domingo, 10 de novembro de 2013

Cinco anos depois, Itaú Unibanco continua no topo


Fusão entre Itaú e Unibanco completa cinco anos com lucros em alta e a liderança entre os bancos privados. O bolo ficou mais saboroso, mas a fatia de mercado diminuiu

Por Natália FLACH e Ana Paula RIBEIRO

O fim de semana de Finados de 2008 não foi de descanso para os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles. Depois de três semanas de intensas negociações, eles passaram o sábado e o domingo revisando um contrato cuja divulgação iria sacudir o mercado no dia seguinte. O documento de 14 páginas selou a maior fusão do sistema financeiro do País, criando o Itaú Unibanco. O gigante, que nasceu com R$ 509 bilhões em ativos, buscava tanto enfrentar a crise externa quanto fazer frente ao crescimento do espanhol Santander, que acabara de adquirir o holandês ABN Amro. 
 
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Esse casamento inesperado entre dois dos três maiores bancos privados nacionais garantiu ao Itaú Unibanco o lugar mais alto do pódio do setor, até então ocupado pelo Banco do Brasil, que era seguido de longe pelo Bradesco. Durante algum tempo, o novo banco superou o BB como a maior instituição financeira brasileira em ativos, mas o BB reagiu e recuperou o posto (hoje detém R$ 1,2 trilhão). Qual o balanço dessa operação, passados cinco anos? Há vários pontos positivos. O Itaú Unibanco continua no topo do ranking do setor financeiro privado, uma posição difícil de se manter sem perder o foco nos resultados para os acionistas. 
 
Nesse aspecto, o banco esbanja saúde e dá um show de gestão: foi sete vezes campeão setorial no anuário AS MELHORES DA DINHEIRO, incluindo as duas últimas edições, 2012 e 2013. Houve um crescimento de 192% nos ativos, para R$ 990 bilhões, e a volta à rentabilidade superior à da concorrência. Os lucros continuam gordos, acima dos R$ 14 bilhões por ano. No terceiro trimestre deste ano, o banco divulgou um lucro líquido ajustado de R$ 4,02 bilhões, acima dos prognósticos do mercado e com um crescimento de 17,9% em relação ao mesmo período de 2012. Segundo Francisco Kops, analista do banco de investimentos J. Safra, isso fez o retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado atingir 20,9%, depois de seis trimestres abaixo desse patamar. 
 
“Estávamos com saudades dessas rentabilidades”, escreveu Kops em seu relatório, divulgado no dia 30 de outubro. O analista mantém o otimismo. Para ele, a atual estratégia tem permitido ao Itaú Unibanco superar as expectativas do mercado em seu resultado financeiro líquido. “A inadimplência e os custos de crédito vêm se mantendo em patamares bem abaixo dos previstos anteriormente, devendo levar a revisões de lucro para cima pelo mercado, especialmente para 2014”, escreveu ele. Mário Pierry, analista-chefe do Deutsche Bank, tem uma avaliação parecida. Para ele, o Itaú Unibanco deverá manter a trajetória de redução de custos e também um crescimento acelerado de atividades que permitem ganhos com tarifas. 
 
Depois de cinco anos costurando a maior fusão do sistema financeiro, o banco está começando a colher os melhores frutos dessa operação. O mercado bancário está cada vez mais competitivo e, ao apagar as velas do quinto aniversário da fusão, Setubal e Moreira Salles terão de se contentar com uma fatia mais fina do bolo – ao menos por enquanto. Segundo dados do Banco Central (BC), a participação do Itaú Unibanco no total de ativos encolheu de 23% para 18%. Em termos de rede de agências, mesmo que a cifra tenha crescido de 3.646 para 3.881, o percentual emagreceu de 23% para 17%. Essa perda de mercado ocorreu durante um dos períodos mais vigorosos do crédito brasileiro. 
 
Em setembro de 2008, os então três maiores bancos estatais – BB, Caixa Econômica Federal e a paulista Nossa Caixa – respondiam por cerca de 30% dos créditos, segundo o BC. Em junho deste ano, essa fatia quase dobrou, para 51%, graças ao estímulo dos bancos estatais, sem contar o BNDES. Nesse período, o total de empréstimos concedidos no Brasil cresceu 109%. Mesmo assim, à avaliação do mercado ainda é muito positiva para o Itaú Unibanco: sua ação mantém-se entre as preferidas dos investidores e seu valor em bolsa disparou. Segundo o sistema de análise de dados Economática, imediatamente após a fusão, em dinheiro de hoje (valores corrigidos pelo IPCA), o Itaú Unibanco valia R$ 130 bilhões na bolsa. 
 
