quinta-feira, 27 de março de 2014

BC prevê que economia do país vai crescer 2% e preços vão subir 6,1%


Do UOL, em São Paulo



O Banco Central acredita que a economia brasileira vá crescer 2% neste ano, segundo dados do PIB (Produto Interno Bruto). A perspectiva foi divulgada nesta quinta-feira (27), no relatório trimestral de inflação do BC. 

No ano passado, o PIB brasileiro avançou 2,3% --exatamente o que era esperado pelo BC, segundo seu último relatório de inflação, divulgado em novembro.

A expectativa para a inflação oficial subiu: de acordo com o BC, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo) ficará em 6,1% no final deste ano. A estimativa anterior era de 5,6%. 

O BC trabalha para que a média de alta dos preços seja de 4,5% em cada ano, mas há uma tolerância de dois pontos porcentuais para mais ou para menos (ou seja, aceita-se uma inflação entre 2,5% e 6,5%), de acordo com o sistema de metas de inflação.

Para projetar o PIB e a inflação, o BC considera que o dólar deve estar no patamar de R$ 2,35 e a Selic, a taxa básica de juros, em 10,75% ao ano. Este é o chamado "cenário de referência".

O BC também piorou a sua estimativa para a inflação em 2015, a 5,5%, um pouco acima da medida anterior (5,4%). A estimativa é que ela fechará o primeiro trimestre de 2016 em 5,4%.

Pão, carro e novela entram na conta; clique na imagem e entenda

  • Raphael Salimena/UOL

Avaliação do cenário econômico

O BC afirmou no relatório que as expectativas do mercado para a inflação pioraram, uma vez que os preços têm subido nos últimos meses.

Além disso, os investidores estão inseguros com relação ao reajuste de preços dos combustíveis e de alguns serviços públicos, como a eletricidade.

"A esse respeito, o Comitê tem agido no sentido de fazer com que a elevada variação dos índices de preços observada nos últimos doze meses seja percebida pelos agentes econômicos como um processo de curta duração", afirma o relatório do BC.

A nota também destaca que a alta nos preços de alimentos, a princípio, se trata de "choque temporário e que tende a se reverter nos próximos meses".

Relatório de inflação

O relatório de inflação é publicado a cada três meses pelo Banco Central, e serve como uma espécie de termômetro sobre os rumos futuros da política econômica do BC.

No relatório, o BC avalia o desempenho do regime de metas para a inflação e aponta suas perspectivas para o futuro, com relação ao comportamento dos preços dos bens de consumo.

Estes relatórios ajudam a orientar as decisões do Copom (Comitê de Política Monetária), que determinam, entre outras coisas, a taxa básica de juros do país.

Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne novamente. O mercado espera mais uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros. Para maio, também já existem apostas de outro movimento igual, o que levaria a Selic a 11,25%.
(Com Reuters)


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PIB daria para comprar seis PlayStation 4 para cada brasileiro; compare

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SEIS PLAYSTATION 4 PARA CADA BRASILEIRO - Com a soma de todas as riquezas produzidas no Brasil em 2013 daria para comprar seis PlayStation 4 para cada brasileiro. O videogame começou a ser vendido no Brasil por R$ 3.999 e, segundo o IBGE, o Brasil tem 201.032.714 de habitantes Divulgação/Arte UOL
 
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Mantega já falou em PIB de até 4%; veja idas e vindas do governo

12.nov.2012 - "O Brasil voltou a avançar no segundo semestre de 2012 e terá condições de ter um crescimento econômico acima de 4% em 2013", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, para que isso acontecesse, os investimentos deveriam crescer entre 8% a 10% em 2013 na comparação com 2012 Leia mais Arte/UOL

Governo concluiu só 11% das ações para saúde do PAC 2, denuncia CFM

Do UOL, em São Paulo
Apenas 11% das ações previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) para a área da saúde foram concluídas desde 2011, ano de lançamento da segunda edição programa. Das 24.066 ações sob responsabilidade do Ministério da Saúde ou da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), pouco mais de 2.500 foram finalizadas até dezembro do ano passado. A denúncia foi realizada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), nesta quinta-feira (27), que, a partir dos relatórios oficiais do programa, fez críticas ao baixo desempenho dos projetos.

