Embraer e Boeing começaram a discutir uma possível combinação de seus negócios um mês depois do anúncio da união das concorrentes Bombardier e Airbus
Por Redação Exame
O principal argumento em defesa do negócio é uma outra fusão, anunciada em 16 de outubro de 2017. Naquela data, a gigante francesa Airbus, concorrente da Boeing, anunciou a compra do controle da divisão de aeronaves comerciais da canadense Bombardier, concorrente da Embraer. A transação criou uma empresa definida no mercado como “pacote completo”, capaz de fornecer aviões que vão de 100 a 525 assentos. É o que acontece agora com a nova empresa nascida da união de Boeing, que fabrica aviões a partir de 150 assentos, e Embraer, que lidera o segmento de aeronaves para 37 a 130 pessoas.
Embraer e Boeing começaram a discutir uma possível combinação de seus negócios um mês depois do anúncio da união das concorrentes. A Embraer é a maior exportadora de produtos manufaturados do Brasil, com mais de 6 bilhões de dólares anuais em vendas e 18 000 funcionários. A Boeing é a maior fabricante de aviões do mundo, com 95 bilhões de dólares em receitas, 140 000 funcionários.
“Com a fusão com Bombardier, a Airbus poderia adotar uma estratégia comercial de vender aviões menores a preço de custo. Ou seja: a própria concorrente definiria quanto tempo a Embraer sobreviveria”, diz Oscar Malvessi, professor de finanças da FGV-EAESP. Outro risco seria a própria Boeing entrar de cabeça no mercado de aeronaves menores, o que, segundo o Bradesco, tiraria até 30% do valor de mercado da Embraer.
Para a Boeing, juntar-se à Embraer é um contra-ataque aos avanços da Airbus. A empresa americana tem um projeto para uma aeronave média, chamada de 797, que ganha velocidade com a engenharia e a tecnologia da Embraer. A empresa entende que ser mais verticalizada será uma vantagem — a Embraer fabrica, por exemplo, trem de pouso, o que não faz parte da produção da Boeing.
O negócio fechado deixou de fora as áreas de aviação executiva e de defesa e segurança, consideradas estratégicas pelo governo de Michel Temer. Ao mesmo tempo, no Gabinete de Segurança Institucional, a avaliação era de que uma aversão a grupos internacionais pode fazer a Embraer “perder o bonde da história”.
Segundo o advogado Marcelo Godke, especialista em fusões e aquisições, o negócio foi fechado com a preocupação de manter a segurança nacional, mas poderia ter sido ainda mais ambicioso. “A Boeing não tem projetos de aviões de defesa, mas a Embraer tem bons projetos. Eu não tenho dúvida que o negócio vai potencializar o nível de conhecimento”, diz. “O padrão de contratação de equipamento militar já inclui restrição de informações. Vender a Embraer não vai afetar a segurança nacional – deixá-la sozinha, e sob risco, é que poderia afetar”.
Para Malvessi e Godke, o negócio fechado poderia ser uma deixa para o governo repensar o poder de veto para outras estatais (golden share), como de energia e mineração. “O país precisa de contratos bem feitos. Nos Estados Unidos não tem golden share, mas o governo tem a prerrogativa de vetar negócios que considere estratégicos. Mas a regra não pode impedir que nos juntemos aos melhores”, diz Godke.
Malvessi calcula que a golden share tire até 30% do valor de mercado potencial de empresas como a Eletrobrás. Com a anunciada onda de privatizações no próximo governo, a discussão sobre o valor estratégico e o valor financeiro das estatais deve voltar à tona.
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