Por Leandro Marcondes, publicado pelo Instituto Liberal
A ideia de que o capitalismo produz miséria, que a
pobreza de alguns é justificada pela riqueza de outros e que o capitalismo
apenas produz benefícios aos que detém capital financeiro tem sido muito
disseminada atualmente. Mas isso é verdade?
Não, não é verdade. Esses argumentos partem de uma
premissa errônea da pobreza e sua causa. A pobreza não é criada. Como bem disse
o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), “a pobreza é a condição natural do
homem”. A pobreza nunca foi uma exceção e sim a norma na história da
humanidade. Aqueles que saíram do estado de pobreza foram aqueles que buscaram
gerar riqueza de alguma forma. Portanto, a riqueza é gerada, não a pobreza.
A ideia de que o capitalismo gera pobreza se
sustenta na errônea interpretação de que o capitalismo é um ‘jogo de soma
zero’. Ou seja, para um enriquecer, outro terá necessariamente que se tornar
mais pobre. Nessa concepção, o enriquecimento é maléfico, já que estará
tornando outra pessoa mais miserável do que antes.
No entanto a própria história nos mostra como essa
premissa está equivocada. A riqueza é possível de ser gerada e não
necessariamente deslocada. Se o capitalismo fosse um jogo de soma zero, a
riqueza existente no mundo não mudaria com o passar dos anos (como tem
acontecido), mas se manteria inalterável. Como explicar que a população da
Inglaterra aumentou de 16,8 milhões de habitantes em 1851, onde mais de 90%
deles estavam abaixo da linha da pobreza, para mais de 50 milhões nos dias
atuais, onde menos de 20% estão abaixo dessa mesma linha? Teriam eles sugado
toda essa riqueza de outros países? Se tomarem como verdadeira essa afirmação,
então por qual motivo a América, Ásia, Oceania e, até mesmo a África, têm um
padrão de vida mais elevado que nos períodos precedentes?
O argumento não se
sustenta.
Mas o exemplo não se estende apenas para a
Inglaterra. Há dois séculos, o mundo possuía sete
vezes menos habitante do que atualmente, e praticamente toda a população
vivia na pobreza. Por outro lado, pela primeira vez na história da
humanidade temos menos de 10% de pessoas na extrema pobreza, segundo
dados do Banco Mundial referentes ao ano de 2015. A redução da pobreza mundial
avançou e tem avançado em passos largos. Ao mesmo tempo, a população mundial
aumenta exponencialmente. É um fato inédito na historia da humanidade.
Portanto, a riqueza existente no mundo é gerada e
não tomada de outros. Uma forma de visualizar isso melhor é quando um indivíduo
utiliza matérias-primas, aplica seu trabalho no processo de transformação e
obtém um produto novo. Esse produto foi criado e não tomado de outra pessoa.
A riqueza é criada através do trabalho, da
produção, das trocas voluntárias, mas a forma como isso é feito varia de acordo
com cada indivíduo, o que cria um problema denominado de desigualdade. Sim, a
desigualdade é gerada no sistema capitalista, mas simplesmente pelo fato de
cada indivíduo agir de forma distinta no mercado, buscando seus próprios
interesses.
Os interesses de A não são os mesmo de B. Portanto
A e B não agirão de forma igual no mercado.
Cada um almeja bens e serviços
diferentes, carreiras diferentes, possuem sonhos diferentes, lazeres e hobbies
diferentes, e etc. Se cada indivíduo tem objetivos diferentes na sua vida, é
natural que eles não busquem os mesmos trabalhos, as mesmas rendas e nem mesmo
poupem da mesma forma. A desigualdade é natural e não é nem mesmo indesejável
em muitos casos.
Outro ponto importante é que apesar da desigualdade
se elevar em muitos casos, em países que adotam uma economia liberal a pobreza
não aumenta. O fato de alguns se tornarem muito ricos aumenta a diferença entre
eles e os mais pobres, mas não aumenta a pobreza em si, pelo contrário. A
ex-primeira-ministra do Reino Unido Margareth Thatcher (1925-2013) era uma
crítica dos socialistas que argumentavam que a diferença entre ricos e pobres
aumentou em seu governo na Inglaterra. De forma correta, Thatcher se defendia
dizendo que ouve uma melhora em todos os setores da economia.
O problema é que
muitos socialistas preferem todos igualmente pobres a todos mais ricos que
antes, com uma parcela sendo ainda mais rica.
Outro exemplo é a China dos últimos anos, que
passou de um índice de Gini (o Coeficiente de Gini é um índice de medição das
desigualdades sociais e do nível de concentração de renda) de 0,3 em 1980 para
um índice próximo ao dos Estados Unidos (0,49). Apesar do crescimento da
diferença entre ricos e pobres, os chineses pobres hoje vivem melhor do que nos
períodos precedentes de igualdade socialista. A renda chinesa hoje é
equiparável à brasileira, algo inimaginável décadas atrás. A China possui
diversos problemas que nós liberais condenamos, mas, de fato, a desigualdade
não é o maior deles.
Nas concepções de que o capitalismo produz miséria
e desigualdade (injusta) é sempre necessário um governo forte e interventor
para equilibrar a riqueza mundial e impedir essas “injustiças”. De fato, essas
ações são bem intencionadas, mas independente da intenção geram mal estar na
sociedade e agravam problemas que seus ideólogos queriam resolver. O
estadunidense Alexander Hamilton (1755-1804) em The federalist Papers enfatizou
que a desigualdade econômica “existiria enquanto a liberdade existisse”. Por
esse motivo, os ideólogos da visão igualitária se rendem ao totalitarismo para
colocar suas idéias em prática.
O filósofo irlandês Edmund Burke (1729-1797) e o
economista austríaco Friedrich Hayek (1899-1992) defendiam a visão de que a
igualdade não deveria ser avaliada nos resultados humanos, mas sim nos
processos. Como dizia Burke “todos os homens têm direitos iguais, mas não para
coisas iguais”. Exemplificando, uma pessoa deve ser igual à outra perante as
leis de uma sociedade, mas não produzir os mesmos resultados em suas ações.
No livro Free to chosse, o
economista estadunidense Milton Friedman (1912-2006) complementou: “uma
sociedade que coloca a igualdade – no sentido de igualdade de resultados –
diante da liberdade, não terá nem igualdade nem liberdade. O uso da força para
alcançar a igualdade destruirá a liberdade, e a força, introduzida para gerar
bons propósitos, acabará nas mãos de pessoas que a usam para promover seus
próprios interesses”.
Entendendo que o capitalismo não gera pobreza e que
a desigualdade de resultados é natural em uma sociedade livre, a solução para
pobreza consiste não na eliminação do sistema capitalista, mas sim, no seu
fortalecimento. A criação de riquezas é o meio necessário para fugir da
miséria.
Para um povo miserável deixar essa condição é
necessário um ambiente onde o investimento privado e a criatividade empresarial
seja favorável. É necessário um estímulo espontâneo à poupança, o respeito à
propriedade privada e o respeito ao acúmulo de riquezas pelos indivíduos. Enquanto
buscarmos incansavelmente a igualdade de resultados ao mesmo tempo em que
buscamos a liberdade, não seremos nem iguais, nem livres.
Nota: Artigo publicado originalmente no Instituto Liberal de Minas Gerais.
Sobre o autor: Leandro Marcondes é
Graduando Engenharia de Produção pela FIP-MOC, voluntário em causas em defesa
das liberdades individuais e econômicas. Cofundador do grupo de estudos
liberais O Quinto.
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