quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Fiergs prevê “uma janela de oportunidades” em 2019


Estudo da entidade estima tempos de recuperação para a indústria

 

Por Dirceu Chirivino

 

dirceu@amanha.com.br
Estudo divulgado pela Fiergs estima tempos de recuperação para a indústria, que ainda carece de consolidação


Enredado pelo crescimento muito devagar do PIB, o Brasil continua convalescente após a crise mais intensa de sua história. Depois de avançar 1% no ano passado, o índice deve chegar a 1,3% em 2018. Essas são algumas das conclusões do Balanço 2018 e Perspectivas 2019, documento compilado pela Unidade de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e apresentado nesta terça-feira (4), em Porto Alegre (veja as projeções para a economia brasileira na tabela ao final desta reportagem). Tanto a indústria brasileira quanto a gaúcha deixaram para trás a mais profunda recessão já registrada, mas ainda há um longo caminho para recuperar o que foi perdido nos últimos anos. No período entre 2014 e 2016, a produção no Brasil caiu 16,7% e no Estado recuou 18,5%. Assim, os crescimentos do biênio 2017-2018 somados não chegam a um terço do tombo acumulado. Com isso, a produção industrial brasileira encerrará o ano 12,5% abaixo dos níveis de 2013, enquanto a gaúcha deve fechar 14,2% abaixo. São, portanto, tempos de recuperação para o setor, que ainda carece de consolidação, segundo o estudo apresentado pela federação. “A indústria vive no realismo. Nós vivemos no mundo  real. Nós não temos fantasias. E se tem o seguinte: no final do mês sempre no dia que vence o imposto, o governo do Estado quer receber. E se eu não pagar, ele me cobra com multas e juros. Já o que eu tenho a receber do Estado e ele atrasar, ele não me paga esses juros. Então, são duas realidades completamente diferentes. Este é o mundo real que vivemos”, desabafou Gilberto Petry, presidente da Fiergs. Porém, o industrial se mostrou otimista com o futuro. “Em meados de 2014, senti os primeiros sinais de que íamos entrar num compasso meio ruim. No ano seguinte eu aconselhava que os empresários deveriam segurar o caixa. Enfrentamos essa situação até agora. Hoje se apresenta uma situação em que eu saí do realismo pessimista para o realismo otimista. O mundo real nos mostra que se abre uma janela de oportunidades “, projetou. Respondendo a uma pergunta relembrando a declaração de Paulo Guedes, em 30 de outubro, afirmando que “salvaria a indústria brasileira, apesar dos industriais brasileiros”, Petry entendeu que a fala do futuro ministro da economia de Jair Bolsonaro foi um momento de impulsividade, porém rebateu a crítica. “Nós também poderíamos dizer que a indústria se salvará, apesar  dos bancos”, afirmou. 



O desempenho da economia brasileira nesse ano será muito inferior ao que a Fiergs aguardava no final do ano passado (+2,7%). Diversos fatores tornaram o cenário repleto de incertezas, impactando profundamente a atividade nesse ano. O cenário internacional, que nos últimos anos colaborou com as economias emergentes na forma de uma ampla liquidez e apetite por ativos de maior risco, passou por um ajuste profundo em resposta à política monetária mais restritiva dos Estados Unidos. A economia brasileira, que havia se beneficiado do quadro anterior – um dos elementos fundamentais para que o país atingisse a taxa Selic mais baixa da história –, acabou sendo afetada pelos influxos de capitais, volatilidade cambial e desaceleração da economia argentina. Entretanto, mais uma vez o colchão de segurança composto pelos US$ 380 bilhões de reservas internacionais evitou que a economia brasileira sofresse tanto quanto a Turquia e a Argentina, e apaziguou o risco de um contágio. “A expectativa de crescimento da economia mundial tem sido puxada para baixo. Quem mais nos compra no mundo está crescendo menos. A crise da Argentina é mais importante para o Rio Grande do Sul do que para o Brasil”, avaliou André Francisco Nunes de Nunes, economista-chefe do Sistema Fiergs. “Temos muito poucos acordos comerciais comparando-nos com México, Peru e outros países. Precisamos mudar a nossa diplomacia comercial. Temos de fazer acordos comerciais onde sejamos a protagonistas”, sugeriu Petry.

A federação estima que o Rio Grande do Sul deve crescer 1,1% este ano, resultado abaixo do projetado ao final ao final do ano passado (1,4%), ainda que a indústria tenha tido um avanço maior. Além disso, a economia local registrou uma queda mais acentuada da produção do setor primário em relação ao resto do país. Como o desempenho dos setores foi heterogêneo, segmentos com crescimento acentuado puxaram o resultado agregado. Para a Fiergs, o grau de incerteza para 2019 é elevado por dois fatores: o aprofundamento da crise fiscal e a não-adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Na visão da entidade, a evolução negativa das finanças públicas se manteve extremamente preocupante e será a principal fonte de risco no mercado doméstico para 2019. O avanço das despesas obrigatórias e o elevado patamar da dívida pública colocam em dúvida a estabilidade econômica do país no médio prazo. Os atrasos nos pagamentos de servidores e fornecedores, que marcaram os últimos exercícios, tendem a continuar no ano que vem. Está cada vez mais difícil enxergar um horizonte positivo para as finanças gaúchas, de acordo com o relatório apresentado pela federação. “Em conversa com o governador eleito, Eduardo Leite,  disse-lhe que, desconsiderando a dívida fiscal, o Rio Grande do Sul se equivaleria a uma empresa que trabalha com déficit operacional. A situação do Estado não é fácil. É preciso cortar muitos custos”, contou Petry. 

Apesar de um resultado muito abaixo do esperado em 2018, os elementos que sustentaram a projeção mais otimista ainda estão presentes. Além do menor endividamento de empresas e famílias, a Fiergs destaca o crescimento da população em idade ativa, o elevado grau de ociosidade das plantas fabris, a diminuição do preço dos ativos reais e a obsolescência tecnológica nas empresas, o que traz a necessidade de investimentos de manutenção e atualização. Esse processo natural de esgotamento do ciclo recessivo se soma à baixa inflação e a queda nas taxas de juros para criar o ambiente para a recuperação cíclica da economia. Portanto, o cenário base contempla uma aceleração na taxa de crescimento brasileira para 2,8% em 2019, em decorrência da diminuição da incerteza e do avanço na agenda de reformas. O Rio Grande do Sul tende a apresentar uma aceleração menos intensa, com crescimento de 2,4%, por conta da continuidade do delicado quadro das finanças públicas. No cenário superior, a federação estima uma aceleração mais forte no crescimento, com rápida realização das reformas, melhora do quadro fiscal e cenário externo favorável para os investimentos. No caso da economia regional, além do cenário nacional mais positivo, o avanço da atividade e a adesão ao RRF atenuam os efeitos da crise nas finanças públicas.



Cenários para o Brasil em 2019
Indicador
Inferior
Base
Superior
PIB
1,6%
2,8%
3,6%
Inflação
3,2%
4,1%
5,3%
Prod. Industrial
2,0%
3,2%
4,2%
Desemprego
12,6%
12,0%
11,4%
Selic
6,25%
6,50%
8,00%
Dólar
R$ 4,20
R$ 3,75
R$ 3,20

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