segunda-feira, 31 de março de 2014

Copa trará avanço ‘zero’ ao PIB do Brasil, calcula Moody’s



Gustavo Santos Ferreirapartilr2


A Copa de Mundo, maior evento esportivo do planeta, planejada durante sete anos para deixar “grande legado” ao Brasil, trará efeitos “fugazes” à economia – mostra relatório da agência de classificação de risco Moody’s.  

Nas contas da instituição, o torneio trará ganho de riqueza da ordem de R$ 25,2 bilhões ao País. Num primeiro olhar, pode parecer bastante. Mas, pela ótica da produção de bens e serviços (PIB, o Produto Interno Bruto), o impacto é ínfimo.



Legado. Comparando dados da agência aos do IBGE, impacto é de 0,0005% no PIB

O PIB consolidado do Brasil no último ano nas Contas Nacionaisem valores correntes, foi de R$ 4,838 trilhões. O avanço de riqueza calculado pela Moody’s representa apenas 0,0005% desse montante.

Ainda de acordo com o estudo, os setores de Alimentos e Bebidas, Hospedagem, Locação de carros, Telecomunicações e Publicidade serão os mais beneficiados pela visita de 3,6 milhões de turistas entre junho e julho para o evento. No entanto, os problemas de mobilidade urbana e os dias perdidos de trabalho por causa dos jogos tendem a minimizar o empurrão dado aos segmentos de Serviços.

Entre as empresas beneficiadas pelo evento, estão, naturalmente, os patrocinadores oficiais, de acordo com o texto assinado por Barbara Mattos, Gersan Zurita e Marianna Waltz. As empreiteiras envolvidas na construção dos estádios também têm a ganhar, bem como as redes de tevê transmissoras das partidas.

Governo pode gastar R$ 34 bi para segurar 1 ponto porcentual na inflação


Conta feita por consultoria se baseia na decisão da equipe econômica do governo de não reajustar os preços administrados; maior fatia nesse esforço deve vir da manutenção da redução da conta de energia elétrica, o que consumirá R$ 21 bilhões


Luiz Guilherme Gerbelli, O Estado de S.Paulo
O impacto na conta do governo para evitar o aumento de um ponto porcentual na inflação pode chegar a R$ 34 bilhões este ano. A conta bilionária - compilada pela consultoria A.C. Pastore & Associados - se dá pela decisão da equipe econômica de não reajustar os preços administrados, como os da gasolina e da energia elétrica.

A maior parte desse esforço virá do gasto extra do governo para manter a promessa de redução da conta de energia elétrica. Em 2014, a ajuda às distribuidoras vai custar R$ 21 bilhões - R$ 13 bilhões vindos do Tesouro e R$ 8 bilhões em dívida emitida em nome Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) que deve ser financiada por bancos públicos e privados. "Se a situação do nível dos reservatórios se agravar mais, essa conta ainda pode crescer", afirma o economista da A.C. Pastore & Associados, Marcelo Gazzano. 

A segunda parte desse custo virá dos R$ 13 bilhões que o governo deixará de arrecadar com a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), tributo cobrado sobre combustíveis. Em junho de 2012, quando o governo autorizou o reajuste no preço da gasolina e do diesel, a Cide foi zerada para que o aumento não chegasse ao consumidor. O tributo não é considerado arrecadatório, mas ajudava nas contas do governo.

Em dezembro, após participar de um evento em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a afirmar que a Cide poderia voltar a ser cobrada, mas naquele momento, a prioridade dele era o combate à inflação. 

O caso dos combustíveis e da energia se tornaram os mais emblemáticos da política de controle de preços. Mas, depois das manifestações de junho, várias cidades do País congelaram o reajuste das tarifas do transporte público, o que também contribuiu para um baixo avanço da inflação dos administrados. Em 2013, a alta foi de apenas 1,5%, enquanto os preços livres aumentaram 7,3%. "A forma desse governo de controlar a inflação é via controle de preços administrados", diz José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio e economista da Opus Gestão de Recurso.

Os números deixam claro que o esforço do governo para não aumentar os preços administrados está resultando em um elevado custo num momento em que o mercado cobra credibilidade da política fiscal. Segundo a projeção da A.C. Pastore & Associados, o impacto dessas medidas no superávit primário do setor público deve ser de cerca de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Na semana passada, num sinal de perda de credibilidade, a nota do Brasil foi rebaixada pela agência de risco Standard & Poor's (S&P). A nota de crédito do Brasil recuou de BBB para BBB-. Entre os motivos apontados para a queda, estão o baixo crescimento econômico e dúvidas em relação à política fiscal. "Em termos de credibilidade, o governo se perde por dois lados: mascara os preços e faz uma expansão fiscal", diz Gazzano.


Base aliada tenta evitar criação da CPI da Petrobrás no Senado


 

 

 

Novo ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, e senadores fazem reuniões para definir estratégia na tentativa de esvaziar comissão


Atualizado às 12h15 - Erich Decat, da Agência Estado

Brasília - Integrantes da base aliada no Congresso e do próprio governo intensificam nesta segunda-feira, 31, articulações para tentar evitar a criação da CPI da Petrobras no Senado, cujo requerimento de abertura tem leitura em plenário prevista para esta terça, 1º, pelo presidente do Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Apesar da previsão de leitura, não há regimentalmente nenhum prazo estabelecido para que isso ocorra. Ou seja, caso queira, Renan pode adiar a leitura em plenário. Segundo apurou o Broadcast Político, serviço em tempo real da Agência Estado, essa possibilidade é uma aposta de integrantes do Palácio do Planalto que vêm acompanhando de perto o desenrolar das discussões.

Antes mesmo de tomar posse como ministro de Relações Institucionais, o deputado federal Ricardo Berzoini (PT-SP) participa de uma série de reuniões nesta segunda-feira com aliados em que o tema central será a criação da CPI. A posse do petista está prevista para esta terça. "Normalmente se estabelece uma distorção do processo investigatório em uma CPI. Evidentemente fica uma disputa entre oposição e base e um clima de instabilidade. Isso interessa apenas à oposição e não à situação", afirmou Berzoini.

Na semana passada, líderes da oposição protocolaram requerimento com 28 assinaturas para abertura da comissão na Casa. O texto do requerimento tem como objetivo investigar supostas irregularidades cometidas entre 2005 e 2014, entre elas a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). A aquisição já é investigada por órgãos fiscalizadores por suspeita de superfaturamento.

Senadores da bancada do PT também vão se reunir nesta segunda-feira para discutir uma estratégia para tentar esvaziar a CPI. "Vamos sentar pela manhã e à tarde para fazer uma avaliação. Obviamente que a primeira alternativa nossa é não ter a CPI. A segunda é ver como seria administrada a comissão e avaliar essa ideia de ter uma CPI mais ampla", afirmou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).


CPI ampla. 

 A ampliação do tema que poderá ser investigado pela CPI ainda não é consenso e pode até parar na Justiça, o que levaria ao adiamento da criação da comissão por tempo indeterminado. "A partir do momento que se judicializa não depende mais do mundo político. Aí quem define o ritmo é quem estiver com a ação na mão. Mas não tem nenhuma estratégia fechada. Vamos discutir nesta segunda-feira", afirmou Berzoini. "Essa questão do adendo ainda não está pacificada. Quem decide é a Mesa do Senado, a Comissão de Constituição e Justiça, e em última instância o Supremo Tribunal Federal", considerou Humberto Costa.

Integrantes do governo e do PT defendem que o foco da investigação seja ampliado e alcance também as denúncias de formação de cartel e fraudes em licitações de trens em São Paulo e Porto de Suape, em Pernambuco. Em ambos os casos, os maiores prejudicados seriam partidos de oposição como o PSDB e o PSB.

Incomodado com a possibilidade de também ter Suape na lista de investigação dos congressistas, o governador de Pernambuco e possível candidato à Presidência da República, Eduardo Campos (PSB), teria ligado para parlamentares da base aliada informando que também colocaria em discussão a investigação da Transpetro e da Eletrobras, controladas pelo PMDB.