De acordo com o CFM, metade das mais de 24 mil ações programadas para o período de 2011 a 2014 permanece nos estágios classificados como "ação preparatória" (estudo e licenciamento), "em contratação" ou "em licitação".

Enquanto isso, 9.509 ações constam em obras ou em execução, quantidade que representa 39% do total. Na avaliação de Vital, mesmo que o Governo Federal consiga concluir os projetos em andamento, o programa chegará ao fim deste ano sem cumprir a metade do prometido.

Entre as regiões do país, a que apresentou pior resultado percentual de execução foi o Sudeste, onde o governo conseguiu concluir somente 318 (7%) das 2.441 obras previstas. Na sequência aparece o Nordeste, que apesar de concentrar o maior volume absoluto de obras – mais de 11 mil –, teve apenas 1.119 (10%) empreendimentos concluídos nos últimos três anos. Nas regiões Sul e Centro-Oeste, o percentual de conclusão oscila entre 11% e 12%, respectivamente. Já os Estados do Norte tiveram um resultado relativamente melhor, mas considerados mínimos pelo conselho. Somente 464 (10%) das 2.861 ações foram concluídas.

As informações levantadas pelo CFM com base nos relatórios do próprio governo englobam investimentos previstos pela União, empresas estatais, iniciativa privada e contrapartida de Estados e municípios em projetos de construção e de reforma de UBS (Unidades Básicas de Saúde), UPA (Unidades de Pronto-Atendimento) e ações de saneamento. O levantamento consolida dados do 9º balanço oficial do PAC 2, divulgado em março deste ano.

Nesses três anos, foram contratadas a construção ou ampliação de 15.638 UBSs, das quais 33% estão em obras e 1.404 (9%) foram concluídas. No mesmo período, foram contratadas 503 UPAs, das quais 14 (3%) foram entregues. Também constam no programa iniciativas de saneamento voltadas a qualidade da saúde em áreas indígenas, rurais e melhorias sanitárias nas cidades. Dentre as quase 8.000 ações em saneamento geridas pela Funasa, 14% foram entregues até dezembro do ano passado.


Valores


No monitoramento do PAC, embora o critério de valores investidos seja indicado pelo governo como o "mais adequado", os resultados na área da saúde continuam críticos, segundo o CFM. Ao todo, o governo estima investir R$ 7,4 bilhões no PAC Saúde entre 2011 e 2014. Até agora, no entanto, os empreendimentos concluídos representam só 8% (R$ 624 milhões) desse valor. Sem as ações de saneamento, o cálculo estimado passa a ser de R$ 4,9 bilhões, com percentual de 4% (R$ 220 milhões) investidos.

Para a construção de novas UBSs, estão previstos cerca de R$ 3,9 bilhões no período, dos quais 5% (R$ 192 milhões) correspondem às obras já entregues. Nas UPAs, os investimentos em unidades concluídas somam R$ 28 milhões – 2% do investimento previsto (R$ 1 bilhão). Já as ações em saneamento totalizam R$ 404 milhões, montante que representa 16% dos R$ 2,5 bilhões estimados.


Falta de investimento


Em comunicado, o CFM afirma que o baixo índice de execução do PAC 2 para a área da saúde não é surpreendente, pois em 2013, dos R$ 47,3 bilhões gastos com investimentos pelo Governo Federal, o Ministério da Saúde e suas unidades vinculadas – dentre elas a Funasa – foram responsáveis por apenas 8% dessa quantia. Com base em dados do Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira), o CFM conta que, dentre os órgãos do Executivo, a Saúde aparece em quinto lugar na lista de prioridades no chamado "gasto nobre".

