segunda-feira, 11 de novembro de 2013

MP vai apurar contrato da Odebrecht com Petrobras

O contrato de prestação de serviços de US$ 825 milhões da estatal com a Odebrecht está sendo investigado por suspeita de superfaturamento

Sabrina Valle, do
EXAME/Arquivo
Refinaria da Petrobras no Rio Grande do Norte
Refinaria da Petrobras no Rio Grande do Norte: o contrato com a Odebrecht foi reduzido quase à metade neste ano, depois da auditoria que considerou a contratação equivocada

Rio - O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MP/TCU) quer ouvir diretores executivos da Petrobras que autorizaram, em 2010, o contrato de prestação de serviços de US$ 825 milhões da estatal com a Odebrecht. O acordo está sendo investigado por suspeita de superfaturamento.

Relatórios de auditoria interna da petroleira obtidos pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, mostram que a documentação do contrato, ainda em vigor, “foi exaustivamente analisada nos gabinetes dos diretores”. 

O procurador Marinus Marsico encaminhou representação ao Ministério Público Federal do Rio recomendando que os executivos sejam ouvidos. “(As investigações) podem ensejar ilícitos de ordem penal e também levar a ação de improbidade”, disse.

O contrato sob suspeita foi assinado em outubro de 2010 para prestação de serviços em dez países. Incluiu 8.800 itens, mais da metade deles com indícios de irregularidades, como previsão de aluguel de três máquinas fotocopiadoras por US$ 7,2 milhões, de aluguel de um terreno próprio e de salário mensal de R$ 22 mil mensais a pedreiros nos Estados Unidos.

Auditoria interna iniciada em 2011 na Petrobras detectou sobrepreços que chegaram a até 1.654% em relação à média de preços cobrada em cada um dos países. Consultoria externa contratada pela Petrobras também chegou à conclusão de que 80% dos projetos não tinham detalhamento suficiente para serem executados.

O contrato com a Odebrecht foi reduzido quase à metade neste ano, depois da auditoria que considerou a contratação equivocada e recomendou a revisão. O corte foi de pelo menos US$ 344 milhões, para US$ 481 milhões.


Presidente


Ao anunciar o corte ao conselho de administração no início deste ano, a presidente Graça Foster, também estava disposta a reduzir ainda mais o contrato. Segundo fontes que acompanharam o processo, ela estava disposta a repassar a empresas locais serviços somando cerca de US$ 80 milhões, caso elas tivessem preços mais baixos que os da Odebrecht. A Petrobras não comentou se houve mais redução nos últimos meses.

O acordo foi fechado pela diretoria Internacional da empresa. Hoje, a área está sob responsabilidade de Graça Foster, que acumula funções. O contrato expira em fevereiro de 2014.

A Odebrecht nega qualquer irregularidade nos contratos firmados com a Petrobras, “conquistados legitimamente por meio de concorrências públicas”. A empresa declara que não foi envolvida e desconhece o questionamento da auditoria da Petrobras em relação ao contrato PAC SMS. “

O valor contratado foi diretamente afetado pela redução de escopo do contrato decorrente do plano de desinvestimentos da Petrobras.” 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um blefe bilionário de Eike Batista na OGX


Os bastidores de uma promessa não cumprida de Eike Batista revelam o caos da petroleira que acaba de ir à lona

FERNANDO CAVALCANTI
Eike Batista durante a oferta pública inicial de ações da petrolífera OGX, na Bovespa, em 2008

Eike, na Bovespa: a OGX pediu recuperação judicial no fim de outubro

São Paulo - Nas poucas vezes em que se propôs a comentar sua derrocada, o empresário Eike Batista se manteve firme num ponto: ninguém acreditou em seu projeto mais do que ele próprio. As coisas deram errado, segundo sua lógica, por questões que estavam fora de sua alçada, como a crise internacional ou a imprevisibilidade dos poços de petróleo.

Mas Eike, segue o argumento, sempre acreditou em suas empresas — e esteve disposto a botar dinheiro do próprio bolso quando ninguém mais parecia ter coragem. A prova cabal de seu otimismo foi dada no dia 24 de outubro do ano passado, após três meses de queda brusca das ações de sua petroleira, a OGX, na bolsa.

Em meio à desconfiança que abalava o centro de seu império, Eike se comprometeu a investir na OGX até 1 bilhão de dólares do próprio bolso, caso a empresa precisasse, comprando ações a um preço fixo de 6,3 reais. A operação, conhecida no mercado financeiro como put, foi informada à Comissão de Valores Mobiliários por fato relevante.

Mas, um ano depois, a OGX entregou os pontos e entrou com um pedido de recuperação judicial. No caminho, é claro que precisou — e muito — do dinheiro prometido por ­Eike. Mas a OGX não viu um centavo. Tudo, hoje se vê, não passou de um blefe. Que deu no que deu.

A história do blefe de 1 bilhão de dólares é uma das dezenas que marcaram a rocambolesca crise que levou o grupo de Eike à situação atual. Mas a história secreta da promessa não cumprida é carregada de simbolismos — conhecê-la é uma excelente maneira de entender como funcionava, ou não funcionava, o grupo X.