Agenda positiva. 

 Em meio à discussão da criação de uma CPI, considerada como uma pauta negativa para o governo, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), tentará colocar votações de apelo popular na pauta da Casa.

"Tem um esforço concentrado que vamos fazer na semana do dia 7, segunda, terça, quarta, quinta e sexta. Já apelei à Câmara para isso, para fazer esse esforço concentrado em todos esses dias para votar uma pauta remanescente que está aí desde outubro, como a regulamentação de empregada doméstica, corrupção como crime hediondo, regras para as casas de espetáculos, como foi o caso de Santa Maria, o projeto dos cinegrafistas, reforma política", listou Alves.

Vale pode perder US$ 507 mi investidos em jazida na Guiné


Mineradora brasileira admitiu a possibilidade em relatório anual entregue à SEC, a CVM americana


Dado Galdieri/Bloomberg
Minério de ferro da Vale

Produção de minério de ferro da Vale: companhia pode perder jazida na Guiné

São Paulo - A Vale admitiu que pode perder os direitos de mineração da jazida de Simandou, considerada um dos melhores depósitos de minério de ferro do mundo, na Guiné. Se isso ocorrer, a mineradora perderá 507 milhões de dólares que foram investidos na compra dos direitos. 

Em relatório anual entregue à Securities Exchange Commission (SEC), a CVM americana, a empresa explicou que um novo código de mineração adotado no país introduziu exigências mais onerosas às mineradoras, como mais impostos, mais obrigações trabalhistas, mais transparência e medidas anticorrupção.

Para adequar as empresas às novas regras, o governo lançou um programa de revisões contratuais que permitiria resultar em renegociações ou até no cancelamento dos contratos.

Segundo a companhia, a Vale foi notificada pela equipe técnica de que o governo receberá um parecer negativo da empresa e que ela recomendará o cancelamento do acordo.

"Não temos acesso ao relatório completo do comitê técnico, mas entendemos que sua determinação se baseia em práticas de corrupção com relação à concessão dos direitos de mineração da VBG, antes da aquisição pela Vale da participação na VBG. Até o quanto sabemos, o comitê técnico não alegou delito por parte da Vale", diz o relatório. 

A Vale é dona, dese 2010, de 51% da companhia VGB, empresa que detém as concessões de exploração. Se o governo decidir pelo cancelamento, a mineradora brasileira perderá todo o investimento. A companhia afirma que, caso isso ocorra, ainda há possibilidade de recurso.

BID cria nova corporação para atender setor privado




O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aprovou no domingo uma profunda reestruturação interna para ampliar e melhorar o atendimento ao setor privado com a criação da chamada New Corp, e deu o primeiro passo para limitar a eleição de seu presidente a dois mandatos consecutivos. As duas decisões foram anunciadas na noite do domingo após o encerramento da 55ª Assembleia Anual de governadores do BID, depois de dois dias de sessões com a participação dos 48 países-membros da entidade.

"Toda a relação do banco com o setor privado será assumida pela Corporação Interamericana de Investimentos (CII), que estamos chamando de 'New Corp'", explicou a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que presidirá por um ano a Assembleia de Governadores do BID. A corporação era até agora o principal braço financeiro do BID para canalizar empréstimos ao setor privado, mas faltava a ela "musculatura", o que os governadores exigiam desde que o BID foi recapitalizado há quatro anos com a missão de ampliar sua atenção às empresas.

Os sócios também decidiram capitalizar a News Corp e dotá-la de uma estrutura que permita aumentar sua eficácia. A "irmã do BID", como chamou o ministro da Fazenda da Colômbia, Mauricio Cárdenas, assumirá na prática os quatro departamentos do BID que atualmente atendem ao setor privado. Belchior explicou que a decisão de colocar todas as operações do setor privado sob o guarda-chuva do CII inclui o Fundo Multilateral de Investimentos (FOMIN), um fundo independente administrado pelo BID, especializado em pequenas e médias empresas, onde o banco é associado a diferentes governos e entidades empresariais e sociais.