Isto significa que as obras em rodovias, estádios e mobilidade urbana ficaram à frente da construção, ampliação e reforma de unidades de saúde e da compra de equipamentos médico-hospitalares para atender o SUS (Sistema Único de Saúde).  Do total de R$ 9,4 bilhões disponíveis para investimentos em unidades de saúde em 2013, o governo desembolsou somente R$ 3,9 bilhões, incluindo os restos a pagar quitados (compromissos assumidos em anos anteriores rolados para os exercícios seguintes).

Nos últimos 13 anos (2001 a 2013), foram autorizados no Orçamento Geral da União para o Ministério da Saúde mais de R$ 1 trilhão, em valores corrigidos pela inflação do período. Deste montante, R$ 894 bilhões foram efetivamente aplicados e R$ 111 bilhões deixaram de ser gastos. Dentro destes recursos, R$ 80,5 bilhões estavam previstos especificamente para investimentos, dos quais R$ 47,5 bilhões deixaram de ser investidos. O conselho estima que, de cada R$ 10 previstos para a melhoria da infraestrutura em saúde, R$ 6 deixaram de ser aplicados.

O CFM calcula ainda que com esses R$ 47,5 bilhões, seria possível adquirir 386 mil ambulâncias (69 para cada município brasileiro); construir 237 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) de porte I (43 por cidade); edificar 34 mil Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de porte I (seis por cidade) ou, ainda, aumentar em 936 o número de hospitais públicos de médio porte.


Outro lado


Em nota, o Ministério da Saúde informou que atualmente existem 23.450 obras relacionadas à construção e ampliação de Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Pronto Atendimento (UPA), obras de saneamento básico e programa Água para Todos, esses dois últimos da Funasa. Destas, 6.353 são projetos recentes de UPA e UBS aprovados ainda no segundo semestre de 2013, portanto, o gestor local ainda está em fase de preparação para início das obras. Outras 14.104 já foram concluídas ou com obras iniciadas.

"É importante esclarecer que, diferentemente de outras obras do PAC, onde a execução é realizada diretamente pelo governo federal, a construção de UPA, UBS e obras de saneamento são executadas através dos Estados e principalmente dos municípios. Para auxiliar os gestores locais nesse processo, o Ministério da Saúde, desde agosto de 2013, oferece projetos arquitetônicos padrões para UPA e UBS, disponibilização de ata e registro de preço nacional para aquisição de equipamento para UPA e UBS e registro de preço nacional de para construção de UBS", declara o ministério.

Com relação às obras de saneamento, o ministério afirmou que a Funasa informa que essas obras têm duração média de quatro anos. Portanto, as obras referentes ao PAC 2, ou seja, aquelas iniciadas no fim de 2011, estão dentro do prazo médio previsto. No comunicado, o Ministério da Saúde aponta que, das obras da Funasa, 84% estão concluídas ou em fase de obras.
Em relação aos recursos, o ministério afirma que, somente em 2013, foram repassados aos Estados e municípios R$ 57,4 bilhões para pagar o atendimento de equipes da Atenção Básica, ofertar medicamentos e vacinas, além de tratamento oncológico, cirurgias e internações realizados no SUS (Sistema Único de Saúde). "O orçamento executado pelo Ministério da Saúde mais que dobrou na última década, passando de R$ 28,3 bilhões (2002) para R$ 92,7 bilhões (2013)", relata a pasta.

No comunicado, o Ministério da Saúde aponta, ainda, que investiu nos últimos 12 anos R$ 5,7 bilhões acima do que prevê a Constituição, o que fez com que isso permitisse o crescimento de 109% no números de UPAs em funcionamento desde 2011, são 303 unidades atualmente. "O número de ambulâncias do SAMU cresceu 56% em relação a 2010, são 2.867 veículos. Atualmente, 39 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) prestam atendimento à população, sendo que 10,1 mil unidades foram financiadas para construção desde 2011", relata em nota.

