Varejista de vinhos abandona plano de faturar 1 bilhão de reais em 2020 para montar uma operação que sobreviva às próximas intempéries
Tudo ia muito bem para a varejista online
de vinhos Evino até que deixou de ir. Em 2017, a empresa faturou 265
milhões de reais – alta de 144% em comparação ao ano anterior. E as
previsões eram ainda mais otimistas para 2020: faturar 1 bilhão de
reais. Isso, definitivamente, ficou no passado. Uma enxurrada de
problemas fez com que a Evino precisasse rever todas as suas projeções.
Hoje, a empresa se dá por satisfeita se repetir o resultado do ano
passado.
A produção mundial de vinhos no
ano passado foi a menor dos últimos 60 anos, segundo a Organização
Internacional da Vinha e do Vinho (OIV). A queda foi de 9%, cerca de 250
milhões de hectolitros a menos, causada principalmente por conta de
geadas fortes seguidas de ondas de calor. A safra na Europa, onde a
Evino concentra as suas compras, foi 15% menor.
A lei da oferta e da demanda fez os gastos aumentarem para a Evino.
Para completar, o euro e o dólar continuaram se valorizando frente ao
real. Cerca de 98% de suas compras são importadas – o restante é por
meio de importadoras que já estão instaladas no Brasil. Com tantos
problemas, os planos da Evino precisavam mudar.
O processo foi desgastante. De maio para junho, a empresa enxugou
a sua operação em quase 20%. Um dos três CEOs, o francês Olivier
Raussin, saiu da operação diária, mas se manteve como acionista. Os
fundadores Marcos Leal e Ari Gorenstein voltaram a ter comando total do
negócio.
Essa decisão também foi influenciada por uma mudança na estratégia de
longo prazo. A possibilidade de um faturamento bilionário ficou de lado
e a rentabilidade passou a se tornar o grande objetivo. No processo, o
fundo alemão Project A saiu da operação. Os fundadores, por meio de um
fundo familiar que tem participação na Evino, decidiram recomprar a
fatia do fundo, que estava com a Evino desde 2013. “Decidimos voltar
para a primeira formatação da empresa”, diz Gorenstein.
Com essa decisão, os planos de curto prazo passaram a ser menos
ambiciosos. Os investimentos em marketing, por exemplo, se tornaram
pouco agressivos. Promoções saíram de cena – se tornou difícil, por
exemplo, encontrar garrafas de vinho com preços menores do que 25 reais.
A previsibilidade também passou a ser chave para a operação se tornar
mais rentável. Até o meio do ano, o estoque da Evino não chegava a 3
meses. Para ter mais controle do que vai pagar, a empresa decidiu deixar
garrafas estocadas para seis meses de vendas.
Além disso, a Evino passou a renegociar os contratos com os seus
fornecedores tanto de vinhos quanto de logística. Gorenstein não entrou
em detalhes sobre o percentual economizado, mas disse que tem sido o
suficiente para bater a meta Ebitda da companhia para esse ano: superior
a 10%. “É uma margem ótima, ainda mais quando comparada a outros
comércios eletrônicos do Brasil”, diz o CEO.
Para aumentar esse número, a empresa está apostando na popularização
dos vinhos mais caros. As vendas de vinhos acima de 50 reais, que a
empresa coloca na prateleira de premium, mais que dobraram neste ano,
segundo Gorenstein. Outra oportunidade está no crescimento de espumantes
e vinhos brancos e rosés. “Eles ajudam nas vendas de verão, em que há
uma queda no interesse por vinhos tintos”, diz. A expectativa é que esse
trio represente até 15% do faturamento em 2019 – atualmente não chega a
8%.
https://exame.abril.com.br/negocios/o-plano-bilionario-da-evino-azedou/
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