sábado, 9 de novembro de 2013

Transportes investe só metade dos recursos liberados pelo governo


Por André Borges | De Brasília
Ruy Baron/Valor / Ruy Baron/Valor 
 
 
César Borges, ministro dos Transportes: perspectiva da pasta é fechar 2013 com desembolso total de R$ 10,8 bilhões
 
 
A intenção era marcar 2013 como o ano em que governo federal havia conseguido destravar os investimentos públicos em estradas e ferrovias. Depois de um 2012 fraco nos desembolsos do Ministério dos Transportes - ainda fustigado pelos escândalos de corrupção, que provocaram a faxina da pasta no ano anterior - as obras ganhariam outro ritmo. O que se deu foi exatamente o oposto.

Entre janeiro e outubro deste ano, apontam dados do Siga Brasil/Siafi, compilados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os investimentos em rodovias e ferrovias somaram R$ 6,7 bilhões. Isso significa menos da metade do que o governo liberou para ser gasto com essas obras ao longo deste ano, um orçamento total de R$ 14,6 bilhões. O resultado também é inferior ao verificado entre janeiro e outubro do ano passado, quando foram executados R$ 7,9 bilhões. Pelos cálculos do Ipea, 2013 caminha para registrar o pior resultado de execução orçamentária dos Transportes desde o início do governo Dilma Rousseff, com investimento total de até R$ 9 bilhões. Em 2012, foram R$ 10,4 bilhões, e no ano anterior, R$ 12,9 bilhões.

Em entrevista ao Valor, o ministro César Borges, que assumiu a pasta em abril, rebate os dados do Ipea e afirma que há espaço para acelerar investimentos até o fim do ano. Nas contas dele, os investimentos somam R$ 7,6 bilhões até agora e a perspectiva é fechar 2013 com aporte total de R$ 10,8 bilhões, um pouco acima do ano passado. O ministro reconhece, no entanto, que sobram obstáculos para comprometer seu otimismo.

Em tom de autocrítica, Borges diz compreender o desinteresse do empresariado em muitas obras públicas, por conta de um "cipoal de dificuldades" que, segundo ele, passa por um processo complicado de licenciamento, além de alterações constantes de contratos, devido a intervenções do Tribunal de Contas da União (TCU). O resultado é uma crescente insegurança jurídica, situação que já afastou grandes construtoras de licitações do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

"Essa situação tem trazido problemas. Todas as empresas maiores da construção civil se afastaram do Dnit. Nenhuma hoje está trabalhando com ele, salvo raras exceções. Essa é a realidade. Pegue a lista das maiores empresas da construção civil e veja quais delas estão trabalhando com o Dnit", diz o ministro.
A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Havia uma forte expectativa de investimento em 2013, depois de dificuldades enfrentadas em 2011 e 2012. Não é um resultado frustrante para o governo?

César Borges: O primeiro quadrimestre deste ano realmente foi sofrível. Havia falta de aprovação do Orçamento, os projetos do Crema [programa de recuperação e manutenção de rodovias do Dnit] não estavam contratados. Tivemos um período relativamente fraco, embora não tenha sido muito diferente do início de anos anteriores. Entrei no ministério em abril. A partir daí, começamos, com o Ministério do Planejamento, a fazer um esforço grande, cobrando performance. Os projetos do Crema foram revistos. A partir de maio, o resultado começou a crescer, mas quando chegou junho, tivemos a greve do Dnit.

Valor: Qual foi o impacto efetivo da greve?

Borges: Foi muito forte. Tivemos 74 dias de greve. Nossa média de pagamento mensal, que tinha chegado a mais de R$ 800 milhões, caiu pela metade em junho, julho e parte de agosto. Só começamos a reagir depois disso, voltando a atingir a média de R$ 1 bilhão em setembro. Essa era a meta que queríamos ter registrado nos meses anteriores, mas não conseguirmos cumprir por conta da greve. Ainda assim, prevemos chegar à marca de R$ 9 bilhões em desembolsos só com o Dnit neste ano [valor referente a projetos listados no PAC e que inclui custeio e investimentos].

Valor: Qual é a dificuldade em investir aquilo a que se propõe?

Borges: Atribuo isso a um conjunto de fatores. Vou listar algumas condições que afetaram o resultado. Como disse, tivemos uma publicação tardia da LOA [Lei Orçamentária Anual] 2013 e os contratos dependem do empenho para dar ordem de serviço. O atraso na implantação do Crema está relacionado a alterações de medição do serviço. Esse problema foi solucionado no segundo semestre e as medições já dobraram, chegando a quase R$ 500 milhões por mês. Mas há outras dificuldades no caminho.

Valor: Quais?

Borges: O atraso na liberação de licenças pelos órgãos de meio ambiente e Funai [Fundação Nacional do Índio] está prejudicando o andamento de grandes obras. É o caso da BR-230 no Pará, uma obra de R$ 600 milhões; da BR-280 em Santa Catarina, de R$ 1 bilhão; da BR-116 no Rio Grande do Sul, que vai receber R$ 200 milhões, e das BRs 163 e 364, no Mato Grosso, que somam R$ 500 milhões. Queremos dar ordem de serviço nessas estradas, estamos trabalhando nisso, mas o processo de licenciamento precisa mudar.

Valor: Mudar como? 

Borges: Uma portaria interministerial, de 2011, permitiu que órgãos anuentes, como Funai, Fundação Palmares e Instituto Chico Mendes fizessem suas próprias regulamentações sobre como atuar no licenciamento. Então, cada um fez a sua interpretação de sua obrigação institucional. Isso redundou numa situação em que uma série de exigências vai hoje para o Ibama, que acaba não podendo dar licença ambiental, porque tem que atender reivindicações desses órgãos. O Ibama acaba não fazendo uma análise se a exigência é cabível ou não. Todas as exigências são simplesmente repassadas. Isso precisa ser reformulado.

"A insegurança jurídica traz problemas. As maiores empresas da construção se afastaram do Dnit"

Valor: Que medida será tomada?

Borges: Estamos trabalhando, com a Casa Civil, Ministério do Planejamento e Ministério do Meio Ambiente, na reformulação dessa portaria, para dar ao Ibama a condição de verificar o que é procedente ou não. Queremos que ele atue como responsável pelo que vem desses outros órgãos, e que deixe de atuar simplesmente numa posição de repassador. Não vamos ter mais que negociar com outros órgãos. Nossa negociação passa a ser exclusivamente com o Ibama.

Valor: Quando essa portaria será publicada?

Borges: Isso é coisa para já, para este ano ainda. O texto já está bastante delineado. Já mandei todas as propostas do Ministério dos Transportes para a versão que recebi. A Casa Civil está concluindo esse processo. Teremos uma nova portaria interministerial, que vai disciplinar as regras da portaria anterior, que ficou muito aberta. Agora, paralelamente, é preciso lembrar que também há dificuldades que fogem do nosso controle.

Valor: Por exemplo? 

Borges: Se uma empresa tem problema econômico-financeiro e entra em processo de recuperação judicial, o que nós podemos fazer? O que nos resta é fazer o distrato, levantar o que é obra remanescente, para então poder relicitar. Isso tem acontecido muito. Em outra situação, o TCU, em sua ação institucional e fiscalizatória, chega à conclusão de que certa obra tem indício de sobrepreço e isso leva à retenção de pagamento. Essa decisão tem forte repercussão na iniciativa privada. Se a empresa é de grande porte, manda fazer oitivas com o tribunal e, paralelamente, tem condições de continuar a tocar a obra. Mas se é uma empresa pequena, ela tem receio de prosseguir, porque não tem fôlego para passar por um período de retenção e de estabelecer um contraditório com o TCU. O que ela faz é paralisar a obra. Um caso emblemático é a BR-101, no Estado de Alagoas, em dois lotes da construtora Barbosa Mello.

Valor: O que aconteceu?

Borges: Havia uma recomendação do TCU para retenção de R$ 40 milhões. A empresa não concordou com as alegações. O TCU reviu a situação e chegou à retenção de R$ 2 milhões, mas manteve uma previsão de chegar à retenção de até R$ 20 milhões. Isso gerou insegurança jurídica. A empresa alegou que ainda teria de passar por oitivas e que a obra se tornaria insustentável, se, no futuro, tivesse que reter mais R$ 20 milhões. Então, ela decidiu que seria melhor entregar o contrato do que assumir esse risco. Foi o que ela fez. A insegurança jurídica tem trazido problemas. Todas as maiores empresas da construção civil se afastaram do Dnit. Nenhuma hoje está trabalhando com o Dnit, salvo raras exceções. Essa é a realidade. Pegue a lista das maiores empresas da construção civil e veja quais estão trabalhando com o Dnit.

Valor: O que os empresários do setor alegam?

Borges: Ouvimos críticas sobre alterações de termos dos contratos e em relação aos preços de nossa tabela, o Sicro [Sistema de Custos Rodoviários], praticado pelo Dnit. A empresa ganha uma licitação, às vezes até com deságio sobre o valor estipulado. Então, o TCU vai analisar item por item da composição unitária de cada preço, depois de feita a licitação. Só que isso tem subjetividade. Quando uma empresa entra numa licitação, ela faz uma composição dentro de sua conveniência e inteligência de engenharia. Dou um exemplo. Uma empresa decide lançar a viga de um viaduto usando um guindaste, quando o contrato previa que isso deveria ser feito por treliça metálica. Mas ela decide usar o guindaste, porque vai obter melhor produtividade. O TCU vai dizer que ela tem que reverter essa produtividade a favor do erário, porque decidiu usar o guindaste. A empresa simplesmente desiste. Tudo isso mexe com preços, e também com prazos.

Valor: O atraso nas obras também tem pesado nessa avaliação das empresas?

Borges: E muito. Obra, para qualquer construtor, tem que ser feita no prazo que ele previu. Se essa obra de dois anos passa a ter quatro anos, o custo indireto da empresa cresce, mas o contrato não prevê isso. É um risco da empresa. É preciso lembrar ainda que, nessa situação, entra outro item, o de desapropriação, que envolve muitos processos judiciais e que pode comprometer o cronograma. A maior queixa que recebo hoje das empresas que atuam nas ferrovias é que não se tem continuidade de lotes para trabalhar, porque são interrompidos por questões de desapropriação. Esses fatores todos criam um cipoal de dificuldades que, às vezes, impedem o governo de gastar. É fundamental dizer que o governo está disponibilizando recursos como nunca em seu Orçamento. O pagamento acontece sempre em dia, estamos pagando mensalmente. Por isso, essa situação dá angústia.

"Se o governo se dispôs a gastar e deu a dotação orçamentária de R$ 15 bilhões, nós queremos executar toda ela"

Valor: O que pode ser feito para acelerar a execução orçamentária em 2014?

Borges: Não queremos ter descontinuidade dos contratos no início do ano. A lei orçamentária está para ser modificada. Anteriormente, enquanto você não tinha o Orçamento aprovado, podia gastar só com custeio. Se tudo der certo, em 2014 poderemos gastar com investimento, antes da aprovação da LOA. É uma flexibilidade que teremos. Os investimentos estarão disponíveis no início do ano.

Valor: O setor privado está ficando de mau humor por causa dessas dificuldades?

Borges: Do ponto de vista de recebimento, o grande problema que qualquer país, ou gestor público, enfrenta é o risco de atraso de pagamento. Isso não existe no Brasil. A questão que se coloca hoje, portanto, é esse imbróglio todo. Por isso, o empresário tem receio. É um posicionamento compreensível, não acho que seja errado. Se você é dono do patrimônio de uma empresa, você não vai entrar em uma obra em que acha que pode perder dinheiro. Nós estamos vivendo isso agora na Fiol [Ferrovia de Integração Oeste-Leste, em construção na Bahia], uma obra onde, depois de muito tempo, conseguimos liberar alguns trechos, tanto do ponto de vista ambiental quanto de auditorias feitas pelo TCU. Então, fomos falar com a empreiteira para retomar as obras no lote que estava parado, e ouvimos que não existe mais interesse em retomar a obra.

Valor: Onde isso ocorreu? Com qual empreiteira?

Borges: Tive essa desagradável surpresa no lote 5 da Fiol, que era da construtora Mendes Júnior. Ela está rescindindo o contrato. Procuramos a segunda colocada na licitação, a Andrade Gutierrez, que também disse que não quer fazer a obra. Agora falaremos com a terceira colocada na licitação.

Valor: E todo esse desinteresse é atribuído a quê?

Borges: A primeira colocada revelou que, como foi feita uma série de novas sondagens no projeto, os quantitativos da obra foram muito reduzidos em relação às expectativas anteriores. A segunda colocada analisou, mas não entrou, porque acredita que a obra pode demorar mais que o esperado. Se elas não querem entrar, o que eu posso fazer? Não posso obrigar empresa a fazer obra. Se o terceiro não quiser, vamos ter que relicitar. Estamos com o mesmo tipo de dificuldade no lote 1, que chega até Ilhéus (BA). A construtora SPA tinha uma parceria com a empresa Delta, que deixou as obras e saiu do consórcio. Ficou a SPA, que agora está com dificuldades financeiras e, por conta disso, não pode receber absolutamente nada. Foi dada uma oportunidade à empresa, em juízo, mas ela não conseguiu executar um desempenho satisfatório. Então o que vamos fazer? Rescindir o contrato com a SPA. A segunda colocada, que é a Andrade Gutierrez, já nos disse que não quer o lote. Agora, também vamos ter que procurar a terceira colocada.

Valor: O desempenho em 2014 será melhor do que neste ano?

Borges: Trabalhamos para isso. A nossa preocupação é a execução orçamentária em sua totalidade. Se o governo se dispôs a gastar e deu a dotação orçamentária de R$ 15 bilhões, nós queremos executar toda ela. As dificuldades existem, o nosso desafio é nos prepararmos estrategicamente para superar as deficiências internas que todo órgão tem. Não vamos dizer que há órgão perfeito. O governo tem dado as condições. O Dnit, por exemplo, absorveu agora 800 funcionários concursados, que vieram reforçar o quadro. Paralelamente, temos que enfrentar as dificuldades externas. Não adianta ficar lamentando. Podemos até tentar corrigir e acelerar processos pontualmente, mas temos que estar estrategicamente preparados para esse enfrentamento. É o que estamos buscando.

Valor: Sobre as concessões, o governo pretendia licitar o trecho da Ferrovia Norte-Sul entre Açailândia (PA) e Barcarena (PA). Agora, fala-se que a prioridade é conceder a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste, no Mato Grosso. O que aconteceu?

Borges: No início, o que se pretendia era fazer esse trecho da Norte-Sul, pelo fato de ser um trecho menor, de 450 quilômetros, que exigiria menos investimento. Todos os outros trechos são maiores. Mas houve levantamentos sobre os riscos de engenharia do trecho. Paralelamente, havia um projeto básico já bem avançado para a Fico, além de interesses empresariais nesse trecho. Avaliando essas características, se deu preferência à Fico.

Valor: Quando deve ocorrer o leilão dessa ferrovia?

Borges: Nós entregamos o edital no dia 1º de novembro para o TCU. Está em análise. O que temos certo para este ano são os dois trechos de rodovias, a BR-060/153/262, que é um trecho só, e a BR-163 no Mato Grosso. Estamos dependendo ainda do tribunal em relação a outros trechos de rodovias. Temos datas reservadas para os leilões na Bolsa de Valores de São Paulo. O mais provável é que outros leilões sejam realizados a partir de janeiro do ano que vem.