Aprovação ao governo Dilma cai 7 pontos percentuais, diz CNI/Ibope


Bruna Borges
Do UOL, em Brasília
  • Beto Barata - 13.mar.2014/Folhapress
    A avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff caiu, de acordo com pesquisa CNI/Ibope A avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff caiu, de acordo com pesquisa CNI/Ibope
O índice de aprovação ao governo da presidente Dilma Rousseff (PT) caiu sete pontos percentuais, para 36%, de acordo com a pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) em parceria com o Ibope, divulgada na manhã desta quinta-feira (27). O levantamento revela a avaliação da população sobre o desempenho do governo federal e a atuação da presidente.

Na última pesquisa, divulgada em dezembro passado, 43% dos entrevistados aprovavam o governo Dilma. Após a brusca queda na pesquisa de julho de 2013, feita após a onda de manifestações que tomou o país e a aprovação chegou a 34%, esta é a segunda queda na popularidade do governo na série histórica da pesquisa.

Ainda de acordo com a pesquisa, a aprovação à maneira de governar caiu de 56% para 51%.

O índice de confiança na presidente caiu no limite da margem de erro, de 52% para 48%.

A pesquisa aponta que houve o descontentamento aumentou mais com relação às políticas econômicas, que tratam de inflação e desemprego.

Entre os entrevistados, o índice dos que consideram o governo Dilma ruim ou péssimo aumentou de 20% para 27%.

Ainda de sobre a avaliação pessoal da presidente, o índice dos que desaprovam a maneira de governar subiu de 36% pata 43%. A pesquisa aponta que a queda da aprovação foi mais intensa entre os entrevistados com renda familiar mais elevada (acima de cinco salários mínimos), entre os mais jovens (com 16 a 24 anos) e entre os residentes em municípios pequenos (com até 20 mil habitantes.

Segundo a pesquisa, em nenhuma das nove áreas de atuação avaliadas o percentual dos que aprovam supera o dos que desaprovam as ações do governo. São analisadas as áreas de educação, saúde, combate ao desemprego, segurança pública, combate á fome e à pobreza, meio ambiente, impostos, combate à inflação e taxa de juros.

Foram entrevistadas 2.002 pessoas em 141 municípios, entre os dias 14 e 17 deste mês, para este levantamento. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

A pesquisa foi registrada no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) sob o número BR-00053/2014.


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Dilma Rousseff

25.mar.2014 - A presidente Dilma Rousseff (PT) assinou nesta terça-feira (25), em São José dos Campos, São Paulo, a ordem de serviço para o início da construção de 1.461 unidades habitacionais destinadas a famílias despejadas da área do Pinheirinho em 2012. As unidades fazem parte do programa federal Minha Casa, Minha Vida Roberto Stuckert Filho/PR

China: o maior desafio não é a desaceleração




A longa marcha do desenvolvimento chinês continuará a avançar – agora, também em direção ao interior do país.     Há, no entanto, uma muralha entre o que é possível e o que deve acontecer de fato no comércio do Brasil com a China neste ano

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Milton Pomar*
 


As perspectivas para o Brasil são as melhores possíveis no que diz respeito às demandas chinesas em 2014 –  demandas  que  tendem  a  continuar  aumentando,  principalmente  nos  setores de alimentos e matérias-primas.   E não só porque o mercado consumidor chinês está se fortalecendo com o ingresso de milhões de pessoas.    Há também o aumento do poder aquisitivo e a urbanização acelerada, que obrigam a construção de moradias, escolas, hospitais, ferrovias, telecomunicações, estruturas de água e energia etc. Ainda que em menor  velocidade,  a  longa  marcha  do  desenvolvimento chinês continuará a avançar – agora, também em direção ao interior do país.    Há, no entanto, uma muralha entre o que é possível e o que deve acontecer de fato no comércio  do  Brasil  com  a  China neste ano   . Do lado brasileiro, a muralha é feita de um misto de acomodação,  preconceito  e  despreparo.    Do   lado   chinês,  é  feita  de  comportamentos  muitas  vezes prejudiciais à efetivação dos negócios – em parte, pelo fato de a China ser um comprador ambicionado pelo mundo inteiro.

