sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Ford quer ser popular


Montadora americana quer fazer do Brasil sua terceira maior operação no mundo. Para isso, aposta no renovado Ka, um modelo global que vai competir com os líderes de mercado Gol e Palio

Por Ana Paula MACHADO, de Camaçari (BA)
Na quarta-feira 13, William Clay “Bill” Ford Jr., presidente do conselho mundial de administração da Ford, esteve pela segunda vez no Brasil. Em sua primeira visita, em 1997, um ano antes de sua escolha para o posto atual, o executivo, então com 40 anos de idade, veio anunciar o lançamento do Ford Ka, modelo compacto que prometia ser o carro mais popular da montadora americana e um campeão de vendas por aqui. Prometia: a verdade é que, desde então, o mercado brasileiro mudou muito, com a entrada de dezenas de competidores estrangeiros, e o carrinho esteve longe de apresentar a performance desejada.
 
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Bill Ford, presidente do conselho de administração: "Meu bisavô
sempre achou que o automóvel deveria ser acessível à classe média "
 
Persistente, aos 56 anos, o bisneto do fundador da companhia, o legendário Henry Ford, retorna para anunciar aos brasileiros uma versão renovada do Ka, com a qual garante que, desta vez, o modelo, agora mais espaçoso, vai cumprir seu plano original de se tornar um queridinho dos consumidores. “Meu bisavô sempre achou que o automóvel deveria ser acessível à classe média e criou o Ford T”, afirmou, durante evento realizado na fábrica da empresa em Camaçari, na Bahia. “Continuamos com essa mentalidade, mas a tecnologia também será vista nos nossos modelos mais baratos.” 
 
O lançamento, no entanto, é apenas a parte mais visível de uma estratégia que provocou mudanças profundas na estrutura da Ford e colocou o Brasil no centro das atenções de sua direção. Desde o o início deste mês, a América do Sul ganhou status de região estratégica para a Ford, terceira maior fabricante de automóveis do mundo, atrás da japonesa Toyota e da também americana GM. O Brasil representa 80% das vendas no continente. O inglês Steven Armstrong, que até outubro ocupava o posto de presidente das operações brasileiras, passou a responder por toda a região. O executivo ainda ganhou um assento no conselho de administração da Ford. 
 
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Produção ampliada: a fábrica da montadora em Camaçari, na Bahia,
vai receber investimentos de R$ 2,8 bilhões até 2015
 
Nesse cargo, sua função é definir, juntamente com representantes da América do Norte, da Ásia e da Europa, o rumo e os projetos a serem desenvolvidos pela companhia. “Mesmo com um mercado em estabilidade, há um grande potencial para ser explorado no País”, afirmou Armstrong. Sua meta é fazer do Brasil uma das três maiores operações da Ford. Hoje, o País está atrás dos Estados Unidos, da China e do Reino Unido. Para atender o desafio, Armstrong precisa colocar o Ka entre os líderes de vendas. O que não será fácil, diga-se. Em outubro, o modelo ocupava a 28ª posição no ranking da categoria de carros populares, liderada pelo Gol, da Volkswagen. 
 
No entanto, da mesma forma que seus superiores, como Bill Ford, Armstrong acredita piamente que o novo Ka pode ser um divisor de águas para a companhia. Quando foi lançado, o pequeno veículo prometia competir com os líderes do mercado nacional. Em vão. Com um design jovem e proporções reduzidas, ele se tornou um modelo de nicho e nunca chegou a figurar como a primeira opção de compra das famílias brasileiras. A nova versão passa a contar com quatro portas e maior espaço interno. “Tenho três cachorros, agora eles cabem dentro do carro”, disse Armstrong. A expectativa é de que, como novo design, o veículo passe a ser um dos mais desejados pelos brasileiros, inclusive pelos que não têm cachorros em casa. 
 
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Sonho de consumo: Bill Ford (à dir.) e Steven Armstrong apresentam o novo Ka.
O carro ganhou espaço interno maior e um novo design
 
O carro, porém, não vai concorrer diretamente com os mais baratos do mercado. Ele deve enfrentar o HB20, da Hyundai, que custa a partir de R$ 30 mil e já é o sexto automóvel mais vendido do País. “Não vai ser um modelo de grande volume”, diz Francisco Satkunas, consultor automotivo e ex-executivo da GM. “O preço deve ser mais alto para controlar as vendas de acordo com a capacidade de produção.” O modelo chega às concessionárias até meados de 2014. A versão atual do Ka deve sair de linha, assim como o Fiesta Rocan, que está com os dias contatos. Além do Brasil, o Ka tem a missão de ganhar o mundo e se tornar mais um produto global da companhia, a exemplo do utilitário esportivo EcoSport. 
 
Ele coloca a Ford em uma posição estratégica para atender a crescente demanda mundial por veículos compactos, segmento que deverá crescer para cerca de 6,2 milhões de veículos até 2017. Com uma previsão de crescimento de 35% no período de 2012 a 2017, esse segmento deve superar em 12 pontos percentuais a taxa de crescimento da indústria mundial, impulsionado principalmente pelo aumento da demanda dos consumidores urbanos dos países em desenvolvimento. Foram os engenheiros brasileiros do centro de desenvolvimento da Ford em Camaçari, na Bahia, que lideraram o projeto do novo Ka. 
 
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Estratégia global: Steven Armstrong, que até outubro comandava a Ford
no Brasil, assumiu a presidência da empresa na América do Sul 
 
O Brasil, aliás, passará a participar mais do processo de criação dos novos modelos da montadora. Isso já havia acontecido com o EcoSport, hoje vendido em mais de 100 países, que foi totalmente desenhado e colocado de pé no centro baiano. Os dois projetos fazem parte do plano de investimentos da montadora no País, orçado em R$ 4,5 bilhões. Somente a fábrica de Camaçari vai receber R$ 2,8 bilhões até 2015. O Ka, provavelmente, é o último carro dessa leva de investimentos. “Desenvolver uma plataforma global é mais difícil, e a engenharia local está apta para isso”, diz Bill Ford. “Não há porque não usarmos essa força de trabalho.” 
 
Pelos planos da Ford, em dois anos, 85% dos veículos de sua marca comercializados no mundo serão produzidos a partir de plataformas globais. A meta é vender 8 milhões nesse período, o que corresponde a um crescimento de 50% em relação ao ano passado. “O Brasil é uma parte importante desse crescimento”, afirma Ford. A questão é que a Ford não está conseguindo aumentar sua fatia de mercado no País, patinando há mais de duas décadas no quarto lugar. A distância entre ela e a GM, terceira maior montadora do mercado brasileiro, atrás de Volkswagen e da líder Fiat, está cada vez maior. 
 
Ao mesmo tempo, a distância para a francesa Renault, quinta maior montadora do País, está encurtando, apesar de uma ligeira recuperação da Ford no período janeiro-setembro deste ano. Segundo a Federação Nacional dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenabrave), a montadora de Detroit obteve 9,38% de participação, a GM 18,20% e a Renault 6,43%. Para complicar, a vendas anuais de veículos no mercado nacional também já não apresentam taxas de dois dígitos de crescimento, como no passado, e devem ficar estáveis ou com leve aumento de 2% neste ano, chegando a 3,9 milhões de unidades. “Nossa estratégia é oferecer carros cada vez mais tecnológicos”, diz Armstrong. “É isso que vai nos garantir o crescimento desejado.” 
 
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