DITADURA COMUNISTA DA VENEZUELA LIBERTA JORNALISTA AMERICANO. MAS LULA DIZ QUE NA VENEZUELA TEM DEMOCRACIA ATÉ DEMAIS.

Jim Wyss, chefe do bureau do jornal Miami Herald para os países andinos, junto a Heather Guimond, da embaixada dos Estados Unidos en Caracas, momentos despois de su libertação pelos bate-paus do regime comunista da Venezuela. Foto El Nuevo Herald
A polícia política do tiranete da Venezuela, Nicolás Maduro, libertou neste sábado o jornalista norte-americano, Jim Wyss, depois de um dia e meio de interrogatório dentro dos calabouços dos bate-paus do chavismo. A detenção do jornalista ocorreu justamente na véspera da Marcha Auto-Convocada de protesto contra o governo comunista de Maduro e seus sequazes. Queriam saber porque ele estava no país.
 
Ora, o jornalista estava cumprindo missão profissional, fazendo reportagem sobre a crise em que a Venezuela mergulhou depois que os órfãos do finado caudilho Hugo Chávez, endoidaram de vez. Ao mesmo tempo em que libertavam o jornalista lojas de eletrodomésticos começavam a ser saqueadas sob a complacência da polícia bolivariana. Falo sobre isso e postarei uma série de fotos do “saque autorizado” pelo esbirro de Fidel Castro, que atende pela alcunha de Maburro.
 
O jornal El Nuevo Herald dá a notícia da libertação do jornalista Jim Wyss cujo delito seria fazer o que deve fazer todos os jornalistas: apurar fatos e publicá-los. Isso é proibido pelo regime comunista-cubano dos amigos do Lula, da Dilma e seus sequazes. Leiam a nota do Herald no original em espanhol:
 
LA NOTÍCIA EN ESPAÑOL - Las autoridades venezolanas dejaron en libertad el sábado por la tarde al corresponsal del Miami Herald, Jim Wyss, después de un día y medio de conversaciones para aclarar la supuesta confusión sobre las razones por las cuales estaba en el país.
 
Wyss, jefe del Buró del Herald para los países andinos, fue liberado después de las 5 p.m. de un centro de detenciones de Caracas y entregado a funcionarios de la Embajada de Estados Unidos.
 
“Estamos contentos de que esto llegó a su fin”, dijo Aminda Marqués González, directora ejecutiva del Miami Herald. “Jim está a salvo y muy pronto será reunido con sus seres queridos. Estamos agradecidos por el apoyo que nos dieron los funcionarios estadounidenses, y los periodistas aquí y en Venezuela para tratar de resolver esta situación”.
 
Wyss fue detenido por autoridades venezolanas el jueves mientras reportaba sobre la escasez crónica del país y las elecciones municipales que se aproximan. John Yearwood, el editor de noticias internacionales del Herald, viajó a Caracas el sábado en la mañana para tratar de interceder por Wyss.

Noticia en desarrollo. Se actualizará próximamente. Do site do jornal El Nuevo Herald

Fim de ciclo


"Não existe essa coisa de sociedade" --a frase célebre, de Margaret Thatcher, era a exposição da crença ultraliberal no individualismo. Situado no polo oposto aparente do thatcherismo, o lulismo compartilha a descrença nessa "coisa de sociedade": no lugar da coleção de indivíduos atomizados da ex-premiê britânica, nosso presidente honorífico enxerga uma coleção de corporações reivindicantes. É essa leitura da política que explica a reação indignada do Planalto às críticas sobre a deterioração da situação fiscal do país. Na visão do governo, os "empresários" --os beneficiários da concessão de desonerações tributárias-- comportam-se como traidores quando atiram pedras nas autoridades que protegeram seus lucros. 

Trata-se de uma forma de auto-engano: o recurso habitual para conservar a ilusão num encanto que já desapareceu.
A inteligência política de Lula, cantada em prosa e verso, é uma qualidade real, mas circunscrita às conjunturas favoráveis. Formado no sindicalismo, o presidente honorífico montou seu sistema de poder como uma mesa ampliada de negociação sindical. Trajando o manto do Bonaparte, o governo opera como Grande Negociador, distribuindo benesses aos "setores organizados" em grupos empresariais, máfias políticas, corporações sindicais e movimentos sociais. A estratégia funcionou, do ponto de vista da reprodução do poder lulista, enquanto o cenário econômico proporcionou recursos para atender às "reivindicações" dos parceiros negociadores. Mas o ciclo da abundância encerrou-se, explodindo a casca frágil do consenso político. 

Na "era Lula", o Brasil esculpiu um modelo econômico impulsionado pelos motores do crédito público e privado e da explosão do consumo. A "etapa chinesa" da globalização proporcionou os combustíveis do modelo: investimentos externos fartos, derivados da elevada liquidez internacional, e altas rendas de exportação, oriundas da valorização das commodities. A poção mágica diluiu-se com o colapso das finanças mundiais, mas as reservas no tanque permitiram ao governo servir um simulacro aditivado na hora das eleições de 2010. O tanque, agora, está quase vazio: o governo reduz a bolsa-empresário enquanto pressiona o Congresso para fechar a torneira que irriga as corporações sindicais. Sem acesso à substância estimulante, os negociadores se dispersam --e até os fiéis petroleiros ensaiaram uma "traição". 

