Desde 2016, um seleto grupo do empresariado brasileiro tem discutido o futuro do Brasil. Agora, querem convidar a sociedade a participar do debate
Os brasileiros tiveram motivos de sobra para se debruçar sobre os rumos do país nos últimos dois anos. A crise econômica,
os escândalos de corrupção em série revelados pela Lava-Jato e o quadro
político completamente imprevisível são alguns exemplos. Na esteira dos
problemas, surgiram diversos grupos da sociedade civil para discutir
soluções ao desencanto com o estado geral das coisas Brasil afora — são
movimentos como o Agora!, de profissionais liberais capitaneados pelo
apresentador Luciano Huck, ou o Agenda Brasil de Futuro, que reúne herdeiros de grandes grupos empresariais brasileiros.
Em breve, mais um desses grupos vai mostrar a que veio. Trata-se do “Você Muda o Brasil“,
uma associação sem fins lucrativos e apartidária formada por lideranças
empresariais de relevância no Brasil — integram o grupo a
consultora e professora Betania Tanure, Luiza Helena Trajano (Magazine
Luiza), Jefferson De Paula (ArcelorMittal), Paulo Kakinoff (Gol), Pedro
Passos (Natura), Pedro Wongtschowski (Ultra), Rubens Menin (MRV), Salim
Mattar (Localiza) e Walter Schalka (Suzano).
Nesta segunda-feira, dia 27 de agosto, o “Você Muda o Brasil”
vai promover um evento no World Trade Center, em São Paulo, e
transmissão ao vivo pela internet. Entre as discussões estão o futuro da
educação e o protagonismo da sociedade civil no desenvolvimento. Entre
os palestrantes estão a ministra Cármen Lúcia Antunes
Rocha, presidente do Supremo Tribunal Federal, o apresentador Luciano
Huck e a administradora Priscila Cruz, fundadora do movimento Todos Pela
Educação. A inscrição para acompanhar os debates online é em www.vocemudaobrasil.com.br.
Mas, de fato, de onde surgiu o “Você Muda o Brasil” e para onde ele vai? Na entrevista a seguir, concedida por telefone, duas das lideranças do movimento – Paulo Kakinoff, presidente da companhia aérea Gol, e Rubens Menin, dono da construtora MRV -, detalham o propósito da iniciativa.
De onde surgiu a ideia do movimento Você Muda o Brasil?
Kakinoff: Foi um movimento espontâneo nosso,
de empresários que já se conheciam e praticavam ações de
responsabilidade social em suas empresas e mesmo na pessoa física. Em
conversas de negócios, esse grupo viu um ganho em ter uma discussão
conjunta sobre civismo e ativismo social. No fim de 2016 começamos a nos
reunir para discutir um propósito em comum.
Menin: A gente percebia na sociedade
brasileira um clamor muito grande em cima de mudanças. As pessoas estão
com um senso de urgência. Há muitos fatores que entristecem o país.
Basta lembrar que há uma geração de brasileiros em condições de
empreender aqui, mas migra a outro país por causa da alta criminalidade e
da falta de boas oportunidades. Isso entristece a gente. Queremos ficar
aqui e dar condições para nossos netos permanecerem aqui. Por isso nos
reunimos a cada dois meses para pensar num futuro melhor para o país.
O que está na pauta de discussões?
Menin: A gente criou um elemento em comum no
grupo que é encontrar um propósito para o país. Elencamos princípios
essenciais para esse país que queremos: união entre as pessoas, ética
nos relacionamentos e nos negócios. Convidamos especialistas de várias
áreas do conhecimento para entender os problemas do país e melhorar a
convivência da sociedade. Mas esse é um diálogo ainda em aberto.
Kakinoff: As discussões no Brasil andam muito
polarizadas. Desperdiça-se muito tempo com elas por causa de dogmas
enraizados nas pessoas. Nossa abordagem vai na linha contrária. Sempre
quisemos encontrar os pontos de convergência entre os participantes, um
propósito em comum.
O conceito de “propósito”, mencionado por vocês, está em voga
por causa do best-seller homônimo escrito por Sri Prem Baba (codinome
do guru espiritual paulistano Janderson Fernandes) e que prega o
autodesenvolvimento pessoal como forma de encontrar sentido nas coisas. É
uma referência teórica do grupo?
Kakinoff: A busca por um propósito está no
zeitgeist da atualidade. Muitos executivos de empresas estão em busca
disso. Alguns, como eu, leram o livro, mas o conteúdo dele não tem
relação com a pauta do grupo.
Há interesse eleitoral no movimento?
Menin: Somos um movimento apartidário por
essência. Vamos tentar influenciar o debate indiretamente, divulgando
ideias à sociedade, inclusive às lideranças políticas. Vai da liderança
apoiar as ideias que a gente defende.
De que maneira o grupo pretende influenciar o debate?
Kakinoff: O evento marcado para o dia 27 de
agosto é um exemplo. A ideia do encontro será a promoção o voto
consciente. Hoje é possível obter muita informação sobre os candidatos
na internet. Basta o cidadão ter interesse. Queremos chamar a atenção
para a importância desse momento. Para isso, chamamos especialistas em
temas importantes ao futuro do país, como educação, civismo e ética,
para um debate qualificado.
E, após o evento, qual é o plano do grupo?
Kakinoff: Assim como outros movimentos cívicos
criados recentemente no Brasil, como o Todos Pela Educação (para
melhoria no ensino), o RenovaBR e a Rede Ação Pela Sustentabilidade
(para formação de lideranças políticas), queremos ocupar o máximo
possível de canais para alcançar outras pessoas com nossa mensagem.
Estamos em consultas internas e com a sociedade para definir o próximo
passo.
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