sábado, 16 de novembro de 2013

Venezuela prende 100 empresários por manipulação de preços


Autoridades dizem que empresas elevaram preços de eletroeletrônicos e outros bens em mais de 1000%

Meridith Kohut
Moeda da Venezuela Bolivar
Moeda da Venezuela Bolivar

Caracas- O governo socialista da Venezuela prendeu mais de 100 empresários em uma operação contra a suposta manipulação de preços em centenas de lojas e empresas desde o fim de semana, disse o presidente Nicolas Maduro na quinta-feira.

"Eles são bárbaros, esses parasitas capitalistas!", disse Maduro. "Temos mais de 100 burgueses atrás das grades no momento." O sucessor de Hugo Chávez também disse que seu governo está preparando uma lei para limitar lucros das empresas venezuelanas a entre 15 e 30 por cento.

As autoridades dizem que empresas sem escrúpulos elevaram preços de eletroeletrônicos e outros bens em mais de mil por cento. Críticos dizem que as políticas econômicas socialistas fracassadas e o acesso restrito à moeda estrangeira estão por trás da inflação galopante da Venezuela.

"A Goodyear tem que baixar seus preços ainda mais, 15 por cento não é suficiente, os inspetores têm de ir lá imediatamente", disse Maduro em discurso, enviando funcionários para verificar as operações locais da fabricante de pneus norte-americana.

Desde o fim de semana, soldados e inspetores entraram em 1.400 lojas, tomaram as operações de uma empresa de eletrônicos e de uma fabricante de baterias.

A decisão mais ousada de Maduro desde que tomou posse em abril é uma reminiscência do estilo de governo de Chávez, que nacionalizou algumas áreas da economia do país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) durante seu governo socialista de 14 anos.

É um fato raro, diz NY Times sobre prisões do mensalão


Apesar de tímida, a repercussão internacional sobre as primeiras prisões do julgamento do mensalão já começou

José Cruz/ABr
Réus do mensalão com roupa de presidiários em protesto no STF

O julgamento do mensalão foi um "marco divisório" para o país, disse o NY Times

São Paulo – Apesar de tímida, a repercussão internacional sobre as primeiras prisões do julgamento do mensalão já começou. Na edição deste sábado, o jornal New York Times observou que é incomum o momento pelo qual o Brasil passa.

"É raro para políticos do alto escalão que foram culpados de crimes passar um tempo na prisão", escreveu o jornalista Simon Romero. Ele lembrou também das medidas protelatórias (os embargos infringentes, por exemplo) que atrasaram o cumprimento das penas.

O NY Times ainda classificou o julgamento do mensalão como um "marco divisório" para o país.
Já o site da Bloomberg afirmou que o mensalão é o maior caso de corrupção desde o fim da ditadura militar. "A decisão do tribunal sobre o escândalo, que tem colocado em risco o legado de Lula, marca um ponto de virada no maior caso de corrupção do Brasil durante 28 anos de democracia", afirma.

Na Inglaterra, a rede de televisão BBC também noticiou as primeiras prisões do mensalão. Em seu site, ela afirma que o julgamento é uma prova para a democracia brasileira. "O julgamento foi visto como um teste essencial da capacidade do Brasil para prender seus políticos por corrupção".

Já o jornal The Telegraph deu destaque a morosidade da justiça brasileira. A publicação disse que os embargos infringentes provocaram a ira popular no país em meio a temores de que os criminosos pudessem levar vantagem .

"Eles (os mensaleiros) poderiam se beneficiar de penas de prisão reduzidas por crime sobre formação de quadrilha e lavagem de dinheiro", afirmou.

Eleitor de Lula, Barbosa tornou-se algoz do PT


Josias de Souza
15/11/2013 21:22
Joaquim Barbosa foi caprichoso na execução das penas do mensalão. Poderia ter aguardado até segunda-feira para mandar prender os condenados. Preferiu apressar o passo. Levou trabalho para casa, lapidou os mandados de prisão até tarde da noite, e mandou recolher os presos em pleno feriado. Um feriado simbólico: 15 de novembro, Dia da Proclamação da República. Foi como se o ministro desejasse, por assim dizer, reproclamar a República.

