O Brasil enfrenta, neste momento, grandes limitações orçamentárias.
De modo a apoiar a agenda de política social, o país necessita investir
em aumento de produtividade e crescimento por meio da inovação.
A avaliação foi feita por Elisabeth Reynolds,
diretora executiva do Industrial Performance Center (IPC) – um
instituto de pesquisa vinculado ao Massachusetts Institute of Technology
(MIT), nos Estados Unidos –, durante um workshop realizado no fim de
janeiro, na FAPESP.
Intitulado “Innovating in Brazil” (Inovando no Brasil), o evento
reuniu pesquisadores norte-americanos e brasileiros, além de
representantes do governo e da indústria, com o objetivo de debater qual
deve ser a agenda de inovação para o Brasil avançar.
A discussão teve como base 14 artigos elaborados por cientistas do
MIT e por seus alunos de pós-graduação – muitos deles brasileiros –,
além de colaboradores de instituições como Banco Mundial, Universidade
de São Paulo (USP), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Financiadora
de Estudos e Projetos (Finep), Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), Inter.B Consultoria Internacional de
Negócios e Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI).
Os trabalhos – ainda não publicados – traçam um panorama das
instituições, políticas e programas que dão forma ao sistema de inovação
do Brasil. Discutem o que falta às universidades brasileiras para que
possam atuar efetivamente como motores da inovação no país. Destacam a
necessidade de abrir a economia brasileira, altamente protegida, para o
mercado globalizado.
Os trabalhos tratam também dos chamados “intermediários da inovação” –
como os centros de engenharia da Empresa Brasileira de Pesquisa e
Inovação Industrial (Embrapii) e da FAPESP, além dos Institutos Senai de
Inovação (ISI) – que, segundo os autores, “se esforçam para preencher
lacunas importantes no ecossistema de inovação”. Como formas
organizacionais mais simples e menos burocráticas, avaliam os
pesquisadores, esses intermediários encorajam grandes projetos aplicados
de pesquisa e desenvolvimento em empresas, além de colaborações mais
produtivas com as universidades.
Segundo Reynolds, o objetivo do workshop foi debater os temas
tratados nos artigos com membros da academia, do governo e da indústria
antes de tornar os trabalhos acessíveis ao grande público. A expectativa
é que a versão final seja divulgada ainda em 2018 – a tempo de
influenciar o debate sobre inovação durante as eleições presidenciais.
Em entrevista concedida à Agência FAPESP, a diretora
executiva do IPC destacou a necessidade de um planejamento de longo
prazo na área de ciência, tecnologia e inovação, descolado das urgências
políticas do dia a dia. Leia, a seguir, os principais trechos da
conversa.
Agência FAPESP – Poderia explicar o escopo do IPC e por que o centro tem interesse no tema da inovação no Brasil?
Elisabeth Reynolds – O instituto foi fundado no início da década de 1990. Na época, o Japão dominava o mercado automotivo e havia uma grande preocupação em relação à produtividade e à competitividade da indústria norte-americana. O MIT conduziu então um grande estudo sobre o tema nomeado "Made in America", que se tornou bastante popular. O trabalho deixou claro que precisávamos de um centro de investigação que não fosse focado em apenas um tipo de indústria, ou em uma questão específica como produtividade, mas olhasse para todas as empresas e a indústria no contexto da economia globalizada. Esse tem sido o trabalho do IPC nos últimos 25 anos: entender como nossas empresas e a indústria podem se desenvolver, inovar e aumentar sua competitividade no contexto da economia globalizada. Nossa pesquisa pode estar focada em uma indústria ou em um país específico. Já desenvolvemos trabalhos na Europa, na Ásia e no México. O Brasil é uma economia emergente e é muito interessante para nós entender qual deve ser a agenda de inovação e o que precisa ser feito para que o país realmente avance.
Elisabeth Reynolds – O instituto foi fundado no início da década de 1990. Na época, o Japão dominava o mercado automotivo e havia uma grande preocupação em relação à produtividade e à competitividade da indústria norte-americana. O MIT conduziu então um grande estudo sobre o tema nomeado "Made in America", que se tornou bastante popular. O trabalho deixou claro que precisávamos de um centro de investigação que não fosse focado em apenas um tipo de indústria, ou em uma questão específica como produtividade, mas olhasse para todas as empresas e a indústria no contexto da economia globalizada. Esse tem sido o trabalho do IPC nos últimos 25 anos: entender como nossas empresas e a indústria podem se desenvolver, inovar e aumentar sua competitividade no contexto da economia globalizada. Nossa pesquisa pode estar focada em uma indústria ou em um país específico. Já desenvolvemos trabalhos na Europa, na Ásia e no México. O Brasil é uma economia emergente e é muito interessante para nós entender qual deve ser a agenda de inovação e o que precisa ser feito para que o país realmente avance.
