A acelerada expansão do mercado pet no Brasil – impulsionada pelo consumo de famílias que cada vez mais têm tratado os animais de estimação como um filho – tem feito com que não só as grandes empresas do setor busquem o mercado para se capitalizar, mas também as de médio porte.
Enquanto Cobasi e Petlove avaliam abrir capital na B3 ou em Nova York, a Plamev, de planos de saúde veterinários, recorreu à BEEF4, uma espécie de “bolsa” para startups focada em investidores pessoa física, para tentar levantar R$ 6,4 milhões com a oferta de ações que representam 6,56% do negócio – iniciada nesta terça-feira. O cheque mínimo para entrar na rodada é de pouco mais de R$ 2 mil. O valuation é de R$ 89,7 milhões pre-money, o mesmo praticado com os atuais sócios.
Dos recursos que levantar na BEE4, a Plamev quer investir 45% em expansão comercial, 25% em inteligência e gestão e 30% em inovação do produto. A meta é alcançar um portfólio de 45 mil vidas neste ano e chegar a 80 mil no ano que vem, mais do que o dobro das 30 mil atuais. Com uma rede credenciada de 1,2 mil clínicas atualmente, a seguradora projeta faturar R$ 40 milhões em 2023, duas vezes a receita do ano passado, de R$ 20 milhões.
Ao procurar esse tipo de captação, a companhia tenta driblar o momento pouco favorável para entrar em uma bolsa tradicional e o baixo apetite dos fundos de venture capital, para não perder o bonde da expansão do mercado pet e da tendência de digitalização. “A gente tem percebido uma mudança cultural mesmo. Os animais de estimação saíram do quintal da casa para dormir na cama do casal, ficar na sala com a família”, diz o CEO, Pedro Svacina.
O setor como um todo tem se movimentado após o impulso que ganhou na pandemia: só no ano passado, o segmento registrou R$ 42 bilhões em receitas no Brasil. O número de pets no país já é 60% superior ao de crianças e adolescentes — são 85 milhões de animais contra 54 milhões de filhos humanos.
Foi nesse contexto que a Petz se tornou a primeira e até então única empresa brasileira do setor a abrir capital em uma bolsa tradicional, em 2021. De lá para cá, porém, as ações da companhia acumulam queda de 65%, prejudicadas principalmente pela alta dos juros no país, que tem pressionado papéis ligados ao varejo. O balanço da empresa, além disso, tem sido afetado pelos custos para abrir mais lojas e pelo aumento da participação das vendas digitais, que têm preços mais competitivos.
A Cobasi, principal concorrente da Petz, tem planos de abrir capital, mas ainda não tem um prazo em mente. A Petlove, com uma atuação mais forte no e-commerce, avalia fazer um IPO em um período de dois a três anos e admite que a oferta pode ocorrer tanto no B3 quanto em Nova York.
Correndo por fora, a Plamev atua em um segmento que tem despertado o interesse das gigantes do varejo pet. A Petlove, por exemplo, incorporou dois dos concorrentes da Plamev, a Nofaro, comprada em 2022, e a Health for Pet, que era da Porto Seguro, que adquriu 13,5% da Petlove. A Petz, por sua vez, que tem uma rede de clínicas, a Seres, está construindo o próprio plano de saúde do zero. Todas estão de olho em um ramo que tem espaço para crescer: nos EUA, o maior mercado pet do mundo, apenas 2% dos animais são protegidos por planos, enquanto aqui, são 0,5%.
Antes dessa oferta, a Plamev atraiu recentemente investidores corporativos como FIR Capital e Duxx Investimentos, além do improvável grupo Luz da Serra, do ramo editorial e de educação e desenvolvimento pessoal. Na BEE4, no entanto, encontrou uma forma de acessar liquidez no varejo, com pequenos investidores que acreditem na tese.
Esse é apenas o terceiro IPO na BEE4, que deu início às operações em meados do ano passado. Com tecnologia blockchain, a “bolsa” ou Balcão de Empresas Emergentes, tem oferecido participação em empresas com faturamento até R$ 300 milhões para investidores pessoa física. Com a Engravida, uma biotech de fertilidade, já negociou 13% do free float, praticamente dobrando o número de acionistas desde o primeiro pregão, para 310. Nesta terça, acaba de encerrar a oferta inicial da Mais Um, de snacks saudáveis.
“A gente ta criando um mercado que a gente chama de mercado de acesso, oferecendo ao varejo startups que já não são early stage, estão num momento de growth”, diz Patrícia Stille, CEO da BEE4 e ex-sócia da XP. “Estamos confiantes nesse IPO, que traz uma empresa de guidance sólido com nomes fortes no cap table e atua num mercado que está superquente“… l
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