"O FOMIN também será incorporado, mas sempre mantendo sua independência por ser um fundo com características especiais", explicou. A decisão de fortalecer e unificar a ação do banco para o setor privado exigirá capitalização e acrescentou que para isso a Assembleia criou uma comissão que terá até outubro para apresentar sua proposta. "Os detalhes tanto da parte operacional como da capitalização terão de ser apresentados pela comissão com base nas indicações dadas pela assembleia de governadores", afirmou.

O comitê definirá as áreas de atuação da "Nova Corporação", nas quais não há consenso embora grande parte dos países tenha proposto priorizar o investimento em infraestruturas. "A administração do BID apresentou quatro linhas prioritárias e na Assembleia foram feitas observações, e isso também será fruto de uma nova discussão dos governadores", explicou Belchior.

Para Cárdenas, a nova entidade tem de apoiar os projetos de infraestrutura dos governos da região em parceria com empresas privadas. "Uma boa parte dos investimentos hoje na América Latina em infraestrutura é feito pelo setor privado na modalidade público-privada ou por concessões", afirmou o ministro colombiano. A Assembleia também decidiu modificar as regras de eleição do presidente do organismo e limitar a dois o número de mandatos, decisão que ainda terá que ser aprovada, mas que, segundo Belchior, conta com um "amplo consenso".

As novas regras serão definidas por um comitê que tem até 30 de outubro para entregar a proposta. De acordo com a ministra, a aprovação da reforma eleitoral não terá que esperar até a próxima assembleia anual, já que os governadores votarão as reformas por eletronicamente possivelmente em novembro.

Belchior acrescentou que a posição do conjunto dos governadores é que as novas regras não se apliquem às eleições do próximo ano, o que permitira ao atual presidente do BID, o colombiano Luis Alberto Moreno, eleito em junho de 2005 e reeleito em 2010, aspirar a um novo mandato.

"Não podemos mudar as regras de jogo aos 45 minutos do segundo tempo. A ideia é que essas novas regras se apliquem apenas para a eleição seguinte", afirmou.

Seminário do Valor reúne inspirações para a pequena e média empresa


Por Valor




SÃO PAULO  -  Foi no bairro paulistano da Lapa, em 1988, que nasceu a primeira loja do que mais tarde se transformaria em uma rede de fast food. Sob o comando do português Antonio Alberto Saraiva, surgia naquela época a marca Habib’s, hoje uma empresa com mais de 430 lojas espalhadas por mais de 120 cidades brasileiras. Aos poucos, a pequena companhia se tornou uma das gigantes no setor de fast food. Com uma equipe de 22 mil funcionários, o Habib’s atende mais de 220 clientes anualmente, vendendo cerca de 680 milhões de esfihas árabes, a menina dos olhos da rede.

Assim como o sonho de Saraiva há 26 anos se tornou realidade, exemplos não faltam de empresários que transformaram pequenas sementes em grandes frutos. As histórias inspiradoras de grandes líderes, como Abilio Diniz, presidente do conselho de administração da BRF, e Alexandre Birman, CEO da Arezzo&Co, vão fazer parte da programação da edição deste ano da Maratona PME, evento realizado pelo Valor.

Entre os palestrantes, também estão confirmadas as presenças de Sônia Hess, presidente da Dudalina; Flávio Gurgel Rocha, presidente da Riachuelo; Fabio Hering, diretor-presidente da Hering; Guilherme Paulus, sócio-funador da CVC; Marcelo Odebrecht, presidente da Odebrecht; Oskar Metsavaht, presidente do conselho e fundador da Osklen.

A abertura será realizada pelo empresário Abilio Diniz, às 8h30 do dia 4 de abril. O seminário seguirá até 18h15, com a última apresentação a ser feita pelo CEO da Arezzo&Co, Alexandre Birman. O evento acontece no Hotel Sheraton WTC, localizado na Avenida das Nações Unidas, nº 12.559, Piso Golden Hall, em São Paulo.

