terça-feira, 26 de agosto de 2014

Indústria química a perigo





Impasse entre Petrobras e Braskem provoca efeito dominó em todo setor, afastando investimentos, inclusive, no sul do Brasil

Por Laura D’Angelo

polo-industrial-camacari-350A poucos dias do término do contrato, Petrobras e Braskem ainda não chegaram a um acordo sobre o reajuste do preço da nafta - insumo fornecido pela estatal que, segundo o cálculo de especialistas do mercado, sofreria um aumento entre 5 a 10% na renovação do acordo ao final deste mês. O impasse joga um balde água fria nas expectativas do setor de reduzir o custo com a matéria-prima. E pode ter sérios efeitos em toda cadeia produtiva da indústria química nacional e local, afetando, inclusive, o Polo Petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul, onde atua a Braskem.

Para João Luiz Zuñeda, presidente da consultoria química Maxiquim, não há lógica na disposição da Petrobras de propor um aumento do preço da nafta no momento em que a indústria norte-americana está com custos de energia elétrica e de matéria-prima menores que os praticados no Brasil. Elevar a nafta seria comprometer a competitividade do setor químico nacional, que já trabalha com margens de lucro apertadas, argumenta. “Pode provocar a suspensão de alguns investimentos ou até mesmo a paralisação das plantas produtivas”, alertou o consultor em palestra no Fórum “A química em seu estado mais inovador”, que aconteceu nesta segunda-feira (25) na Federação das Industrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre.

A Braskem admitiu em comunicado ao Portal AMANHÃ na última sexta-feira que, caso não encontre uma solução, existe a possibilidade de interrupção parcial da produção. Por enquanto, a situação tem deixado em stand by alguns investimentos projetados pela petroquímica, como a construção de uma fábrica no Polo industrial de Camaçari, na Bahia, para a produção de ABS,  em parceria com o grupo Styrolution. No sul, a instalação da unidade da polonesa Synthos no Polo de Triunfo foi suspensa por falta de garantia de fornecimento do butadieno pela Braskem, insumo proveniente da nafta (leia aqui). “Se a Braskem enfraquece, enfraquece tudo”, concluiu Zuñeda. Também presente no Fórum, João Ruy Freire, gerente institucional da Braskem no Rio Grande do Sul, afirmou que a petroquímica tem lutado para que, ao menos, o contrato com as condições atuais de valor seja mantido até o final do ano.

A proposta de reajuste no preço da nafta é uma nova opção estratégica da Petrobras para recuperar sua margem de lucro. Atualmente, a estatal importa 70% da nafta e produz 30%. Esses seriam destinados à produção de combustível pela estatal, enquanto o insumo comprado no exterior seria fornecido à Braskem, com repasse do custo da importação. Para Zuñeda, a estratégia não faz sentido, pois a Petrobras é uma das principais acionistas da Braskem, com 36% do capital total, e sempre foi incentivadora da petroquímica brasileira. O saldo de um possível desacordo entre as empresas poderá ser sentido na balança comercial da indústria química brasileira. O déficit do setor hoje é de US$ 30 bilhões. “Nosso déficit só não é maior por causa das petroquímicas, que fazem os produtos químicos de uso industrial. Elas são sempre superavitárias. O que nos deixa no negativo são outras indústrias, como a de fertilizantes, que temos que importar”, explica Zuñeda.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário