CEO da Gramado Summit diz que pequenas startups têm de ganhar voz e que bancos deveriam prestar mais atenção nelas
Durante a realização da
Gramado Summit, o CEO do evento, Marcus Rossi (foto), apresentou o
Summit Hub, empresa que passa a centralizar três produtos: a própria
feira que entrará em sua terceira edição em 2019, a Summit Talks e a
Start Zero. As duas novas iniciativas atendem a um anseio dos
organizadores da Gramado Summit: levar para os quatro cantos do país
reflexões aprofundadas sobre empreendedorismo – principalmente na esfera
digital. Nesta entrevista concedida ao portal AMANHÃ, Rossi antecipa
que Curitiba e São Paulo estarão entre as seis cidades que receberão as
Talks a partir do próximo ano. Na conversa que teve com AMANHÃ, Rossi
também defendeu que o poder público e os grandes bancos olhem com mais
atenção para as startups, afinal, como ele mesmo sentenciou, “a
revolução tecnológica não tem CEP nem tamanho para acontecer”.
Qual seu balanço da última edição da Gramado Summit?Ela
foi muito positiva, pois superou todas as nossas expectativas – mesmo
durante o evento. Por exemplo, esperávamos mais ou menos 1.200 pessoas
por dia e terminamos com 2.500 nos visitando diariamente. Tivemos 80
investidores, 130 startups, fundos de capital de risco de todos os
níveis... Trouxemos pela primeira vez startups já tracionadas, algo que
não tínhamos na primeira edição. Foram mais de 60 palestrantes e três
dias de imersão no empreendedorismo digital. De 2017 para 2018 crescemos
360% ocupando uma área de 5.200 metros quadrados, espaço enorme se
compararmos com os 800 metros quadrados de 2017.
Uma
das novidades foi o lançamento do Summit Talks, evento mensal que será
realizado em várias cidades do país. Qual é o objetivo da Summit Hub com
esse projeto? Lançamos a Summit Hub que já nasce com
esse projeto e outros mais, além, é claro, da Gramado Summit do próximo
ano que está confirmada para iniciar no dia 31 de julho e terminar em 2
de agosto. A feira foi sempre algo inspirador. Sempre pensamos se não
deveríamos reunir alguns do palestrantes e fazer com que eles se
reunissem com empreendedores para um debate de fundo técnico. Vamos
circular o país a partir de janeiro de 2019. Em dezembro devemos
anunciar as seis cidades que receberão as Talks, mas posso adiantar que
muito provavelmente Curitiba e São Paulo estarão entre elas, pois são
locais onde temos público que já nos conhece.
O
Start Zero, portal de conteúdo onde os empreendedores podem divulgar
suas iniciativas e projetos sem custo nenhum a qualquer momento, também
tem uma preocupação com a difusão do conhecimento sobre
empreendedorismo? Como está sendo a adesão?Em uma
semana tivemos mais de mil usuários ativos na plataforma. Tem gente do
Rio Grande do Sul ao Piauí. O grande objetivo é dar voz aos
empreendedores. Basta que eles nos encaminhem seus releases que o
material será publicado na plataforma. Percebemos que o grande salto
tecnológico está sendo dado pelo pequenos players e trazê-los para a
mídia é algo que pode ser muito benéfico. A revolução tecnológica não
tem CEP nem tamanho para acontecer, por isso é necessário dar voz para
esses pequenos empreendedores.
Pode nos dar exemplos dessa revolução tecnológica que tem tomado forma em startups de menor porte?Ainda
em 2017 um menino aqui de Gramado criou a plataforma Jober. O sistema
faz busca de todas as oportunidades de emprego baseada em
geolocalização, ou seja, é uma espécie de “Google dos empregos”. Ele
conseguiu aporte financeiro logo depois da Gramado Summit, depois obteve
apoio de mais financiadores e, em breve, vai lançar o serviço nos
Estados Unidos. Outra iniciativa é o Speak to Share, plataforma que
oportuniza que imigrantes vindos de países desenvolvidos possam lecionar
idiomas para as pessoas. É um projeto social, mas ao mesmo tempo tem
business envolvido, pois o refugiado pode conseguir uma renda mensal com
seu trabalho. Mas há várias outras coisas acontecendo também, como
muitos avanços na área financeira com o surgimento de fintechs que estão
revolucionando o sistema bancário oportunizando empréstimos entre
pessoas físicas.