O  despreparo da maioria das empresas brasileiras para o comércio internacional é sabido e reconhecido. Com a China, ele se evidencia ainda mais. Além de profissionalismo, é preciso estudar o país – algo que a maioria dos governos, entidades e empresas brasileiras não faz. É justamente do desconhecimento que vem o ceticismo e o preconceito em relação a tudo que se diz sobre o mercado chinês. Exemplo disso é o ataque que se faz à exportação de commodities para a China no lugar de produtos de maior valor agregado. Ataca-se o sucesso dos setores do agro e da mineração em vez de se questionar as dificuldades competitivas da indústria brasileira. Ninguém fala que os empresários brasileiros importam máquinas e matérias-primas da China. Ninguém diz que os chineses não vendem aqui – somos nós que vamos lá comprar deles. Desse falso debate surgem argumentos que não se sustentam. Até porque os produtos agrícolas e pecuários, ainda que vendidos in natura, resultam hoje de processos produtivos que incorporam muito capital, tecnologia e insumos industriais. Aliás, o que teria ocorrido com as indústrias que fornecem para o agro sem as exportações superavitárias de grãos e carnes para a China? E o que seria da nossa balança comercial se não fossem os valores crescentes das exportações de minérios para os chineses?


A demanda chinesa continuará aumentando nos setores de construção civil, alimentos, bebidas, energias renováveis e  meio ambiente (aliás, a situação ambiental piorou muito com a chegada de 17 milhões de carros novos por ano às ruas; a poluição aérea já é insuportável em grandes cidades, como Shanghai e Beijing; e a poluição hídrica torna mais insustentável a escassez natural). Isso sem contar uma infinidade de produtos para nichos de mercado, que na China contabilizam milhões de consumidores cada um. À medida que os chineses forem se adequando a práticas mundiais (por exemplo, o uso de capacete pelos 500 milhões de ciclistas e 100 milhões de motociclistas), novas demandas serão colocadas para o mundo. A indústria chinesa não dá conta de abastecer sozinha o seu imenso mercado. A dificuldade maior para vender ao mercado chinês é a quantidade de concorrentes. É preciso um grau muito elevado de competitividade, o que leva a margens menores e à necessidade de quebra de paradigmas. Poucas empresas brasileiras se dispõem a isso. Recentemente, conheci uma tradicional fábrica do sul do Brasil cujo dono se recusou a alterar a composição do seu produto principal para adequá-lo ao paladar chinês. Aí fica difícil.


*Editor da revista Negócios com o Brasil e colunista do blog Conexão Ásia.

Tempo gasto em problema de consumo deve ser indenizado

Tempo gasto em problema de consumo deve ser indenizado

Geralmente tratado como mero aborrecimento pelos tribunais, o tempo gasto para se resolver um problema de consumo é indenizável. Isso é o que vêm garantindo acórdãos recentes, que representam uma mudança de rumo na jurisprudência sobre o assunto. De casos que envolvem demora em fila de banco a devolução de parcelas pagas em cursos, desembargadores já aceitam a tese do chamado “desvio produtivo” para justificar a reparação moral do consumidor. Em síntese, os julgados responsabilizam o fornecedor pelo tempo gasto para se resolver os problemas que eles mesmos causaram.

“O desvio produtivo caracteriza-se quando o consumidor, diante de uma situação de mau atendimento, precisa desperdiçar o seu tempo e desviar as suas competências — de uma atividade necessária ou por ele preferida — para tentar resolver um problema criado pelo fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, de natureza irrecuperável”, explica o advogado capixaba Marcos Dessaune (foto), autor da tese Desvio Produtivo do Consumidor: o prejuízo do tempo desperdiçado, que começou a ser elaborada em 2007 e foi publicada em 2011 pela editora Revista dos Tribunais.

