Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, diz que a mudança para 2019 já era esperada, mas a de 2020 foi novidade
São Paulo – O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu hoje mudar, pela primeira vez desde 2005, o centro da meta de inflação no Brasil.
O Banco Central
terá que perseguir um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de
4,25% em 2019 e de 4% em 2020 com tolerância de 1,5 ponto percentual
para cima ou para baixo.
Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco
Central, diz em nota que a mudança para 2019 já era esperada, mas a de
2020 foi novidade.
O que abriu o caminho foi um decreto presidencial publicado na manhã
desta quinta-feira (29) estendendo o horizonte de fixação da meta de 18
meses para 30 meses.
Para Schwartsman, a decisão relacionada ao futuro pode inclusive ajudar a manter a inflação baixa já no presente, já que há um horizonte na fixação de preços.
“Em um cenário onde o Banco Central consegue ancorar as expectativas,
e então convence os fixadores de preços que a melhor aposta em relação à
inflação futura é a meta, diminuir a meta empurra para baixo também a
inflação atual”, diz a nota.
A capacidade do Banco Central ancorar as expectativas não é um “poder
mágico”, continua o texto, e sim resultado da credibilidade conquistada
pela equipe que assumiu há pouco mais de um ano.
Atualmente, os economistas consultados pelo Boletim Focus já esperam que a inflação feche 2017 em 3,48%, abaixo da meta de 4,5%.
Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do
Goldman Sachs, concorda que as metas são “críveis e atingíveis” diante
da credibilidade da equipe e do ambiente benigno para a inflação.
“Acreditamos firmemente que entregar inflação baixa e estável é a
melhor contribuição que o BC pode dar para criar condições para um
crescimento e desenvolvimento sólido, sustentável e socialmente
empoderador. A decisão de hoje do CMN é um passo à frente nesta
direção”, diz a nota.
Ele aponta que mesmo países latino-americanos tem metas mais baixas e
com menor margem de tolerância, como Chile, Colômbia e México (meta de
3% com tolerância de 1 ponto percentual) e Peru (meta de 2% com
tolerância de 1 ponto percentual).
Mas há uma ameaça: o fiscal. Se uma ampla reforma da Previdência não
for aprovada, os gastos com pensões e aposentadorias ocuparão um espaço
cada vez maior no Orçamento.
Isso tornaria inviável o teto de gastos e segundo Schwartsman,
ressuscitaria o temor de “dominância fiscal” muito debatido no início de
2016.
Na coletiva de imprensa concedida hoje após a decisão, a equipe econômica tentou isolar a questão monetária da fiscal.
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse que as reformas
abaixam a taxa de juros estrutural da economia, mas que “as metas de
inflação serão cumpridas” independentemente disso.
“O BC nunca disse que não conseguiria entregar a meta sem a reforma, o
BC vai entregar a meta, sim. A sinalização foi sobre a dosagem dos
instrumentos”, disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Em outras palavras: para conseguir atingir a meta em um cenário onde o
fiscal não colabora, os juros teriam que ficar mais altos e por mais
tempo.
É grande a expectativa em relação à próxima reunião do Copom nos dias
25 e 26 de julho. O BC havia indicado redução no ritmo de corte de
juros, atualmente em 1 ponto percentual, diante da crise política.
Mas o mercado continua relativamente calmo e a inflação em queda livre: há quem espere que o IPCA deve mostrar deflação em junho pela primeira vez em 11 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário