Em meio à perda de fôlego na recuperação da economia, a
crise na indústria brasileira piorou no primeiro semestre. Mais de um
terço dos setores industriais encerrou a primeira metade do ano com
desempenho negativo, segundo levantamento do Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi), feito com exclusividade para o
Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Entre o segundo semestre de 2017 e o primeiro semestre de 2018, a
parcela de atividades consideradas em crise (moderada e intensa) cresceu
de 26% para 36% dos 93 ramos industriais investigados. Os piores
desempenhos foram registrados pelos fabricantes de joias e bijuterias,
reservatórios metálicos e caldeiras, artigos de malharia, brinquedos e
artefatos para pesca e esporte.
“Houve realmente uma reversão na força da recuperação”, diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.
Dados do IBGE mostram que a indústria avançou 4,9% no quarto
trimestre de 2017, em relação ao mesmo período do ano anterior. No
primeiro trimestre deste ano, o avanço foi de 3%. No segundo trimestre
de 2018, a alta ficou em apenas 1,7%.
“Como o movimento de desaceleração vem desde o começo do ano não dá
nem para responsabilizar a paralisação dos caminhoneiros como causa da
inflexão, embora possa ter contribuído para cortar pela metade a taxa de
crescimento no semestre”, diz Cagnin.
O crescimento na primeira metade de 2018 chegou a 2,3%, quase metade dos 4% registrados no segundo semestre de 2017.
O estudo do Iedi considera em crise moderada aqueles setores que
registraram queda de 1,0% a 4,0%. E em crise intensa, os que recuaram de
4,0% a 10%. No primeiro grupo, o número de setores cresceu de 11 para
13 e, no segundo, de 9 para 16.
Entre as atividades em crise, sete têm relação com a indústria têxtil
e três com a construção. O empresário Odair Tienne, dono da confecção
de moda íntima Astienne, do polo têxtil de Nova Friburgo (RJ), conta que
vem enfrentando dificuldades desde 2014. De lá para cá, já reduziu à
metade tanto o número de funcionários quanto a produção. “O problema é
que o povo não tem dinheiro para consumir”, diz Tienne.
Outras seis atividades em crise no primeiro semestre referem-se à
produção de bens intermediários, que guardam relação importante com o
restante da cadeia industrial, como derivados de petróleo e gases
industriais.
“O ritmo da atividade econômica como um todo no primeiro semestre se
mostrou mais fraco do que se esperava no início do ano. Apesar de alguma
melhora nos fundamentos macroeconômicos, o mercado de trabalho ainda
está muito letárgico”, diz Leonardo Mello de Carvalho, técnico do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O cenário externo, segundo ele, também não ajudou, com crise na
Argentina e na Turquia, que afetaram exportações e câmbio no Brasil.
Tanto o Iedi quanto o Ipea esperam uma melhora da indústria no
segundo semestre, mas com desempenho ainda baixo, especialmente por
causa das eleições.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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