sábado, 16 de novembro de 2013

Falta de liderança na América Latina é a que mais preocupa

Conjuntura


Pesquisa divulgada nesta sexta-feira junto com a Agenda Global de 2014 do Fórum Econômico Mundial mostra que habitantes da região se mostram os mais preocupados com a forma como suas lideranças conduzem a política

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (Iván Franco/EFE)

A questão da falta de liderança é motivo de preocupação mundial não só pela dificuldade da população de se identificar com seus representantes políticos, mas também porque poucos líderes, atualmente, são reconhecidos por pensarem no bem comum. Pesquisa divulgada juntamente com a agenda de 2014 do Fórum Econômico Mundial mostra que na América Latina e na África Subsaariana a sociedade se mostra mais preocupada com contravenções praticadas por seus representantes no setor público — sejam funcionários de alto ou baixo escalão dos governos — do que em todas as outras regiões do planeta pesquisadas. Numa escala de 0 a 5, sendo 5 o número que classifica maior preocupação com a falta de liderança, os latino-americanos mostraram pontuação de 4,04.

Sadako Ogata, chefe do escritório japonês do Fórum Econômico Mundial, afirma que o principal motivo de insatisfação, sobretudo dos jovens, é a percepção de que os líderes atuais não pensam em nada além de seus próprios interesses. “Nós esperamos que os líderes não defendam apenas seus pontos de vista, mas que sejam conduzidos por algo que nos mova adiante e possa unir as pessoas”, afirma Ogata.

Para ilustrar o tema da falta de liderança no documento que será apresentado em Davos, na Suíça, durante o encontro anual do Fórum, há uma imagem da manifestação de professores em frente à Assembleia Municipal do Rio de Janeiro, em outubro deste ano, quando pediam por mudanças no sistema de ensino e melhores salários. Para Ogata, a educação é ferramenta essencial para mudar a situação de descrença nas lideranças — não apenas porque uma população mais educada tem mais acesso à informação e pode votar de forma mais consciente, mas também porque, por meio da educação, cria-se massa crítica para exigir melhorias e viabilizar mudanças.

Martina Gmür, coordenadora da agenda de 2014 do Fórum Econômico Mundial, falou ao site de VEJA sobre o problema da descrença da população nas lideranças de hoje. Confira trechos da entrevista. 

O estudo do Fórum Econômico Mundial mostra que hoje as pessoas estão fartas dos líderes que só pensam em seus próprios interesses. Mas sempre foi assim, não? 

O estudo mostra uma preocupação crescente com a falta de valores nas lideranças. Especificamente percebemos que os entrevistados da América Latina e da África estão mais preocupados com o abismo que se abriu entre o comportamento e o desempenho da classe política e as expectativas dos que escolhem os líderes, ou seja, da população. Eu concordo em dizer que a quantidade de informação à qual as pessoas têm acesso hoje ajuda a capturar os instantes em que seus líderes mostraram falta de valores. Mas eu também preciso dizer que nosso mundo vivencia um período mais complexo do que antigamente no que diz respeito aos caminhos de liderança.

O que é mais amedrontador no conceito de falta de liderança: o fato de as pessoas estarem insatisfeitas com seus líderes ou o fato de jovens brilhantes não desejarem o mundo da política? 

 Acho que é a insatisfação com a perda de liderança. A falta de jovens brilhantes na política é um problema justamente porque faltam jovens brilhantes em muitas outras áreas. É preciso criar ambientes para que os jovens brilhantes floresçam. Empresas precisam de grandes líderes, assim como a sociedade civil. Sou otimista e acredito que sempre vai haver gente boa atraída pela política. O desafio é criar um ambiente para que eles possam contribuir de forma positiva para a sociedade.

Diante desse cenário de falta de liderança, os jovens agem nas redes sociais para criar outros movimentos. Com isso, a ideia de liderança se torna muito mais difusa. Você acredita que esse conceito de liderança espalhada, sem um líder específico, seja o futuro?  

As multidões têm emergido com muita força nos recentes movimentos sociais mundo afora. Por exemplo, eu não acho que o movimento Occupy (Wall Street) teria ganhado importância se não tivesse essa característica descentralizada. Apesar disso, ainda há espaço para o nascimento de líderes individuais. O Fórum (Econômico Mundial), por exemplo, estimula isso. E como eu fui privilegiada em poder conhecer muitos desses jovens líderes ao longo dos anos, me sinto muito otimista com a nova geração e sua capacidade de liderar e seguir.

A ideologia perdeu espaço no processo de nascimento de um líder. Quais são os efeitos disso?

A ideologia tem papel menos importante na política da Europa Ocidental, mas claramente define a política dos Estados Unidos. Não acredito que essa mudança na questão do peso da ideologia afete o poder que um país exerce no mundo. Mas é inegável que, hoje, o que leva um indivíduo a votar são questões muito mais profundas e complexas do que antigamente, quando se seguia um partido e pronto.

A América Latina tem demonstrado preocupação com a falta de liderança, segundo levantamento do próprio Fórum. A corrupção tem que peso nessa piora da avaliação das lideranças? 

A força da ideia de corrupção está intimamente ligada à perda de valores de liderança. Talvez o fator mais preocupante seja que a corrupção esteja presente em muitos níveis das empresas e dos governos. E isso demonstra necessidade de liderança e transparência em todas as esferas. Afinal, não adianta apenas um líder que esteja no topo dissipar os bons valores. É preciso que todas as esferas participem.

Cenário incerto de 2014 aumenta a cautela no varejo



Consumidores lotam as lojas da Rua 25 de Março, em São Paulo, para as compras de Natal - 12/12/2010
Consumidores lotam as lojas da Rua 25 de Março, em São Paulo, para as compras de Natal (Sebastião Moreira/EFE)

A menos de um mês e meio do Natal, o que se vê, por enquanto, é um comportamento atípico de comerciantes e consumidores. Redes varejistas não alongaram os prazos de pagamento dos financiamentos para que a prestação "se encaixe" no orçamento do brasileiro. Enfatizam, porém, o desconto no pagamento à vista. Esticar prazo e jogar a primeira prestação para o ano seguinte foram práticas comuns recentemente, sobretudo em momentos de juros em alta, como o atual.

O consumidor, por sua vez, aproveitou os feirões de renegociação de dívidas, que ocorreram durante o ano todo. Mas o inadimplente que limpou o nome não tem intenção de cair novamente na farra do consumo. Pesquisas mostram que cresceu significativamente, em relação a anos anteriores, a fatia daqueles que pretendem usar a primeira parcela do 13.º salário para poupar. A intenção de gastar essa renda extra para ir às compras ou quitar dívidas também é menor em relação a 2012. Economistas atribuem a mudança de comportamento de varejistas e consumidores às incertezas que rondam a economia no ano que vem.

Para o economista-chefe da Acrefi, associação que reúne as financeiras, Nicola Tingas, a cautela de consumidores e empresas existe porque há muitas incertezas. Para o consumidor, há, segundo ele, um claro esgotamento do ciclo de crédito. "O poder aquisitivo do brasileiro está restrito", observa.

Essa restrição do consumidor, segundo Tingas, é resultado da combinação de vários fatores negativos. "Não existem acréscimos de renda significativos." Nas contas do diretor de pesquisa econômica da GO Associados, Fabio Silveira, a massa real de rendimentos, que cresceu 6,6% ao ano entre 2010 e 2012, deve aumentar 2,5% este ano e 1,4% em 2014. Esse é um dos motivos apontados por Silveira para que o comércio não tenha um impulso significativo.

(Com Estadão Conteúdo)

Participação de produtos importados na economia é recorde


Mesmo com dólar alto, a participação de produtos importados no consumo industrial ficou em 21,8% no terceiro trimestre

Demanda por eletroeletrônicos durante o Mundial impulsionou o varejo
Importados ganham espaço na economia (Alexandre Battibugli)

Apesar da alta do dólar nos últimos meses, a participação de produtos importados no consumo industrial aumentou no terceiro trimestre de 2013, alcançando a marca histórica de 21,8%. As informações fazem parte do estudo "Coeficientes de Abertura Comercial", divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). No segundo trimestre, os importados tinham presença de 21,1% no consumo industrial. No primeiro trimestre deste ano, o índice era de 21%.

"A elevação do indicador é observada por catorze trimestres consecutivos e é explicada, principalmente, por dificuldades do lado da oferta, com a perda de competitividade da indústria", cita o estudo. As altas são sucessivas desde o início de 2010, quando o aprofundamento da crise financeira internacional reduziu a demanda por produtos manufaturados e multinacionais desviaram seus bens, mais baratos, para mercados emergentes em expansão, como o Brasil.

O trabalho é elaborado em parceria com a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Para a CNI, o crescimento da presença de produtos ou insumos estrangeiros no mercado é reflexo direto da perda de competitividade da indústria brasileira. Desde a eclosão da crise, em 2008, o governo adota medidas para aumentar a capacidade de competição da indústria, com a redução de tributos, por exemplo. As políticas, no entanto, não foram suficientes para impulsionar a produção industrial ou as exportações nacionais de manufaturados até o momento.

Mais afetados — Os setores da indústria de transformação com maior alta do coeficiente de importação neste último trimestre foram os de produtos farmacêuticos, derivados do petróleo, máquinas e materiais elétricos e informática, eletrônicos e ópticos. No setor farmacêutico, por exemplo, o coeficiente saltou de 19,8% para 21,1% do segundo para o terceiro trimestre.

Na indústria extrativa, o coeficiente de penetração dos importados foi de 53,4% no terceiro trimestre de 2013. No segundo trimestre, o índice era de 51,9%, e de 52,4% no primeiro trimestre do ano.

Exportações — O coeficiente de exportação a preços correntes, que aponta o porcentual de participação das vendas externas no faturamento da indústria, ficou em 19,2% no terceiro trimestre, índice idêntico ao do segundo trimestre. No primeiro trimestre do ano, o patamar era de 19,5%.

"Na indústria extrativa, a trajetória de redução do indicador observada desde o segundo trimestre de 2012 é explicada, principalmente, pelo setor de extração de petróleo", afirma o estudo.

Isoladamente, o coeficiente de exportação alcançou 67,3% na indústria extrativa no terceiro trimestre. Na indústria de transformação, o índice foi de 15,7% no período.
(com Estadão Conteúdo)

A reestreia atrapalhada do Oreo no mercado brasileiro


Biscoito mais vendido do mundo já está em algumas prateleiras do Walmart nas regiões Sul e Sudeste — mas lançamento, de fato, ainda não tem data para acontecer

Ana Clara Costa
Pacote de bolacha Oreo
Biscoitos Oreo: lançado em 1995 e descontinuado em 2000 (Mandel Ngan/AFP)

O biscoito Oreo — o mais vendido do mundo — voltou ao mercado brasileiro no início de novembro em lojas da rede Walmart. Mas sua reestreia tem se mostrado (bem) atrapalhada. Presente em mais de 100 países (menos o Brasil), o produto volta às gôndolas trazido pela Mondelez, novo nome da Kraft Foods, dona da marca. Apenas as lojas das regiões Sul e Sudeste da rede varejista venderão o biscoito, por enquanto. O Oreo foi lançado no Brasil em 1995, mas sua fabricação foi descontinuada em meados de 2000. A concorrente Nestlé fabrica localmente um produto similar líder de mercado, o biscoito Negresco, que muitos consumidores desavisados acreditam se tratar do Oreo após uma mudança de nome.


Varejo - A Mondelez não fez qualquer anúncio oficial ou grande campanha publicitária para marcar sua volta ao país — fato estranho, sobretudo porque sua marca mais relevante se ausentou durante mais de uma década de um mercado que movimenta 7 bilhões de reais ao ano. As vendas tiveram início sem que houvesse informação sobre onde ou como comprar o biscoito. Diante do silêncio do fabricante, o Walmart fez as 'honras da casa' e anunciou o início das vendas no dia 6 deste mês (elas haviam começado em 1º de novembro). Questionada sobre o lançamento, a empresa de alimentos não deu qualquer informação. Sua divulgação se resume à imagem de um biscoito verde-amarelo postado na página da marca Oreo no Facebook. Uma entrevista coletiva marcada para apresentar a estratégia do produto foi cancelada na última hora.

