Com isso, o Brasil ficou ainda mais longe do chamado grau de investimento, que classifica os países como bons pagadores
São Paulo – A agência de classificação de risco Fitch rebaixou
nesta sexta-feira o rating do Brasil a “BB-” com perspectiva estável,
citando a situação fiscal do país e o que chamou de “importante
retrocesso” na agenda de reformas após o governo do presidente Michel Temer ter desistido de votar a reforma da Previdência.
Com isso, o Brasil ficou ainda mais longe do chamado “grau de investimento”, que classifica os países como bons pagadores.
“O rebaixamento do Brasil reflete seus persistentes e grandes
déficits fiscais, alto e crescente peso da dívida pública e a falta de
legislação sobre reformas que melhorem o desempenho estrutural das
finanças públicas”, trouxe a Fitch em nota.
E acrescentou: “A decisão do governo de não colocar a reforma da
Previdência em votação no Congresso representa importante retrocesso na
agenda de reformas, que mina a confiança na trajetória de médio prazo
das finanças públicas e do compromisso político para abordar o
problema”.
Até então, a Fitch classificava o Brasil como “BB” com perspectiva
negativa e nesta semana já havia indicado que faria o movimento de
rebaixamento, explicando justamente que o fracasso na reforma da
Previdência pressionava a nota do país.
Na segunda-feira, o governo jogou a toalha sobre a votação da matéria
e apresentou um conjunto de medidas econômicas, boa parte delas já em
tramitação no Congresso, para tentar amenizar o impacto da decisão no
ambiente econômico.
Apesar de esperada, a desistência oficializa o adiamento da solução
para colocar as contas públicas do Brasil em ordem, o que deve
pressionar o próximo governo a ser eleito neste ano.
No início de janeiro, a Standard & Poor’s já havia cortado o
rating do Brasil a “BB-“, ante “BB”, justamente em função da demora na
aprovação de medidas para reequilibrar as contas públicas e de
incertezas ligadas às eleições.
ELEIÇÕES
A Fitch argumentou agora que o ambiente “político desafiador” afetou a
capacidade do governo de garantir aprovações do Congresso de medidas
que possam consolidar as contas públicas em 2018. Lembrou que o governo
não conseguiu aprovar, por exemplo, tributação sobre fundos exclusivos.
“As eleições presidenciais e parlamentares de outubro significam que a
reforma da Previdência será adiada até as eleições e há incerteza
quanto sobre se a próxima administração poderá garantir sua aprovação em
tempo hábil”, escreveu a agência.
Do lado positivo, a Fitch destacou que o balanço de pagamentos do
Brasil permanecerá relativamente forte e, assim, servindo de colchão
para choques domésticos. A agência informou ainda que projeta
crescimento médio de 2,6 por cento do país entre 2018 e 2019, acima da
expectativa de expansão de 1 por cento para 2017.
Em nota, o Ministério da Fazenda reagiu ao rebaixamento argumentando
que governo segue comprometido em progredir com a agenda de reformas
macro e microeconômicas destinadas a garantir o equilíbrio das contas
públicas”. A Fazenda, contudo, não fez nenhuma menção direta à
Previdência em sua nota.
Os mercados financeiros brasileiro não reagiram ao rebaixamento da
nota soberana brasileira pela Fitch nesta sexta-feira, por ser um
movimento esperado e já precificado.
A agência Moody’s, também nesta semana, afirmou que a desistência da
reforma da Previdência era ruim para a nota brasileira por colocar em
risco o cumprimento da regra do teto de gasto. No entanto, ela ainda
mantém o país com nota “Ba2”, com perspectiva negativa, já sem o chamado
“grau de investimento”.
https://exame.abril.com.br/mercados/fitch-rebaixa-brasil-a-bb-com-desistencia-da-previdencia/
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