Aquisição da Whole Foods Market por 13,7 bilhões de dólares pode transformar o setor de supermercados, segundo analistas
São Paulo – A Amazon,
maior companhia de comércio eletrônico do mundo, fez hoje sua maior
aposta no varejo físico, com a compra da rede norte-americana de
supermercados Whole Foods Market. O negócio
pode mudar radicalmente o setor de supermercados, da mesma forma que a
gigante transformou as livrarias e o comércio eletrônico, segundo
analistas.
Trata-se da maior compra da história da Amazon. O valor da aquisição,
de 13,7 bilhões de dólares ou 42 dólares por ação representa um prêmio
de 27% em relação ao valor de fechamento e também inclui as dívidas da
adquirida.
Com vendas de 16 bilhões de dólares em 2016, a rede Whole Foods
Market “tem satisfeito, encantado e nutrido consumidores por quase
quatro décadas. Eles estão fazendo um ótimo trabalho e queremos que isso
continue”, disse a Jeff Bezos, presidente da Amazon em nota. Com a adição desse faturamento ao balanço da companhia, vendas de perecíveis se torna um de seus maiores negócios.
A marca continuará existindo e John Mackey, cofundador e presidente
da Whole Foods Market, continuará no cargo. A sede, em Austin no Texas,
também não deverá mudar. A aquisição ainda está sujeita à análise dos
acionistas da rede e de aprovações regulatórias.
Não é a primeira investida da gigante no setor de supermercados, mas é
certamente a mais impactante. Ela já vinha desenvolvendo serviços e
protótipos para entrar nesse setor.
Compras em supermercados representam cerca de 15% dos gastos anuais
das famílias nos Estados Unidos, disse Robin Sherk, vice-presidente
sênior da Kantar Retail, consultoria de varejo. “Compras e itens
perecíveis são um foco estratégico muito importante para a Amazon.
Capturar esses gastos é capturar viagens semanais e share of mind”,
disse, por e-mail, a EXAME.com.
Segundo o banco JP Morgan, “com o tempo, acreditamos que a Amazon
pode trabalhar para transformar a experiência física no varejo”.
“Estamos vendo sinais muito iniciais através das livrarias da Amazon e a
loja Amazon Go, em Seattle”, afirmou, em relatório.
Digital fortalecida
Para a Amazon, a compra é um passo muito maior na direção do setor de
supermercados e do mundo físico do que a companhia vinha fazendo até
então, com algumas experimentações revolucionárias.
E, ainda que pareça paradoxal, as investidas da varejista no mundo físico podem fortalecer mais sua operação digital.
Segundo o banco de investimentos Piper Jaffray, os principais ganhos
da Amazon com a aquisição são o logístico e a maior proximidade com os
consumidores, que tende a fortalecer sua operação de entrega de produtos
frescos.
A expansão deverá ocorrer principalmente com a marca Amazon Fresh.
O serviço foi lançado em 2007 e oferece mais de 500.000 itens frescos,
como alimentos, para entrega no mesmo dia ou manhã seguinte. Custa 14,99
dólares por mês e está aberto apenas para membros Prime, assinatura
anual com diversos benefícios.
A entrega está disponível apenas em cerca de 20 cidades nas regiões
de Seattle, norte e sul da Califórnia, Nova York e Philadelphia, cerca
de 20% a 30% da população dos Estados Unidos, de acordo com a análise do
banco.
Com a incorporação das mais de 460 lojas da Whole Foods espalhadas
pelos Estados Unidos, Canadá e Reino Unidos, a cobertura para a entrega
de produtos frescos da Amazon se torna quase nacional, especialmente
entre a população de maior renda.
As lojas poderão servir como estoque e pontos de distribuição.
“Acreditamos que a Amazon pode, portanto, lançar cobertura nacional de
entrega de suprimentos dentro de 12 a 18 meses”, diz o relatório.
Outras iniciativas da gigante no setor também incluem a Amazon Fresh
Pickup, retirada gratuita de itens de supermercado em duas localidades,
Prime Now, entrega de alguns produtos frescos em até duas horas em mais
de 30 cidades e Amazon Go, supermercado tecnológico sem caixas ou
checkout, com pagamento diretamente pelo celular, serviço ainda está em
fase de testes.
O banco JP Morgan acredita que, no longo prazo, a companhia poderá
implementar a tecnologia Amazon Go, de compras sem caixas, nas lojas
Whole Foods, diminuindo consideravelmente os gastos operacionais e com
funcionários.
Livraria digital e física
A transformação que analistas preveem para o setor de supermercados
já ocorreu com o setor de livros. Criada como uma vendedora de livros
pela internet em 1994, a Amazon cresceu tanto que levou diversas
livrarias a fechar lojas.
Em novembro de 2015, ela abriu sua primeira livraria física em
Seattle, cidade sede da companhia e berço de várias de suas inovações.
Mais do que vender livros, o objetivo das lojas Amazon Books é
fortalecer a venda dos dispositivos da própria companhia como o leitor
de e-books Kindle, e os dispositivos Amazon Fire TV, Echo e Echo Dot,
ligados à assistente virtual Alexa.
“Acreditamos que livrarias, por exemplo, são uma excelente forma para
os consumidores interagirem com nossos dispositivos, verem, tocarem e
brincarem com eles e se tornarem fãs, então vemos um grande valor
nisso”, disse o diretor financeiro Brian Olsavsky durante a apresentação de resultados da empresa.
Com faturamento de quase 90 bilhões de dólares e planos ambiciosos, a Amazon está, de fato, ganhando muito valor.
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