Durante nada menos que oito meses, Eike se esquivou de assinar o contrato que daria validade legal à sua promessa. Ele cedeu apenas em junho, após a pressão de três conselheiros da OGX: os ex-ministros Rodolpho Tourinho Neto (Minas e Energia), Pedro Malan (Fazenda) e Ellen Gracie (Supremo Tribunal Federal).

Ao serem informados de que Eike vinha se negando a assinar a put, Tourinho, Ellen e Malan pediram uma reunião com o empresário. Internamente, Eike chegou a dizer a seus executivos que não assinaria um papel que podia matá-lo. Enviou José Roberto Faveret, diretor jurídico da petroleira na época, para que o representasse na reunião com os conselheiros estrelados. Sem documento, claro.

Foi quando os três decidiram entregar o cargo. Fizeram, no entanto, uma exigência. Queriam ver o contrato da put assinado. Caso contrário, falariam abertamente sobre o assunto. Eike ­assinou o contrato (não que o tenha cumprido, como se verá a seguir). Procurados por EXAME, nenhum dos três ex-ministros respondeu aos pedidos de entrevista. Faveret também não comentou o assunto, assim como a EBX.
Quase no tapa


A discussão em torno da put dá uma ideia do descontrole interno do grupo X. Em maio, houve uma reunião particularmente tensa para debater o assunto. De um lado da mesa, os diretores da petroleira argumentavam que precisavam que o controlador aportasse 100 milhões de dólares para pagar as contas básicas.

Era a única maneira de pagar os fornecedores que finalizavam as instalações da plataforma no campo de Tubarão Martelo, o maior da OGX. A plataforma estava, e está, parada, boiando em alto-mar. Do outro lado, diretores da EBX — a holding de Eike e fonte mais provável dos recursos para o pagamento da put — diziam que o documento não poderia sequer ser assinado.

O que era para ser uma reunião se transformou numa briga ruidosa, em que dois executivos quase saíram no tapa. O mais exaltado era o ex-diretor financeiro Otavio Lazcano, que defendia que Eike não assinasse o documento. Com quase 2 metros de altura, o ex-jogador de vôlei berrou palavrões e colocou o dedo a milímetros do nariz de Roberto Monteiro, então diretor financeiro da OGX.

A turma do deixa -disso interveio, evitando que Monteiro, lutador de jiu-jítsu, revidasse. Tudo aconteceu no 22o andar do elegante edifício Serrador, na região da Cinelândia, no centro do Rio. Entre os presentes estavam ainda Luiz Eduardo Carneiro e José Faveret, da OGX, e Marcelo Horcades e Joel Rennó Júnior, da EBX, todos já fora do grupo. Eike não participou do arranca-rabo.

Enquanto Eike e os executivos de sua petroleira não se decidiam, a situa­ção da empresa só piorava. Ricardo Knoepfelmacher (o Ricardo K), da gestora de private equity Angra Partners, chegou em agosto para reorganizar o grupo. Ele deixou claro várias vezes que os diretores da OGX não deveriam exercer a put. Mas a situação da empresa foi se deteriorando, e a pressão sobre os diretores, aumentando.

Cabia apenas a eles, afinal, dizer se a empresa precisava ou não do dinheiro do controlador. Se não o fizessem, poderiam ser processados por acionistas — acusados de não cumprir seu dever de proteger os interesses da empresa. No dia 6 de setembro, com o caixa da OGX secando, a diretoria enviou um e-mail a Eike dizendo que exigia o pagamento de pelo menos 100 milhões de dólares.

O empresário ficou furioso. Passou o dia enfurnado numa reunião com Ricardo K para decidir o que fazer. Ao fim do dia, enviou à CVM um comunicado informando que poderia contestar a validade da put numa corte arbitral. Em 40 dias, havia demitido todos os diretores da petroleira, menos o de operação.

Naquela época, os credores da OGX tinham alguma esperança de que seria possível chegar a um acordo com Eike. Mas as conversas foram para o vinagre. Em setembro, os diretores da OGX negociavam com os principais credores, donos de 3,6 bilhões dólares em títulos da empresa.

Segundo o executivo de um grande fundo de investimento com sede em Nova York, as negociações estavam bem encaminhadas. Os credores estavam dispostos a aceitar um desconto de 2,6 bilhões de dólares nos 3,6 bilhões. Em troca, ficariam com 95% da empresa. Eike continuaria dono dos outros 5%.

Eles também exigiam que a OSX, empresa de construção e afretamento naval do grupo de Eike, reduzisse de 2,5 bilhões para 1 bilhão de dólares a dívida cobrada da OGX. Mas Ricardo K considerou o acordo ruim para Eike e o convenceu a suspender a negociação e a demitir Roberto Monteiro, seu diretor financeiro, pelo telefone, ainda em Nova York, cortando seu celular e o e-mail corporativo.

Os credores, entre os quais os fundos americanos Blackrock e Pimco, sentiram-se desrespeitados com a demissão de seu interlocutor. Enviaram um e-mail a Eike dizendo que ele estava faltando com respeito às maiores potências financeiras do planeta. Recomendaram também que recontratasse o diretor financeiro demitido. Dito e feito.