Primeiro dos oito ministros indicados por Lula para o STF, Barbosa chegou ao tribunal graças à coloração de sua pele. Recém-empossado, em janeiro de 2003, Lula incumbiu o então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos de encontrar um nome para o Supremo. Fez uma exigência: no melhor estilho 'nunca antes na história', queria nomear o primeiro ministro negro do STF.

Thomaz Bastos garimpou um negro de mostruário. Primogênito de oito filhos de um pedreiro com uma dona de casa da cidade mineira de Paracatu, Barbosa formara-se e pós-graduara-se na Universidade de Brasília. Passara pela Sorbonne, fora professor visitante de Columbia e lecionava na Universidade da Califórnia. De quebra, votara em Lula.

Indicado com “entusiasmo”, Barbosa tomou posse no STF em junho de 2003. Decorridos dez anos, frequenta o noticiário como uma espécie de coveiro do ex-PT. Lula procurava um negro. Achou um magistrado. Entre fazer média com o petismo e exercer o seu ofício, Barbosa optou pela lei.

No penúltimo lance do processo, Barbosa levou ao plenário a tese do fatiamento das penas. Fez isso para antecipar a execução dos pedaços das sentenças insuscetíveis de recurso. Prevaleceu no plenário. E impediu que o STF virasse Papai Noel dos condenados que questionaram parte dos veredictos por meio dos famosos embargos infringentes, ainda pendentes de apreciação.

Quarenta dias antes do Natal, em pleno Dia da Proclamação da República, Barbosa mandou para a cadeia uma dúzia de condenados graúdos –políticos, banqueiros, operadores de arcas eleitorais. Coisa nunca antes vista na história desse país, diria Lula se pudesse.

O PT critica as condenações. Dirceu e Genoino declaram-se presos políticos. Devem a perseguição a Lula e Dilma. Passaram pelo julgamento do mensalão, além de Barbosa, outros sete ministros indicados por Lula e quatro escolhidos por Dilma Rousseff.

Barbosa não foi a única autoridade brasiliense a celebrar o calendário. Dilma também anotou no Twitter: “Hoje comemoramos o 124º aniversário da Proclamação da República. A origem da palavra República nos ensina muito. A palavra República vem do latim e significa ‘coisa pública’. Ser a presidenta da República significa exatamente zelar e proteger a ‘coisa pública’, cuidar do bem comum, prevenir e combater a corrupção.”

Embora não tivesse a intenção, foi como se Dilma batesse palmas para o STF e para Barbosa, o magistrado que Lula imaginou que fosse apenas negro.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Ford quer ser popular


Montadora americana quer fazer do Brasil sua terceira maior operação no mundo. Para isso, aposta no renovado Ka, um modelo global que vai competir com os líderes de mercado Gol e Palio

Por Ana Paula MACHADO, de Camaçari (BA)
Na quarta-feira 13, William Clay “Bill” Ford Jr., presidente do conselho mundial de administração da Ford, esteve pela segunda vez no Brasil. Em sua primeira visita, em 1997, um ano antes de sua escolha para o posto atual, o executivo, então com 40 anos de idade, veio anunciar o lançamento do Ford Ka, modelo compacto que prometia ser o carro mais popular da montadora americana e um campeão de vendas por aqui. Prometia: a verdade é que, desde então, o mercado brasileiro mudou muito, com a entrada de dezenas de competidores estrangeiros, e o carrinho esteve longe de apresentar a performance desejada.
 
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Bill Ford, presidente do conselho de administração: "Meu bisavô
sempre achou que o automóvel deveria ser acessível à classe média "
 
Persistente, aos 56 anos, o bisneto do fundador da companhia, o legendário Henry Ford, retorna para anunciar aos brasileiros uma versão renovada do Ka, com a qual garante que, desta vez, o modelo, agora mais espaçoso, vai cumprir seu plano original de se tornar um queridinho dos consumidores. “Meu bisavô sempre achou que o automóvel deveria ser acessível à classe média e criou o Ford T”, afirmou, durante evento realizado na fábrica da empresa em Camaçari, na Bahia. “Continuamos com essa mentalidade, mas a tecnologia também será vista nos nossos modelos mais baratos.” 
 
O lançamento, no entanto, é apenas a parte mais visível de uma estratégia que provocou mudanças profundas na estrutura da Ford e colocou o Brasil no centro das atenções de sua direção. Desde o o início deste mês, a América do Sul ganhou status de região estratégica para a Ford, terceira maior fabricante de automóveis do mundo, atrás da japonesa Toyota e da também americana GM. O Brasil representa 80% das vendas no continente. O inglês Steven Armstrong, que até outubro ocupava o posto de presidente das operações brasileiras, passou a responder por toda a região. O executivo ainda ganhou um assento no conselho de administração da Ford. 
 
