Estudo da entidade estima tempos de recuperação para a indústria
Enredado pelo crescimento
muito devagar do PIB, o Brasil continua convalescente após a crise mais
intensa de sua história. Depois de avançar 1% no ano passado, o índice
deve chegar a 1,3% em 2018. Essas são algumas das conclusões do Balanço
2018 e Perspectivas 2019, documento compilado pela Unidade de Estudos
Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul
(Fiergs) e apresentado nesta terça-feira (4), em Porto Alegre (veja as
projeções para a economia brasileira na tabela ao final desta
reportagem). Tanto a indústria brasileira quanto a gaúcha deixaram para
trás a mais profunda recessão já registrada, mas ainda há um longo
caminho para recuperar o que foi perdido nos últimos anos. No período
entre 2014 e 2016, a produção no Brasil caiu 16,7% e no Estado recuou
18,5%. Assim, os crescimentos do biênio 2017-2018 somados não chegam a
um terço do tombo acumulado. Com isso, a produção industrial brasileira
encerrará o ano 12,5% abaixo dos níveis de 2013, enquanto a gaúcha deve
fechar 14,2% abaixo. São, portanto, tempos de recuperação para o setor,
que ainda carece de consolidação, segundo o estudo apresentado pela
federação. “A indústria vive no realismo. Nós vivemos no mundo real.
Nós não temos fantasias. E se tem o seguinte: no final do mês sempre no
dia que vence o imposto, o governo do Estado quer receber. E se eu não
pagar, ele me cobra com multas e juros. Já o que eu tenho a receber do
Estado e ele atrasar, ele não me paga esses juros. Então, são duas
realidades completamente diferentes. Este é o mundo real que vivemos”,
desabafou Gilberto Petry, presidente da Fiergs. Porém, o industrial se
mostrou otimista com o futuro. “Em meados de 2014, senti os primeiros
sinais de que íamos entrar num compasso meio ruim. No ano seguinte eu
aconselhava que os empresários deveriam segurar o caixa. Enfrentamos
essa situação até agora. Hoje se apresenta uma situação em que eu saí do
realismo pessimista para o realismo otimista. O mundo real nos mostra
que se abre uma janela de oportunidades “, projetou. Respondendo a uma
pergunta relembrando a declaração de Paulo Guedes, em 30 de outubro,
afirmando que “salvaria a indústria brasileira, apesar dos industriais
brasileiros”, Petry entendeu que a fala do futuro ministro da economia
de Jair Bolsonaro foi um momento de impulsividade, porém rebateu a
crítica. “Nós também poderíamos dizer que a indústria se salvará,
apesar dos bancos”, afirmou.
O
desempenho da economia brasileira nesse ano será muito inferior ao que a
Fiergs aguardava no final do ano passado (+2,7%). Diversos fatores
tornaram o cenário repleto de incertezas, impactando profundamente a
atividade nesse ano. O cenário internacional, que nos últimos anos
colaborou com as economias emergentes na forma de uma ampla liquidez e
apetite por ativos de maior risco, passou por um ajuste profundo em
resposta à política monetária mais restritiva dos Estados Unidos. A
economia brasileira, que havia se beneficiado do quadro anterior – um
dos elementos fundamentais para que o país atingisse a taxa Selic mais
baixa da história –, acabou sendo afetada pelos influxos de capitais,
volatilidade cambial e desaceleração da economia argentina. Entretanto,
mais uma vez o colchão de segurança composto pelos US$ 380 bilhões de
reservas internacionais evitou que a economia brasileira sofresse tanto
quanto a Turquia e a Argentina, e apaziguou o risco de um contágio. “A
expectativa de crescimento da economia mundial tem sido puxada para
baixo. Quem mais nos compra no mundo está crescendo menos. A crise da
Argentina é mais importante para o Rio Grande do Sul do que para o
Brasil”, avaliou André Francisco Nunes de Nunes, economista-chefe do
Sistema Fiergs. “Temos muito poucos acordos comerciais comparando-nos
com México, Peru e outros países. Precisamos mudar a nossa diplomacia
comercial. Temos de fazer acordos comerciais onde sejamos a
protagonistas”, sugeriu Petry.
A
federação estima que o Rio Grande do Sul deve crescer 1,1% este ano,
resultado abaixo do projetado ao final ao final do ano passado (1,4%),
ainda que a indústria tenha tido um avanço maior. Além disso, a economia
local registrou uma queda mais acentuada da produção do setor primário
em relação ao resto do país. Como o desempenho dos setores foi
heterogêneo, segmentos com crescimento acentuado puxaram o resultado
agregado. Para a Fiergs, o grau de incerteza para 2019 é elevado por
dois fatores: o aprofundamento da crise fiscal e a não-adesão do Estado
ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Na visão da entidade, a evolução
negativa das finanças públicas se manteve extremamente preocupante e
será a principal fonte de risco no mercado doméstico para 2019. O avanço
das despesas obrigatórias e o elevado patamar da dívida pública colocam
em dúvida a estabilidade econômica do país no médio prazo. Os atrasos
nos pagamentos de servidores e fornecedores, que marcaram os últimos
exercícios, tendem a continuar no ano que vem. Está cada vez mais
difícil enxergar um horizonte positivo para as finanças gaúchas, de
acordo com o relatório apresentado pela federação. “Em conversa com o
governador eleito, Eduardo Leite, disse-lhe que, desconsiderando a
dívida fiscal, o Rio Grande do Sul se equivaleria a uma empresa que
trabalha com déficit operacional. A situação do Estado não é fácil. É
preciso cortar muitos custos”, contou Petry.
Apesar
de um resultado muito abaixo do esperado em 2018, os elementos que
sustentaram a projeção mais otimista ainda estão presentes. Além do
menor endividamento de empresas e famílias, a Fiergs destaca o
crescimento da população em idade ativa, o elevado grau de ociosidade
das plantas fabris, a diminuição do preço dos ativos reais e a
obsolescência tecnológica nas empresas, o que traz a necessidade de
investimentos de manutenção e atualização. Esse processo natural de
esgotamento do ciclo recessivo se soma à baixa inflação e a queda nas
taxas de juros para criar o ambiente para a recuperação cíclica da
economia. Portanto, o cenário base contempla uma aceleração na taxa de
crescimento brasileira para 2,8% em 2019, em decorrência da diminuição
da incerteza e do avanço na agenda de reformas. O Rio Grande do Sul
tende a apresentar uma aceleração menos intensa, com crescimento de
2,4%, por conta da continuidade do delicado quadro das finanças
públicas. No cenário superior, a federação estima uma aceleração mais
forte no crescimento, com rápida realização das reformas, melhora do
quadro fiscal e cenário externo favorável para os investimentos. No caso
da economia regional, além do cenário nacional mais positivo, o avanço
da atividade e a adesão ao RRF atenuam os efeitos da crise nas finanças
públicas.
|
Cenários para o Brasil em 2019
|
||
Indicador
|
Inferior
|
Base
|
Superior
|
PIB
|
1,6%
|
2,8%
|
3,6%
|
Inflação
|
3,2%
|
4,1%
|
5,3%
|
Prod. Industrial
|
2,0%
|
3,2%
|
4,2%
|
Desemprego
|
12,6%
|
12,0%
|
11,4%
|
Selic
|
6,25%
|
6,50%
|
8,00%
|
Dólar
|
R$ 4,20
|
R$ 3,75
|
R$ 3,20
|
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