Três semanas depois, Monteiro voltaria à mesa com os credores, dessa vez como consultor da OGX. Mas, mais uma vez, Eike mudou de ideia no meio do caminho. Avisou que um novo investidor estava interessado na petroleira e interrompeu as negociações. Dessa vez, o demitido foi Luiz Eduardo Carneiro, presidente da OGX, também enquanto estava em Nova York, por telefone.

O novo investidor não apareceu. Num episódio esdrúxulo, a OGX comunicou ao mercado que negociava com a gestora Vinci e outros interessados — mas a Vinci negou “categoricamente” que estivesse no páreo. Foi o último suspiro das ações da OGX, que chegaram a subir mais de 120% em uma semana. Mas durou pouco.

Em 30 de outubro, a OGX entrou com pedido de recuperação judicial, apenas cinco anos depois de fazer o maior IPO do país. Caso seja aceito pelos juízes que avaliarão o caso, a OGX protagonizará também a recuperação judicial mais complexa da história do país. Até o fechamento desta edição (em 5 de novembro), a Justiça não havia julgado o pedido.

8 ações com potencial, mas subestimadas pelos investidores

Conheça as empresas preferidas dos gestores de fundos que escolhem ações descontadas, mas com grande potencial de crescimento

Adriano Machado/Bloomberg
Pizzas da Sadia, da BRF Brasil Foods

Pizzas da Sadia, da BRF: empresa ainda não atingiu seu potencial após fusão, diz gestora

São Paulo – No último Fórum Value Investing Brasil, realizado na semana passada em São Paulo, alguns gestores apontaram as suas ações preferidas com base na estratégia de investimento de valor ou value investing. Trata-se de empresas com ações descontadas, penalizadas exageradamente pelo mercado, mas que possuem bons fundamentos e potencial de crescimento de longo prazo que nem todo mundo ainda é capaz de ver.

Os gestores de fundos que seguem estratégias de valor estudam a fundo as empresas em que investem, compram fatias consideráveis das companhias e costumam ser ativos nas decisões de seus conselhos. Em função disso, torna-se muito difícil para o pequeno investidor pessoa física replicar suas estratégias.

Primeiro porque pode faltar tempo ou conhecimento para um estudo tão aprofundado das ações; segundo, devido à falta de poder de influenciar as decisões da empresa; e terceiro porque fica difícil saber quando o fundo vai sair do negócio e realizar seus lucros – o que pode ser especialmente problemático no caso de empresas de baixo valor de mercado e pouca liquidez.

Foi o caso das escolhas das ações top picks dos gestores convidados pelo Value Investing Brasil em outros anos – small caps pouco conhecidas e de baixa liquidez. Neste ano, porém, os convidados fizeram considerações interessantes sobre empresas um pouco mais óbvias, como Eztec, Coelce e Kroton.

Veja nas páginas a seguir as oito ações preferidas dos fundos de ações de quatro gestoras que seguem estratégias de valor - Edge Investimentos, M Square Investimentos, Apex Capital e Rio Bravo Investimentos – e entenda por que elas acham que essas empresas têm um potencial “escondido”.

domingo, 10 de novembro de 2013

Cachaça de gala


Para lançar a Yaguara, seus donos reuniram um time de especialistas renomados e fizeram parcerias com points da gastronomia mundial

Por Bruna BORELLI

Cachaça, limão, açúcar e muito gelo... Quem consegue resistir a uma caipirinha bem-feita? Criada no início do século 20, a mistura é a cara do Brasil e, na última década, virou sensação nos bares e restaurantes do mundo inteiro. Não é nenhuma novidade que os estrangeiros adoram tudo o que vem daqui – inclusive os brasileiros. Foi pensando nisso que três jovens empreendedores, os irmãos paulistas Thyrso e Thiago Camargo e o britânico Hamilton Lowe, se uniram a investidores privados para lançar a cachaça Yaguara. A bebida, produzida em Ivoti (RS), envelhecida em barris de carvalho, com 41,45º graus de teor alcoólico, já está à venda (R$ 90 a garrafa) no País desde o fim de outubro e deve chegar ao mercado internacional no início do ano que vem, de acordo com os sócios. 
 
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Destilado de luxo: a cachaça estará presente em restaurantes e hotéis de alto padrão,
como o paulista D.O.M. e o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro
 
Com o lançamento da Yaguara, os irmãos Thyrso e Thiago transformaram em negócio uma tradição familiar iniciada pelo avô Serafim Meneghel, que produzia uma cachaça artesanal em Cambará (PR). O trio, cujos componentes ainda estão na categoria sub 30, recrutou para ajudá-los na empreitada um time de profissionais de renome, como Erwin Weimann, master blender brasileiro responsável pela curadoria da bebida, Brian Clarke, principal artesão do vidro no mundo, que projetou a garrafa, e sir Frank Lowe, publicitário premiado no Reino Unido e pai de Hamilton, para o conselho da Yaguara. Tudo para lapidar o produto e satisfazer consumidores no Exterior. 
 