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Produção ampliada: a fábrica da montadora em Camaçari, na Bahia,
vai receber investimentos de R$ 2,8 bilhões até 2015
 
Nesse cargo, sua função é definir, juntamente com representantes da América do Norte, da Ásia e da Europa, o rumo e os projetos a serem desenvolvidos pela companhia. “Mesmo com um mercado em estabilidade, há um grande potencial para ser explorado no País”, afirmou Armstrong. Sua meta é fazer do Brasil uma das três maiores operações da Ford. Hoje, o País está atrás dos Estados Unidos, da China e do Reino Unido. Para atender o desafio, Armstrong precisa colocar o Ka entre os líderes de vendas. O que não será fácil, diga-se. Em outubro, o modelo ocupava a 28ª posição no ranking da categoria de carros populares, liderada pelo Gol, da Volkswagen. 
 
No entanto, da mesma forma que seus superiores, como Bill Ford, Armstrong acredita piamente que o novo Ka pode ser um divisor de águas para a companhia. Quando foi lançado, o pequeno veículo prometia competir com os líderes do mercado nacional. Em vão. Com um design jovem e proporções reduzidas, ele se tornou um modelo de nicho e nunca chegou a figurar como a primeira opção de compra das famílias brasileiras. A nova versão passa a contar com quatro portas e maior espaço interno. “Tenho três cachorros, agora eles cabem dentro do carro”, disse Armstrong. A expectativa é de que, como novo design, o veículo passe a ser um dos mais desejados pelos brasileiros, inclusive pelos que não têm cachorros em casa. 
 
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Sonho de consumo: Bill Ford (à dir.) e Steven Armstrong apresentam o novo Ka.
O carro ganhou espaço interno maior e um novo design
 
O carro, porém, não vai concorrer diretamente com os mais baratos do mercado. Ele deve enfrentar o HB20, da Hyundai, que custa a partir de R$ 30 mil e já é o sexto automóvel mais vendido do País. “Não vai ser um modelo de grande volume”, diz Francisco Satkunas, consultor automotivo e ex-executivo da GM. “O preço deve ser mais alto para controlar as vendas de acordo com a capacidade de produção.” O modelo chega às concessionárias até meados de 2014. A versão atual do Ka deve sair de linha, assim como o Fiesta Rocan, que está com os dias contatos. Além do Brasil, o Ka tem a missão de ganhar o mundo e se tornar mais um produto global da companhia, a exemplo do utilitário esportivo EcoSport. 
 
Ele coloca a Ford em uma posição estratégica para atender a crescente demanda mundial por veículos compactos, segmento que deverá crescer para cerca de 6,2 milhões de veículos até 2017. Com uma previsão de crescimento de 35% no período de 2012 a 2017, esse segmento deve superar em 12 pontos percentuais a taxa de crescimento da indústria mundial, impulsionado principalmente pelo aumento da demanda dos consumidores urbanos dos países em desenvolvimento. Foram os engenheiros brasileiros do centro de desenvolvimento da Ford em Camaçari, na Bahia, que lideraram o projeto do novo Ka. 
 
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Estratégia global: Steven Armstrong, que até outubro comandava a Ford
no Brasil, assumiu a presidência da empresa na América do Sul 
 
O Brasil, aliás, passará a participar mais do processo de criação dos novos modelos da montadora. Isso já havia acontecido com o EcoSport, hoje vendido em mais de 100 países, que foi totalmente desenhado e colocado de pé no centro baiano. Os dois projetos fazem parte do plano de investimentos da montadora no País, orçado em R$ 4,5 bilhões. Somente a fábrica de Camaçari vai receber R$ 2,8 bilhões até 2015. O Ka, provavelmente, é o último carro dessa leva de investimentos. “Desenvolver uma plataforma global é mais difícil, e a engenharia local está apta para isso”, diz Bill Ford. “Não há porque não usarmos essa força de trabalho.” 
 
