Projeto de lei que institui uma nova figura no mercado de trabalho jurídico enfrenta oposição da OAB; conheça argumentos favoráveis e contrários à sua aprovação
São Paulo - O mercado para quem trabalha como advogado no Brasil pode mudar nos próximos tempos. Pelo menos se o Senado
aprovar a proposta regulamentadora da profissão de paralegal, que já
passou pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados no início de agosto.
Segundo o projeto de lei 5749/13, de autoria do deputado Sergio Zveiter (PSD-RJ), o bacharel em Direito sem aprovação no Exame da OAB poderia exercer algumas atividades num escritório de advocacia, desde que acompanhado por um advogado com registro.
Segundo explica o autor do projeto, que altera o Estatuto da Ordem dos
Advogados do Brasil, o paralegal não poderia exercer certas funções
restritas a advogados, como assinar petições ou fazer sustentações orais
em julgamentos.
No entanto, ele poderia auxiliar o advogado a preparar documentos e
fazer pesquisas. O detalhe é que a profissão vem com um "prazo de
validade" de três anos. Depois desse período, se o indivíduo não for
aprovado no Exame da OAB, volta a ser bacharel.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é contrária à proposta. “O
paralegal é um advogado parcial, que acabaria sendo levado a uma
situação precária”, afirma Marcus Vinícius Furtado Coelho, presidente do
Conselho Federal da OAB.
Segundo ele, seriam criados níveis desiguais de atuação. “Não podem
existir cidadãos, e nem advogados, de primeira ou de segunda linha”,
diz. “Como determinar qual dos dois vai cuidar de um atendimento ou
outro? Não existe uma causa mais ou menos importante do que outra”.
O presidente do Conselho Federal da OAB também enxerga a proposta como
um “desestímulo ao estudo”. “É só uma forma de acomodar quem não passa
no Exame da Ordem”, afirma.
Profissão existe em outros países
Em resposta à controvérsia, o autor do projeto de lei, o deputado
Sergio Zveiter (PSD-RJ), afirma que teve como inspiração países como
Estados Unidos e Canadá, onde existe a figura do paralegal.
“É uma experiência que já deu certo em muitos outros países e pode ser
boa para nós”, afirma. Segundo ele, essa seria uma solução para “retirar
do limbo” um grande número de bacharéis sem status jurídico no Brasil.
“Há um sem número de profissionais formados em Direito que desejam
seguir carreiras alternativas à de advogado, como delegado por exemplo”,
explica o deputado. Segundo ele, além de ser mais uma opção no mercado
de trabalho, a figura do paralegal seria muito útil para o trabalho nos
escritórios de advocacia.
Demanda do mercado
De fato o mercado de trabalho apresenta demanda pelo trabalho do
paralegal, segundo o advogado Fábio Salomon, da consultoria Salomon e
Azzi. “Os escritórios de advocacias muitas vezes precisam de alguém para
apagar incêndios, e esses profissionais fariam esse papel”, afirma.
No entanto, isso é uma má notícia para os estagiários, segundo ele.
“Com a recente mudança na lei do estágio, os estudantes só podem
trabalhar 6 horas por dia, o que não é suficiente para suprir a
necessidade de trabalho dos escritórios”, diz.
Assim, no lugar de contratar um estagiário com limitações de tempo, o
empregador provavelmente irá preferir o paralegal, na opinião de
Salomon. “Em termos de empregabilidade, o jovem estudante sai perdendo”,
afirma.
Mas o estagiário não é o único prejudicado, de acordo com ele. “O
paralegal não tem plano de carreira, porque só pode atuar durante três
anos. O que acontece com ele depois desse período?”, diz o advogado.
Para o deputado Sergio Zveiter, autor da proposta, não há conflito
entre as funções do estagiário e do paralegal. “Um é um acadêmico que
busca contato com a prática, o outro é um profissional de fato”, afirma.
Quanto à dificuldade de se traçar um plano de carreira para o
paralegal, Zveiter responsabiliza a própria OAB. “Foi por pressão deles
que tivemos que incluir o prazo de três anos para a atividade. Na
proposta original, seria por tempo indeterminado”, diz o deputado.
Aprovados e reprovados
Para Salomon, a existência do paralegal esvaziaria a importância da OAB
e desgastaria a imagem do advogado perante a sociedade. “Há uma perda
moral para quem é aprovado no Exame da Ordem, ao mesmo tempo em que o
jovem é desestimulado a buscar a habilitação”, opina.
Segundo Marcus Vinícius Furtado Coelho, presidente do Conselho Federal
da OAB, o exame propõe questões básicas, que qualquer advogado deveria
ser capaz de responder. “Quem não é aprovado precisa estudar mais, e não
há limite para tentativas”, afirma.
Ele afirma que as reprovações no Exame da Ordem têm a ver com a baixa
qualidade do ensino superior na área. “O projeto de lei é só um
‘jeitinho’ para acomodar uma situação grave causada pela multiplicação
desenfreada dos cursos de Direito”, diz Coelho.
O deputado Zveiter afirma que o Exame da OAB, em si, não é o objeto da
proposta. “Não estamos discutindo a OAB e nem o Exame, estamos apenas
falando de uma possibilidade de atuação para bacharéis em Direito”,
afirma.
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