As "Jornadas de Junho" foram o primeiro sintoma do encerramento do ciclo. Desconcertando o governo, centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas para dizer que a sociedade existe --e exige serviços públicos dignos. O segundo sintoma foi o rearranjo do tabuleiro eleitoral deflagrado pela unificação entre PSB e Rede, uma operação celebrada pelo PSDB. O radar dos analistas ainda não detectou o alcance dos eventos, mas o Planalto entendeu o que se passa. Eduardo Campos e Marina Silva saltaram da condição de alternativas dissidentes à de candidatos oposicionistas, enquanto Aécio Neves admitiu que os tucanos perderam o estatuto de núcleo dirigente da oposição. Na prática, configurou-se uma frente de oposição tricéfala --e os três aspirantes decidiram que o primeiro turno de 2014 será tratado como uma eleição primária para a escolha do desafiante da oposição unida. 

O giro da política monetária americana, previsto para os próximos meses, ameaça provocar uma tempestade perfeita no Brasil, desvalorizando o real e pressionando o botão da inflação. Mesmo assim, Dilma Rousseff (ou Lula da Silva) conserva o favoritismo. O fim de ciclo, por si mesmo, não conduz automaticamente à reversão da fortuna eleitoral. Para derrotar o lulismo, a frente oposicionista precisaria dialogar com os cidadãos comuns: os manifestantes de junho e o país que os apoiou. Os três aspirantes teriam que dizer que "essa coisa de sociedade" existe. 

demétrio magnoli
Demétrio Magnoli, doutor em geografia humana, é especialista em política internacional. Escreveu, entre outros livros, "Gota de Sangue - História do Pensamento Racial" (ed. Contexto) e "O Leviatã Desafiado" (ed. Record). Escreve aos sábados.

Santos terá juizado para queixas durante temporada de cruzeiros



Por Folhapress






SÃO PAULO  -  O porto de Santos terá juizado especial cível para receber queixas de clientes na temporada de cruzeiros deste ano.

A iniciativa é inédita em portos brasileiros, segundo o assessor especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), Guilherme Macedo Soares, que idealizou o projeto.

Reclamações e ocorrências que violem o Código de Defesa do Consumidor serão enviadas ao representantes das agências de navegação. A expectativa é fazer conciliações e evitar processos.

Serão atendidos passageiros sem a necessidade de advogado e os pedidos de indenização podem chegar a 20 salários mínimos. Não são atendidas ações trabalhistas, de família ou contra a União.

Na Unilever, eles fazem mais com menos


Sob a liderança da sul-africana Gail Klintworth, o plano de sustentabilidade da Unilever gerou economia de 300 milhões em quatro anos e dobrou as vendas de produtos com viés ambiental

Flávia Furlan, de
Raul Junior/EXAME.com
Gail Klintworth, diretora global de sustentabilidade da Unilever

Gail Klintworth, diretora global de sustentabilidade da Unilever: a meta é criar um novo modelo de consumo

São Paulo - A cada dia, 170 milhões de produtos da Unilever são vendidos em 190 países. A cada hora, 83 milhões de pessoas usam algo das marcas que estão no portfólio da multinacional em todo o mundo. Mas para a empresa isso não é o bastante. A Unilever quer vender cada vez mais e, ao mesmo tempo, diminuir o impacto ambiental de seus produtos.

Por isso, em 2010, quando as empresas ainda entendiam a crise de dois anos antes, lançou um plano para dobrar de tamanho até 2020 e reduzir pela metade do impacto dos produtos. No ano passado, quem assumiu a liderança deste plano foi a sul-africana Gail Klintworth.

Em sua história de 25 anos na multinacional, ela passou pelas áreas de recursos humanos, vendas e marketing e chegou a ocupar a presidência executiva da operação da África do Sul entre 2007 e 2010. No ano passado, passou a líder de sustentabilidade. “Não queremos ser conhecidos por vender sabonete. Grande coisa!”, diz a executiva. “Quero criar um novo modelo de consumo.”

Desde que o plano foi lançado, a Unilever viu suas vendas crescerem 16%, para 51,3 bilhões de euros em todo o mundo. Economizou 300 milhões de euros com as medidas de sustentabilidade. E não espantou os investidores por pensar no longo prazo – deixando de lado até a divulgação de expectativas de resultados. Suas ações valorizaram mais de 20% em dois anos nas três bolsas: Londres, Nova York e Amsterdã.

EXAME - Qual foi o contexto para a Unilever lançar o plano de sustentabilidade? 

Gail Klintworth - Temos 7 bilhões de pessoas no mundo e que usam os recursos para abastecer um planeta e meio. Em 2050, seremos 9 bilhões de pessoas. Muitas delas vão estar na classe média, como no Brasil, vão consumir muito mais e começarão a usar os recursos de três planetas. Então, para as empresas e as pessoas, tornar-se sustentável é agora imperativo.

