Fusão entre Itaú e Unibanco completa cinco anos com lucros em alta e a liderança entre os bancos privados. O bolo ficou mais saboroso, mas a fatia de mercado diminuiu
Por Natália FLACH e Ana Paula RIBEIRO
O fim de semana de Finados de 2008 não foi de descanso para os
banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles. Depois de três
semanas de intensas negociações, eles passaram o sábado e o domingo
revisando um contrato cuja divulgação iria sacudir o mercado no dia
seguinte. O documento de 14 páginas selou a maior fusão do sistema
financeiro do País, criando o Itaú Unibanco. O gigante, que nasceu com
R$ 509 bilhões em ativos, buscava tanto enfrentar a crise externa quanto
fazer frente ao crescimento do espanhol Santander, que acabara de
adquirir o holandês ABN Amro.
Esse casamento inesperado entre dois dos três maiores bancos
privados nacionais garantiu ao Itaú Unibanco o lugar mais alto do pódio
do setor, até então ocupado pelo Banco do Brasil, que era seguido de
longe pelo Bradesco. Durante algum tempo, o novo banco superou o BB como
a maior instituição financeira brasileira em ativos, mas o BB reagiu e
recuperou o posto (hoje detém R$ 1,2 trilhão). Qual o balanço dessa
operação, passados cinco anos? Há vários pontos positivos. O Itaú
Unibanco continua no topo do ranking do setor financeiro privado, uma
posição difícil de se manter sem perder o foco nos resultados para os
acionistas.
Nesse aspecto, o banco esbanja saúde e dá um show de gestão: foi
sete vezes campeão setorial no anuário AS MELHORES DA DINHEIRO,
incluindo as duas últimas edições, 2012 e 2013. Houve um crescimento de
192% nos ativos, para R$ 990 bilhões, e a volta à rentabilidade superior
à da concorrência. Os lucros continuam gordos, acima dos R$ 14 bilhões
por ano. No terceiro trimestre deste ano, o banco divulgou um lucro
líquido ajustado de R$ 4,02 bilhões, acima dos prognósticos do mercado e
com um crescimento de 17,9% em relação ao mesmo período de 2012.
Segundo Francisco Kops, analista do banco de investimentos J. Safra,
isso fez o retorno sobre o patrimônio líquido médio anualizado atingir
20,9%, depois de seis trimestres abaixo desse patamar.
“Estávamos com saudades dessas rentabilidades”, escreveu Kops em
seu relatório, divulgado no dia 30 de outubro. O analista mantém o
otimismo. Para ele, a atual estratégia tem permitido ao Itaú Unibanco
superar as expectativas do mercado em seu resultado financeiro líquido.
“A inadimplência e os custos de crédito vêm se mantendo em patamares bem
abaixo dos previstos anteriormente, devendo levar a revisões de lucro
para cima pelo mercado, especialmente para 2014”, escreveu ele. Mário
Pierry, analista-chefe do Deutsche Bank, tem uma avaliação parecida.
Para ele, o Itaú Unibanco deverá manter a trajetória de redução de
custos e também um crescimento acelerado de atividades que permitem
ganhos com tarifas.
Depois de cinco anos costurando a maior fusão do sistema
financeiro, o banco está começando a colher os melhores frutos dessa
operação. O mercado bancário está cada vez mais competitivo e,
ao apagar as velas do quinto aniversário da fusão, Setubal e Moreira
Salles terão de se contentar com uma fatia mais fina do bolo – ao menos
por enquanto. Segundo dados do Banco Central (BC), a participação do
Itaú Unibanco no total de ativos encolheu de 23% para 18%. Em termos de
rede de agências, mesmo que a cifra tenha crescido de 3.646 para 3.881, o
percentual emagreceu de 23% para 17%. Essa perda de mercado ocorreu
durante um dos períodos mais vigorosos do crédito brasileiro.
Em setembro de 2008, os então três maiores bancos estatais – BB,
Caixa Econômica Federal e a paulista Nossa Caixa – respondiam por cerca
de 30% dos créditos, segundo o BC. Em junho deste ano, essa fatia quase
dobrou, para 51%, graças ao estímulo dos bancos estatais, sem contar o
BNDES. Nesse período, o total de empréstimos concedidos no Brasil
cresceu 109%. Mesmo assim, à avaliação do mercado ainda é muito positiva
para o Itaú Unibanco: sua ação mantém-se entre as preferidas dos
investidores e seu valor em bolsa disparou. Segundo o sistema de análise
de dados Economática, imediatamente após a fusão, em dinheiro de hoje
(valores corrigidos pelo IPCA), o Itaú Unibanco valia R$ 130 bilhões na
bolsa.
