BRASÍLIA - Mandada
para Cingapura, com duas filhas pequenas, o salário cortado em cerca de
40%, destituída de suas funções, separada do marido, diagnosticada com
distúrbio de ansiedade e com a empresa pela qual trabalhou durante 24
anos afastando-a de suas funções e se negando a custear até a sua
passagem de volta ao Brasil, Venina Velosa da Fonseca, a geóloga que
denunciou por cinco anos irregularidades na Petrobras, enfrentou ainda
uma dificuldade adicional.
Ela precisava de um advogado para obter os seus direitos junto à
estatal justamente no momento em que a imensa maioria das grandes bancas
do Rio de Janeiro e de São Paulo está comprometidas com a defesa de
empresários e das companhias suspeitas de envolvimento no desvio de
verbas da estatal.
“Nossa decisão de representar Venina levou em conta não somente a
situação difícil em que ela se encontra, mas também a nossa indignação
quanto ao que está ocorrendo no país”, afirmou Ubiratan Mattos, advogado
que abraçou a defesa da geóloga.
Ubiratan é sócio de uma banca de São Paulo que possui grandes
empresas em sua carteira de clientes — o escritório Mattos Muriel
Kestener Advogados. São 150 profissionais dos quais 70 são advogados e
30 são estagiários. A banca atua na área do direito empresarial e fez
muitos casos na área de compliance, antes mesmo da promulgação da Lei
Anticorrupção, em janeiro deste ano. Ubiratan já foi presidente do
Instituto Brasileiro de Relações de Concorrência e Consumo (Ibracc),
entidade que reúne os principais advogados das companhias bilionárias
que enfrentam processos no Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade). Ele está acostumado a atuar em processos envolvendo valores
altíssimos.
Quando Venina o procurou, o advogado logo percebeu que aquela não era
uma causa cujo objetivo seria o retorno financeiro. “Evidentemente que o
que está em jogo não são honorários altos, mas os valores éticos que
devem pautar a atividade empresarial”, afirmou. “Nesse caso, nós nos
solidarizamos com a parte mais vulnerável. Nós decidimos que a primeira
medida a tomar é garantir o emprego dela na Petrobras.”
A banca não está atuando de graça, mas combinou com Venina um valor
“que coubesse em seu orçamento”. “Nós fizemos uma reunião de sócios para
avaliação do caso da Venina, e seu potencial conflito com a defesa de
outros clientes”, revelou o sócio Marcelo Muriel. “Concluímos não haver
nenhuma incompatibilidade, já que a Venina tem contra si a alta direção
da Petrobrás, e não as empresas. Além disso, ela está do lado da ética e
da transparência, valores que estão no nosso DNA e com os quais nossos
clientes se identificam e exercitam no dia a dia, com a nossa ajuda”,
completou.
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