Na Unilever, temos uma longa história de pensar sobre sustentabilidade. Formalizamos isso em 2010, com um plano com metas para serem alcançadas até 2020. Se olharmos agora, cerca de 60% do nosso faturamento global já vem dos mercados emergentes, como China, Índia e, claro, Brasil.

Só que o ambiente em que as pessoas nesses países vivem está mais exposto a questões como falta de água e de energia e, para continuar a crescer, temos de resolver isso.

EXAME - Qual o objetivo do plano de sustentabilidade da Unilever? 

Gail Klintworth - Queremos dobrar o negócio e, ao mesmo tempo, reduzir à metade o impacto ambiental dos nossos produtos até 2020 - não apenas mudando o que fazemos dentro das fábricas, mas mudando o que os consumidores fazem em suas casas.

Se olharmos para os últimos 30 anos e todo o crescimento econômico no mundo, veremos que é fantástico que muitas pessoas saíram da pobreza e que mais pessoas estão vivendo melhor.  No entanto, houve um forte impacto em emissão de gás e em poluição de água. Como resultado, as empresas têm de proteger suas matérias-primas e ajudar as pessoas a se tornarem mais sustentáveis. 

EXAME - Quais os resultados que já foram alcançados?

Gail Klintworth - Temos a meta de reduzir emissões de carbono, consumo de água e desperdício nas fábricas. Isso tem ido além das expectativas. Tome como exemplo o Brasil: quatro das nove fábricas já zeraram o envio de resíduos para aterros sanitários, ao valorizar métodos mais adequados como reciclagem e compostagem.

Globalmente, metade das 252 manufaturas está na mesma situação. Em 2015, queremos todas elas sem envio de resíduo sólido para aterros. Além disso, no ano passado, reduzimos a emissão de gases do efeito estufa nas fábricas em um terço no mundo. Fizemos ainda um compromisso de usar 100% de matérias-primas sustentáveis até 2020.

Em 2012, foram 36%. Para este ano, espero o mínimo de 40%. Em relação ao compromisso de fazer com que 1 bilhão de pessoas melhorem sua saúde e bem-estar, o que inclui, por exemplo, ensiná-las a lavar as mãos para evitar doenças e prover o acesso à água limpa, atingimos 224 milhões de pessoas no mundo. 

Uma abordagem da nova lei ambiental a partir de uma perspectiva histórica



*Antonio Fernando Pinheiro Pedro
 
 
O Congresso Nacional cumpriu seu papel 
 
O novo Código Florestal Brasileiro foi aprovado pelo parlamento após extensas discussões, debates e manobras regimentais. 


O novo texto legal surge conturbado por pressões de toda ordem – algo típico dos interesses e direitos difusos, cuja conflituosidade intrínseca  refletiu-se nos debates acerbos entre ambientalistas, ruralistas e realistas, por todo período de tramitação do diploma até sua sanção presidencial.
 
Em meio a “clamores” por vetos, intervenções, medidas provisórias e outros meios, o fato é que o texto legal  foi costurado pelo parlamento visando estabelecer regras mais claras para a política florestal em nosso território. O diploma legal seguiu o regular processo legislativo, que é a razão de ser de nossa democracia pluralista, assimétrica e poli cultural.


Sancionado pela Presidente Dilma Roussef, agora é Lei! 

 
Trata-se da Lei 12.651 de maio de 2012, que já nasce  questionada por ações de declaração de inconstitucionalidade, protagonizadas por "viúvas" do Código Revogado, em especial os arautos  do biocentrismo fascista.
 
Importante, assim,  resgatarmos o histórico de todo esse processo, permitindo que o conhecimento da hermenêutica (o cenário em que foi criado o texto legal ora em vigor) possa se dar em parâmetros justos e realistas, de forma a não ferirmos o respeito às nossas instituições democráticas.
 
 
O espírito produtivista dos Códigos Florestais de 1934 e 1965

Código de 1934

Promulgado por Decreto, em 1934, o primeiro Código Florestal Brasileiro incorporava o mais puro intervencionismo Estatal - pretendia ordenar e planificar unilateralmente nosso território, nele apondo, por mero procedimento administrativo, áreas de preservação, parques e reservas – sem prejuízo do incentivo à crescente silvicultura nacional.
O valor ecológico da mata nativa, no entanto, não era o foco da Lei. 


O que se pretendia era a homogeneização florestal para a produção de madeira. 

Queria Getúlio Vargas, nos anos 30, incrementar a construção civil, a fabricação de papel, móveis, armas, e combustíveis. A política florestal deveria prover a indústria siderúrgica e a expansão ferroviária.
 
O Código Florestal de 34 chegou a justificar a organização de um serviço florestal brasileiro, mas, a verdade é que pouco contribuiu para o ordenamento territorial que pretendia programar.

 
Código de 1965

 
Promulgado em 1965, o novo Código continha mecanismos que visavam compensar a fraca implementação do código anterior.
 
O  proprietário particular passou a sofrer obrigações e restrições territoriais no uso da terra, como se o ordenamento pretendido “no atacado” pelo Código de 34, pudesse ser substituído por outro instituído “no varejo”, no Código de 65 –  como uma troca face ao incentivo à silvicultura.
 
