Embora as startups divulguem que o acordo se trata de uma fusão, fontes confirmam a EXAME Hoje que a operação se tratou de uma aquisição
A tão esperada consolidação no mercado de aplicativos de transporte no Brasil finalmente começou.
A startup espanhola Cabify e a brasileira Easy uniram
as operações em uma negociação que se arrastou por mais de um ano —
começou em abril de 2016 — e havia sido adiantada por EXAME
Hoje
em janeiro. Embora as startups estejam tratando a negociação como uma
fusão entre os aplicativos, fontes próximas ao acordo afirmaram a EXAME
Hoje que, na prática, a Cabify comprou a operação da Easy.
Ainda de acordo com essas fontes, o acordo foi benéfico aos
acionistas da Easy, levando em conta o cenário de competição acirrada no
setor e a descapitalização da companhia, que estava com dificuldades em
competir no cenário de concorrência acirrada no Brasil. Não há
confirmação, no entanto, sobre o valor total da transação, nem se ela se
deu por meio de ações da companhia ou envolveu dinheiro.
Criada em 2012 e presente em 170 cidades de 12 países, a Easy
levantou mais de 77 milhões de dólares desde então e tinha como
principal acionista o fundo alemão Rocket Internet. Já a Cabify recebeu
cerca de 250 milhões de dólares em investimento desde 2011,
principalmente da empresa japonesa Rakuten, e está com uma rodada de
investimentos em aberto na tentativa de captar mais 200 milhões de
dólares.
“A operação era tão necessária para a Easy quanto para a Cabify, que
está com dificuldades em levantar capital e precisa justificar o valor
de mercado que diz ter”, diz um especialista no setor ouvido por EXAME
Hoje. Segundo ele, o valor de mercado dos aplicativos de transporte é um
múltiplo do ciclo financeiro gerado pelas corridas da plataforma. “A
Cabify tem um múltiplo extremamente inflacionado e não consegue atrair
investidores. Adicionar a Easy ao negócio é uma forma de tentar
aproximar o valor de mercado estipulado do total das corridas feitas
pelo app”, diz.
Ainda de acordo com o especialista, isso explica o fato de a Cabify
anunciar que está com uma rodada de investimentos em aberto. “Ninguém
faz isso no setor. As empresas captam e anunciam depois. A Cabify disse
que estava investindo 200 milhões de dólares no Brasil, um mês depois
anunciou que captou só 100 milhões e continua em busca de 200, para
fechar a rodada de 300”, diz.
Segundo as empresas, os aplicativos operarão sob o comando do atual
presidente e fundador da Cabify, Juan de Antonio, mas manterão as marcas
e equipes próprias.
Procurada, a Easy negou que a operação tenha sido uma compra e os
rumores de que os aplicativos se transformarão em breve em um só. “No
futuro, a união de marcas pode acontecer, mas não vai ser no curto
prazo. As duas marcas funcionam bem estando separadas e temos capital
para manter isso”, diz Jorge Pilo, co-presidente da Easy. “A indústria
de transporte por aplicativos está mudando e vai ser fundamental no
futuro. Essa união nos coloca em uma boa posição para competir”. A Cabify se negou a comentar o assunto com EXAME Hoje. Os fluxos da internacionalização:
O Mundo Corporativo te mostra que conexão é a palavra-chave da nova globalização
Nem bem foi anunciada, a união de forças já começou a encontrar
resistências por parte de taxistas, principalmente na Colombia, um dos
principais mercados da Easy e onde, historicamente, o transporte feito
por carros particulares sofre resistência devido à pressão das
associações de taxistas. Uma nova legislação pode complicar ainda mais a
situação no país.
O acordo veio em boa hora para a Easy. Recentemente, todas as
concorrentes anunciaram grandes investimentos no Brasil. A Uber deve
colocar 200 milhões de reais no mercado nacional, enquanto a 99 recebeu
uma rodada de 200 milhões de dólares, dividida entre janeiro e abril,
para investir na sua expansão pela América Latina, mas principalmente no
crescimento das corridas por meio de carros particulares por aqui.
A Cabify anunciou em abril que estava se preparando para investir 200
milhões de dólares só no mercado brasileiro, que, em menos de um ano,
se tornou o maior para a empresa que opera em 12 países. Nesse cenário, a
Easy vinha enfrentando dificuldades para competir com as concorrentes.
Embora os negócios da startup continuassem atrativos aos
investidores, principalmente pela força que demonstra em mercados
importantes, como Peru e Colômbia (onde também é dona da Tapsy), muitos
fundos se negavam a entrar em um mercado onde o capital é tão intensivo e
com concorrência tão difícil. Pesavam como pontos negativos para a Easy
o fato de apenas um dos fundadores ainda estar na operação, o que não é
bem visto por novos investidores em startups, e também a dificuldade e
agressividade que historicamente o fundo alemão Rocket Internet coloca
em suas negociações.
O fortalecimento das concorrentes acontece em um cenário de grande
competição. O Uber, que chegou a ter por volta de 65% do mercado de
corridas por aplicativo brasileiro no final do ano passado, passa por
uma crise internacional que culminou na renúncia do presidente da
empresa, Travis Kalanick. Além de Travis, em menos de seis meses a
empresa perdeu seis de seus principais executivos, incluindo seu
presidente de operações, Jeff Jones, a chefe de comunicação, Rachel
Whetsone, e diversos vice-presidentes.
No Brasil, as críticas aos serviços do aplicativo também cresceram
exponencialmente e abriram espaço para os concorrentes, que vem tomando
mercado. Executivos do setor e especialistas em tecnologia ouvidos por
EXAME Hoje concordam que o mercado é grande, mas a tendência é que
continue se consolidando. Assim, a união de forças entre Easy e Cabify
deve acirrar ainda mais a competição, que está longe de acabar.
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