Entre as parcerias internacionais estão os bares PDT e Dead Rabbit, de Nova York, o Experimental Cocktail Club, em Londres, o Candela Paris, na capital francesa, e o Bar Tram, em Tóquio. Por aqui, também há aliados de peso, como os restaurantes paulistanos Brasserie des Arts, D.O.M., Dalva e Dito (os dois últimos do chef Alex Atala) e os hotéis Copacabana Palace e Fasano, no Rio de Janeiro. A expectativa é comercializar 100 mil caixas de nove litros cada uma em até cinco anos. “Queremos estar nas metrópoles e nos estabelecimentos onde estão os formadores de opinião”, afirma Hamilton Lowe, que herdou do pai, que já gerenciou as contas mundiais de Heineken, Stella Artois, Mercedes e Reebok, o olhar aguçado para o marketing. 
 
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Do Brasil para o mundo: Thyrso Camargo Neto (à esq.), Hamilton Lowe, Thiago Camargo e o avô
Serafim Meneghel planejam comercializar 100 mil caixas de nove litros da bebida em cinco anos
 
Quem entende do assunto sabe do potencial que a cachaça tem de se transformar em algo mais sofisticado. O barman do badalado bar paulistano Número, Derivan de Souza, conta que hoje a bebida é vista como algo sofisticado, com a possibilidade de ser usada em drinques clássicos ou em novas misturas. “Isso faz com que a recepção da bebida pelos consumidores cresça cada vez mais”, diz. “A cada cinco coquetéis que sirvo, dois são feitos com cachaça”, afirma o italiano Fabio La Pietra, bartender chefe do paulistano SubAstor.

As duas rodas da fortuna


Inspirados nos europeus, os brasileiros entram na febre das bicicletas como alternativa de mobilidade urbana. Com isso, inauguram um novo nicho de mercado: o das bikes premium, com magrelas que chegam a valer até R$ 54 mil

Por Bruna BORELLI

Cansou de ficar parado no trânsito para ir e voltar do trabalho? Não quer encarar o transporte público? Pretende unir o útil ao saudável? Se sua resposta foi “sim” para as três perguntas, você deve aderir à nova febre entre os brasileiros enfurnados nas metrópoles: virar ciclista urbano. O fenômeno ganhou fôlego na última década e tem um interessante componente social. Quem tem pedalado mais é a classe AB, já que a C trocou a bicicleta pelo primeiro carro ou moto. E é mirando nesse novo “esportista” das ruas, com mais dinheiro no bolso, que o mercado nacional de bicicletas tem buscado diferenciais. 
 
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Aposta: atento ao mercado nacional, John Burke, CEO da americana Trek Bicycle Corporation,
esolveu abrir operação própria no País 
 
Dados da Abradibi, a entidade que representa o setor, estimam uma movimentação de R$ 3 bilhões para este ano. E boa parte desse montante se refere ao segmento premium. Feitas com materiais especiais como fibra de carbono, levíssima, com freios a disco, amortecedores e avançados equipamentos eletrônicos, essas bikes estão mais rápidas, mais leves e mais confortáveis. E mais caras. Para dar uma pedalada no modelo americano Trek Speed Concept 9.9, por exemplo, é preciso desembolsar R$ 54 mil – o equivalente a um carro médio zero-quilômetro, como o Peugeot 308 ou um Honda Fit. E há mercado para isso? Para o americano John Burke, sim. 
 
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Para abonados: a bike Trek Speed Concept 9.9, toda feita de carbono, é o modelo
mais caro da companhia e promete agradar aos consumidores
mais exigentes com R$ 54 mil no bolso
 
Ele vem a ser o CEO da Trek Bicycle Corporation, líder global na fabricação de bicicletas, que inaugurou operação própria – sem a intermediação de distribuidores locais – no País neste semestre. Otimista, ele quer investir no mercado nacional, que avalia como uma “Amsterdã dos anos 1970”. Herdeiro da empresa criada pelo pai, Richard, em 1976, Burke venderá aos brasileiros mais abastados vários modelos topo de linha, como o Speed Concept. “A bicicultura realmente está cada vez mais presente entre as classes mais altas”, diz Ana Lia de Castro, diretora-executiva da Abradibi. 
 
O sucesso da bicicleta entre os consumidores de renda mais elevada, segundo Burke, deve-se ao fato de que o equipamento ajuda na forma física e contribue para melhorar o meio ambiente e desafogar o trânsito das metrópoles. “Andar de bike virou algo ‘cool’”, afirma. Para Daniela Khauaja, especialista em mercado de alto padrão e professora de marketing da Espm, os ciclistas de grife se interessam pelo conceito porque o hábito também revela um aspecto comportamental. “Eles se sentem à frente do seu tempo”, diz ela, indicando ser este um ato transgressor em relação à classe econômica à qual pertencem. “Apesar de terem muito dinheiro, eles querem andar em um meio mais alternativo de transporte.”
 