Pelos planos da Ford, em dois anos, 85% dos veículos de sua marca comercializados no mundo serão produzidos a partir de plataformas globais. A meta é vender 8 milhões nesse período, o que corresponde a um crescimento de 50% em relação ao ano passado. “O Brasil é uma parte importante desse crescimento”, afirma Ford. A questão é que a Ford não está conseguindo aumentar sua fatia de mercado no País, patinando há mais de duas décadas no quarto lugar. A distância entre ela e a GM, terceira maior montadora do mercado brasileiro, atrás de Volkswagen e da líder Fiat, está cada vez maior. 
 
Ao mesmo tempo, a distância para a francesa Renault, quinta maior montadora do País, está encurtando, apesar de uma ligeira recuperação da Ford no período janeiro-setembro deste ano. Segundo a Federação Nacional dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenabrave), a montadora de Detroit obteve 9,38% de participação, a GM 18,20% e a Renault 6,43%. Para complicar, a vendas anuais de veículos no mercado nacional também já não apresentam taxas de dois dígitos de crescimento, como no passado, e devem ficar estáveis ou com leve aumento de 2% neste ano, chegando a 3,9 milhões de unidades. “Nossa estratégia é oferecer carros cada vez mais tecnológicos”, diz Armstrong. “É isso que vai nos garantir o crescimento desejado.” 
 
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A incrível história do jatinho apreendido que bateu asas e voou


Como um avião retido na operação Pouso Forçado, que desvendou um suposto esquema de importação de aeronaves por empresários e banqueiros, foi leiloado e arrematado por R$ 1,2 milhão. Mas, no final, voltou para as mãos de seu antigo dono

Por Ralphe MANZONI Jr.

No dia 6 de novembro, o jatinho Raytheon Beechjet 400A, prefixo N48PL, deixou o aeroporto de Jundiaí, no interior de São Paulo, onde estava retido desde junho do ano passado. Eram 23h30 quando bateu asas e literalmente voou para a liberdade. A aeronave era propriedade de Milton Cardoso, ex-presidente da fabricante paulista de calçados Vulcabras, e havia sido apreendida na operação Pouso Forçado, realizada pela Receita Federal, Polícia Federal e Ministério Público Federal, em junho do ano passado. Na ocasião, 12 aviões foram apreendidos. Seus proprietários são acusados de não pagar os impostos da compra (entenda o caso no quadro ao final da reportagem).
 
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Essa é mais uma incrível história que envolve o rumoroso caso dos jatinhos apreendidos pela operação Pouso Forçado, deflagrada em São Paulo e no Rio de Janeiro. O avião que voltou às mãos de seu antigo proprietário havia sido arrematado em 24 de setembro deste ano por um empresário de Campinas, por R$ 1, 2 milhão. O leilão só foi possível porque, em fevereiro deste ano, a 9ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Campinas determinou o “perdimento”, ou confisco da aeronave, transferindo-a para a União. Em junho, uma nova decisão determinava a venda antecipada do avião apreendido. O escritório Freire, Assis, Sakamoto & Violante Advogados, que representa Cardoso, tentou impedir a venda, mas, na ocasião, não conseguiu. 
 
O caso sofreu uma reviravolta em 16 de outubro. Naquele dia, uma liminar concedida pelo desembargador federal Toru Yamamoto, da 9a Vara de Campinas, suspendeu o leilão e devolveu o jato para Cardoso, mediante depósito em juízo do mesmo valor pelo qual ele foi arrematado. Dez dias depois, ele ratificou sua decisão. “Determino o cancelamento da alienação antecipada realizada nos autos principais e, consequentemente, do auto de arrematação”, escreveu Yamamoto, em decisão para o mandado de segurança impetrado pelos advogados de Cardoso, à qual DINHEIRO teve acesso. “Tendo em vista que a aeronave ingressou no Brasil por meio do Termo de Entrada e Admissão Temporária, autorizo o retorno da aeronave ao país de origem.” 
 
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Milton Cardoso: executivo que dirigiu a Vulcabras conseguiu
de volta seu jato apreendido na operação Pouso Forçado
 
No jargão jurídico, o ex-presidente da Vulcabras se tornou o fiel depositário da aeronave. Isso significa que Cardoso poderá usar seu jatinho até que os processos administrativo e penal que há contra a ele sejam concluídos. De acordo com advogados consultados por DINHEIRO, que não querem se identificar, se for punido, Cardoso terá de devolver o avião. Nesse caso, o Raytheon Beechjet 400A voltará a ser leiloado. Se, nesse período, a aeronave sofrer algum dano, o depósito judicial é a garantia de que o Estado não será lesado. Caso vença as ações, o dinheiro será devolvido a Cardoso, que manterá a posse do avião. 
 
