Empresa de drones de Israel pode comprar ativos da Odebrecht





Paulo Whitaker / Reuters
Sede da Odebrecht em São Paulo, dia 22/03/2016
Odebrecht: unidade de defesa registrou queda nas receitas depois que governo cancelou a produção de submarinos nucleares
 
Paula Sambo e Gabrielle Coppola, da Bloomberg


A Elbit Systems, empresa de defesa israelense conhecida por fabricar drones e sistemas eletrônicos para aviação, planeja comprar alguns ativos da Odebrecht Defesa e Tecnologia no Brasil, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o assunto.

Os ativos estão avaliados em cerca de US$ 50 milhões, disseram as pessoas, que pediram anonimato porque a informação não é pública. Os ativos fazem parte da Mectron, unidade da Odebrecht Defesa e Tecnologia que desenvolve e fabrica produtos e sistemas de alta tecnologia para usos militares e civis.

A AEL Sistemas, subsidiária brasileira da Elbit, não quis comentar. A Odebrecht Defesa e Tecnologia disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que, “em relação à Mectron, a Odebrecht Defesa e Tecnologia segue em negociação com diversas empresas internacionais”, mas que “permanecerá no setor de defesa, mesmo diante do cenário desafiador, e mantém o compromisso de oferecer soluções estruturantes para o Brasil neste mercado”.

A unidade da Odebrecht, conhecida como ODT, registrou queda nas receitas depois que o governo reduziu o gasto com seu programa de submarinos nucleares pela metade em um momento em que as autoridades trabalham para reduzir o crescente déficit orçamentário em meio à pior recessão do país em um século.

A empresa controladora, que é o maior conglomerado de construção da América Latina, anunciou o congelamento dos novos investimentos no Brasil no ano passado porque a crise de crédito restringiu o acesso ao financiamento após a prisão do então presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, em junho de 2015, como parte da Operação Lava Jato.

Ele renunciou ao cargo para se concentrar em sua defesa e continua preso. Marcelo Odebrecht nega irregularidades.

A Elbit, que no ano passado obteve cerca de 11 por cento de suas receitas na América Latina, ganhou contratos no Brasil em um momento em que o governo está transferindo recursos militares convencionais para a proteção de sua infraestrutura e de seus recursos naturais, em particular na Amazônia e nas regiões costeiras ricas em petróleo.


Brasil é país que mais barra importações, diz OMC






zhudifeng/ThinkStock
Indústria da borracha:
Indústria da borracha: o governo brasileiro, por exemplo, iniciou metade de todos os casos de antidumping no setor de plásticos e borracha no mundo, com 57
 
Jamil Chade, do Estadão Conteúdo
correspondente, do Estadão Conteúdo


Genebra - Nos últimos três anos, o Brasil foi o país que mais adotou barreiras antidumping contra produtos importados, somando 15% de todas medidas restritivas estabelecidas pelas diferentes economias.

Quem traz a constatação é o próprio diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevedo e que, em seu informe publicado nesta segunda-feira, 25, apela para que governos abandonem as tentações protecionistas e "resistam" a planos de impor novas medidas.

Entre 2013 e 2015, 112 medidas antidumping foram iniciadas pelo Brasil. "Isso representa 15% de todas as investigações", apontou a OMC. A entidade, porém, admite que a tendência no País tem sido de queda. Em 2013, foram 54 investigações, contra 35 em 2014 e 23 em 2015. Ainda assim, o Brasil ficou na terceira posição no ano passado.

O governo brasileiro, por exemplo, iniciou metade de todos os casos de antidumping no setor de plásticos e borracha no mundo, com 57. Foram ainda 22 no setor de produtos químicos.

No período avaliado pela OMC, o segundo governo que mais medidas aplicou foi o dos EUA, com um total de cem investigações abertas. A terceira colocação ficou com a índia, com 97 casos, seguida da Austrália, com 52 investigações.

Nos últimos anos, um salto importante foi registrado ainda no Paquistão ou Tailândia.

Nesta segunda-feira, em um discurso perante os membros da OMC, Azevedo insistiu em pedir para que os governos "resistam às pressões protecionistas".

"O informe mostra sinais preocupações na taxa de novas medidas restritivas ao comércio", disse. Segundo ele, a média de novas medidas a cada mês é a maior desde 2011.

"Esperamos que isso não seja um indicador do que está por vir e claramente precisamos agir", afirmou. No total, 154 medidas restritivas foram impostas no comércio mundial entre outubro de 2015 e maio deste ano.

Isso significou 22 novas barreiras por mês, bem acima das 15 mensais registradas em 2015. "No atual ambiente, o aumento de restrições comerciais é a última coisa que a economia global necessita", disse.

Sua preocupação é que tal tendência possa ter um impacto negativo nos fluxos de comércio, com efeitos no crescimento da economia e na criação de postos de trabalho.

"Estamos vivendo um período de volatilidade econômica e baixa taxa de crescimento", disse. "O crescimento do comércio deve ficar abaixo de 3% em 2016, fazendo do ano o quinto consecutivo com uma expansão abaixo de 3%", alertou o brasileiro.

"Salvo a recuperação imediatamente depois da crise financeira, esse é o nível mais fraco de crescimento de comércio em 30 anos. Essa situação exige nossa atenção e ação", insistiu.

Outra preocupação de Azevedo é quanto à retirada de medidas que eram consideradas como temporárias. Das mais de 2,8 mil restrições criadas pelos governos de 2008, apenas 25% delas foram suspensas.

"Temos a preocupação relativa ao aumento dos estoques de medidas depois de 2008", disse o brasileiro. "O informe sugere que essa tendência pode estar continuando", alertou.

Segundo o levantamento, o estoque subiu em 11% no mesmo período. "Portanto, o número de medidas adotadas hoje é de pouco mais de 2,1 mil", constatou.

No período avaliado entre o final de 2015 e maio de 2016, a OMC contou 132 barreiras retiradas por diferentes governos, em uma média de 19 por mês.
 

Trump


Para Azevedo, a melhor garantia contra o protecionismo é o fortalecimento do sistema multilateral do comércio. O recado foi dado um dia depois que Donald Trump, candidato à presidência dos EUA, indicou que, se eleito, poderia retirar o governo americano da OMC.

O brasileiro não comentou as declarações do americano. "Todos sabemos que fazer campanha e governar não são as mesmas coisas", disse o diretor de Comunicações da OMC, Keith Rockwell.