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Executivos: três vezes por semana, Gustavo Filgueiras, CEO do grupo
Emiliano, sai com sua Specialized Tarmac, de R$ 6 mil,
para pedalar com amigos
 
Gustavo Filgueiras, CEO do hotel Emiliano, na capital paulista, é um bom exemplo disso. O executivo sai de casa às 6 horas da manhã, três vezes por semana, com a sua bike de competição Specialized Tarmac (avaliada em R$ 6 mil) para encontrar amigos na ponte Cidade Universitária. Juntos, eles pedalam de 30km por dia pela ciclovia que margeia o Rio Pinheiros. “Eu só evito vir ao trabalho de bicicleta porque as ruas até o hotel são estreitas e por conta da segurança”, diz. Para Burke, a segurança é um fator vital para que a febre das bikes se propague. Segundo ele, as pessoas já andam em São Paulo aos domingos, quando há faixas exclusivas e vigiadas. 

“Por que não adotar isso nos outros dias?”, questiona o empresário, que, mesmo faturando mais de US$ 900 milhões de receita anual, faz o percurso de 4 km até o trabalho pedalando. Em busca desse sentimento cool e transgressor, o mercado interno se movimenta. A brasileira Caloi, recém-adquirida pela canadense Dorel, deve trazer em breve quatro marcas de bicicleta de alta perfomance, com modelos que custam até R$ 35 mil. No segmento dos acessórios, diversas lojas têm aberto as portas para seduzir os neociclistas com bolsas, alforjes e prestando serviços. Em São Paulo, a loja Bike Bacana oferece bolsas laterais de ótimo acabamento que podem ser usadas também fora das bikes. 
 
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De grife: bicicletas de marcas de luxo como a Dolce & Gabbana (à esq.), de roupas e acessórios,
e a Aston Martin, de automóveis, são as estrelas do setor
 
Há estabelecimentos que fazem o bike fit, o ajuste ergonométrico da magrela ao piloto. Quem também tem pego carona nesse movimento pró-bicicleta são as marcas de luxo. Maisons de alta costura, como Chanel, Gucci, Fendi e Hermès, e BMW, de automóveis, investem também no mercado de duas rodas. Para Daniela Khauaja, a estratégia serviria para expandir o portfólio. “É uma maneira de crescer dentro de um mesmo público-alvo”, afirma. Aqui, mais do que funcionalidade, são importantes o design e o DNA da grife refletidos na bicicleta. 
 
A italiana Dolce & Gabbana, por exemplo, lançou uma bike de US$ 2,2 mil com estampa de leopardo, um dos temas mais recorrentes de seus produtos. A Missoni também usou sua padronagem mais marcante, o zigue-zague multicolorido, para estampar sua versão duas rodas, de US$ 400. A Aston Martin, por sua vez, abusou do high-tech – afinal, é uma marca de inovação tecnológica – no lançamento da One-77, com computador de bordo e sistema Bluetooth, por US$ 40 mil. Inspiração, portanto, é o que não falta aos que desejam pedalar em grande estilo, como os europeus fazem desde sempre. 
 

Terrorismo fiscal


O mercado financeiro manipula o debate das contas públicas e joga contra o País. Não faz nenhum sentido. Ou faz?

Por Ana Paula RIBEIRO

Se um brasileiro desavisado retornasse ao País na semana passada, após um período de férias, levaria um susto ao ler os jornais. A impressão era de que as contas públicas caminhavam para um desastre sem precedentes em meio a um iminente rebaixamento da nota de classificação de risco do Brasil. Não é nada disso. Embora a situação fiscal esteja longe da ideal, tal análise é, na verdade, resultado de uma visão míope do mercado financeiro, que manipulou o debate nos últimos dias – possivelmente para ganhar dinheiro com a especulação. Perplexo, o governo federal mobilizou sua tropa de choque e reagiu ao terrorismo fiscal.
 
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Mantega: o ministro sabe que a situação fiscal não é a ideal, mas o País
não está à beira de um abismo
 
Um dos indicadores utilizados mundialmente para medir a sustentabilidade das contas públicas de um país é a relação entre a dívida bruta e o PIB. No Brasil, esse índice está em 58,75%, cerca de cinco pontos percentuais acima do registrado em 2010, mas em linha com os resultados que antecederam a elevação para a categoria grau de investimento, em 2008. O temor da perda da condição de país seguro, portanto, era tão injustificado que duas das maiores agências de avaliação de risco saíram em defesa do Brasil. Para Shelly Shetty, responsável na Fitch Ratings pela área de risco soberano da América Latina, a redução da nota brasileira não depende apenas da relação entre dívida e PIB. 
 
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Ataque especulativo: Augustin, secretário do Tesouro, vê que desconfianças
em relação à política fiscal são exageradas
 
Segundo ela, outros fatores também são levados em conta, como uma queda abrupta das reservas em moeda estrangeira. No caso brasileiro, o escudo de US$ 376 bilhões é uma importante blindagem contra crises. Shelly recomenda ainda mais investimentos e menos inflação. “Vejo como positivo o ciclo de aperto monetário do Banco Central, que pode melhorar a ancoragem das expectativas de inflação”, diz a executiva. Já a Standard & Poor’s, única agência a colocar a nota do Brasil em perspectiva negativa, em junho, avisou que provavelmente nenhuma mudança ocorrerá no curto prazo, uma vez que o costume é esperar até 24 meses para ver quais medidas serão tomadas para reverter a expectativa de rebaixamento. 
 
