quarta-feira, 17 de abril de 2024

Pedidos de recuperação judicial têm maior alta em 8 anos, puxados por agro e comércio

 


No acumulado em 12 meses, alta foi de 73%, o 15º aumento seguido; especialistas ainda não enxergam perspectivas de melhora.

 

 

Loja do Dia - Crédito: Divulgação

Apesar da queda da Selic já em curso, o número de pedidos de recuperação judicial segue crescendo. No acumulado do primeiro trimestre de 2024, o avanço foi de 73,4%, o maior para o período desde 2016. Os dados foram antecipados pela Serasa Experian à IstoÉ Dinheiro

Somente em março, foram 183 pedidos, um crescimento de 94,7% em comparação ao ano passado, e de 8,3% em relação a fevereiro deste ano. Já em 12 meses, o aumento dos pedidos de RJs foi de 73,3%, o 15º aumento seguido. E, por enquanto, não há perspectiva de melhora, segundo afirma o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, dado o “patamar ainda muito elevado de inadimplência das empresas”. 

“Enquanto isso não entrar numa tendência de queda, os dados de pedidos recuperações continuarão elevados”, afirma ele.

“Se esse ritmo se mantiver, até o final do ano nós vamos praticamente igualar ou até mesmo ultrapassar a quantidade de pedidos de RJ que nós observamos em 2016.”

No mercado, a perspectiva também não é positiva entre quem acompanha de perto a situação de empresas em dificuldades. “Eu não vejo cenário melhorando, eu vejo piorando”, afirma Max Mustrangi, sócio fundador da Excellance, empresa que atua com reestruturação de empresas. 

Ele cita riscos externos, como a persistência da inflação nos Estados Unidos (que pode minar as chances de queda de juros e dificultar o afrouxamento das taxas no Brasil) e internos, como as preocupações sobre as contas públicas e as consequências sobre a inflação. 

Rabi também aponta esses fatores como obstáculos para a melhora do cenário para as empresas. “Mais recentemente voltaram as preocupações, com o governo agora revisando a meta fiscal do ano que vem para baixo, isso está impactando a curva de juros, o dólar subindo”, comenta. “Essas incertezas ainda pairam sobre o cenário econômico e isso pode atrapalhar nesse processo de queda de inadimplência.”

Preocupações com agro e comércio

Na divisão por setores, o agronegócio e o comércio se destacam com os maiores aumentos no número de pedidos de RJ. Na comparação anual, os avanços em março de 2024 foram de 200% e 220%, respectivamente. A indústria registrou alta de 55% e o setor de serviços, de 47,9%. 

Para o agro, especialistas apontam dificuldades como o clima, queda nos preços dos grãos e aumento no custo de fertilizantes. E a perspectiva é de que a tendência perdure por mais alguns meses, segundo Mustrangi. 

“Eu tenho conversado muito com o setor financeiro e a expectativa de RJs no agro não para no primeiro trimestre com a safra. Existe uma perspectiva de continuidade de casos de RJ e falência no agro no segundo e terceiro trimestre, que é quando as empresas vão começar a fazer água, não conseguem achar financiamento, vai acabando o estoque de dinheiro no caixa”, afirma ele. 

Já para o comércio, Rabi aponta que “é um setor que depende de juros, de crédito e de renda”, e portanto tende a sofrer mais com a Selic ainda elevada.

Entre os pedidos de RJ do comércio em março houve o da rede de supermercados Dia. “Esse caso foi como o de um monte de empresas que foram malucamente e obsessivamente atrás do crescimento a qualquer custo do faturamento, e se esqueceram que precisava dar rentabilidade, dar retorno”, opina Mustrangi.

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