A Mondelez não sabe dizer, até o momento, nem mesmo quando a marca Oreo será vendida em todo o país. A maior rede varejista local, o Grupo Pão de Açúcar, ainda não conseguiu fechar um contrato de venda do produto com o fabricante — e afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que ainda não há previsão de que as lojas de sua rede tenham Oreo em suas prateleiras. O grupo Carrefour não respondeu ao pedido de informação até o fechamento da reportagem. O Walmart informou que tem um contrato de exclusividade com a marca Oreo até o final de novembro, mas, caso outros varejistas não consigam fechar acordos com a Mondelez, há estoque suficiente para garantir o fornecimento do biscoito até o fim de dezembro.

Propaganda - A estratégia do fabricante poderia ser classificada como 'misteriosa', a exemplo do que ocorre com a Apple sempre que está às vésperas de lançar um novo produto. Contudo, é difícil acreditar em tal guinada quando se trata de uma das marcas mais criativas e, por assim dizer, 'barulhentas' da publicidade mundial. No ano passado, a Oreo movimentou o meio publicitário ao endossar a causa gay criando um anúncio nas redes sociais de um biscoito com recheio em diversas camadas, cada uma de uma cor, remetendo ao símbolo do arco-íris. Nos últimos anos, foi autora de diversos virais de marketing em tempo real — que são ações criadas 'a toque de caixa' baseadas em eventos factuais (como o casamento do Príncipe William, por exemplo) para acompanhar o burburinho sobre um determinado assunto.

Um simples tweet da Oreo feito durante a final do SuperBowl deste ano ganhou alguns dos principais prêmios da publicidade mundial. Quando todas as luzes se apagaram devido a um blecaute antes do último jogo da temporada de futebol americano, a agência de publicidade 360i tuitou imediatamente a imagem de um biscoito Oreo numa tela escura, destacado por um holofote, com a seguinte frase: you can still dunk in the dark, algo como 'você ainda pode mergulhar seu biscoito no escuro'. A palavra 'mergulhar' se refere ao hábito que muitos americanos têm de embeber o biscoito no leite antes de comê-lo. A rapidez com que a ação foi veiculada fez com que a marca ganhasse exposição total no maior evento esportivo (e publicitário) dos Estados Unidos.

As agências Giovanni+Draftfcb e Lov (que representam as americanas Draftfcb e 360i localmente) são responsáveis pela campanha de lançamento da Oreo no mercado brasileiro. Suas matrizes nos Estados Unidos também atendem a conta da marca. A Giovanni informou ao site de VEJA que antes de 2014 não haverá qualquer campanha publicitária sobre o biscoito. A BFerraz é a agência responsável pelo marketing em ponto-de-venda. Até o momento, tal ação se resume a estandes de degustação do produto em algumas lojas do Walmart.

A americana Kraft Foods decidiu, silenciosamente, parar a fabricação de inúmeras marcas de biscoito no Brasil, em meados do ano 2000. A empresa acabava de adquirir a Nabisco (que fabricava produtos como Oreo e Ritz) globalmente por 20 bilhões de dólares. Com a compra, a Kraft direcionou sua estratégia nacional para chocolates, com a marca Lacta, deixando o segmento de biscoitos para a liderança folgada da Nestlé. Desde então, há petições on-line e grupos em redes sociais que pedem a volta da marca ao país. No site ReclameAqui, as únicas reclamações sobre o biscoito Oreo se referem a sua ausência nas prateleiras dos supermercados brasileiros.

Atualizada às 13h50: O Carrefour informou nesta quarta-feira que analisa a comercialização da marca Oreo, apesar de não haver data para o início das vendas nas lojas da rede.
Atualizada às 17h30: O Grupo Pão de Açúcar enviou uma nota nesta quarta-feira informando que está analisando com a Kraft Foods as bases de custos do produto e que, enquanto as negociações com a empresa não forem concluídas, não há previsão para o início das vendas do Oreo nas redes Extra e Pão de Açúcar.


Sede da Nabisco, em Nova York

O primeiro biscoito Oreo foi fabricado em 1912 na confeitaria Nabisco, no bairro Chelsea, de Nova York.