“O Brasil teve uma melhora na última década e está sendo subestimado”, afirmou Lisa Schineller, diretora da S&P, que minimizou a possibilidade de o País ser rebaixado a curto prazo, como pretendem certos veículos de comunicação, como o Financial Times, um dos arautos do terrorismo fiscal. Ciente de que a situação fiscal pode atrapalhar a credibilidade do governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) emprestará menos recursos em 2014, concentrando seus esforços em infraestrutura e reduzindo, assim, a necessidade de aportes por parte do Tesouro Nacional. 
 
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Sem crise: ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann rechaça ideia
de condução equivocada da política fiscal
 
É por iniciativas como essa que um superávit primário abaixo da meta não pode ser considerado como o Armagedon. Com os abatimentos possíveis, como os que descontam os gastos referentes a investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a economia para o pagamento de juros da dívida deveria ser de 2,3% do PIB em 2013. A expectativa de alguns analistas é que fique um pouco abaixo, em torno de 1,7% do PIB, já considerando as receitas extras provenientes do leilão do Campo de Libra, de R$ 15 bilhões, e do parcelamento de dívidas de empresas com a Receita. Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores, sustenta que a piora em 2013 é pontual. 
 
“É um exagero considerar que o comportamento fiscal deste ano irá se repetir nos próximos exercícios”, diz. “Não é possível extrapolar para o futuro uma condição atípica.” Outro ponto a ser observado é que as desonerações tributárias, como a redução do IPI de automóveis, podem ajudar a acelerar a economia. O economista do banco Brasil Plural, Rafael Ihara, lembra que um PIB maior contribui para uma melhora fiscal ao elevar a arrecadação e reduzir a necessidade de estímulos fiscais. 
 
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Além da dívida: Shelly, da Fitch, diz que outros itens são avaliados
antes de definir um rating, como as reservas internacionais
 
“Mas é importante que o governo adote um novo discurso, mostrando que as promessas de redução dos gastos serão cumpridas”, diz ele. Até mesmo o Fundo Monetário Internacional (FMI), cuja cartilha ortodoxa está em desuso, acredita que é provável uma trajetória sustentável da relação entre dívida e PIB. Em estudo divulgado no mês passado, o organismo internacional traçou cenários considerando superávits primários de 3,1%, 2% e 1%. Na maior parte deles, não há sinal vermelho para o País. 
 
ATAQUE ESPECULATIVO Incomodada com o jogo pessimista do mercado, a presidente Dilma Rousseff convocou, além do ministro Mantega, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, para defender o governo. Gleisi rechaçou, na semana passada, a ideia de uma crise fiscal. Augustin, por seu turno, também não vê razões para desconfianças exageradas e considera um “ataque especulativo” a reação negativa ao déficit de R$ 9 bilhões registrado em setembro. Além dos discursos, Dilma cobrou medidas concretas para melhorar as contas públicas. 
 
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Giro menor: rotatividade do trabalhador gera custos
com o seguro-desemprego, mas pode ser combatida
com melhor processo de seleção, diz Almeida, da Protege
 
“A situação fiscal do Brasil não está fora de controle, mas é preciso fazer o dever de casa e retomar a redução da trajetória de queda da dívida”, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho. Uma iniciativa que deverá contribuir para a redução dos gastos públicos é a mudança na forma de conceder o seguro-desemprego e o abono salarial. Esses dois benefícios devem consumir entre R$ 45 bilhões e R$ 47 bilhões em 2013, um crescimento de quase 20% em relação ao ano anterior. Para conter e reduzir esses gastos, incompatíveis com uma situação de quase pleno emprego, começou a valer em novembro a regra que obriga o trabalhador a buscar um curso de reciclagem após ser demitido pela segunda vez em um prazo de dez anos. 
 
O treinamento é ministrado em dias úteis e com duração de cerca de quatro horas diárias. Pode parecer pouco, mas essa medida evita uma fraude comum, que é o trabalhador ser demitido e, no período em que recebe o seguro, arrumar um emprego informal. Outras mudanças em estudo estão sendo negociadas com as centrais sindicais, que se reuniram com o ministro Mantega na terça-feira 5. O desafio é enorme e envolve o setor privado. O vice-presidente de gestão de Gente do Grupo Pão de Açúcar, Antonio Salvador, reconhece que há uma cultura presente em certos grupos de pessoas que consideram ser possível trabalhar um curto espaço de tempo e depois, ao ser demitido, viver alguns meses à custa do seguro-desemprego. 
 