Destacaram-se a APP – Área de Preservação Permanente, inspirada na ordenações portuguesas, e a  RL- Reserva Legal, que pretendia reproduzir em micro-zonas privadas  o que na verdade  se devia ordenar em macro-zonas públicas, mediante desapropriação para criação de Parques Nacionais e Reservas.
 
Tivesse ocorrido um efetivo cumprimento do Código Florestal de 1965, concomitante com a implementação do corajoso e inteligente ESTATUTO DA TERRA editado em 1964, poderia, é verdade, ter  acontecido o ordenamento mais adequado para a produção agrícola e um regime fundiário mais racional em nosso País.  
 
Entretanto, o avanço da tecnologia, a industrialização, a grande produção nos latifúndios, a concentração industrial e, por conseguinte,a migração para as cidades - tudo em pouco mais de vinte anos -  alterou toda a perspectiva pretendida por aquelas leis. 

 
Assim, o que poderia ter sido bom, terminou sem ter ao menos começado.
 
 
O Código Florestal e a legislação ambiental
 
A degradação dos recursos ambientais em larga escala, advinda da radical transformação da economia brasileira nos anos 50, 60 e 70,  mereceu introdução de instrumentos dedicados ao controle da poluição, nos anos 70, 80 e 90.
 
O SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente surgiu assim coligado com a reestruturação do Ministério Público Brasileiro, par e passo com o aparelhamento da sociedade civil para a defesa dos interesses difusos e coletivos.
 
Cria-se, então, um novo quadro de controle ambiental: Lei de Parcelamento do Solo Urbano, de 1979, Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, de 1981, Lei da Ação Civil Pública, de 1985, a Constituição Federal promulgada em 1988, o Código de Defesa do Consumidor, de 1991, o Decreto da Mata Atlântica de 1992, Lei de Improbidade Administrativa, de 1992, Lei 
 
de Política Nacional de Recursos Hídricos de 1997 e Lei de Crimes Ambientais de 1998.
O Código Florestal, face a tudo isso, precisou então ser compatibilizado com a  nova Constituição e com a nova legislação.
 
O resultado para o Código Florestal de 1965 foi funesto:  uma equivocada retirada do caráter produtivista e rural de suas vísceras, reduzindo-o a um retalho urbanóide e “natureba”.  






 
A Medida Provisória de 2001
 
A arbitrária Medida Provisória n. 2166/2001 se dá nesse contexto da perda do caráter original do Código Florestal.

 
Em meio a denúncias internacionais contra o governo brasileiro, por conta de reiteradas e repetitivas cenas de grandes incêndios florestais na Amazônia, o  Presidente Fernando Henrique Cardoso, inadvertidamente, cedendo a pressões, baixou a  Medida Provisória 2166.

 
Essa MP afrontou o setor produtivo rural brasileiro e todos os regimes de uso do solo urbano nos municípios; modificou o conceito de Área de Preservação Permanente e de Reserva Legal e aplicou rombudas medidas métricas e proporções assimétricas a estes institutos.
 
Herdeiro de um conflito que começava a se desenhar, o Presidente Lula, por sua vez, permitiu que sua Ministra de Meio Ambiente, biocentrista de carteirinha, iniciasse uma série absurda de regulamentações que ampliaram as distorções, afetando áreas consolidadas, obras de infra-estrutura e atividades econômicas preexistentes.
 
A Reserva Legal, ganhou um caráter limitador da produção - uma pena imposta ao produtor rural como se este tivesse que buscar o perdão pelo fato pecaminoso de fazer uso da terra. Não por outro motivo, doravante a Lei passou a qualificar  a devida produção de alimentos como “uso alternativo do solo” (sic).
Conceitos estreitos, como se sabe, induzem a preconceitos. 

 
Assim, com a edição da MP 2166  e sua regulamentação, surgiram novos conflitos sem que os anteriores se resolvessem.
 
A solução política e institucional para a República, portanto, não poderia ser outra que não a de se retomar o processo legislativo para instituir um novo Código Florestal.





 
O Processo Legislativo Republicano e suas mazelas
 
 
O Congresso Nacional, então, cumpriu o dever de submeter a malfadada Medida Provisória aos termos do democrático Processo Legislativo.
 
Foi então que, sob a relatoria do Deputado Federal Aldo Rebelo, ocorreram audiências públicas, workshops, seminários, bem como abundante produção de documentos. 

O texto resultante privilegiava a formação de grandes fragmentos florestais, a manutenção do equilíbrio ecológico e o desenvolvimento social e econômico do Brasil. 
 
Sua votação foi bastante conturbada pela péssima condução dos interesses do Governo Federal pela liderança governista na Câmara Federal, isso somado a um intervencionismo claudicante dos próceres do Ministério do Meio Ambiente, turbinado por ONGs. 

 
O resultado, por óbvio, causou desgaste à Presidente Dilma sem qualquer necessidade.
O Projeto de Lei  que seguiu para o Senado Federal para votação, respeitava peculiaridades territoriais, considerava variáveis regionais e obedecia a competência legislativa concorrente estatuída na Constituição Federal.
 
