Aporte do Softbank faz units subirem 23% enquanto iBovespa caía 1,2%
Em uma semana extremamente turbulenta para os pregões, as
units do Banco Inter chamaram a atenção dos investidores. Lançadas no
dia 19 de julho, quando o banco anunciou uma reorganização societária
para facilitar o acesso do Novo Mercado, esses papéis (que são formados
por duas ações preferenciais e uma ação ordinária) valorizaram-se cerca
de 23%. No mesmo período, o Índice Bovespa amargou uma desvalorização de
1,2%. O movimento de alta acentuou-se a partir do início de agosto, com
a expectativa de que o fundo de private equity internacional Softbank
faria um aporte no banco, algo que foi confirmado
na terça-feira 6. A empresa liderada por Masayoshi Son associou-se ao
banco presidido por João Vitor Menin, comprando 8,1% do capital total. A
alta das cotações e o ingresso do Softbank – que ganhou muito dinheiro
ao apostar precocemente em empresas como Alibaba e Uber – chamaram a
atenção do mercado para o Banco Inter.
Ao listar suas ações na bolsa em abril de 2018, ele se apresentou
como o único banco digital presente nos pregões. No entanto, o alicerce
do Inter está solidamente fincado nos tijolos e no cimento. Fundado em
1994 em Belo Horizonte como Banco Intermedium, a instituição financeira
nasceu a partir da incorporadora MRV, da família Menin. Desde o início, a
vocação foi para os empréstimos imobiliários, algo que ainda perdura.
Mesmo exibindo suas credenciais digitais, cerca de 50% dos R$ 3,5
bilhões de crédito contabilizados nos livros do Inter referem-se a este
tipo de financiamento. Ao se apresentar como um banco digital, o Inter
ofereceu a possibilidade de uma operação mais ágil e barata do que as
dos bancos tradicionais.
Analistas acreditam que fatores externos são mais importantes para
explicar a valorização recente. “A chegada Softbank influenciou no valor
das units, especialmente ao trazer investidores de fora. Mas há no
Brasil um movimento favorável às fintechs, como o Nubank, que levantou
US$ 400 milhões com o fundo americano TCV em julho”, diz Rafael Passos,
analista da Guide Investimento. Segundo Passos, o mercado hoje tem
apetite para investir em empresas de base tecnológica – e o Banco Inter
tem a vantagem de ser a única fintech listada em bolsa. “Fintechs têm
modelos de negócios mais escaláveis por não contar com estrutura
física”, diz ele. Segundo levantamento da Business Insider, fintechs da
América do Sul receberam US$ 600 milhões apenas no segundo trimestre
deste ano. Para comparar, ao longo dos 12 meses de 2018 o total de
aportes foi de US$ 545 milhões.
COTAÇÕES
Apesar do apetite dos investidores, os
analistas acreditam que o Inter ainda vai demorar para pagar dividendos
tão polpudos quantos seus concorrentes mais tradicionais. Para começar,
alguns dos múltiplos do papel estão desalinhados em relação à média do
mercado. Segundo Passos, da Guide, a relação preço/lucro do Inter está
em 120, ao passo que a média para as ações do Índice Bovespa está muito
abaixo disso. Os profissionais do mercado estimam que essa relação
esteja ao redor de 14. Assim, por esse indicador, o Inter estaria cerca
de 750% acima da média do mercado. “O Inter hoje gira em torno de uma PL
de 120 vezes, então ficamos receosos de indicar o papel, principalmente
com outras boas ações no setor, como Banco do Brasil e Bradesco”, diz
Passos.
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