Agência FAPESP – Quando começaram as pesquisas no Brasil e quantos cientistas estão envolvidos?
Reynolds – Temos trabalhado no Brasil há muitos anos, em parceria com pesquisadores de campo interessados em construir capacidade de inovação no país. Nosso time no IPC é formado por cinco ou seis pesquisadores sêniores e, além disso, contamos com cerca de oito estudantes – a maioria é brasileira. Temos nos beneficiado dessa proximidade com os estudantes, pois eles moram nos Estados Unidos, mas conhecem o contexto brasileiro muito bem. Fomos trazidos ao Brasil pela primeira vez em um projeto patrocinado pelo Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial], que tinha o objetivo de introduzir mais inovação em sua agenda. Nossa missão era estudar não apenas os 25 institutos de inovação mantidos pelo Senai em diversos estados, como também avaliar o contexto mais amplo para a inovação no país. Após anos de investigação, decidimos reunir os pesquisadores do IPC e nossos parceiros brasileiros, além de outros acadêmicos e líderes de empresas, para iniciar uma conversa sobre qual seria a agenda de inovação necessária para o Brasil. O resultado foi debatido no workshop realizado na FAPESP.
Reynolds – Temos trabalhado no Brasil há muitos anos, em parceria com pesquisadores de campo interessados em construir capacidade de inovação no país. Nosso time no IPC é formado por cinco ou seis pesquisadores sêniores e, além disso, contamos com cerca de oito estudantes – a maioria é brasileira. Temos nos beneficiado dessa proximidade com os estudantes, pois eles moram nos Estados Unidos, mas conhecem o contexto brasileiro muito bem. Fomos trazidos ao Brasil pela primeira vez em um projeto patrocinado pelo Senai [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial], que tinha o objetivo de introduzir mais inovação em sua agenda. Nossa missão era estudar não apenas os 25 institutos de inovação mantidos pelo Senai em diversos estados, como também avaliar o contexto mais amplo para a inovação no país. Após anos de investigação, decidimos reunir os pesquisadores do IPC e nossos parceiros brasileiros, além de outros acadêmicos e líderes de empresas, para iniciar uma conversa sobre qual seria a agenda de inovação necessária para o Brasil. O resultado foi debatido no workshop realizado na FAPESP.
Agência FAPESP – Qual era a proposta do workshop?
Reynolds – Discutimos o conteúdo de 14 artigos ainda não publicados – metade escrita por pesquisadores do MIT e metade por nossos colegas brasileiros. Convidamos também cerca de 10 debatedores envolvidos com a indústria, com o governo ou com a academia. Os artigos cobrem temas-chave, que consideramos importantes para a agenda de inovação brasileira. Entre eles está o contexto político-econômico da inovação, o papel das universidades e das instituições. Nós observamos muita inovação institucional no Brasil – novas instituições sendo formadas, que são organizações voltadas a promover pesquisa translacional com potencial impacto em empresas e na economia. Também buscamos entender a competitividade das empresas e da indústria brasileira. Trata-se de uma economia altamente fechada e protegida. Uma das discussões relevantes foi sobre como criar políticas públicas que ajudem a abrir a sociedade para a economia global.
Reynolds – Discutimos o conteúdo de 14 artigos ainda não publicados – metade escrita por pesquisadores do MIT e metade por nossos colegas brasileiros. Convidamos também cerca de 10 debatedores envolvidos com a indústria, com o governo ou com a academia. Os artigos cobrem temas-chave, que consideramos importantes para a agenda de inovação brasileira. Entre eles está o contexto político-econômico da inovação, o papel das universidades e das instituições. Nós observamos muita inovação institucional no Brasil – novas instituições sendo formadas, que são organizações voltadas a promover pesquisa translacional com potencial impacto em empresas e na economia. Também buscamos entender a competitividade das empresas e da indústria brasileira. Trata-se de uma economia altamente fechada e protegida. Uma das discussões relevantes foi sobre como criar políticas públicas que ajudem a abrir a sociedade para a economia global.
Agência FAPESP – Há previsão de quando e onde esses artigos serão publicados?
Reynolds – Esperamos que seja ainda este ano, antes das eleições. Nossa expectativa é que o resultado das pesquisas auxilie o debate sobre o tema durante as eleições. Não estamos interessados em publicar artigos em jornais acadêmicos altamente especializados e sofisticados, pois poucos têm acesso a esses meios. Gostaríamos de ver este trabalho publicado em jornais e também reunir os artigos em um livro acessível ao público geral. Também esperamos comunicar os resultados em diversos locais, para pessoas interessadas em fazer com que essa agenda avance, sejam elas ligadas ao governo ou a organizações relacionadas à indústria.