As inscrições podem ser feitas no hotsite da Maratona PME. Lá também é possível encontrar outras informações, como os horários de cada palestra, além de um mapa sobre como chegar ao local do evento.
(Valor)

Mesmo com críticas a modelo atual, brasileiros querem mais democracia





BRASÍLIA  -  Apesar de os valores democráticos serem considerados inquestionáveis, como a liberdade e o respeito às opiniões individuais, pesquisas de diversos institutos mostram que uma parte considerável da população brasileira não percebe plenamente os benefícios econômicos e sociais da democracia. Realizada anualmente em vários países da América Latina, estudo coordenado pelo Latinobarómetro aponta que o Brasil tem a segunda menor taxa de apoio à democracia, perdendo apenas para a Guatemala.

Cidadãos de 18 países latino-americanos tiveram de responder com qual frase mais concordavam: a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo; em algumas circunstâncias, um governo autoritário pode ser preferível a um democrático; tanto faz, um regime democrático e um não democrático dá no mesmo. Na média das pesquisas entre 1995 e 2013, 44% dos brasileiros dizem que a democracia é a melhor escolha. Para 19%, um governo autoritário pode ser preferível em certas circunstâncias e, para 24%, não faz diferença. O restante não respondeu.

No Uruguai, país com a maior média de apoio à democracia, 78% dizem preferir um sistema democrático; 15% defendem o autoritarismo e 10% são indiferentes. O Brasil perde apenas para a Guatemala, onde apenas 38% preferem a democracia a qualquer outro tipo de governo.

A democracia foi uma das principais conquistas políticas do Brasil no século 20. Em 1984, ainda sob regime militar, milhões de brasileiros participaram de comícios, passeatas e outras manifestações públicas, em várias capitais, no movimento Diretas Já!, que reivindicava eleições diretas no Brasil. Em 2013, quase 30 anos depois da reinstalação do sistema democrático no país, as ruas foram novamente ocupadas por milhões de manifestantes reivindicando, na avaliação de diversos especialistas, mais voz e avanço da democracia brasileira.

Para especialistas ouvidos pela Agência Brasil, os brasileiros estão insatisfeitos com o funcionamento do regime no país. Em outras palavras, “querem mais democracia”. O cientista político José Álvaro Moisés, coordenador do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas (NUPPS) da Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro "A Desconfiança Política e Seus Impactos na Qualidade da Democracia", diz que o grau de descrença em relação às principais instituições da democracia representativa é muito elevado.

“No caso dos partidos políticos, nada menos do que 82% da população desconfiam deles, e, no caso do Congresso Nacional, 79%, pelas minhas pesquisas”, destaca Moisés. Embora a descrença no Judiciário seja menor, a sensação de injustiça é alta. “Aproximadamente 90% dos entrevistados de todos os segmentos sociais, regiões do país, classe, sexo, etnia e religiosidade, consideram que a lei não trata os cidadãos de maneira igual, e quase 80% consideram que o acesso dos brasileiros à Justiça é desigual, que não há oportunidades iguais de acesso.”

O cientista político acredita que as mesmas questões levantadas nas pesquisas também apareceram, de certa forma, nas manifestações de junho e julho de 2013, que levaram cerca de 2 milhões de pessoas a protestar nas ruas. “Muitos manifestantes chamaram a atenção para o vazio dos partidos políticos e, no caso do Parlamento, não foi à toa que houve tentativas de invasão às câmaras de Vereadores e assembleias legislativas em alguns estados e até do Congresso Nacional”.

Segundo o sociólogo e professor da Universidade de Brasília (UnB) Eurico Cursino, o cidadão brasileiro não tem vocação para viver calado, com medo, e, portanto, não contesta a democracia como valor cultural na sociedade, como direito de pensar e se expressar livremente. No entanto, como expressam as pesquisas e as manifestações populares, há uma crítica clara em relação à democracia como “regra da disputa política, da luta pelos cargos do Estado e tomada de decisões”.