Conheça as marcas 'dissidentes' que decidiram voltar ao Brasil

Consumo

Percalços econômicos e queda nas vendas fizeram com que algumas marcas simplesmente excluíssem o Brasil se seus planos de negócio; mas o mercado consumidor atrativo fez com que mudassem de ideia

Jéssica Otoboni e Talita Fernandes
Batatas Lay's nos sabores clássica, picanha e sour cream
Batatas Lay's nos sabores clássica, picanha e sour cream voltaram a ser vendidas no Brasil (Divulgação)
Se o aumento da renda e a ascensão da classe C contribuíram para que diversas empresas ampliassem seus negócios no Brasil, elas também fizeram com que marcas que já estiveram em território nacional voltassem às prateleiras do consumidor brasileiro. Apenas este ano marcas como Oreo, Lay’s e a loja de departamentos americana Sears já anunciaram sua volta ao mercado. Recentemente, os chocolates Kit-Kat e Lollo e a Coca-Cola Light retornaram ao país.

De acordo com Claudio Felisoni, presidente do Provar, muitas empresas saíram do Brasil na década de 1990 devido à complexidade do ambiente econômico. “O que tínhamos era inflação ainda preocupante e muitas dificuldades em termos do ambiente de negócios”, lembra. À época, o país passava por um período de ajuste fiscal e início de estabilização econômica, com juros altos e pouco crédito disponível para o consumo. Segundo Felisoni, a retomada da economia ocorrida nos últimos dez anos, como resultado do processo de estabilidade fiscal e controle inflacionário, estimulou algumas empresas 'dissidentes' a voltar.

A gigante varejista Sears saiu do Brasil devido às vendas fracas e ao momento econômico pouco favorável. A empresa também atribuiu a debandada às suas próprias dificuldades nos Estados Unidos. A rede desembarcou no país no final da década de 1940 e decidiu fechar as portas nos anos 1990. A marca volta ao país por meio de franquiadas e espera iniciar suas operações em meados de 2014, para concorrer com Casas Bahia e Magazine Luiza. 

O crescimento do mercado consumidor brasileiro é o principal atrativo para as marcas que voltam, segundo a Global Franchise, consultoria que intermedeia o retorno da Sears ao país. “O Brasil se tornou uma potência mundial, um dos principais países para se investir atualmente, o que chamou a atenção da Sears, que hoje já se recuperou como uma das maiores redes varejistas do mundo (27º colocada de acordo com a Deloitte).”

De acordo com Jaime Troiano, presidente da consultoria Troiano, o fato de o brasileiro viajar muito mais para o exterior também ajuda a estimular a vinda de marcas estrangeiras para o país, tanto aquelas que já estiveram aqui quanto as que vêm pela primeira vez. “Ao retornar da viagem, a expectativa do consumidor brasileiro é de encontrar essas marcas aqui. Isso cria um espaço mercadológico para a vinda de produtos novos ou que deixaram de ser vendidos anos atrás.”

Embora o movimento de migração de marcas esteja acontecendo para a América Latina como um todo, a tendência é mais forte no Brasil do que nos demais países da região. Troiano lembra que países como Argentina e Venezuela têm sofrido muito mais com saídas do que com retornos. “Em alguns casos, como Venezuela e Bolívia, além da saída espontânea, todos nós sabemos dos casos em que as empresas são ‘convidadas’ a se retirar ou são simplesmente nacionalizadas”, explica.

Oreo


O biscoito mais vendido do mundo, o Oreo, estará nas prateleiras das principais varejistas do país a partir do dia 1º de dezembro. Segundo a fabricante Mondelez, o biscoito será vendido em três versões de embalagem: individual, com quatro unidades; familiar, com 10 unidades; e multipack, com quatro pacotes individuais, totalizando 16 unidades. Desde o dia 1º de novembro, o produto é comercializado com exclusividade em lojas da rede Walmart das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O produto saiu das gôndolas de supermercados brasileiros na década de 2000.

As quedas de braço por trás do Marco Civil

Legislação


Há disputas ideológicas em torno do projeto de lei que vai disciplinar a rede. E há também embates comerciais pela exploração de um mercado bilionário

Renata Honorato
Quebra de braço
(Tatiana Popova/Getty Images)

De um lado, empresas de telecomunicações. Do outro, companhias de internet. Ora em uma posição, ora em outra, governo e especialistas. Há disputas ideológicas em torno do projeto do Marco Civil que vai a votação na Câmara dos Deputados com o objetivo de estabelecer as regras da rede brasileira. E há também, é claro, embates comerciais pela exploração de um mercado bilionário. Nessa briga, dois setores vivem em choque permanente: as teles e as empresas web. As primeiras são responsáveis pela infraestrutura por onde navegam os dados de telefonia (fixa e móvel) e banda larga. As empresas web oferecem serviços diversos, do buscador Google à rede social Facebook. À primeira vista, são atividades complementares. A prática vem mostrando, contudo, que os dois blocos competem mais a cada dia e isso se expressa no jogo de pressões e discursos sobre o Marco Civil no Congresso.

