A arte é pródiga em imaginar como a tecnologia pode
transformar o futuro, criando coisas fantásticas e revolucionárias. Na
indústria automobilística, um belo exemplo disso é o carro voador
construído pelo Dr. Emmett Brown em “De Volta para o Futuro”. Até aí
você pode pensar: “Legal, mas isso é pura ficção”. Sim e não. É evidente
que o mundo do entretenimento imagina coisas que nem sempre se tornam
factíveis. Mas às vezes algum empreendedor ou pesquisador fica com
aquela ideia na cabeça e tenta transformá-la em realidade. É o caso, em
parte, do veículo voador que transportou Marty McFly, o protagonista do
filme.
Agora, um empresário chamado John DeLorean,
sobrinho do designer que projetou o modelo usado no longa-metragem,
está desenvolvendo um projeto chamado DR-7, um veículo autônomo voador
que poderia ser uma alternativa aos carros convencionais. Ele começou a
trabalhar na ideia em 2012 e pretende iniciar os testes no ano que vem. A
diferença em relação ao filme, claro, é que a máquina não vai
transportar ninguém para o passado ou futuro.
O projeto de John DeLorean vai dar certo? Não sabemos, mas esse pode
ser apenas um ponto de partida para refletirmos sobre o futuro do carro –
e com base em situações reais e viáveis que já começamos a ver de
alguma forma no mercado. Esta é uma indústria que está no meio de um
processo de digitalização de impacto profundo, com transformações
radicais para toda a cadeia. O que o futuro reserva para esse setor?
Não há uma resposta definitiva a essa questão, mas podemos dizer com
segurança que esse futuro passa pela incorporação de tecnologias como
Big Data, Inteligência Artificial, Machine Learning, Internet das
Coisas, carros autônomos e uso cada vez mais intensivo de softwares e
sistemas computacionais de bordo.
Nesse processo, todos os players da indústria automotiva –
montadoras, empresas de tecnologia, startups, plataformas, fornecedores e
revendedores – devem se preparar para lidar de forma estratégica com a
imensa quantidade de dados gerada pelos veículos e, em última instância,
pelos clientes. Dominar a ciência de dados se tornou algo obrigatório
para uma das mais fortes e tradicionais indústrias do mundo.
Softwares de quatro rodas
Os carros do futuro serão muito diferentes daqueles que usamos
atualmente. Para dar uma ideia do tamanho da transformação em curso, um estudo
da consultoria Frost & Sullivan e da Irdeto aponta que o mercado
automotivo deve investir US$ 82 bilhões em tecnologias avançadas até
2020 e vai contar com a ajuda de 1,7 mil novas startups.
As máquinas de quatro rodas estarão, por exemplo, totalmente
conectadas à nuvem e poderão ter seus sistemas atualizados sem a
necessidade de que sejam levadas a uma oficina mecânica. Um ponto
importante é que vão exigir sistemas anti-hackers poderosos, porque,
como serão veículos conectados, um ataque cibernético pode colocar a
segurança dos usuários em risco.
Um dos homens fortes da indústria sintetizou bem para onde caminha
esse mercado. “As montadoras precisam mudar e virar fábricas de
softwares. Esse é o nosso futuro”, disse há alguns meses Bill Ford,
durante o SXSW, principal festival de inovação e criatividade do mundo.
Presidente do conselho de administração e bisneto do fundador de uma
das mais tradicionais companhias do setor, Ford já anunciou planos de
produzir carros autônomos, numa corrida que conta também com companhias
como Google, Apple e Tesla.
O grande cérebro desta última, aliás, fez recentemente algumas
previsões importantes. Para Elon Musk, fundador da Tesla, os carros
elétricos e autônomos terão sua produção elevada de forma exponencial
num período de dez anos. A companhia deve entregar em breve o Model 3, seu carro elétrico para o mercado de massa.
Papel estratégico
Diante de todo esse cenário de transformação radical, os players que
atuam na comercialização de veículos também devem estar no mesmo
compasso. Conectar montadoras, fornecedores e clientes finais, num
ambiente competitivo, complexo e repleto de dados, não é tarefa trivial.
Exige investimento em tecnologias como Big Data, Inteligência
Artificial e Machine Learning, seja para tornar mais fácil e eficaz a
escolha do carro pelo cliente numa plataforma digital, seja para
coletar, interpretar e extrair inteligência dos dados do comportamento
do consumidor.
Nesse contexto, os chamados dealers cars terão um papel
estratégico, pois conseguem medir o pulso de todo o mercado. Podem,
assim, identificar tendências, levantar informações precisas e ajudar a
desenvolver plataformas digitais que aproximem indústria e consumidor.
É um futuro, ao mesmo tempo, desafiador e estimulante. Pode ser que
ele não seja dominado por carros voadores autônomos capazes de nos levar
do passado ao futuro num piscar de olhos, como a máquina maluca do Dr
Emmett Brown e Marty McFly.
Provavelmente não serão. Mas que a indústria automotiva como
conhecemos nunca mais será a mesma, disso não há dúvidas. Como será
exatamente? Essa história ainda sendo escrita, mas já está claro que o
setor terá como peças fundamentais em sua nova engrenagem os algoritmos,
os dados, a Inteligência Artificial e o Machine Learning.
E aí, você está preparado para essa nova realidade?
*Fernando Miranda é CEO da Webmotors
https://www.istoedinheiro.com.br/como-o-big-data-a-inteligencia-artificial-e-outras-tecnologias-estao-transformando-a-industria-automotiva/
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