Com base neste fundamento, a 27ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou, no último mês de janeiro, uma rede de lojas a indenizar em R$ 5 mil um consumidor por conta de um defeito em um aparelho celular de R$ 246,90, que apresentou defeito dois dias após a compra. A loja pretendia cobrar R$ 60 pelo reparo. O consumidor recorreu à Justiça e, em 1ª instância, o tempo gasto foi considerado simples aborrecimento cotidiano. No TJ-RJ, o entendimento mudou, a favor do consumidor.
A tese tem sido recorrente no colegiado da corte fluminense. Em outros três casos em que foi relator, o desembargador Fernando Antonio de Almeida aplicou o entendimento para condenar as empresas a indenizar os consumidores em casos de demora de reembolso de mensalidade, tempo gasto em fila de banco e cobrança de cartão falsificado.
“A perda de tempo da vida do consumidor em razão do mau atendimento de um fornecedor não é mero aborrecimento do cotidiano, mas verdadeiro impacto negativo em sua vida, que é obrigado a perder tempo de trabalho, tempo com sua família, tempo de lazer, em razão de problemas gerados pelas empresas”, apontam os acórdãos do TJ-RJ.


Horas irrecuperáveis

 
Se o tempo não é um bem jurídico tangível e expressamente previsto na Constituição, as decisões demonstram que ele pode ser englobado na figura do dano moral. Dessaune explica, entretanto, que a reparação pelo “desvio produtivo” não deve ser confundida com o “dano punitivo”, utilizado para, além da indenização, punir a empresa e coibir novos casos. “O tempo é finito, inacumulável e irrecuperável”, diz.

O advogado explica que, ao contrário da dor e sofrimento abrangidos pela reparação moral, o tempo é mensurável. Isso pode ser feito, por exemplo, com o registro de ligações aos serviços de atendimento ao consumidor. Além da demonstração por parte do consumidor, isso também pode ser estimado com a inversão do ônus da prova em seu favor, o que já é previsto pelo Código de Defesa do Consumidor.

Dessaune também afasta o argumento mais conservador de que a aplicação de sua tese abriria precedente para uma enxurrada de ações que sobrecarregariam o tribunais. "Se os fornecedores não cumprem a lei espontaneamente, só resta aos consumidores lesados fazerem valer seus direitos por intermédio dos Procons e do Poder Judiciário". E o efeito, acrescenta ele, poderá ser até o oposto: condenações morais mais elevadas previnem que novos casos se repitam e a tendência é a diminuição das demandas.

No Tribunal de Justiça de São Paulo, a 5ª Câmara de Direito Privado condenou um fabricante de eletrodomésticos pela demora de seis meses no reparo de uma máquina de lavar. “Sabe-se por evidente presunção hominis que o consumidor quando acusa o vício do produto, lhe é imposta uma verdadeira via crucis para tentar exigir do fornecedor a devolução do valor pago ou ao menos o conserto do defeito”, registra o desembargador Fabio Podestá, no acórdão.

Em análise de um recurso de uma companhia de TV paga condenada pela cobrança indevida após cancelamento de assinatura, a 3ª Turma Recursal Cível de Porto Alegre levou em consideração o tempo gasto pelo usuário como agravante da situação. “Quanto a ocorrência do dano moral, acrescento que, diante da não resolução do problema no trintídio, o que forçou o consumidor a ingressar em juízo, acarretando o agravamento da condição de vulnerabilidade técnica, jurídica e econômica”, escreveu o relator Fabio Vieira Heerdt.

A teoria não se aplica somente ao tempo gasto para se resolver um problema de consumo na Justiça. A simples demora na prestação de um serviço também pode ser enquadrada, segundo acórdão da 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, que negou provimento ao recurso de um banco condenado pela demora de atendimento em agência: “O autor sofreu também o prejuízo do tempo desperdiçado, em razão da demora em ser atendido, o qual poderia ter sido utilizado de maneira mais benéfica e proveitosa”.

Não é só nos tribunais que a tese vem sendo aplicada. Na prova do 53º concurso para promotor do Ministério Público de Minas Gerais, o candidato devia demonstrar conhecer a base conceitual do “desvio produtivo”. Citando o próprio Dessaune, o gabarito previa a seguinte resposta: “Tratamento com desleixo ao consumidor com perda de tempo útil. A questão poderia ser solvida a tempo e modo satisfatório pelo fornecedor. Base principal: cláusula de tutela da pessoa humana, mas desafia regulamentação própria.”

