A comercializadora de açúcar e etanol Copersucar investiu em logística e em parcerias para se destacar num setor em apuros
Na comercializadora de açúcar e etanol Copersucar,
é tempo de colher. Os investimentos de 2,2 bilhões de reais ao longo de
uma década para reforçar a estrutura logística e expandir as operações
para outros países estão frutificando. A decisão de aprimorar seu
sistema próprio de transporte veio da constatação de que a
infraestrutura nacional, muito deficitária, é um dos maiores obstáculos
para aumentar a rentabilidade do setor — como a greve dos caminhoneiros
em maio mais uma vez evidenciou.
Com um aumento de 142% na receita líquida anual de
2009 a 2017, para 2,6 bilhões de dólares, e com uma elevação de 256% na
geração de caixa no mesmo período, para 95 milhões de dólares, a
companhia controlada pelos sócios da cooperativa paulista de produtores
de cana-de-açúcar se destaca como a melhor empresa do agronegócio nesta
edição de MELHORES E MAIORES. “Estamos criando valor em torno do nosso
DNA, a comercialização, conectando o campo ao mundo”, diz Paulo Roberto
de Souza, presidente da Copersucar, companhia que em 2018 completa dez
anos.
Em 2017, o lucro líquido da Copersucar foi
multiplicado por 13 na comparação com 2016, superando os 76 milhões de
dólares, enquanto as 400 maiores empresas do agronegócio registraram uma
alta de 41,4% no lucro no mesmo período, para um total combinado de 5,4
bilhões de dólares. A Copersucar viu também sua rentabilidade sobre o
patrimônio líquido subir de 5,1% para 38,7% no ano passado em relação ao
anterior. O desempenho compensou uma queda de 2,6% na receita em 2017 e
é ainda mais notável considerando que o setor de açúcar e etanol sofreu
muito nos últimos anos.
O endividamento das usinas brasileiras cresceu em
meio à crise econômica, à estagnação das vendas e ao aumento da
competição com a gasolina. Enquanto as produtoras se recuperam
lentamente, aproveitando que o petróleo mais caro encoraja a opção pelo
etanol nos postos, os resultados da Copersucar têm sido estimulados
pelos investimentos recentes. A estratégia da comercializadora foi
estabelecida em 2008, quando os membros da cooperativa criaram uma
sociedade anônima para comprar e revender açúcar e etanol também de
outras usinas que não apenas as 35 controladas pelos 20 grupos
-econômicos sócios da Copersucar. Desde então, coexistem a Copersucar S.
A. e a cooperativa.
Buscando alternativas para driblar o predomínio, no Brasil, do
transporte por rodovia, a Copersucar se lançou em uma sequência de projetos logísticos.
Entre essas empreitadas, agora atingindo a maturidade, está um
etanolduto ligando a maior área produtora do combustível no país —
localizada no centro-sul — à região metropolitana da capital do estado
de São Paulo. A obra tem um custo total estimado de 7 bilhões de reais.
De Uberaba, em Minas, a Barueri, no entorno da cidade de São Paulo, o
duto de até 24 polegadas de diâmetro percorre 350 quilômetros e tem
capacidade para escoar até 6 bilhões de litros do combustível por ano.
O sistema, que entrou em operação em 2013, é gerenciado pela Logum
Logística, uma sociedade criada em 2011 pela Copersucar com a Petrobras,
o grupo -Odebrecht, a também produtora de açúcar e etanol Raízen, a
gerenciadora de dutos Uniduto e o conglomerado Camargo Corrêa. Desse
complexo faz parte, ainda, o Terminal Copersucar de Etanol, na cidade de
Paulínia, também em São Paulo, que entrou em operação em 2013 e passou a
ser administrado em sociedade com a companhia britânica de energia BP
neste ano. O terminal também é conectado à Replan, refinaria da
Petrobras na mesma cidade.
