O que levou o ex-CEO global da Bunge e sua mulher a comprar uma tradicional vinícola portuguesa — e como eles trabalham para elevar a qualidade dos vinhos da região.
Uma hepatite contraída na adolescência despertou um desejo
irrefreável no hoje empresário Alberto Weisser: depois de curado,
trabalharia com vinhos. Filho de alemães nascido em São Paulo, ele
imaginava dedicar parte de seu tempo à colheita de uvas na Borgonha,
região da França famosa pela excelência dos brancos (chardonnay) e
tintos (pinot noir). Aquele sonho demorou para se materializar — mas
hoje é um negócio lucrativo. Em 2015, já aposentado do cargo de CEO
global da Bunge, Weisser comprou a Herdade dos Coelheiros, no Alentejo,
em Portugal. Desde então, ele e a mulher, Gabriela Mascioli,
reformularam a proposta da vinícola, que tem 800 hectares, mirando
produtos premium e eliminando os rótulos de menor valor agregado.
A produção, agora a cargo de um novo enólogo, caiu de 400 mil
garrafas ao ano para apenas 100 mil. Onde antes havia 14 linhas
diferentes de produtos (ainda que sem muita diferenciação de preço e de
qualidade), agora existem apenas seis. “Não fomos para lá com a ideia de
reinventar a Herdade — até porque nós sempre gostamos dos vinhos que
eram feitos ali”, diz Gabriela. “Nosso conceito é extrair o melhor
possível daquela região, com as uvas autóctones que funcionam no clima
alentejano”, prossegue. “E queremos também ajudar Portugal a mudar de
patamar”, acrescenta Weisser. “O vinho português não pode manter essa
imagem de produto ‘baratinho’”.
Ainda que não tivesse experiência anterior na atividade, o casal
sempre teve paixão pela enogastronomia. Depois de anos comandando uma
das maiores empresas de alimentos do planeta, Weisser se tornou membro
do board of directors da PepsiCo., cargo que ainda ocupa. Gabriela, que
ficou conhecida entre os chefs de cozinha, críticos e donos de
restaurante por ter criado a livraria Mille Foglie, especializada em
comida e bebida, foi também colunista da revista Prazeres da Mesa.
Para levar adiante um negócio como a Herdade dos Coelheiros, porém,
apenas esse conhecimento teórico não bastava. “Eu estudei muito o que
outros produtores têm feito, especialmente o Vega Sicilia, na Espanha”,
diz Weisser. “Além disso, buscamos reunir o conhecimento de pessoas que
são experientes no negócio, desde o nosso enólogo, que veio do Esporão,
até os distribuidores, caso da Mistral, aqui no Brasil”. Para chegar aos
vinhos com a personalidade do casal, a atenção aos detalhes é
constante. Isso inclui o manejo dos vinhedos, agora mais orientados para
a produção orgânica e biodinâmica, os cuidados na colheita (hoje todas
as uvas passam por um estágio de refrigeração) e até a formação de
preço, que variam de 10 e 30 euros. “Para Portugal, é caro”, diz
Gabriela. Mas basta abrir uma garrafa para confirmar que a performance
justifica o custo.
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