Esse não é o único caso de jatinho apreendido na operação Pouso Forçado que é resgatado por seu dono. A aeronave Gulfstream 550, prefixo N332MM, dos EUA, foi devolvida para o empresário do setor imobiliário Paulo Malzoni, mediante fiança bancária de R$ 86,1 milhões, equivalente ao exato valor do equipamento. A decisão foi da juíza federal Edna Márcia Silva Medeiros Ramos, da Justiça Federal do Distrito Federal, em 26 de setembro deste ano. Malzoni, assim como Cardoso, foi nomeado o fiel depositário do bem. Ao contrário do avião do ex-presidente da Vulcabras, o luxuoso jato de Malzoni não havia sido leiloado. A decisão do desembargador federal Yamamoto deixou em alerta máximo a Receita Federal. Explica-se. 
 
No dia 25 de novembro, dois jatos apreendidos na operação Pouso Forçado, que estão retidos no aeroporto de Viracopos, em Campinas, serão leiloados. O primeiro deles é o modelo Challenger 300, da Bombardier. O lance mínimo para os interessados em comprá-lo é de R$ 28 milhões. O modelo Falcon 900 Dassault, com lance mínimo de R$ 11 milhões, também será vendido. “Temos certeza que não há impedimento para a venda”, diz uma fonte da Receita Federal. A advogada Rafaela Oliveira de Assis, do escritório Freire, Assis, Sakamoto & Violante Advogados, foi procurada diversas vezes na semana passada, mas não retornou as ligações até o fechamento desta edição.
 
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O céu não é o limite para a Lenovo


A conquista da liderança do mercado brasileiro de PCs é o primeiro passo de uma estratégia ousada da fabricante chinesa. Ela agora anuncia investimentos de US$ 100 milhões em seu primeiro centro de pesquisa mundial no Brasil

Por João VARELLA
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Confira os bastidores da reportagem

O CEO mundial da fabricante chinesa de computadores Lenovo, Yang Yuanqing, suou para adquirir uma grande empresa de computadores no Brasil. Em 2008, ele fez uma oferta para assumir o controle da paranaense Positivo Informática, a líder do mercado brasileiro de computadores, mas não levou. Só em setembro do ano passado, conseguiu fisgar um peixe grande. Na ocasião, Yuanqing veio ao País para anunciar a compra da CCE, por R$ 300 milhões. O tempo estava seco em São Paulo e a temperatura marcava 30 graus centígrados, o que fez o executivo sacar diversas vezes um lenço para enxugar o suor de seu rosto. 
 
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Dan Stone, presidente da Lenovo: "Não importa o tamanho da tela, queremos
dar as melhores soluções para os nossos consumidores no Brasil"
 
Com a CCE, a Lenovo anunciou ter como meta atingir a liderança do mercado brasileiro de computadores em 2015. A empresa queria replicar no Brasil a mesma posição que ocupa no mercado global desde o ano passado, quando ultrapassou a americana HP. Ao contrário do chefão, o responsável por tornar realidade essa tarefa aparentava despreocupação durante o evento. O israelense Dan Stone, presidente da Lenovo no Brasil, brincava com um ultrabook híbrido Yoga, que dobra completamente a tela e se transforma em tablet, durante uma conversa com a imprensa. “Olhe o que ele faz”, dizia Stone, enquanto girava para um lado e para o outro o aparelho, feito uma criança com brinquedo novo. 
 
Podia não aparentar, mas o extrovertido Stone estava mais do que comprometido em suar a camisa pela empresa. Tanto que, dois anos antes da meta prevista por seu chefe, a Lenovo conseguiu chegar lá. Na semana passada, a companhia informou que assumiu a liderança do mercado brasileiro de computadores pessoais. Sua fatia foi de 18,3% no terceiro trimestre de 2013, de acordo com dados da consultoria americana IDC. A Positivo Informática, que ficou no primeiro lugar do pódio durante oito anos consecutivos, está 4,4 pontos percentuais atrás – há um ano, os chineses detinham 7% e os brasileiros, 13%. 
 
