Altos executivos de empresas têm diversificado os negócios atuando como investidores-anjo de startups
Marcio Fernandes deixou a presidência da Elektro em setembro do ano passado. Desde então, está investindo em uma startup de desenvolvimento profissional – e procurando outras. “Tento conectar esses negócios com coisas que estejam ligadas ao meu propósito de vida”, diz Marcio. A empresa que recebeu o dinheiro dele não levou só isso. “Dedico muito do meu tempo ajudando a fazer dar certo. Não penso só no retorno financeiro. Quero contribuir de outras formas”, afirma.
Dois anos atrás, Romero Rodrigues, CEO e fundador da plataforma de pesquisa de produtos e preços Buscapé, deixou a companhia depois de 16 anos para trilhar o mesmo caminho que Marcio seguiu. Na ocasião, Romero anunciou em um texto publicado no LinkedIn que pretendia ser um investidor e incentivador de startups. “Sim, vou dedicar meu tempo livre ao empreendedorismo. Ajudar outros empreendedores nessa travessia”, escreveu.
Não são apenas os executivos brasileiros que investem dinheiro próprio em startups. Tim Cook, CEO da Apple, e Eric Schmidt, ex-chairman do Google, colocaram a mão no bolso para colaborar com a Nebia, que criou chuveiros que economizam água e energia. Nenhum dos executivos revelou o montante investido. Já Mark Zuckerberg, do Facebook, anunciou que colocou 4 milhões de dólares, como pessoa física, na Panorama Education, empresa que usa análise de dados para melhorar a educação nas escolas americanas.
Há quem se lance sozinho como investidor. E há quem prefira reunir um grupo de executivos com o objetivo de ajudar determinado tipo de empresas iniciantes. É o caso da House of Fintech, com executivos de empresas como Via Varejo, Banco Volkswagen, Rico e Banco GM que colocaram dinheiro e tempo em companhias com potencial de mudar os serviços financeiros no Brasil.
Barreiras para investir
No ano passado, o investimento-anjo feito por pessoas físicas cresceu 9% no Brasil e chegou a 851 milhões de reais. Para a advogada Beatriz Dainese, da Giugliani Advogados, esse tipo de investimento – considerado de risco, já que 97% das startups no Vale do Silício vão à falência – ganhou outro obstáculo em julho de 2017, quando a Instrução Normativa 1719/2017 passou a sujeitar a incidência de Imposto de Renda Retido na Fonte com alíquotas entre 15% e 22,5% nos aportes de capital nessas transações. “O investidor-anjo não arca com o risco do negócio da empresa investida nem com os prejuízos que a mesma venha a sofrer, por não pertencer ao quadro societário”, afirma Beatriz. “Mas passou a ser tributado nos recebimentos, o que constitui um empecilho para que as startups possam se desenvolver.”
Diante da questão, 50 investidores enviaram ao Senado uma carta pedindo mudanças na normatização. “Um projeto de lei com isenção ajudaria a fomentar o ecossistema de empreendedorismo no país”, diz o investidor-anjo Marcio Kogut, dono de uma aceleradora e consultoria de inovação.
Para não errar na escolha de qual startup investir, Marcio Fernandes segue algumas regras. “Você tem que ter um interesse genuíno no trabalho que a startup faz”, afirma. “Caso contrário, dará dicas genéricas e só vai ajudar de maneira marginal.” Outro ponto é determinar com qual tipo de empresa você quer se envolver: se são aquelas que só precisam de dinheiro ou as que estão abertas para receber conhecimento também.
Kogut ressalta que um dos pontos importantes é conhecer os profissionais por trás dos negócios. “O empreendedor é a alma da startup”, diz. “Você precisa ser capaz de confiar nele.” Ser racional e saber muito bem onde está pisando são outros bons conselhos. Afinal, colocar dinheiro em uma companhia iniciante pode multiplicar seus rendimentos por dez – ou então dar em nada.
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