Desde 2011 a economia brasileira tem apresentado resultados fracos. E não há nenhuma perspectiva de melhora para o próximo anoPor Laura D'Angelo
Bem
que o título desta matéria poderia estar de acordo com o clima de
celebração cantado por Moraes Moreira na sua composição “Lá vem o Brasil
descendo a ladeira”. Mas, infelizmente, a relação feita aqui
está relacionada à trajetória descendente que a economia brasileira vem
traçando desde 2011 e que, na visão dos economistas palestrantes do 15º
Seminário Econômico, promovido pela Fundação CEEE de Seguridade Social,
deve continuar no próximo ano.
“Não
vejo nenhuma perspectivas de melhora a curto prazo”, sentencia o
economista Eduardo Giannetti, autor de O Valor do Amanhã. O crescimento
do Brasil está abaixo da média mundial e dos países, que como ele, estão
em desenvolvimento. “A Rússia está patinando, a Índia está com sérios
problemas, mas ninguém está pior do que o Brasil”, dispara Reinaldo
Gonçalves, professor de economia internacional da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Enquanto as nações emergentes projetam
crescimentos em torno de 6% para o próximo ano, o PIB brasileiro não
deve ultrapassar o 2,5%.
Na opinião dos especialistas, o país
paga hoje – e vai continuar pagando em 2014 - o preço pelas escolhas
feitas no passado. Segundo Gonçalves, o governo fez apostas em setores
errados e focou investimentos em apenas um segmento da economia. “Nós
pegamos a fronteira de possibilidade de produção e jogamos para o setor
primário exportador”, explica. Assim, a economia brasileira fica
vulnerável a qualquer desvalorização dos insumos nos quais o país,
durante estes anos, apostou todas as suas fichas.
Giannetti
acrescenta ainda o descompasso na relação entre o que o governo arrecada
com tributos e o que retorna à sociedade em investimentos. A carga
tributária chega a 36% do PIB, índice considerado muita acima do
considerado razoável para os países de renda média, no máximo 25%. “No
Brasil, 40% da renda nacional transita pelo setor público e a capacidade
de investimento do estado na média, nos últimos quatro anos, foi de
2,4% do PIB”, afirma Giannetti. O excesso de impostos tem causado a
perda de competitividade das empresas nacionais no mercado mundial –
cenário que deve se agravar no próximo ano. O resultado do pouco
investimento é visível também nos problemas de infraestrutura que tem
restringido o crescimento da produção. O tema chegou tardiamente na
pauta de realizações do governo. Os modelos de concessões que estão
sendo realizados, no entanto, são poucos atrativos para o capital
privado, na avaliação de Giannetti. De acordo com o economista, as ações
intervencionistas demonstradas nos primeiros planos de concessões
geraram desconfiança e incertezas nos investidores, o que compromete o
sucesso do modelo.
Influência externaA
iminente mudança na política monetária dos Estados Unidos, com o fim dos
incentivos do Federal Reserve (FED) que compra títulos da dívida do
governo e investe em outros países, e a recuperação das economias
desenvolvidas são dois fatores que também podem trazer dor de cabeça ao
Brasil em 2014. O país tem déficit em conta corrente que se aproxima a
4% do PIB, o que o coloca numa situação de dependência do financiamento
externo. As alterações no cenário internacional vão impactar não só nas
finanças, mas também no câmbio. A recuperação do dólar deve valorizar a
moeda e pressionar ainda mais a inflação brasileira.
A situação
para o próximo ano se torna ainda mais preocupante por se tratar de
período eleitoral quando as ações do governo ficam limitadas e qualquer
atitude impopular, mesmo que necessária, acaba por ser adiada. O cenário
nebuloso, segundo Giannetti, “paira no horizonte”. “Quem quer que vença
as eleições herdará uma situação muito difícil e amargará um primeiro
ano de governo de reajustes que serão necessários para que a economia
recupere um horizonte de crescimento sustentável acima de 2%”, prevê.