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Foco na estratégia: Os diretores Duarte (à esq.) e De Biase confirmam
que a marca CCE será mantida no mercado
 
É um resultado que precisa ainda ser consolidado nos próximos trimestres. Basta lembrar que a própria HP roubou também a liderança da Positivo por um breve período em 2011, mas não conseguiu manter a dianteira. No entanto, a julgar pelo apetite dos chineses, a Lenovo, que deixou de ser uma desconhecida no mercado global quando comprou a divisão de PCs da IBM por US$ 1,7 bilhão em 2004, quer mais, muito mais. A companhia anuncia nos próximos dias um investimento de US$ 100 milhões na criação de seu quinto centro mundial de pesquisas, o primeiro a ser construído no Brasil. Não bastasse isso, a fabricante asiática vai trazer sua linha completa de produtos ao País. 
 
Batizada de PC Plus, a linha conta com computadores, smartphones, tablets e smartTVs. Com isso, a Lenovo reforça sua atuação no multibilionário mercado de celulares inteligentes e de tablets. “Não importa o tamanho da tela, queremos dar as melhores soluções para nossos consumidores aqui no Brasil”, disse Stone, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. Para o mercado, trata-se de um sinal claro de que a empresa, que faturou US$ 34 bilhões globalmente, no ano passado, quer ir além dos computadores tradicionais, cuja demanda sofre forte retração em todo o mundo. Em 2013, de acordo com previsões da consultoria americana Gartner, a venda de desktops e notebooks deve cair 11%. 
 
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No próximo ano, o cenário não será diferente, com uma queda de aproximadamente 7%. Em contraposição, tablets e celulares continuarão apresentando altas taxas de crescimento. O número de tablets vendidos, por exemplo, saltará de 120 milhões de unidades, em 2012, para 263 milhões em 2014, segundo estimativas da Gartner. Por isso mesmo, estar posicionada num cenário pós-PC, como costumam chamar os analistas, é essencial para o futuro da fabricante chinesa. “Erra quem acha que o alvo da Lenovo é a Positivo”, diz Ivair Rodrigues, diretor de pesquisas da consultoria brasileira IT Data. “Ela quer bater de frente com as coreanas (LG e Samsung) e o mercado brasileiro é parte dessa estratégia mundial.”
 
Faz sentido. Mas, ao contrário de exibir a tradicional paciência oriental, a Lenovo tem pressa. Seus próximos passos no mercado brasileiro mostram que quer ir muito além do mercado de PCs. A companhia confirma que escolheu Campinas, a 100 quilômetros de São Paulo, para construir um centro de desenvolvimento de soluções de software no Brasil. O País é o quarto a receber um centro de pesquisas – os outros três são Japão, EUA e, é claro, China. O brasileiro será o primeiro da Lenovo dedicado à unidade de negócios Enterprise, criada em 2012 e focada em servidores e rede. 
 
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Sangue, suor e liderança: o CEO global Yuanqing, em setembro
do ano passado, quando a Lenovo comprou a CCE
 
“Vamos aproveitar a fantástica mão de obra brasileira para exportar tecnologias para todo o mundo”, afirma Stone, na empresa há mais de cinco anos e à frente da subsidiária brasileira desde junho de 2012 – apesar de estar quase um ano e meio no Brasil, o executivo ainda tem dificuldade para falar português e prefere o inglês em suas entrevistas. Antes da Lenovo, Stone, 37 anos, atuou na consultoria americana McKinsey e teve uma rápida passagem pelo site de leilões eBay. O centro de pesquisas da Lenovo vai ser instalado no Parque Científico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 
 
Criado em 2011, a Lenovo contou com o apoio da Investe SP, órgão do governo do Estado que auxilia empresas interessadas em se instalar na região. “Fizemos a busca por um local adequado para a Lenovo, colocamos a empresa em contato com universidades, agências de fomento, parques tecnológicos, prefeituras e órgãos públicos e privados”, afirma Luciano Almeida, presidente da Investe SP. As operações do centro de desenvolvimento devem começar em janeiro de 2014. A Lenovo vai oferecer bolsas de estudo aos estudantes da universidade. “A parceria com a Lenovo dará à Unicamp a oportunidade de incrementar a formação de talentos”, afirma o professor José Tadeu Jorge, reitor da Unicamp. 
 