O setor de teles é um titã. Faturou 214 bilhões de reais no Brasil em 2012. Mas ele vem perdendo algum espaço — e muito dinheiro — para companhias de internet. O exemplo mais notório desse fenômeno é a ascensão dos serviços conhecidos como "voz sobre IP" (ou VoIP), que permitem a comunicação de voz e imagem pela rede. O mais famoso deles é o Skype. O resultado é a redução da conta do telefone do usuário e, por tabela, o enxugamento da receita das teles. Segundo estudo britânico da empresa MobileSquared, especializada no mercado móvel, as operadoras de telefonia de todo o mundo deixaram de faturar cerca de 36 bilhões de dólares em 2012 em decorrência da popularização do Skype e congêneres.

Uma das armas de contra-ataque das teles é oferecer novos produtos, alguns dos quais rivalizam diretamente com atrações das empresas web. "Para continuar faturando alto, as teles precisam enfrentar empresas web e de TI, como a IBM", diz Samuel Rodrigues, analista da IDC, consultoria especializada no setor de tecnologia. É o caso do Now, produto da Net, serviço de vídeo por demanda similar ao americano Netflix.

A reação das teles ao avanço das web inclui a posição contrária à instituição da neutralidade de rede, um dos principais pontos do Marco Civil. A neutralidade prevê que as teles, provedoras de conexão, devem tratar todos os dados que circulam na rede de forma igual, não cabendo distinção por tipo, origem ou destino de arquivo. Se a posição das teles prevalecer, essas empresas poderão impor uma cobrança proporcional ao uso da rede. Assim, usuários afeitos a games, vídeos e serviços de VoIP, que exigem a transmissão de grandes arquivos digitais, pagariam mais. Em caso de derrota da neutralidade, as teles poderiam ainda privilegiar os seus próprios serviços em detrimento dos oferecidos por empresas web. (Continue a ler a reportagem)






Outra ponto de disputa que emerge no Marco Civil é a publicidade na internet. É uma briga por um bolo que está crescendo. Neste ano, os anúncios devem injetar 6 bilhões de reais no mercado digital nacional, sendo que 80% desse montante provavelmente ficará nas mãos de alguns gigantes da web, como Google e Facebook, de acordo com estimativas da IAB Brasil (Interactive Advertising Bureau), entidade que monitora a publicidade on-line.

As teles querem, é claro, um pedaço do bolo. Contudo, o texto do Marco Civil apresentado pelo relator do projeto, Alessando Molon (PT-RJ), impede que essas companhias entrem na fila do doce. O trecho do projeto de lei dedicado ao assunto veda às teles o direito de armazenar registros de navegação dos usuários — informações como data, horário e site acessado por um cliente. Sem essas informações, é impossível seguir os passos dos usuários pela rede e entender seus hábitos e preferências. Não há essa limitação para as empresas web, que podem fazer isso, desde que o usuário esteja logado a seu serviço. "Aprovar o Marco Civil como está seria oficializar o monopólio da propaganda na internet para redes sociais e buscadores", diz Alexander Castro, presidente do SindiTelebrasil, entidade que representa as operadoras de telefonia.

As teles podem ganhar uma batalha, contudo, se prevalecer a intenção do governo de obrigar, via Marco Civil, as empresas web a manter os dados dos usuários usuários brasileiros em data centers instalados em território nacional. Especialistas são contra. As empresas de internet também.

Os primeiros alegam que a ideia é inócua, pois não garante o que o governo aparentemente quer: coibir a violação de dados pessoais por empresas ou governos estrangeiros.