O próximo passo da estratégia é aumentar a extensão do etanolduto,
criando terminais em outras cidades que cercam a capital paulista e
chegando até Santos. “Os aeroportos que não ficaram sem combustível
durante a greve dos caminhoneiros, Viracopos e Guarulhos, contam com o
abastecimento por dutos. Daí a importância para o país de aumentar esse
tipo de estrutura”, afirma Souza. A Logum está negociando um empréstimo
com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social para a
próxima etapa. O investimento deve ser da ordem de 1 bilhão de reais,
entre financiamento e capital próprio dos sócios, e, segundo a
Copersucar, em um ano e meio, no máximo, as obras devem começar.
No que diz respeito ao açúcar, o objetivo é ampliar o
uso de ferrovias. Em 2011 e 2012, a Copersucar inaugurou terminais
multimodais em São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, no interior
paulista, para receber os caminhões que levam o açúcar das usinas e
transferir o produto aos trens que o transportarão até os clientes — em
sua maioria, fabricantes de alimentos — no Brasil e no exterior. Esses
entrepostos chegam a movimentar 1,7 tonelada de açúcar por dia. Na outra
ponta está o Terminal Açucareiro Copersucar no porto de Santos, o qual
recebeu um aporte em 2015 para dobrar sua capacidade de exportação, para
10 milhões de toneladas por ano.
Além da reforma dos cinco armazéns e da construção
de um terminal rodoferroviário para recolher o açúcar, um novo
carregador de navios foi instalado para receber embarcações maiores e
acelerar o trabalho. Com esse modelo de negócios, ficando responsável
pelo transporte e pela comercialização do açúcar, enquanto as usinas se
encarregam apenas da produção, a Copersucar se coloca como fornecedor
confiável tanto para os
clientes internos quanto os externos e barateia os custos de logística
ao mesmo tempo que consegue valores mais interessantes na venda do
produto.
De 2014 a 2016, a empresa deixou de distribuir dividendos às
controladoras para reduzir as dívidas e aplicar todos os recursos
disponíveis no incremento da malha logística. A dívida de longo prazo da
Copersucar caiu de 34,4% do ativo para 24,4% de 2014 para 2017.
Enquanto isso, o patrimônio líquido da Copersucar cresceu 70% no ano
passado ante 2016, para 196 milhões de dólares. A comercialização de
açúcar aumentou 30% na última década, para 4,5 milhões de toneladas por
ano, e a de etanol avançou 34%, chegando a 4,3 bilhões de litros anuais.
A situação confortável, com expansão de faturamento e ativos, também
favorece o relacionamento das controladoras com os bancos,
permitindo-lhes obter crédito para as próprias atividades em melhores
condições.
No ano-safra encerrado em março de 2018, a Copersucar transportou 56%
do açúcar comercializado por ferrovias, mas continua esbarrando nas
ineficiências do setor público. Primeiro, aguarda a renovação da
concessão da Malha Paulista para sua operadora, a Rumo Logística, do
grupo Cosan, que prometeu investir 4,7 bilhões de reais em melhorias na
rede, beneficiando todos os seus usuários com um aumento da velocidade
nas vias e com a ampliação do tamanho de vagões.
A Copersucar também espera o avanço do projeto do anel ferroviário da
Grande São Paulo, chamado de Ferroanel Metropolitano. Embora tenha sido
planejado há mais de 50 anos, o projeto ainda se arrasta nos órgãos do
governo estadual. Falta contrapartida ao investimento privado também nos
portos. Em 1993, uma lei passou a permitir que empresas particulares
construíssem e mantivessem terminais nessas áreas, mas a largura e a
profundidade dos canais dos portos permaneceram quase inalteradas,
limitando o tamanho dos navios que conseguem ancorar. “É bastante clara a
mudança do setor para diminuir a dependência do transporte rodoviário.
Além do etanolduto e das ferrovias, outras opções podem ser estudadas,
como aumentar o uso das vias fluviais”, diz Antônio de Pádua Rodrigues,
diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São
Paulo (Unica).
OLHANDO PARA FORA
Ao mesmo tempo que reforçava a operação no Brasil, a Copersucar
acelerava a expansão internacional para ganhar escala e se defender de
oscilações no mercado doméstico. O primeiro passo foi dado em 2012 com a
criação da Copersucar North America, que em 2017 passou a deter o
controle acionário da Eco-Energy Biofuels, uma comercializadora de
biocombustíveis que atua nos Estados Unidos. A empresa conta com nove
terminais de distribuição e faturou 4,4 bilhões de dólares no ano-safra
2017-2018. Atendendo os Estados Unidos e o Brasil, que equivalem a 80%
do mercado internacional de etanol, e exportando para Ásia e África, a
plataforma é a maior do mundo. Outro movimento para ampliar as
fronteiras da Copersucar foi a junção de sua unidade de exportação de
açúcar com o negócio similar do conglomerado agrícola americano Cargill,
dando origem à subsidiária Alvean, na qual cada uma das sócias tem uma
participação de 50%.
A Alvean comercializa anualmente 12 milhões de toneladas de açúcar,
equivalentes a 26% da demanda mundial, em 109 países. Desse volume,
aproximadamente 8 milhões de toneladas são produzidas no Brasil — sendo 3
milhões de toneladas das usinas sócias da Copersucar e 5 milhões de
outros fornecedores — e o restante na América Central, na Tailândia, na
Austrália e na Índia. Essa distribuição internacional da produção dá ao
grupo flexibilidade para atender à demanda quando as usinas brasileiras
privilegiam a produção de etanol em detrimento do açúcar nos momentos de
baixa dos preços do alimento, como aconteceu nos últimos meses.
“Viramos uma operação verdadeiramente global”, afirma Souza. O mercado
mundial para o açúcar continua crescendo a um ritmo de 1,8% ao ano. Nos
países mais desenvolvidos, as vendas do alimento recuaram dos picos
históricos alcançados recentemente devido à redução do consumo de
produtos calóricos, como os refrigerantes. Mas, em países da Ásia, da
África e do Oriente Médio, a demanda só aumenta.
Novas oportunidades podem surgir da crescente preocupação com a
sustentabilidade. Nos Estados Unidos, praça da Eco-Energy, o governo
estuda aumentar dos atuais 10% para 15% a proporção de mistura de etanol
à gasolina. Na China, algumas províncias já começaram a misturar o
etanol à gasolina, e a ampliação dessa medida poderá gerar uma forte
expansão do setor nos próximos anos. O governo brasileiro, por sua vez,
comprometeu-se a cortar as emissões de gases de efeito estufa em 43%
entre o ano de referência, 2005, e 2030, o que significaria diminuir o
volume para 1,15 bilhão de toneladas por ano. Peça-chave para atingir
essa meta é o RenovaBio, política de estímulo à produção e ao uso de
biocombustíveis no Brasil. O decreto que regulamenta a lei foi publicado
no Diário Oficial da União em março deste ano e permite, entre
outras medidas, a criação de créditos de descarbonização com base na
produção de biocombustíveis. Segundo o Ministério de Minas e Energia, as
metas do -RenovaBio demandam que a oferta de etanol aumente 67% até
2030, para cerca de 50 bilhões de litros por ano.
O cenário parece favorável do lado da regulação, mas
a flutuação de preços tanto do açúcar quanto do etanol, que faz com que
as usinas mudem a proporção de produtos extraídos da cana a cada safra,
impõe um grande desafio para a Copersucar, que precisa ser ágil no
ajuste de sua infraestrutura. Na temporada 2017-2018, com a forte queda
dos preços do açúcar, os produtores inundaram o mercado com etanol,
invertendo a tendência dos valores.
A forte seca que afetou os canaviais no centro-sul
do Brasil de abril a junho deve fazer as usinas anteciparem o
encerramento do período de colheita, diminuindo a disponibilidade de
volumes para a comercializadora até o ano que vem. “O que é diferente
nesta crise é que, por causa da previsão de aumento mundial da produção
de cana-de-açúcar, puxado por Tailândia, Índia e Paquistão, devemos ter
uma baixa de preços acompanhando a quebra da safra brasileira. É o pior
dos mundos para quem produz commodities”, diz Alexandre Figliolino,
sócio da consultoria MB Agro. A grande prova de fogo para a Copersucar,
então, ainda está por vir.
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