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A companhia estima criar 220 empregos quando o laboratório estiver totalmente implementado – não há um prazo definido para isso. Com esse investimento, a Lenovo demonstra querer acelerar o ritmo de crescimento no Brasil, que foi alavancado com a compra da CCE, da família do empresário Roberto Sverner, no ano passado. A aquisição da companhia brasileira passou a ser peça-chave na estratégia da empresa. “A CCE nos deu escala, capilaridade e manufatura local”, afirma Felipe Duarte, diretor de varejo da Lenovo, que exerceu anteriormente a mesma função nas concorrentes americanas HP e Dell. 
 
Com a marca brasileira, a Lenovo ganhou uma conexão direta com os consumidores da classe média emergente. E, ao contrário do que foi imaginado, os planos não são os de acabar com a marca. Ela se mantém separada e atua de forma independente. “Queremos reforçar o apelo da CCE com novo desenho do logo e outras estratégias”, afirma o diretor de operações, Richard Gurney. Ex-Avon, Gurney se acostumou a fazer mudanças bruscas de posicionamento de produtos a cada 15 dias na empresa de cosméticos americana. “Era uma operação de guerra renovar as campanhas nesse ritmo, um aprendizado enorme.” 
 
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Estrela global: o ator americano Ashton Kutcher promove o novo tablet
da Lenovo, que chega ao Brasil em fevereiro
 
Na Lenovo, ele promete agir com um ritmo mais moderado – afinal, tablet não é batom nem celular é desodorante. Em junho deste ano, saíram os primeiros smartphones e tablets da marca CCE. “A linha de tablets hoje nos dá 19% de participação de mercado”, diz o diretor de marketing da companhia, Humberto De Biase, que era executivo da LG. “Segundo a IDC, estamos tecnicamente empatados com a Samsung, algumas poucas unidades abaixo.” A IDC não confirmou nem negou a informação. A empresa de Stone também investiu US$ 30 milhões na criação de uma fábrica e de um centro de distribuição em Itu, no interior de São Paulo, inaugurados em janeiro deste ano. 
 
Em agosto, um centro de reparos e atendimento pós-venda de quatro mil metros quadrados começou a operar. Não à toa, a empresa estreou uma nova campanha publicitária na tevê aberta enfatizando a visita de seus técnicos a uma residência – no filme, a dona de casa diz não ter problemas com o computador da marca e sugere ao funcionário dar uma olhada na máquina de lavar. Para completar, a empresa injetou US$ 6 milhões nas sete fábricas do polo industrial de Manaus, herdadas da CCE. Desse investimento, surgiu o projeto de produção de lâmpadas LED. “Esse item é feito de pura eletrônica, saímos do modelo tradicional de iluminação”, diz Vanderlei Ferreira, gerente-geral de lâmpadas LED da Lenovo, recrutado na rival Motorola.
 
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Mão na massa: funcionária na nova fábrica de Itu (SP), inaugurada em janeiro deste ano
 
Para o ano que vem, Stone promete pisar ainda mais o pé no acelerador. A companhia vai passar a fabricar no Brasil os tablets de ponta da marca Lenovo. Os produtos, que devem se beneficiar das isenções fiscais da chamada MP do Bem, devem chegar às prateleiras a partir de fevereiro. Entre eles, estará o recém-lançado Yoga. A apresentação mundial do produto foi feita há algumas semanas pelo ator americano Ashton Kutcher, que recentemente interpretou o fundador da Apple, Steve Jobs, no filme Jobs. “Gosto de competir e de tomar riscos”, disse Kutcher, enquanto justificava seu envolvimento com a empresa chinesa. 
 
O ator, conhecido investidor em companhias da área digital, ainda enfatizou o design diferente do aparelho em relação à maioria dos tablets. Assim como alguns equipamentos da japonesa Sony, o Yoga tem um lado mais espesso em relação ao outro, para fazer com que o aparelho não fique completamente deitado e seja mais ergonômico. Outra vantagem que a Lenovo destaca é a duração da bateria, de 18 horas – a bateria do iPad, da Apple, tem durabilidade de 10 horas. Serão lançadas versões Android e Windows do aparelho. Smartphones da marca com o sistema Android, do Google, devem vir alguns meses depois. 
 