Reynolds – Esperamos que seja ainda este ano, antes das eleições. Nossa expectativa é que o resultado das pesquisas auxilie o debate sobre o tema durante as eleições. Não estamos interessados em publicar artigos em jornais acadêmicos altamente especializados e sofisticados, pois poucos têm acesso a esses meios. Gostaríamos de ver este trabalho publicado em jornais e também reunir os artigos em um livro acessível ao público geral. Também esperamos comunicar os resultados em diversos locais, para pessoas interessadas em fazer com que essa agenda avance, sejam elas ligadas ao governo ou a organizações relacionadas à indústria.
Agência FAPESP – Com base nos artigos em discussão, quais seriam os principais pontos da agenda de inovação brasileira?
Reynolds – Podemos destacar três fatores. O primeiro é a necessidade de abrir a economia brasileira para a economia global – algo importante para aumentar a competitividade e a inovação. Isso trará verdadeiros benefícios para o país, não apenas para as empresas como também para trabalhadores de baixa renda. Em segundo lugar eu destacaria a necessidade de reformas institucionais. Uma das principais discussões do workshop foi o que precisa acontecer para o governo se tornar um parceiro completo do setor privado. E como obter uma melhor coordenação no sistema fragmentado de inovação do Brasil. O terceiro ponto é a criação de uma mentalidade [mindset] no país que permita ver a agenda de inovação e a agenda da ciência e da tecnologia como algo fundamental para sustentar as políticas sociais e a rede de segurança social do Brasil. O país enfrenta grandes limitações orçamentárias atualmente. De modo a apoiar a agenda de política social, o país deve investir em aumento da produtividade e no crescimento por meio da inovação. Sacrificar a agenda de inovação em nome de uma agenda social seria destruir o motor que mantém as políticas sociais do país em funcionamento. Temos que encontrar uma maneira de construir um consenso, criar uma abordagem sistêmica para apoiar a agenda de inovação, de modo que seja vista como parte importante do avanço da economia brasileira. O Brasil começou a ver algum crescimento econômico e esse mindset tem de ser encorajado neste momento. Caso contrário, há um grande risco de o motor ser destruído, comprometendo o avanço das políticas sociais no país.
Reynolds – Podemos destacar três fatores. O primeiro é a necessidade de abrir a economia brasileira para a economia global – algo importante para aumentar a competitividade e a inovação. Isso trará verdadeiros benefícios para o país, não apenas para as empresas como também para trabalhadores de baixa renda. Em segundo lugar eu destacaria a necessidade de reformas institucionais. Uma das principais discussões do workshop foi o que precisa acontecer para o governo se tornar um parceiro completo do setor privado. E como obter uma melhor coordenação no sistema fragmentado de inovação do Brasil. O terceiro ponto é a criação de uma mentalidade [mindset] no país que permita ver a agenda de inovação e a agenda da ciência e da tecnologia como algo fundamental para sustentar as políticas sociais e a rede de segurança social do Brasil. O país enfrenta grandes limitações orçamentárias atualmente. De modo a apoiar a agenda de política social, o país deve investir em aumento da produtividade e no crescimento por meio da inovação. Sacrificar a agenda de inovação em nome de uma agenda social seria destruir o motor que mantém as políticas sociais do país em funcionamento. Temos que encontrar uma maneira de construir um consenso, criar uma abordagem sistêmica para apoiar a agenda de inovação, de modo que seja vista como parte importante do avanço da economia brasileira. O Brasil começou a ver algum crescimento econômico e esse mindset tem de ser encorajado neste momento. Caso contrário, há um grande risco de o motor ser destruído, comprometendo o avanço das políticas sociais no país.
Agência FAPESP – Um obstáculo ao avanço
da inovação apontado por vários dos participantes do workshop é a falta
de governança e de planejamento de longo prazo no país. Como superar
esse problema em um cenário político tão instável como o atual?
Reynolds – É um fato da democracia as políticas públicas estarem sujeitas a experiências políticas. Temos esse problema nos Estados Unidos também. Políticos querem ser reeleitos e isso significa apoiar políticas que, no curto prazo, agradem seus eleitores. O que temos visto em outros países é a construção de instituições capazes de ficar a um passo de distância do processo político. Um serviço público bem estruturado, por exemplo, que não se mova com a mudança do vento a cada governo político. Instituições que se sobressaem a qualquer indivíduo, um ministério que trabalha com planejamento de longo prazo, investimentos direcionados para um determinado projeto de longo prazo. Nos Estados Unidos vemos isso com frequência no Departamento de Defesa, onde há um plano de longo prazo independente do que acontece na política. No passado, o Brasil já fez isso. Foi o caso da Embraer no setor aeroespacial. Também há exemplos no setor agrícola e de biocombustíveis – este último infelizmente não é mais assim. É um grande desafio para o Brasil. O primeiro passo é criar um contexto institucional que permita e incentive um planejamento de longo prazo separado das urgências políticas do dia a dia. Penso que esse é o tipo de reforma institucional que o país deveria estar buscando – pelo menos no que se refere à agenda de inovação (Agência Fapesp, 22/2/18)
Reynolds – É um fato da democracia as políticas públicas estarem sujeitas a experiências políticas. Temos esse problema nos Estados Unidos também. Políticos querem ser reeleitos e isso significa apoiar políticas que, no curto prazo, agradem seus eleitores. O que temos visto em outros países é a construção de instituições capazes de ficar a um passo de distância do processo político. Um serviço público bem estruturado, por exemplo, que não se mova com a mudança do vento a cada governo político. Instituições que se sobressaem a qualquer indivíduo, um ministério que trabalha com planejamento de longo prazo, investimentos direcionados para um determinado projeto de longo prazo. Nos Estados Unidos vemos isso com frequência no Departamento de Defesa, onde há um plano de longo prazo independente do que acontece na política. No passado, o Brasil já fez isso. Foi o caso da Embraer no setor aeroespacial. Também há exemplos no setor agrícola e de biocombustíveis – este último infelizmente não é mais assim. É um grande desafio para o Brasil. O primeiro passo é criar um contexto institucional que permita e incentive um planejamento de longo prazo separado das urgências políticas do dia a dia. Penso que esse é o tipo de reforma institucional que o país deveria estar buscando – pelo menos no que se refere à agenda de inovação (Agência Fapesp, 22/2/18)
'The Washington Post' é eleita 8ª empresa mais inovadora do mundo
Legenda: O fundador da Amazon, Jeff Bezos, que comprou o jornal americano "The Washington Post" em 2013
O jornal americano apareceu pela 1ª vez no ranking da revista 'Fast Company'.
O jornal americano "The Washington Post"
ficou em oitavo lugar na lista das dez empresas mais inovadoras do mundo
da revista "Fast Company", que avaliou 350 companhias.
É a primeira vez que a publicação de 140
anos, controlada desde 2013 pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos, aparece
no ranking geral, ao lado de companhias de tecnologia como Apple,
Netflix e Amazon.
Em 2015 e 2017, o jornal já havia aparecido
na lista dos mais inovadores na categoria "mídia" —na qual, neste ano,
levou o primeiro lugar.
A revista destacou as mudanças no modelo de
negócios do "The Washington Post", que se tornou também uma empresa de
software, com a criação de sistemas inovadores —um deles é o Arc,
publicador que facilitou a vida dos jornalistas da empresa e, inclusive,
passou a ser utilizado por outras redações, como a do "Los Angeles
Times" e do "New Zealand Herald".
A disparada de audiência da publicação
também foi ressaltada: em novembro de 2016, o jornal superou os 100
milhões de visitantes únicos on-line e, em setembro de 2017, ultrapassou
a marca de 1 milhão de assinantes digitais, com um aumento de 300% em
apenas um ano.
RANKING
Na categoria "América Latina", três companhias brasileiras foram destacadas pela "Fast Company".
A primeira delas é a start-up financeira
Nubank, que recentemente ampliou seus serviços e passou a oferecer conta
corrente digital. A empresa ficou em terceiro lugar da categoria.
Na quinta posição, vem o aplicativo de táxis 99, comprado pela chinesa Didi Chuxing em janeiro deste ano.
A varejista Magazine Luiza ficou em sétimo
lugar da região, por ter introduzido no país o modelo de compra virtual
após uma prova dos produtos em lojas físicas, e por programas
inovadores, como aquele que estimula clientes a se tornarem revendedores
da loja no Facebook.
Veja as 10 empresas mais inovadoras de 2018, segundo a "Fast Company"
1 - Apple (Eletrônicos)
2 - Netflix (Streaming de vídeo)
3 - Square (Meios de pagamento)
4 - Tencent (Mídias Sociais)
5 - Amazon (Varejo on-line e tecnologia)
6 - Patagonia (Varejo de roupas)
7 - CVS Health (Farmácia)
8 - The Washington Post (Imprensa)
9 - Spotify (Streaming de música)
10 - NBA (Liga de basquete) (Folha de S.Paulo, 22/2/18)