O diretor-geral do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (Ibri), Pio Penna Filho, destaca que o regime democrático é preferível “mesmo quando pensamos em uma democracia cara e ineficiente como a brasileira” porque as pessoas podem participar, de alguma forma, das decisões do Estado. Mas ela, sozinha, não basta. “Vemos um mundo político muito desvinculado da sociedade, a classe política brasileira perde a noção do compromisso social e isso desvaloriza a democracia”, avalia.

O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) José Ronaldo Souza acredita que uma democracia equilibrada oferece melhores condições para que um país receba investimentos. “A democracia é boa para gerar crescimento econômico à medida que, dado o sistema de pesos e contrapesos, permite que os investidores tenham segurança maior do que com um grupo político isolado que se apodera do governo”.

Os especialistas afirmam que a democracia brasileira sofre as consequências da falta de proatividade das elites políticas em relação à sociedade e dos cidadãos, eleitores, em relação à classe política. Cursino defende que alguns fatores históricos fazem com que os brasileiros não se vejam como cidadãos responsáveis pelo governo do país, colocando-se em uma posição passiva na maior parte do tempo.

“As fundações da sociedade são de cima para baixo. A sociedade carece de bases comunitárias que tenham servido de alicerce para a formação de instituições políticas. As instituições políticas vêm sempre de cima para baixo e existe uma vida comunitária desconectada das instituições políticas”, explica Cursino, o que faz com que os cidadãos que se tornam conscientes de seus direitos estejam, nessa estrutura, “sociologicamente isolados”.

Os níveis de associativismo da população brasileira em sindicatos, partidos políticos, conselhos de saúde e orçamento participativo, associações de moradores e de pais e mestres ficam em torno de 2%. Para o sociólogo, essas relações representam democracia de baixo para cima e, na medida em que se tornam densas o suficiente, têm força para influenciar no jogo democrático, ampliando a participação do povo nas decisões. “Isso falta brutalmente na nossa sociedade”.

Apesar dessa relativa passividade, Moisés avalia que uma série de exemplos nas décadas recentes mostram que, quando se abre a estrutura de oportunidades para a participação das pessoas, elas tendem a utilizá-la, e cita as mobilizações de trabalhadores na região do ABC paulista, no final da década de 1970, as Diretas Já!, na década de 1980, o impeachment presidencial, na década de 1990, e as manifestações do ano passado.

“Nenhum governo abriu grandes mecanismos de participação para a população. Todos os presidentes eleitos de 1988 para cá, sem exceção, mencionaram a reforma política no discurso de posse e nenhum a fez”, critica o cientista político, destacando que há poucas iniciativas de baixo para cima, como as leis da Ficha Limpa e da Improbidade Administrativa, ambas de iniciativa popular, e nenhuma de cima para baixo.

O historiador Rodrigo Patto Sá Motta, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pontua que é preciso haver movimentos convergentes, com mudança de comportamento das lideranças políticas e maior participação dos cidadãos. “Se os eleitores punissem mais os políticos que se comportam mal, não votando neles, os políticos se sentiriam pressionados. Mas os políticos também não precisam esperar isso e poderiam cuidar de punir seus colegas parlamentares que, por exemplo, usem mal os recurso públicos.”

Apesar de todas as críticas, as manifestações recentes, na maior parte formada por jovens que não viveram o regime militar no Brasil, não questionam a importância do regime democrático. Ao contrário, pedem “mais democracia”. Segundo Moisés, apesar de não estarem perto do desejado, os indicadores sociais melhoraram muito desde o fim da ditadura.

Ele destaca ainda que as eleições não bastam para a existência da democracia e que as manifestações populares devem pautar a campanha deste ano. “Vai ser inevitável, a meu juízo, que na campanha eleitoral deste ano esses temas apareçam no debate público. Os candidatos vão ser forçados a falar sobre isso. Serão tanto mais forçados quanto mais a mídia, o jornalismo crítico, a comunicação por meio das redes sociais, cobrarem dos candidatos que se manifestem sobre o que querem fazer e como.”
(Agência Brasil)