Em
suas viagens pelo Brasil afora, há muita reclamação por parte de
gestores de startups por causa da falta de linhas de financiamento
próprias oferecidos pelos bancos ou mesmo por instituições de fomento?Vejo
um afastamento muito grande do poder público, muito em função de não
existir um entendimento por parte dos políticos sobre a importância das
startups para a nova economia. Há falta de benefícios por parte dos
grandes bancos, pois eles ainda não conseguem entender o potencial
desses jovens empreendedores. Por essa razão, nenhuma das startups busca
solução no nível público. Elas já optam por ir diretamente para a
iniciativa privada, apesar de que no cenário atual tem alguns incentivos
interessantes surgindo através de pesquisa. O Sebrae tem um projeto
muito legal chamado Sebrae Like A Boss, a ABDI, a Inovativa Brasil,
todas elas dando condições para o desenvolvimento de startups. Na minha
opinião, os bancos somente se preocupam em oferecer financiamento para
startups já muito grandes e bem desenvolvidas, o que é um erro, pois a
grande mudança vira de pequenos players.
Há algum segmento específico de startups que tem atraído aportes dos fundos?As duas frentes que mais atraem o olhar dos investidores são a área de saúde e as fintechs.
Tem
se falado muito também nas agrotechs. O segmento agrícola está
realmente ligado nessa tendência ou existe ainda alguma barreira
cultural?
Eu acho que existe muito oportunidades para agrotechs, pois é um negócio basicamente do Brasil que é fortemente agrícola. Talvez possam ter grandes revoluções nesse campo, mas não se enxerga hoje startups voltadas para o agrotech. Elas não são tao populares quanto as fintechs, por exemplo. Talvez eu conheça umas três ou quatro agrotechs, enquanto no Brasil a cada semana surgem milhares de fintechs.
Eu acho que existe muito oportunidades para agrotechs, pois é um negócio basicamente do Brasil que é fortemente agrícola. Talvez possam ter grandes revoluções nesse campo, mas não se enxerga hoje startups voltadas para o agrotech. Elas não são tao populares quanto as fintechs, por exemplo. Talvez eu conheça umas três ou quatro agrotechs, enquanto no Brasil a cada semana surgem milhares de fintechs.
Na sua avaliação, como está o nível de empreendedorismo no Sul?Temos
muita força e vontade de mudar o status quo. O desafio é ainda maior no
Rio Grande do Sul, um estado industrial que parou no tempo. Mas vemos
outras frentes surgindo e colocando o estado em um novo patamar
transformando o Rio Grande do Sul em um polo de tecnologia. Há
necessidade de colocar o empreendedorismo digital gaúcho nesse mapa,
pois cidades como Recife (PE), Belo Horizonte (MG) e Florianópolis (SC)
estão muito bem desenvolvidas nesse campo.
E como os fundos de investimentos de startups analisam as oportunidades no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul?Conheço
grandes fundos de Santa Catarina que estão aportando recursos na
região. O BRDE e o Badesul estão investindo na área. Curitiba também é
uma cidade muito preparada e interessante nesse sentido. Porém, é
precipitado pensar que é preciso sair do ambiente onde uma startup
nasceu para conseguir atrair investidores. O negócio, por si só, já
nasce enxuto e com potencial de ganhar escala, por isso pode manter o
empreendimento nas bases onde começou. A localização não é um problema
para atração de fundos de investimento.
http://www.amanha.com.br/posts/view/6241
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