Por enquanto, o entendimento está no âmbito dos tribunais de Justiça. No Superior Tribunal de Justiça, por exemplo, ainda prevalece a aplicação do simples contratempo, como no julgamento do Recurso Especial 431.303/SP: “Demora, todavia, inferior a oito horas, portanto não significativa, que ocorreu em aeroporto dotado de boa infraestrutura, a afastar a caracterização de dano moral, porque, em verdade, não pode ser ele banalizado, o que se dá quando confundido com mero percalço, dissabor ou contratempo a que estão sujeitas as pessoas em sua vida comum”.


Clique nos números dos processos para ler as decisões:

quarta-feira, 26 de março de 2014

A guerra das periguetes no mercado de cervejas

 

 

Bebida apreendida, contratos milionários, descontos agressivos. Nenhum mercado de cerveja cresce tanto quanto o do Nordeste — e, na guerra para conquistá-lo, vale até vender latinhas por 50 centavo

Vicente Vilardaga, de
Fernando Vivas / EXAME
Fábrica da Petrópolis na Bahia
Fábrica da Petrópolis na Bahia: até agora, a vitoriosa na guerra

São Paulo - Houve um pandemônio em alguns supermercados de Salvador durante o Carnaval. Vídeos gravados pelos próprios clientes mostram consumidores afoitos carregando caixas e correndo em direção à saída. Alguns reservavam carrinhos para enchê-los com as compras.

Outros jogavam produtos para os amigos e iam comprar mais. Não faltou comida em Salvador. Nem água. O corre-corre era para comprar cerveja — mais especificamente, “periguetes”, o apelido dado pelos consumidores baianos às latinhas de 269 mililitros, as menores do mercado e bastante populares no Nordeste do país.

A Ambev fez uma das mais agressivas promoções de sua história durante o Carnaval e vendeu cerveja com descontos brutais para os distribuidores da cidade — com isso, algumas lojas e supermercados venderam as latinhas por até 50 centavos, menos da metade do preço usual.

Muitos dos que se estapearam nos supermercados eram comerciantes ambulantes, que revenderam as periguetes perto dos blocos de Carnaval pelo dobro do que pagaram. Com isso, a Ambev conseguiu o que queria: brecar, pelo menos em parte, o avanço dos concorrentes no mercado de cerveja que mais cresce no país, o Nordeste.

Na verdade, não foi a Ambev que declarou guerra — a tática da latinha barata foi uma reação. Pela primeira vez, a Ambev não pôde vender cerveja nas ruas próximas ao circuito Barra-Ondina-Campo Grande, por onde circulam os principais blocos do Carnaval de Salvador.

A Brasil Kirin, dona da marca Schin, e a Petrópolis, dona da Itaipava, pagaram para a prefeitura 10 milhões de reais, cada uma, para garantir a exclusividade de vendas nesses locais. “Resolvemos, então, devolver ao consumidor o dinheiro do patrocínio que deixamos de fazer dando desconto no preço da cerveja”, diz Ricardo Amorim, gerente de comunicação da Ambev. É a guerra das periguetes.

A disputa do Carnaval é um exemplo localizado da competição extrema das cervejarias pelo mercado de Salvador, em particular, e do Nordeste, de forma geral. A Ambev inaugurou recentemente sua oitava fábrica na região — fica em Itapissuma, no interior de Pernambuco, onde a Petrópolis começará a engarrafar suas cervejas em maio.

A primeira fábrica da Petrópolis no Nordeste foi inaugurada em novembro, em Alagoinhas, na Bahia. Nessa mesma cidade, a Brasil Kirin investiu 400 milhões de reais nos últimos dois anos para ampliar a capacidade de produção de sua unidade instalada há dez anos. A Heineken, dona da marca Kaiser, fez um movimento parecido em Feira de Santana, na Bahia. Em dezembro, a produção regional das cervejarias no Nordeste chegou a 340 milhões de litros, um recorde mensal.

As empresas têm investido como nunca para ganhar espaço na região em que o consumo de cerveja mais cresce no país. Nos últimos três anos, o aumento da produção no Nordeste foi de 10%, enquanto a média nacional ficou em 5%, segundo a CervBrasil, associação do setor (não há dados públicos sobre as vendas, mas a estimativa de especialistas é que o crescimento tenha sido similar).

O consumo por habitante continua abaixo da média do país, o que tem provocado a disputa entre as cervejarias para conquistar novos clientes — ou fazer os atuais beber mais. Durante o Carnaval, a prefeitura de Salvador chegou a apreender cerca de 150.000 periguetes de Brahma e Skol que estavam sendo vendidas por ambulantes em locais exclusivos da Brasil Kirin e da Petrópolis (depois da festa, as cervejas foram devolvidas aos ambulantes).

“Não concordamos com a tática da Ambev, porque ela gerou uma invasão na área de bloqueio”, diz Douglas Costa, diretor de mercado da Petrópolis. A empresa foi a única que informou seus resultados no Carnaval: vendeu 9 milhões de latinhas em uma semana. O número equivale à média mensal de vendas em Salvador, mas ficou 10% abaixo da previsão inicial — e seus executivos culpam a guerra de preços da Ambev.

Ambev diz ter plano logístico detalhado para a Copa


Para vice-presidente de Logística e Suprimentos da Ambev, apesar da experiência da empresa em eventos grandes, a Copa traz necessidade de preparos diferentes

Suzana Inhesta, do
Fabio Nutti/Exame
Funcionário descarrega caixas de cerveja em armazém da Ambev
Funcionário descarrega caixas de cerveja em armazém da Ambev: ainda neste mês, a Ambev comprou mais 314 caminhões Volkswagen da MAN Latin America

São Paulo - O vice-presidente de Logística e Suprimentos da Ambev, Vinícius Barbosa, afirmou que a companhia preparou um plano logístico detalhado para atender à demanda no período de realização de Copa do Mundo de Futebol em junho e julho.

Segundo ele, apesar da experiência da companhia em eventos grandes, como o carnaval, a Copa do Mundo traz a necessidade de alguns preparos diferentes.

"A Copa das Confederações já foi um teste. No período de realização da Copa do Mundo de Futebol terá muitos feriados (nacionais, regionais, no dia dos jogos) e temos que estar com a equipe contratada e incentivada a trabalhar. Todo atendimento de estádio também é complicado, a Fifa impõe regras e temos que estar prontos para atendê-las", declarou ao Broadcast, após a cerimônia de entrega de seu primeiro caminhão movido 100% a gás natural, projeto em parceria com a MAN Latin America e a Coopercarga.

O caminhão, que reduz em 20% a emissão de CO2, tem autonomia de cerca de 200 quilômetros, pode levar até 10 pallets de 1.250 quilos e tem ruído cinco decibéis menor do que o movido a diesel, vai ser operado pela Coopercarga em fase de testes no Rio de Janeiro por seis meses.

"Inclusive vamos utilizá-lo para fazer entregas no estádio do Maracanã, na final. E quem sabe nas Olimpíadas ter 100% da frota do Rio com esses veículos GNV", adiantou Barbosa.

Ainda neste mês, a Ambev, por meio de concorrência, comprou mais 314 caminhões Volkswagen da MAN Latin America.

"Vamos colocá-los em operação ao longo do ano, mas queremos antecipar o máximo para atender a demanda da Copa", declarou. Hoje, a frota total da fabricante de bebidas está entre 6 e 6,5 mil caminhões, sendo de 3,5 a 3,6 mil caminhões na frota dedicada.

Questionado se o rebaixamento do rating de crédito do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's atrapalharia os planos em logística da companhia, o executivo disse que a empresa, no geral, continua com seus investimentos e segue otimista com a demanda forte por bebidas nesse ano.