Como um avião retido na operação Pouso Forçado, que desvendou um suposto esquema de importação de aeronaves por empresários e banqueiros, foi leiloado e arrematado por R$ 1,2 milhão. Mas, no final, voltou para as mãos de seu antigo dono
Por Ralphe MANZONI Jr.
No dia 6 de novembro, o jatinho Raytheon Beechjet 400A,
prefixo N48PL, deixou o aeroporto de Jundiaí, no interior de São Paulo,
onde estava retido desde junho do ano passado. Eram 23h30 quando bateu
asas e literalmente voou para a liberdade. A aeronave era propriedade de
Milton Cardoso, ex-presidente da fabricante paulista de calçados
Vulcabras, e havia sido apreendida na operação Pouso Forçado, realizada
pela Receita Federal, Polícia Federal e Ministério Público Federal, em
junho do ano passado. Na ocasião, 12 aviões foram apreendidos. Seus
proprietários são acusados de não pagar os impostos da compra (entenda o
caso no quadro ao final da reportagem).
Essa é mais uma incrível história que envolve o rumoroso caso dos
jatinhos apreendidos pela operação Pouso Forçado, deflagrada em São
Paulo e no Rio de Janeiro. O avião que voltou às mãos de seu antigo
proprietário havia sido arrematado em 24 de setembro deste ano por um
empresário de Campinas, por R$ 1, 2 milhão. O leilão só foi possível
porque, em fevereiro deste ano, a 9ª Vara Federal da Subseção Judiciária
de Campinas determinou o “perdimento”, ou confisco da aeronave,
transferindo-a para a União. Em junho, uma nova decisão determinava a
venda antecipada do avião apreendido. O escritório Freire, Assis,
Sakamoto & Violante Advogados, que representa Cardoso, tentou
impedir a venda, mas, na ocasião, não conseguiu.
O caso sofreu uma reviravolta em 16 de outubro. Naquele dia, uma
liminar concedida pelo desembargador federal Toru Yamamoto, da 9a Vara
de Campinas, suspendeu o leilão e devolveu o jato para Cardoso, mediante
depósito em juízo do mesmo valor pelo qual ele foi arrematado.
Dez dias depois, ele ratificou sua decisão. “Determino o cancelamento
da alienação antecipada realizada nos autos principais e,
consequentemente, do auto de arrematação”, escreveu Yamamoto, em decisão
para o mandado de segurança impetrado pelos advogados de Cardoso, à
qual DINHEIRO teve acesso. “Tendo em vista que a aeronave ingressou no
Brasil por meio do Termo de Entrada e Admissão Temporária, autorizo o
retorno da aeronave ao país de origem.”
Milton Cardoso: executivo que dirigiu a Vulcabras conseguiu
de volta seu jato apreendido na operação Pouso Forçado
No jargão jurídico, o ex-presidente da Vulcabras se tornou o fiel
depositário da aeronave. Isso significa que Cardoso poderá usar seu
jatinho até que os processos administrativo e penal que há contra a ele
sejam concluídos. De acordo com advogados consultados por DINHEIRO, que
não querem se identificar, se for punido, Cardoso terá de devolver o
avião. Nesse caso, o Raytheon Beechjet 400A voltará a ser leiloado. Se,
nesse período, a aeronave sofrer algum dano, o depósito judicial é a
garantia de que o Estado não será lesado. Caso vença as ações, o
dinheiro será devolvido a Cardoso, que manterá a posse do avião.
Esse não é o único caso de jatinho apreendido na operação Pouso
Forçado que é resgatado por seu dono. A aeronave Gulfstream 550, prefixo
N332MM, dos EUA, foi devolvida para o empresário do setor imobiliário
Paulo Malzoni, mediante fiança bancária de R$ 86,1 milhões, equivalente
ao exato valor do equipamento. A decisão foi da juíza federal Edna
Márcia Silva Medeiros Ramos, da Justiça Federal do Distrito Federal, em
26 de setembro deste ano. Malzoni, assim como Cardoso, foi nomeado o
fiel depositário do bem. Ao contrário do avião do ex-presidente da
Vulcabras, o luxuoso jato de Malzoni não havia sido leiloado. A decisão
do desembargador federal Yamamoto deixou em alerta máximo a Receita
Federal. Explica-se.
No dia 25 de novembro, dois jatos apreendidos na operação Pouso
Forçado, que estão retidos no aeroporto de Viracopos, em Campinas, serão
leiloados. O primeiro deles é o modelo Challenger 300, da Bombardier. O
lance mínimo para os interessados em comprá-lo é de R$ 28 milhões. O
modelo Falcon 900 Dassault, com lance mínimo de R$ 11 milhões, também
será vendido. “Temos certeza que não há impedimento para a venda”, diz
uma fonte da Receita Federal. A advogada Rafaela Oliveira de Assis, do
escritório Freire, Assis, Sakamoto & Violante Advogados, foi
procurada diversas vezes na semana passada, mas não retornou as ligações
até o fechamento desta edição.
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