Na quinta-feira 7, essa cifra havia avançado para R$ 159,3 bilhões, uma alta de 62,7%. É suficiente para garantir ao Itaú Unibanco a maior capitalização do setor no País, superando a do BB e a do Bradesco. Em comparação, no mesmo período, o valor do Bradesco avançou 44,7%, para R$ 139,7 bilhões. O Banco do Brasil cresceu 68,9% na bolsa, para R$ 81,2 bilhões. Para recuperar o terreno perdido, os bancos privados apostam em uma concessão mais robusta de empréstimos, depois de uma fase de conservadorismo que permitiu o avanço dos concorrentes públicos. A carteira do Bradesco dobrou de tamanho nos últimos cinco anos, para R$ 412,5 bilhões. 
 
“O crédito foi o carro-chefe, crescemos 100% nesse período e foi com qualidade”, afirma Luiz Carlos Angelotti, diretor-executivo da instituição. Na falta de bons concorrentes para comprar, o banco investiu no crescimento orgânico e abriu 1.450 agências, ampliando sua rede para 4.697 pontos de atendimento, e investiu R$ 22 bilhões em tecnologia e infraestrutura. O Itaú Unibanco – que também não fez novas aquisições, mas fez importantes parcerias estratégicas com a seguradora Porto Seguro e o banco mineiro BMG – continua se esforçando para crescer. A carteira de créditos cresceu 9,9% neste ano, para R$ 481 bilhões. 
 
A ordem é manter a inadimplência sob controle. “Acertamos em trocar riscos maiores por riscos menores, mesmo que isso implique menores spreads (margens de ganho)”, afirmou Rogério Calderón, diretor de controladoria do Itaú Unibanco, em conferência com analistas em 30 de outubro. Em outra frente, o banco insiste em reduzir gastos. Esse processo é conduzido pela consultoria Galeazzi, conhecida no mercado por sua disposição para enxugar estruturas e cortar pessoal. Ao divulgar os resultados do terceiro trimestre, Rogério Calderón informou que o banco havia dispensado três mil pessoas nos últimos 12 meses. 
 
“É um resultado da rotatividade natural dos funcionários”, disse Calderón. Em junho, o banco tinha 117,3 mil trabalhadores, uma fatia de 19% dos bancários, um ponto percentual acima do número pós-fusão, em 2008. A próxima medida deverá ser a transferência da Garantec, seguradora líder em garantia estendida. Ela pode sair do escopo do Itaú Unibanco e passar para a Porto Seguro, seguradora na qual o banco possui participação de 30%. Procurado, o Itaú Unibanco não concedeu entrevista. 
 
QUEM VEIO, QUEM FOI – Nos últimos cinco anos, diversos bancos saíram de cena, enquanto outros se tornaram protagonistas. Na contramão do mercado, Cruzeiro do Sul e Rural são exemplos de bancos que sumiram no mapa. Em comum, as duas instituições eram de menor porte e tiveram problemas de gestão. Ambas sofreram processo de liquidação extrajudicial pelo Banco Central. Entre os bancos que mais cresceram no período está o BTG Pactual, com quase R$ 125 bilhões em ativos. A instituição não existia em 2008, mas o BTG, que comprou o UBS Pactual, teve um salto de 506% em seu tamanho, de acordo com dados do Banco Central. 
 
Outro banco que chama a atenção é o BMG, especializado em consignado. O seu trunfo sempre foi a rede de correspondentes e agentes de crédito que vendiam as operações dessa modalidade a funcionários públicos. O avanço em ativos foi de 262% em cinco anos. Mas crescer tanto, e de forma alavancada, começou a sufocar a instituição, que nem sempre conseguia captar recursos com custos adequados. A saída foi encontrada no ano passado com a parceria com o Itaú Unibanco. O BMG fica com 30% do que é originado nessa nova empresa e o Itaú Unibanco, com os restantes 70%. Isso ajudou a melhorar a geração de novos créditos, que chegaram a R$ 4,2 bilhões no primeiro semestre do ano, recorde para o banco. “Já tínhamos posição de liderança e a parceria fez com que a nossa originação dobrasse”, afirma o diretor de Relações com Investidores do BMG, Danilo Herculano. O Itaú Unibanco, de seu lado, garantiu presença no pujante mercado de empréstimos consignados.
 

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