Google e Facebook vêm reafirmando seguidamente posição contra a obrigatoriedade da hospedagem nacional. "A emenda proposta ao Marco Civil, exigindo que as empresas de internet mantenham os dados de usuários brasileiros em data centers locais, arrisca limitar o acesso a serviços de empresas dos EUA e outros países", diz o gigante das buscas. O Facebook complementa: "O armazenamento de dados é um desafio enorme e essencialmente técnico. Uma exigência como essa que vem sendo debatida frustrará a inovação e criará barreiras desnecessárias para empresas nascentes."

Copatrocinadoras de medida, ao lado do governo, as teles alegam que os data centers nacionais podem gerar empregos por aqui. Pode ser verdade, mas não é toda a verdade. Segundo relatório do SindiTelebrasil, as empresas do setor investiram 25 bilhões de reais na construção de data centers em 2012. Agora esperam mais clientes. Se a lei der uma ajudinha, tornando compulsório o uso da infraestrutura instalada no Brasil, não há do que reclamar. Google e Facebook, entre outros, seriam muito bem-vindos.

Não surpreende o fato de a votação ter sido adiada diversas vezes na Câmara. Os próprios parlamentares se dividem sobre os temas controversos do Marco Civil. O PMDB, maior partido da base governista, é ao mesmo tempo contrário à neutralidade (posição defendida pelas telas) e aos data centers locais (tese das empresas web). O relator Molon está do lado das companhias de internet na questão da neutralidade, mas em lado oposto quando o assunto é hospedagem compulsória de dados. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, petista como a presidente Dilma Rousseff e o relator Molon, diverge de ambos no assunto neutralidade e pede alteração na redação do artigo que trata do tema. Google, Facebook e similares reclamam que Eduardo Cunha, líder do PMDB na Câmara, não ouve seus pleitos. As teles dizem o mesmo sobre Molon.

Enquanto o projeto de lei não segue para votação, representantes dos interessados circulam pela Câmara em busca de aliados. Em outubro, durante a redação final da matéria, Katie Harbath, diretora de políticas públicas do Facebook, circulou por Brasília ao lado de Bruno Magrani, gerente de relações governamentais da rede social, responsável por buscar a aproximação com os parlamentares. Katie, porém, garantiu que sua visita não tinha relação com a votação da "constituição da internet", como é conhecido o Marco Civil. "Minha visita está relacionada ao treinamento de políticos brasileiros", disse a executiva.

Odebrecht negocia construção de polo nos EUA


Localizado na Virginia, empreendimento petroquímico será operado pela Braskem

Al Messerschmidt/Getty Images
Bandeira dos Estados Unidos
Estados Unidos: Braskem já é líder em polipropileno no país.

São Paulo - A Odebrecht Ambiental, empresa controlada pelo grupo Odebrecht, anunciou, em parceria com o governo de West Virginia, um projeto de construção de um polo petroquímico no estado norte-americano. A evolução e a estruturação financeira do empreendimento serão de responsabilidade da Odebrecht Ambiental, porém a operação do complexo ficará a cargo da Braskem, braço petroquímico do grupo Odebrecht.

O projeto ainda está em fase de análise da viabilidade econômica, por isso detalhes como o valor do investimento e a capacidade de produção do polo ainda não estão fechados. Há, por outro lado, a definição de que o polo será responsável pela produção de polietilenos, o que marcará o ingresso da Braskem no mercado norte-americano desse tipo de resina. A Braskem já é líder em polipropileno nos Estados Unidos.

Além do acesso ao mercado consumidor da principal economia mundial, o projeto é crucial para aumentar a competitividade global da petroquímica brasileira, que passaria a ser abastecida diretamente pelo gás de xisto (shale gas), reserva de gás não convencional que reduziu substancialmente o custo de produção de petroquímicos nos EUA. Graças à exploração do gás de xisto, o custo do gás no país equivale a praticamente um quarto dos valores cobrados no Brasil.

"Está decidido que o projeto contará com um cracker (unidade de produção) de etano e a planta produzirá polietileno. Mas o tamanho ainda está sendo estudado", afirma o presidente da Braskem para operações nos Estados Unidos e Europa, Fernando Musa, em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. "A Braskem já vem, há algum tempo, buscando oportunidades de participar e se beneficiar da revolução proporcionada pelo shale gas", disse. A Odebrecht já fechou opção de compra para o terreno onde será localizada a unidade. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
(André Magnabosco - andre.magnabosco@estadao.com)