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Para evitar esse tipo de comportamento, a saída da companhia foi aprimorar seu sistema de seleção de pessoal. “É preciso trabalhar na fonte e refinar o tipo de funcionário que se deseja”, diz Salvador. Os programas de treinamento, que custam à empresa mais de R$ 50 milhões ao ano, também contribuem para reduzir a rotatividade e, assim, o número de funcionários desestimulados e mais propensos a serem demitidos. A rotatividade no grupo é de 35%, abaixo da média do setor, em torno de 50% ao ano. “Com nossas iniciativas, acreditamos que é possível melhorar o índice em 5% em 2014”, afirma. Outro setor que também sofre com o vai e vem de funcionários é o de segurança. 
 
O gerente corporativo de recursos humanos da Protege, Jorge Tavares de Almeida, aposta num processo seletivo mais rigoroso como solução para a rotatividade, que chega a 30%. Além disso, o candidato fica sabendo que a chance de promoção é grande dentro da empresa. “O trabalhador precisa se sentir valorizado”, afirma Tavares. Para mudar esse comportamento, é preciso que o governo convença as centrais sindicais de que uma mudança nas regras do seguro-desemprego é necessária tanto quanto o combate a projetos no Congresso Nacional, que podem onerar os cofres públicos em mais de R$ 60 bilhões. O mais grave deles é o chamado Orçamento Impositivo, que obriga o Tesouro a bancar qualquer proposta dos deputados e senadores – tendo ou não recursos em caixa. Ao que parece, alguns parlamentares gostaram do jogo do terrorismo fiscal.
 
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Cinco anos depois, Itaú Unibanco continua no topo


Fusão entre Itaú e Unibanco completa cinco anos com lucros em alta e a liderança entre os bancos privados. O bolo ficou mais saboroso, mas a fatia de mercado diminuiu

Por Natália FLACH e Ana Paula RIBEIRO

O fim de semana de Finados de 2008 não foi de descanso para os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles. Depois de três semanas de intensas negociações, eles passaram o sábado e o domingo revisando um contrato cuja divulgação iria sacudir o mercado no dia seguinte. O documento de 14 páginas selou a maior fusão do sistema financeiro do País, criando o Itaú Unibanco. O gigante, que nasceu com R$ 509 bilhões em ativos, buscava tanto enfrentar a crise externa quanto fazer frente ao crescimento do espanhol Santander, que acabara de adquirir o holandês ABN Amro. 
 
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Esse casamento inesperado entre dois dos três maiores bancos privados nacionais garantiu ao Itaú Unibanco o lugar mais alto do pódio do setor, até então ocupado pelo Banco do Brasil, que era seguido de longe pelo Bradesco. Durante algum tempo, o novo banco superou o BB como a maior instituição financeira brasileira em ativos, mas o BB reagiu e recuperou o posto (hoje detém R$ 1,2 trilhão). Qual o balanço dessa operação, passados cinco anos? Há vários pontos positivos. O Itaú Unibanco continua no topo do ranking do setor financeiro privado, uma posição difícil de se manter sem perder o foco nos resultados para os acionistas. 
 
Nesse aspecto, o banco esbanja saúde e dá um show de gestão: foi sete vezes campeão setorial no anuário AS MELHORES DA DINHEIRO, incluindo as duas últimas edições, 2012 e 2013. Houve um crescimento de 192% nos ativos, para R$ 990 bilhões, e a volta à rentabilidade superior à da concorrência. Os lucros continuam gordos, acima dos R$ 14 bilhões por ano. No terceiro trimestre deste ano, o banco divulgou um lucro líquido ajustado de R$ 4,02 bilhões, acima dos prognósticos do mercado e com um crescimento de 17,9% em relação ao mesmo período de 2012. Segundo Francisco Kops, analista do banco de investimentos J. Safra, isso fez o retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado atingir 20,9%, depois de seis trimestres abaixo desse patamar. 
 
“Estávamos com saudades dessas rentabilidades”, escreveu Kops em seu relatório, divulgado no dia 30 de outubro. O analista mantém o otimismo. Para ele, a atual estratégia tem permitido ao Itaú Unibanco superar as expectativas do mercado em seu resultado financeiro líquido. “A inadimplência e os custos de crédito vêm se mantendo em patamares bem abaixo dos previstos anteriormente, devendo levar a revisões de lucro para cima pelo mercado, especialmente para 2014”, escreveu ele. Mário Pierry, analista-chefe do Deutsche Bank, tem uma avaliação parecida. Para ele, o Itaú Unibanco deverá manter a trajetória de redução de custos e também um crescimento acelerado de atividades que permitem ganhos com tarifas. 
 
Depois de cinco anos costurando a maior fusão do sistema financeiro, o banco está começando a colher os melhores frutos dessa operação. O mercado bancário está cada vez mais competitivo e, ao apagar as velas do quinto aniversário da fusão, Setubal e Moreira Salles terão de se contentar com uma fatia mais fina do bolo – ao menos por enquanto. Segundo dados do Banco Central (BC), a participação do Itaú Unibanco no total de ativos encolheu de 23% para 18%. Em termos de rede de agências, mesmo que a cifra tenha crescido de 3.646 para 3.881, o percentual emagreceu de 23% para 17%. Essa perda de mercado ocorreu durante um dos períodos mais vigorosos do crédito brasileiro. 
 
