Cinco brasileiros natos e
dois italianos que vivem no Brasil concorreram no mês passado a uma vaga no
Parlamento da Itália, terceira maior economia da
zona do Euro. Mas apenas três deles acabaram eleitos: Renata Bueno (foto), indicada pela
Unione Sudamericana Emigrati Italiani – USEI) e Fabio Porta (Partido
Democrático) foram escolhidos deputados, enquanto Fausto Longo, também do PD,
senador. Em comum entre os três, uma atuação de reforço ao Ministério das
Relações Exteriores e com um papel diplomático entre italianos e brasileiros.
Os três brasileiros terão uma
atuação sui generis, como explicou ao Congresso em
Foco o professor de Relações Internacionais das Faculdades
Rio Branco Demétrius Pereira, especialista em Política Européia.
“A atuação dos
políticos italianos [ou ítalo-brasileiros] no exterior será, realmente, de
fortalecer a rede consular, melhorar o atendimento ao italiano que esteja
residindo fora do país. É um reforço ao Ministério de Relações Exteriores,
especialmente aos consulados italianos na América Latina”, declarou o
acadêmico.
Doutor em Ciência Política e
mestre em Relações Internacionais, Demétrius acha que os brasileiros
recém-eleitos não concentrarão esforços em temas como a crise econômica
italiana, mas sim representar quem está fora da Itália. “Eles não vão estar
exatamente defendendo os interesses dos italianos residentes na Itália, que são
os mais afetados pela crise. Parecem um pouco na contramão de, realmente,
buscar uma solução para a crise.
Eles podem até defender os interesses dos
italianos que estão saindo da Itália, fugindo da crise, ou até preparando o
terreno para os italianos saírem mesmo da Itália para o Brasil”, acrescentou o
estudioso, ressaltando o “papel meio diplomático” dos brasileiros. “Isso não deixa de ser um apoio ao italiano que
realmente acha que a solução da crise é não ficar na Itália, e sim buscar uma
solução em outros lugares. É uma saída, só que de fuga.
É um pouco contraditório
o papel deles: resolver o problema só pra quem foge”, acrescentou Demétrius,
lembrando dos cidadãos italianos submetidos aos altos encargos tributários
praticados no governo do ex-primeiro-ministro Mário Monti (2011-2012), que se
viu obrigado a uma política de austeridade em tempos de crise. Monti ficou em
quarto lugar nessas eleições.
Primeira
brasileira
Além da reforçar a
diplomacia entre os países, a eleição para o Parlamento italiano traz um
componente inédito. O país já teve como representantes brasileiros natos.
Agora, é a vez da primeira brasileira assumir o mandato de deputada: a
brasiliense Renata Bueno, 33 anos.
E chega ao Poder estrangeiro em meio a uma
indefinição política que inviabiliza a chamada “governabilidade”. Parlamentares de correntes ideológicas diversas ainda
têm de referendar o nome do próximo presidente daquela república.
O líder de
centro-esquerda Pier Luigi Bersani conquistou maioria na Câmara, mas não no
Senado, quadro que não permite o apoio majoritário a leis e políticas que
viabilizem a ação do governo – o sistema de governo vigente na Itália é o
parlamentarismo.
Nesse sentido, Bersani
precisa da possível adesão do Movimento Cinco Estrelas, encabeçado pelo
humorista Beppe Grillo, e da improvável aceitação do agrupamento de centro-direita
liderado pelo ex-premiê Silvio Berlusconi. Caso não haja acordo, novas eleições
têm de ser realizadas. “É uma situação
difícil.
Vai depender de como vai ser formado esse novo bloco de governo. Nós
fomos convocados para a formação do novo parlamento já no próximo dia 12. E, no
dia 15, estaremos elegendo o novo presidente da República Italiana. É um
momento novo para a Itália e para a Europa”, explicou Renata ao Congresso em Foco,
em entrevista concedida do Paraná, onde celebrou a conquista ao lado do pai, o
líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR). Ítalo-brasileira, Renata Bueno diz
estar pronta para uma eventual campanha extra. Correligionária de Bersani, ela
confirmou sua eleição em na madrugada de 27 de fevereiro.
Candidata mais nova
de sua chapa, ela foi eleita com cerca de 21 mil votos colhidos no Brasil e 18
mil na Argentina – nesse tipo de votação, os aptos a votar o fazem por meio de
cédulas a serem encaminhadas a consulados italianos. Nessas eleições, apenas
ela e Fausto Longo são brasileiros natos. Nascido na Sicília, Fabio Porta mora
desde 1998 no Brasil e tem filiação brasileira.
Ele foi reeleito para o cargo
de deputado. Modus operandi
A eleição italiana foi realizada nos dias 24 e
25 de fevereiro. Mas o procedimento de votação de expatriados italianos e ou
brasileiros com dupla cidadania na América Latina é feito com antecedência, por
meio de correspondência.
Descendentes de italianos residentes em outros países
também podem ser candidatos, segundo lei promulgada em 2000, desde que tenham
cidadania reconhecida naquele país. Cerca
de um milhão de italianos que moram no continente e sulamericanos com dupla
cidadania recebem em casa a cédula de votação. Nesse ano, o voto tinha de ser
enviado a consulados italianos entre 4 e 21 de fevereiro.
Para a Câmara,
puderam votar eleitores com mais de 18 anos, com apenas duas escolhas. Já para
o Senado só é permitida a votação por maiores de 25 anos, com voto em apenas um
nome. São aproximadamente 400 mil italianos residentes no Brasil, mas apenas
290 mil aptos a votar.
Formado por 315
senadores e 630 deputados, o Parlamento Italiano foi dissolvido no final de
2012 pelo presidente Giorgio Napolitano, depois da renúncia do então
primeiro-ministro Mário Monti – as eleições deste ano tentam recompor a
situação pós-ressaca provocada pelo magnata da comunicação Silvio Berlusconi,
que deixou o posto de primeiro-ministro depois de protagonizar escândalos
variados.
O legislativo italiano dedica
espaço à integração internacional: desde 2006, seis vagas no Senado e 12 na
Câmara estão reservadas a italianos que moram no exterior – a América do Sul
elege dois representantes em cada Casa. Há até pouco tempo, era apenas uma a
vaga sulamericana.
Comex
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