Divulgação/Petrobras
Refinaria Abreu e Lima: doleiro já apontou pelo menos 28 parlamentares como supostos beneficiários de propinas
Fausto Macedo, do Estadão Conteúdo
Mateus Coutinho e Ricardo Brandt, do Estadão Conteúdo
São Paulo - Laudo pericial do Ministério Público Federal revela que, por mais de uma vez, valores repassados pela Petrobras para o Consórcio CNCC - controlado pela construtora Camargo Corrêa
- nas obras da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, em apenas 24
horas iam parar nas contas das empresas do doleiro Alberto Youssef.
Preso na Operação Lava Jato, Youssef é acusado de pagar propinas a
políticos e a partidos. Ele está fazendo delação premiada. Já apontou
pelo menos 28 parlamentares como supostos beneficiários de propinas.
O laudo não imputa ilícitos às partes envolvidas na transação. Para a
Justiça, a Petrobras é vítima da organização criminosa da Lava Jato.
O documento indica o trajeto das transferências bancárias que iam
aportar nas empresas de fachada do doleiro. A perícia foi anexada aos
autos do processo federal sobre desvios e superfaturamento na refinaria.
Em um dos repasses analisados, a Petrobras adiantou R$ 6,62 milhões
para o Consórcio CNCC em 17 de janeiro de 2011. No mesmo dia, o
Consórcio transferiu por meio de TED (Transferência Eletrônica
Disponível) para a Sanko Sider, fornecedora de tubos para a obra, R$
5,91 milhões. No dia seguinte, a Sanko repassou para a MO Consultoria,
empresa de fachada de Youssef, R$ 1,7 milhão.
Ainda no dia 18, a MO Consultoria repassou R$ 238,5 mil para a conta da
Labogen Química Fina, por meio duas TEDs. A indústria também era
controlada, segundo a PF, pelo doleiro.
No mesmo dia, a Labogen envia também por meio de TED R$ 238,5 mil para a
Pionner Corretora de Câmbio. O laudo aponta ainda que operações
semelhantes ocorreram diversas vezes, várias delas no prazo de um dia.
Os peritos identificaram 17 conjuntos de operações que "evidenciam que
as empresas Sanko recebem recursos do Consórcio CNCC e da Construtora e
Comércio Camargo Corrêa nas obras da Abreu e Lima e realizaram
transferências para as investigadas (empresas de fachada de Youssef) em
datas idênticas, ou próximas".
A análise dos peritos do MPF foi realizada com base em duas planilhas
da Petrobras que indicam 13 mil pagamentos da estatal petrolífera para o
Consórcio CNCC, a partir de abril de 2010 - quando teve início a
implantação da Unidades de Coqueamento Retardado da Abreu e Lima - , e
outros 32 pagamentos diretamente à Construtora Camargo Corrêa, desde
2009.
Esses pagamentos da Petrobras para a CNCC são exclusivamente
relacionados à Abreu e Lima e totalizam R$ 3,11 bilhões e R$ 54,2
milhões para a Construtora Camargo Corrêa, no período de 2009 a 2013.
O laudo é subscrito pelos analistas Jonatas Sallaberry e Júlio
Austríaco, peritos em contabilidade, e informa ainda que as empresas
Sanko receberam R$ 195,5 milhões do Consórcio CNCC, entre 26 de outubro
de 2010 e 26 de dezembro de 2013, além de outros R$ 3,6 milhões da
Construtora Camargo Correa - integrante do Consórcio -, a partir de 26
de junho de 2009.
Beneficiário
O documento mostra os caminhos de parte do dinheiro que a Petrobras
repassou para o Consórcio CNCC e indica sequencialmente a quantia que o
Grupo Sanko distribuiu para o caixa das empresas de fachada do doleiro
Alberto Youssef: M.O. Consultoria, GFD Investimentos, Empreiteira
Rigidez e Muranno Brasil.
De 2009 a 2013, essas empresas de Youssef receberam do Grupo Sanko
aportes que somaram R$ 38,5 milhões - valores líquidos, descontados
cheques devolvidos e operações de natureza inversa.
Entre os maiores beneficiários dos recursos que saíram do caixa da
Petrobras está o laboratório Labogen, que Youssef usou para se infiltrar
no Ministério da Saúde, durante a gestão do ministro Alexandre Padilha,
em 2013, em busca de contrato milionário supostamente viabilizado pelo
deputado André Vargas, então no PT.
Também aparece como captador desses valores outra empresa controlada
pelo doleiro, a Piroquímica. Juntas, essas empresas de papel receberam
R$ 37,6 milhões.
O rastreamento do dinheiro mostra que os valores que passaram pelas
contas da Labogen e da Piroquímica foram destinados, em sua maior parte,
para casas de câmbio ou de empresas de exportação e importação e
"outras remessas com destino não identificado pelas instituições
financeiras".
Anteriormente, quando questionado sobre os repasses às empresas de
Youssef, o Grupo Sanko-Sider enfatizou, por meio de sua Assessoria de
Imprensa, que "busca demonstrar de forma transparente sua idoneidade
construída com trabalho e dedicação ao longo de 18 anos, reconhecidos
pelo mercado".
Observou, ainda, que as investigações "vêm confirmando as informações
prestadas pelo Grupo Sanko são absolutamente corretas e as operações
seguem as normas legais vigentes."
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