A empresa oferece na China quatro linhas de celulares inteligentes com telas que vão de 4 a 5,5 polegadas. Para ganhar força nesse mercado, a Lenovo terá de sentar à mesa com as operadoras de telefonia. “Praticamente metade das vendas de smartphones é feita pelas empresas de telecomunicações no País”, afirma Bruno Freitas, supervisor de pesquisas da consultoria IDC. Acha muito? Nada disso. “Temos ótimas soluções de smartTVs”, afirma Stone. O plano é operar nesse segmento em 2015, mas não será surpresa se Stone, como já fez ao conquistar a liderança do mercado de computadores pessoais, conseguir antecipar essa meta.
 
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E agora, Positivo?
 
A paranaense Positivo Informática credenciou-se nos últimos tempos como a mais difícil barreira aos planos de qualquer empresa que tente conquistar uma fatia relevante do setor de tecnologia no Brasil. Afinal, a companhia de Curitiba manteve-se por oito anos consecutivos na liderança do mercado brasileiro de computadores. Apenas por um único trimestre em 2011, perdeu a liderança para a HP. Fato que volta a ocorrer agora. Desta vez, para a chinesa Lenovo. “Temos um concorrente multinacional querendo ganhar participação de mercado a qualquer preço”, disse Hélio Rotenberg, presidente da companhia, em teleconferência com os analistas do mercado financeiro, na terça-feira 12, após o anúncio dos resultados trimestrais. 
 
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Para ele, a posição da concorrente, que não cita nominalmente, pode ser “temporária”. Apesar do discurso, a Positivo não vive os seus melhores dias. No terceiro trimestre, registrou um prejuízo de R$ 18,9 milhões. No mesmo período do ano passado, havia obtido um lucro de R$ 7,5 milhões. Nos nove primeiros meses deste ano, as perdas somaram R$ 15,4 milhões, ante um ganho de R$ 20,8 milhões de janeiro a setembro de 2012. O mau desempenho foi atribuído por Rotenberg à valorização do dólar, o que fez com que a companhia repassasse o aumento de custos aos consumidores. 
 
“Teríamos um excelente trimestre se não fosse pelo câmbio”, afirmou o executivo. “Sempre protegemos a saúde financeira da companhia e não poderíamos acompanhar o concorrente sem aumentar os preços.” Para o quarto trimestre deste ano, Rotenberg prevê uma melhora, inclusive no recém-estreado segmento de smartphones. “Estamos adquirindo volume e uma grande aceitação”, diz Rotenberg. Ele também aposta em um aumento na participação no segmento de computadores. Apesar do otimismo, o mercado reagiu mal às notícias. As ações da Positivo caíram mais de 6% na terça-feira 12.
 

Fleury confirma que está à procura de um comprador


Informação foi antecipada pela revista EXAME; grupo contratou o JPMorgan para tocar a operação


Fleury laboratório da avenida Sumaré, em São Paulo: companhia confirma que está à procura de um comprador

São Paulo – O Grupo Fleury, uma das maiores empresas de medicina diagnóstica do Brasil, contratou o banco de investimento americano JPMorgan para procurar um comprador. A informação foi antecipada pela revista EXAME, edição 1052, e confirmada por meio de fato relevante, nesta quinta-feira.

Segundo o comunicado, a Core Participações, acionista controlador do grupo – em sua grande maioria médicos -, acertou com o J.P.Morgan para rever as estratégias relacionadas à participação na empresa, incluindo a possibilidade de ingresso de novos investidores.

De acordo com a reportagem da revista EXAME, o processo é restrito a um pequeno grupo, sobretudo a grandes fundos de private equity.


Má fase


O Grupo Fleury viu seu lucro despencar no terceiro trimestre para 18,3 milhões de reais, ante 26,1 milhões de reais em 2012. No acumulado do ano, o lucro registrou queda de 31,3%, a 61,9 milhões de reais.

Nos últimos meses, a empresa vem tentando conter os impactos negativos deste ano. Entre as medidas tomadas pela companhia estão a descontinuidade das áreas de gestão de doenças crônicas e promoção de saúde, o encerramento de 15 unidades de atendimento bandeira a +, que não apresentavam rentabilidade, e maior concentração de esforços em centros de negócios com maior retorno financeiro, como a marca Fleury, por exemplo.


Atualmente, o grupo conta com 174 unidades laboratoriais, sendo que duas foram abertas no mesmo período em que as unidades a+ medicina diagnóstico foram fechadas.