Incerteza eleitoral também poderá pressionar a taxa de juros
A cotação da moeda
norte-americana voltou a superar a barreira dos R$ 4,10 no meio da manhã
desta terça-feira (28), com alta de 0,6%. O dólar estava cotado a R$
4,105 para venda às 10h30, depois de abrir o pregão em leve baixa de
0,1%, valendo R$ 4,0760 para venda às 9h. Porém, por volta de 14h20 a
divisa dos Estados Unidos já alcançava o valor de R$ 4,1235 – alta de
1%. O Ibovespa, índice da B3, da bolsa de valores de São Paulo, começou o
dia em pequena queda, invertendo os últimos dois fechamentos em alta. O
Ibovespa registrava retração de 0,6%, com 77.445 pontos às 14h15.
As
primeiras pesquisas eleitorais depois do registro das candidaturas à
Presidência da República tem gerado turbulência no mercado financeiro.
Uma desvalorização expressiva do real frente ao dólar tendo como
principal causa as eleições era algo que não ocorria desde o pleito de
2002, vencido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido
dos Trabalhadores (PT), que governou o país até 2010. "Em 2002, foi a
última vez que o dólar se valorizou fortemente frente ao real em
decorrência das eleições, mas os efeitos daquela época foram bem
piores", afirma Fábio Bentes, chefe da Divisão Econômica da Confederação
Nacional do Comércio (CNC). Para ele, se trouxesse a desvalorização de
16 anos atrás para os dias atuais, o dólar estaria valendo cerca de R$
7. "A desvalorização é bem menor no atual ciclo eleitoral do que em
2002", pontua.
O economista
da Órama Investimentos e professor do Ibmec, Alexandre Espírito Santo,
explicou que há uma tendência de valorização mundial do dólar, mas “o
pulo dos últimos dias é por conta da apreensão em relação ao processo
eleitoral”. A incerteza eleitoral também está pressionando a taxa de
juros, que, num cenário pessimista, poderia voltar a subir antes do
previsto. Atualmente, a Selic está em 6,5% ao ano e a previsão do
mercado financeiro, na pesquisa do BC, era que voltasse a subir somente
em 2019, fechando período em 8% ao ano. “Esse estresse do mercado está
associado a essa expectativa do novo presidente. Esse quadro de
apreensão é natural e vai permanecer. Está um pouquinho mais estressado
do que em outras eleições. Tudo isso juntando com o cenário externo
menos amigável”, pontua Espírito Santo. O mercado externo enfrenta as
turbulências da crise comercial entre Estados Unidos e China.
Especialistas
ouvidos pela Agência Brasil em São Paulo também apontam o quadro
eleitoral, associado à crise da Turquia com os Estados Unidos, como
fatores para alta da moeda americana. Clemente Ganz Lúcio, diretor
técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese), avalia que o dólar vai ficar oscilando em
torno de R$ 4. "O mercado tem seus candidatos, suas preferências. Toda
vez que sair pesquisa eleitoral, o câmbio vai dar mexida porque
especuladores se movimentam para manifestar suas contrariedades e também
para ganhar dinheiro”, nota. O professor Fernando Botelho, da
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), da
Universidade de São Paulo (USP), Botelho não acredita que esse movimento
especulativo do mercado possa interferir nas eleições. “Tem pouco
efeito. O eleitor brasileiro, uma boa parte dele, não vai ser
imediatamente afetado por esse aumento no dólar (...); não imagino que a
inflação vá aumentar significativamente nos próximos dias”, avalia.
Segundo ele, há um clima de muito expectativa em relação ao próximo
presidente. “A situação do Brasil é muito frágil, muito sensível,
espera-se muito que o presidente eleito dê conta de diversos problemas
começando já em janeiro. Infelizmente não se tem muito essa
perspectiva”, esclarece o professor, que é favorável às reformas como a
previdenciária.
http://www.amanha.com.br/posts/view/6146
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