Em setembro de 2008, os então três maiores bancos estatais – BB, Caixa Econômica Federal e a paulista Nossa Caixa – respondiam por cerca de 30% dos créditos, segundo o BC. Em junho deste ano, essa fatia quase dobrou, para 51%, graças ao estímulo dos bancos estatais, sem contar o BNDES. Nesse período, o total de empréstimos concedidos no Brasil cresceu 109%. Mesmo assim, à avaliação do mercado ainda é muito positiva para o Itaú Unibanco: sua ação mantém-se entre as preferidas dos investidores e seu valor em bolsa disparou. Segundo o sistema de análise de dados Economática, imediatamente após a fusão, em dinheiro de hoje (valores corrigidos pelo IPCA), o Itaú Unibanco valia R$ 130 bilhões na bolsa. 
 
Na quinta-feira 7, essa cifra havia avançado para R$ 159,3 bilhões, uma alta de 62,7%. É suficiente para garantir ao Itaú Unibanco a maior capitalização do setor no País, superando a do BB e a do Bradesco. Em comparação, no mesmo período, o valor do Bradesco avançou 44,7%, para R$ 139,7 bilhões. O Banco do Brasil cresceu 68,9% na bolsa, para R$ 81,2 bilhões. Para recuperar o terreno perdido, os bancos privados apostam em uma concessão mais robusta de empréstimos, depois de uma fase de conservadorismo que permitiu o avanço dos concorrentes públicos. A carteira do Bradesco dobrou de tamanho nos últimos cinco anos, para R$ 412,5 bilhões. 
 
“O crédito foi o carro-chefe, crescemos 100% nesse período e foi com qualidade”, afirma Luiz Carlos Angelotti, diretor-executivo da instituição. Na falta de bons concorrentes para comprar, o banco investiu no crescimento orgânico e abriu 1.450 agências, ampliando sua rede para 4.697 pontos de atendimento, e investiu R$ 22 bilhões em tecnologia e infraestrutura. O Itaú Unibanco – que também não fez novas aquisições, mas fez importantes parcerias estratégicas com a seguradora Porto Seguro e o banco mineiro BMG – continua se esforçando para crescer. A carteira de créditos cresceu 9,9% neste ano, para R$ 481 bilhões. 
 
A ordem é manter a inadimplência sob controle. “Acertamos em trocar riscos maiores por riscos menores, mesmo que isso implique menores spreads (margens de ganho)”, afirmou Rogério Calderón, diretor de controladoria do Itaú Unibanco, em conferência com analistas em 30 de outubro. Em outra frente, o banco insiste em reduzir gastos. Esse processo é conduzido pela consultoria Galeazzi, conhecida no mercado por sua disposição para enxugar estruturas e cortar pessoal. Ao divulgar os resultados do terceiro trimestre, Rogério Calderón informou que o banco havia dispensado três mil pessoas nos últimos 12 meses. 
 
“É um resultado da rotatividade natural dos funcionários”, disse Calderón. Em junho, o banco tinha 117,3 mil trabalhadores, uma fatia de 19% dos bancários, um ponto percentual acima do número pós-fusão, em 2008. A próxima medida deverá ser a transferência da Garantec, seguradora líder em garantia estendida. Ela pode sair do escopo do Itaú Unibanco e passar para a Porto Seguro, seguradora na qual o banco possui participação de 30%. Procurado, o Itaú Unibanco não concedeu entrevista. 
 
QUEM VEIO, QUEM FOI – Nos últimos cinco anos, diversos bancos saíram de cena, enquanto outros se tornaram protagonistas. Na contramão do mercado, Cruzeiro do Sul e Rural são exemplos de bancos que sumiram no mapa. Em comum, as duas instituições eram de menor porte e tiveram problemas de gestão. Ambas sofreram processo de liquidação extrajudicial pelo Banco Central. Entre os bancos que mais cresceram no período está o BTG Pactual, com quase R$ 125 bilhões em ativos. A instituição não existia em 2008, mas o BTG, que comprou o UBS Pactual, teve um salto de 506% em seu tamanho, de acordo com dados do Banco Central. 
 
Outro banco que chama a atenção é o BMG, especializado em consignado. O seu trunfo sempre foi a rede de correspondentes e agentes de crédito que vendiam as operações dessa modalidade a funcionários públicos. O avanço em ativos foi de 262% em cinco anos. Mas crescer tanto, e de forma alavancada, começou a sufocar a instituição, que nem sempre conseguia captar recursos com custos adequados. A saída foi encontrada no ano passado com a parceria com o Itaú Unibanco. O BMG fica com 30% do que é originado nessa nova empresa e o Itaú Unibanco, com os restantes 70%. Isso ajudou a melhorar a geração de novos créditos, que chegaram a R$ 4,2 bilhões no primeiro semestre do ano, recorde para o banco. “Já tínhamos posição de liderança e a parceria fez com que a nossa originação dobrasse”, afirma o diretor de Relações com Investidores do BMG, Danilo Herculano. O Itaú Unibanco, de seu lado, garantiu presença no pujante mercado de empréstimos consignados.