Na quinta-feira 7, essa cifra havia avançado para R$ 159,3 bilhões,
uma alta de 62,7%. É suficiente para garantir ao Itaú Unibanco a maior
capitalização do setor no País, superando a do BB e a do Bradesco. Em
comparação, no mesmo período, o valor do Bradesco avançou 44,7%, para R$
139,7 bilhões. O Banco do Brasil cresceu 68,9% na bolsa, para R$ 81,2
bilhões. Para recuperar o terreno perdido, os bancos privados apostam em
uma concessão mais robusta de empréstimos, depois de uma fase de
conservadorismo que permitiu o avanço dos concorrentes públicos. A
carteira do Bradesco dobrou de tamanho nos últimos cinco anos, para R$
412,5 bilhões.
“O crédito foi o carro-chefe, crescemos 100% nesse período e foi
com qualidade”, afirma Luiz Carlos Angelotti, diretor-executivo da
instituição. Na falta de bons concorrentes para comprar, o banco
investiu no crescimento orgânico e abriu 1.450 agências, ampliando sua
rede para 4.697 pontos de atendimento, e investiu R$ 22 bilhões em
tecnologia e infraestrutura. O Itaú Unibanco – que também não fez novas
aquisições, mas fez importantes parcerias estratégicas com a seguradora
Porto Seguro e o banco mineiro BMG – continua se esforçando para
crescer. A carteira de créditos cresceu 9,9% neste ano, para R$ 481
bilhões.
A ordem é manter a inadimplência sob controle. “Acertamos em trocar
riscos maiores por riscos menores, mesmo que isso implique menores
spreads (margens de ganho)”, afirmou Rogério Calderón, diretor de
controladoria do Itaú Unibanco, em conferência com analistas em 30 de
outubro. Em outra frente, o banco insiste em reduzir gastos. Esse
processo é conduzido pela consultoria Galeazzi, conhecida no mercado por
sua disposição para enxugar estruturas e cortar pessoal. Ao divulgar os
resultados do terceiro trimestre, Rogério Calderón informou que o banco
havia dispensado três mil pessoas nos últimos 12 meses.
“É um resultado da rotatividade natural dos funcionários”, disse
Calderón. Em junho, o banco tinha 117,3 mil trabalhadores, uma fatia de
19% dos bancários, um ponto percentual acima do número pós-fusão, em
2008. A próxima medida deverá ser a transferência da Garantec,
seguradora líder em garantia estendida. Ela pode sair do escopo do Itaú
Unibanco e passar para a Porto Seguro, seguradora na qual o banco possui
participação de 30%. Procurado, o Itaú Unibanco não concedeu
entrevista.
QUEM VEIO, QUEM FOI – Nos últimos cinco anos,
diversos bancos saíram de cena, enquanto outros se tornaram
protagonistas. Na contramão do mercado, Cruzeiro do Sul e Rural são
exemplos de bancos que sumiram no mapa. Em comum, as duas instituições
eram de menor porte e tiveram problemas de gestão. Ambas sofreram
processo de liquidação extrajudicial pelo Banco Central. Entre os bancos
que mais cresceram no período está o BTG Pactual, com quase R$ 125
bilhões em ativos. A instituição não existia em 2008, mas o BTG, que
comprou o UBS Pactual, teve um salto de 506% em seu tamanho, de acordo
com dados do Banco Central.
Outro banco que chama a atenção é o BMG, especializado em
consignado. O seu trunfo sempre foi a rede de correspondentes e agentes
de crédito que vendiam as operações dessa modalidade a funcionários
públicos. O avanço em ativos foi de 262% em cinco anos. Mas crescer
tanto, e de forma alavancada, começou a sufocar a instituição, que nem
sempre conseguia captar recursos com custos adequados. A saída foi
encontrada no ano passado com a parceria com o Itaú Unibanco. O BMG fica
com 30% do que é originado nessa nova empresa e o Itaú Unibanco, com os
restantes 70%. Isso ajudou a melhorar a geração de novos créditos, que
chegaram a R$ 4,2 bilhões no primeiro semestre do ano, recorde para o
banco. “Já tínhamos posição de liderança e a parceria fez com que a
nossa originação dobrasse”, afirma o diretor de Relações com
Investidores do BMG, Danilo Herculano. O Itaú Unibanco, de seu lado,
garantiu presença no pujante mercado de empréstimos consignados.
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