Ali, no Senado, contudo, a pressão governamental por um texto conservador que em quase nada diferia do resultante da malfadada Medida Provisória, bem como a necessidade burocrática de se salvar todo um cipoal de normas, regulamentos, multas emitidas e sanções implementadas, acabaram por provocar um acordo de lideranças que modificou consideravelmente o texto aprovado, merecendo, então, o Projeto de Lei, nova análise na Câmara Federal, que, por óbvio, sentiu-se bastante melindrada com a quase desautorização do seu trabalho, pela articulação dos Senadores.
 
Importante observar que o Senado representa a unidade federativa, não a representação popular. 

 
O Senado se expressa de forma harmônica, independentemente do tamanho, população e expressão econômica dos estados representados. 

 
Já a representação popular, espelhada pela Câmara Federal, resulta das assimetrias, idiossincrasias, interesses conflitantes e peculiaridades díspares que impeliram o voto nos representantes, mandatários da vontade popular, expressa em textos legais pertinentes.
 
O fato é que, sob a relatoria do Deputado Paulo Piau (PMDB-MG), o PL do Código Florestal ganhou contornos ainda mais produtivistas que o anteriormente saído da casa dos representantes do povo, produzindo até mesmo omissões e incompletudes que mereceriam atenta observação da chefia do executivo federal, quando da sua sanção.
 
De uma forma ou outra, no entanto, passada a fase da aprovação pelo parlamento, a reação dos radicais da natureza sem causa já era esperada. 


A militância biocentrista fez uso de todos os expedientes, cosméticos, dramáticos, científicos e institucionais. Até mesmo tragédias ocasionadas pelas chuvas, bem como do compromisso Brasileiro perante o Protocolo de Kioto ou mesmo, seu papel na Conferência da ONU Rio+20, serviram para criar obstáculos ao novo  Código Florestal - como se o anterior, então EM VIGOR, houvesse evitado ou pudesse evitar a tragédia da ocupação populacional em áreas de risco não mapeadas, ou mesmo o desmatamento histórico  num território sabidamente mal ordenado.
 
Na verdade, as tragédias mostraram justamente a FALÊNCIA da legislação anterior, jamais a necessidade de sua manutenção.
 
 
Necessário respeito às nossas instituições, acima de tudo
 
 
Devemos apoiar o Regime Democrático e o processo legislativo e, dessa forma, permitir que a sociedade brasileira obtenha um instrumento legal que, efetivamente, valha a pena ser cumprido.
 
Impõe-se, portanto, o respeito ao livre processo legislativo, à autonomia dos poderes, e à vontade do mandato popular, ainda que os resultados não sejam do agrado de todos, ou desagradem a muitos...
 
Inconformados com o resultado legislativo, arautos da regressão preservacionista intentam implementar um inexistente, obtuso, teratológico, reacionário e antirrepublicano "princípio da proibição ao retrocesso ambiental". 


Esse "Princípio de Proibição" ou "Vedação de Retrocesso Ambiental", é mero exercício de proselitismo reacionário. Trata-se de uma somatória de silogismos que atenta contra a inteligência de qualquer cidadão e revela, sobretudo, uma inconfessável e condenável vontade de sobrepor vaidades pessoais, preferências subjetivas, simpatias ideológicas, neofascismos e ecologismos de ocasião ao verdadeiro e legítimo Interesse Público, à democracia e ao Estado de Direito.

Nega-se o caráter dinâmico do equilíbrio ecossistêmico, que envolve todos os elementos biológicos, econômicos, sociais, climáticos, que refogem absolutamente ao domínio do direito (e por isso mesmo devem ser reconhecidos pelo mesmo) para se buscar uma cristalização do meio por meio de silogismos.

Assim, se já é impossível entender o que seja "equilíbrio" numa relação dinâmica, muito mais difícil é aplicar o freio da "proibição de retrocesso" a algo que não se sabe se recua ou avança... Enfim, uma bobagem retorica que deveria ser riscada da doutrina moderna do direito.

A Presidente da República, ainda que pressionada juridicamente, titubeou mas em tempo, sancionou o que podia e devia ser sancionado. 

Cumprirá, agora,  ao judiciário,  evitar a armadilha montada a partir de uma doutrina jurídica literalmente "fake" e, assim, evitar também o desastre degerar uma jurisprudência que não representa com dignidade a Justiça, a Constituição e o Estado de Direito.

De fato, há, a partir de agora, um regime florestal melhor que o anterior cipoal de indefinições,  surgido com a Medida Provisória golpista definitivamente enterrada (ainda que tenha esta deixado sequelas na lei sancionada).

Não há sustentabilidade, portanto,  se não houver respeito ao Estado Democrático de Direito Republicano.

Merece, assim, o Estado Brasileiro, mais respeito e tempo para consolidar os rumos legais escolhidos e definidos democraticamente no processo de elaboração da nova Lei 12.651 de maio de 2012.



*Antonio Fernando Pinheiro Pedro, advogado formado pela USP, é sócio-diretor do escritório Pinheiro Pedro Advogados, membro da Comissão de Direito Ambiental do  Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB, membro da Comissão de Meio Ambiente do Instituto dos Advogados de São Paulo – IASP, membro do Comitê de Energia e Desenvolvimento Sustentável e do International Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional.