Queda dos juros faz investidores migrarem para papéis de bancos pequenos. Compensa?
Essa queda da rentabilidade fez os investidores diversificar suas
aplicações. O novo objeto de desejo são títulos de renda fixa de bancos
menores e de financeiras. Nomes como Banco Pine e financeira Santana,
entre outros, caíram no gosto dos aplicadores. Esses papéis têm prazos
mais longos, são ilíquidos e oferecem boas rentabilidades. “A demanda
por investimentos desse tipo cresceu 20% no segundo trimestre em relação
ao fim do ano passado”, diz Sande, sem revelar números das aplicações
na Genial. “Muitos investidores saíram da poupança para buscar
rentabilidades maiores.”
Claudio Ferro, diretor executivo do portal Poupa Brasil, que facilita
o acesso dos investidores a esses investimentos, notou o mesmo
fenômeno. No cardápio do Poupa Brasil há títulos que pagam juros de até
13% ao ano, quase o dobro da taxa Selic, com prazos de até cinco anos.
“Não tem mágica”, diz Ferro. “Para ganhar tanto, o investidor tem de
deixar seu dinheiro aplicado por muito tempo e não poderá resgatar antes
do vencimento.” Apesar de exigir paciência de quem aplica, os
resultados são bons. Lançado há pouco mais de um ano, a plataforma já
intermediou aplicações de 15 mil poupadores, com um aporte médio de R$
15 mil e totalizando
R$ 200 milhões investidos.
Aplicações desse tipo não são novidade. Os títulos vendidos pelo
Poupa Brasil são os Recibos de Depósito Bancário (RDB). São parecidos
com os Certificados de Deposito Bancário (CDB), aplicações tradicionais
dos bancos. Os RDB são uma fonte tradicional de capital para as
financeiras, que concedem crédito direto ao consumidor. O que mudou foi o
acesso a eles. “Antes, só investia nisso quem conhecia as
financeiras, mas agora o acesso aos papéis mais rentáveis foi facilitado
pelas plataformas de distribuição”, diz Ferro.
Essas aplicações rendem mais que os investimentos de varejo
encontrados nos bancos, mas isso não vem sem custo. Há duas
desvantagens. Uma delas é que não é possível mudar de ideia. Se o
investidor em CDB quiser antecipar o recebimento do seu dinheiro, ele
pode vender o título a outro interessado oferecendo um desconto, o
chamado mercado secundário de papéis. Já os RDB não oferecem essa
possibilidade. Outro problema é o risco. Instituições financeiras de
menor porte têm mais probabilidade de falir do que os gigantes do
mercado. “Os bancos pequenos e médios têm mais dificuldades em conseguir
recursos e possuem gama de produtos, base de clientes e redes de
atendimento menores”, diz Erivelto Rodrigues, diretor da consultoria
Austin Ratings, especializada em bancos médios. Por isso, a recomendação
dos especialistas é que o investidor garanta seu capital usando a
proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Todas as vezes que um banco vende um CDB ou RDB, alguns centavos vão
para os cofres do FGC, formando um fundo que compensa os investidores se
alguma instituição financeira quebrar. O caso mais recente foi o do
banco mineiro Pottencial, associado à fintech Neon, que sofreu
intervenção do Banco Central (BC) em maio deste ano. O FGC ressarciu os
investidores que tinham aplicações de até R$ 250 mil em até dois meses.
“Ao aplicar, o investidor deve se informar se o banco conta com a
garantia do FGC”, diz Rodrigues. “Mesmo que o banco tenha problemas e
ele perca parte de sua rentabilidade, o capital principal está protegido
até esse limite.”
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