quinta-feira, 23 de outubro de 2014

UE espera que sucessão destrave relação com Mercosul


Por Assis Moreira | De Genebra - Valor Economico
Christian Lutz/AP 
Jean-Claude Juncker: luxemburguês, confirmado para a presidência da Comissão Europeia, buscará o aprofundamento da parceria estratégica
A União Europeia (UE) acredita que a eleição no Brasil e a nova liderança na Europa abrirão uma "janela de oportunidade" para aprofundar a parceria estratégica bilateral em áreas que vão de comércio a segurança internacional.

A nova Comissão Europeia, o braço executivo da UE, presidida pelo luxemburguês Jean-Claude Juncker, foi confirmada pelo Parlamento Europeu nesta quarta-feira e tomará posse no dia 1º de novembro, já sabendo quem será o presidente do Brasil pelos próximos quatro anos.

Apesar da acumulação de problemas econômicos e políticos, que vão da ameaça de terceira recessão em cinco anos a dificuldades no abastecimento de gás para o inverno que se aproxima, a Europa sinaliza que segue atentamente a "muito sensível" eleição no Brasil, sexta maior economia do mundo e principal parceiro econômico dos europeus na América Latina.

A expectativa em Bruxelas é de que os dois lados podem fazer muito mais e realmente "entregar" resultados concretos nos próximos anos.

Na área comercial, a UE quer apertar o acelerador para afinal concluir acordo de preferenciais para suas respectivas empresas após 15 anos de discussões. Estima que "no momento" a única opção possível é continuar a negociação com o Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Venezuela). Ou seja, não vai partir de Bruxelas qualquer iniciativa para negociar diretamente com o Brasil.

Uma vez passadas as eleições no Brasil e Uruguai, a UE espera que haja condições para a troca de ofertas de liberalização entre os dois blocos. Bruxelas aguarda que o Mercosul respeite o parâmetro mínimo de inclusão de 87% de abertura do comércio de mercadorias, como acertado em 2010.

Se houver uma mudança de governo no Brasil, e a abordagem brasileira passar a ser de negociação comercial direta com a UE, a reação em Bruxelas é de que vai evidentemente levar isso em consideração, mesmo se sua linha geral tem sido de defender a integração regional como a melhor opção.

Na verdade, o que a diplomacia europeia aborda com muita precaução, o Parlamento Europeu é bem mais direto. O presidente da recém-criada delegação para o Brasil no Parlamento, o deputado português Paulo Rangel (PPE, centro-direita), disse que se o bloqueio no Mercosul continuar, por causa de reticências da Argentina, a Europa certamente vai querer e negociar diretamente com o Brasil, que afinal representa 75% do bloco do Cone Sul.

Existe a esperança em Bruxelas de, qualquer que seja o resultado da eleição presidencial no Brasil, vai significar um avanço para estreitar as relações econômicas e comerciais.

A UE nota que é o maior parceiro comercial do Brasil. Mais de 20% das exportações brasileiras vão para a UE e mais de 20% das importações do país são provenientes da UE. O volume de investimento direito da UE no Brasil, que era de 70 bilhões ha dez anos, hoje alcança cerca de € 250 bilhões, cerca de 45% de todo o investimento estrangeiro no Brasil. A UE é também o principal destino do investimento externo brasileiro.

Bruxelas espera que a economia brasileira melhore também seu desempenho econômico, o que seria benéfico igualmente para os europeus, que dependem muito da demanda externa para sair da crise. A UE continua "encorajando" o Brasil a liberalizar seu mercado, que considera ainda bem fechado.

Outra prioridade europeia é fechar o acordo de "céus abertos" com o Brasil, que vem sendo negociado há anos para liberalizar o numero de voos entre os dois lados do Atlântico e dar mais espaço para capital estrangeiro em companhias aéreas brasileiras. As estimativas são de que haveria redução de tarifas e aumento de 10% no volume anual de passageiros.

Segundo fonte brasileira, os textos do acordo continuam engavetados na Casa Civil da Presidência da República.

A Europa coloca ênfase também em mais coordenação com o Brasil sobre segurança global e mais participação do Brasil em situações de crise.

Bruxelas oferece ao Brasil, por exemplo, participação em missões europeias de segurança, como a que tem atualmente no Mali para por exemplo no Mali para treinar a policia local. Trata-se de esforço para estabilizar esse país africano, depois que a Franca lançou ofensiva militar contra militante do Al-Qaeda tinham tomado o controle de parte do território. O Brasil poderia participar de missão, por exemplo, em países de língua portuguesa, como em Guiné Bissau, país com persistente instabilidade política.

Atualmente, a UE e o Brasil têm 32 diálogos setoriais ditos estratégicos, que vão de energia a não proliferação nuclear. Dois novos setores vão ser integrados nessa agenda: ciberseguranca e migração.
A Europa espera viabilizar mais rapidamente também a construção de um cabo ótico submarino para facilitar a comunicação eletrônica com a Europa. É uma das prioridades do governo brasileiro depois que vieram à tona suspeitas de espionagens dos Estados Unidos a cidadãos de vários países, dentre eles a própria presidenta Dilma Rousseff.

Ainda não são claros quais serão os membros do consórcio. A indústria gostaria de ter mais dinheiro público na construção, mas Bruxelas acha que a maior parcela tem que ser mesmo do setor privado.

 A expectativa é de que esse projeto estimule a cooperação bilateral em pesquisa e desenvolvimento.
A UE buscará estreitar a posição com o Brasil para a conferência sobre mudança climática, que ocorrerá no ano que vem em Paris. Bruxelas acha que dá para os dois lados atuarem ainda mais em conjunto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário